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Pablo Lapidusas
25-04-2014
 

José Duarte – natural de Buenos Aires porquê outras Músicas? então e o tango…

 

Pablo Lapidusas - Nasci em Buenos Aires mas com 8 anos fui morar no Brasil com meus pais. Quando abri as orelhas e a música entrou, o contacto foi com a música brasileira. Poderia ter sido a música do Nepal, se para lá meus pais tivessem ido. Ou seja, foi circunstancial. Sempre fui contra afirmar que a nacionalidade determina o músico ou que a pessoa que nasce em tal lugar tocará aquele estilo melhor que outra de fora daquele lugar. Mas facto é que apesar da minha relação com a música argentina não ser tão visceral eu tenho uma maneira de respirar que vem de lá, e nunca perderei isso pois é parte da minha identidade como ser humano. Tenho o maior respeito e amor pelo tango da mesma maneira que tenho respeito e amor pelo repertório erudito.

 

JD – é especialista em qual das áreas de toda a Música?

 

PL –Minha carreira pianística tem como enfoque principal o piano a solo Minha obsessão na performance a solo me fez fazer o mestrado nessa área. Não existe metodologia acadêmica padronizada para o ensino do piano solo. Todas as escolas de Jazz do mundo inteiro preparam os alunos para a performance em grupo. O preparo para a performance a solo passa obrigatoriamente pela escola da música classica ( exceto o Monk, que é um caso à parte de um gênio que inventou a pólvora)

 

 JD – permite que lhe chamem pianista jazz?

 

PL –  Deixo que os outros definam o que é minha música. Sou um compositor e improvisador. Uso essencialmente elementos da linguagem do jazz, mas tb uso elementos da música classica, e não me refiro apenas à arquitetura e  senso de orquestração que o repertorio classico oferece. Sobre a questão da definição, na época do lançamento do meu primeiro CD, um crítico do Jornal O GLOBO publicou a seguinte capa " entre o popular e o erudito". Depois me perguntou se eu havia gostado daquiloAcho que nesse sentido copio o MONK. Ele fazia a música que lhe vinha à cabeça, por isso ouvir Monk é ouvir algo que SEMPRE será fresco, sempre será novo.

 

JD – conheço dois CDs de sua discografia em ambos a solo absoluto e em nenhum inclui um tema jazz nem um standard n-americano – como explica?

 

PL – O Cd " estrangeiro"  lançado na Europa, ao contrário da edição brasileira, tem dois standards. Na época do concerto do festival de Seixal, quando me apresentei a solo, ainda não havia sido lançado a edição daqui, talvez por isso você tenha o outro. O primeiro Cd é quase todo autoral, exceto por uma canção do Edu Lobo. E essa canção, linda por sinal, so entrou porque na época da gravação eu tive o enorme privilégio de gravar "Beatriz" com ele em duo. Durante os ensaios mostrei minha versão da música que eu acabei gravando e ele adorou. Sendo assim fiquei pressionado a gravar. Pressionado no sentido bom, claro. Neste Cd tive a honra também de ter o Hermeto Pascoal em tocando comigo em duo. Foi uma das maiores felicidades da minha vida. 

 

 JD – já no HCP tocou com baixo e bateria? em que reside a diferença?

 

PL - O concerto no HCP foi dividido em duas partes. Na primeira, a solo, toquei basicamente o repertório do novo CD, ja que foi o lançamento oficial, e também toquei coisas que compûs recentemente. Na segunda parte aproveitei para fazer a estreia "oficial" do meu novo trio. Fomos muito felizes neste concerto porque o público estava muito generoso e feliz com o que ouvia e o feedback era brutal. 

A diferença de tocar em trio, muito além do factor instrumentação, timbre, liberdade e não obrigatoriedade de conduzir os grooves sozinhos, está na questão de que me nutro do que é feito ali pelo Marcelo ( Araujo) e o Leo ( Espinoza). Ou seja, a música que cada um faz vai inspirando e sugerindo outras possibilidades. Na perforance a solo tenho que buscar isso sei la onde. E nem sempre encontro esse "fresh" instantâneo. Quando encontro também é uma felicidade infinita.

 

JD – quais os pianistas não portugueses só com jazz que prefere? porquê?

 

PL –  Bem, como você não pediu para justificar minhas escolhas, colocarei aqui apenas os nomes: Monk, Jarret, Leni Tristano, Gonzalo Rubalcaba, Bill Evans, Herbie Hancock, Peterson, Petrucciane, Corea, kENY Kirkland.  bem, a lista é longa rs

 

JD – concorda que Monk Thelonious Monk compositor e pianista genial sofria de anomalia cerebral?

 

PL –  Sabia que ele teve um problema, mas não sabia exatamente a doença que o fez parar de tocar. Mas para mim a obra que ele deixou basta. Está, na minha opinião, entre as coisas mais criativas feitas pelo ser humano, em todas as áreas. É o Charles Chaplin do piano. Inventou a pólvora.

 

JD – no país onde nasceu qual é o panorama jazz? porque de lá saiu?

 

PL – Como disse na introdução, saí de la porque meus pais se mudaram para o Brasil. Tinha 8 anos. O panorama Jazz na Argentina é fortíssimo. Existe uma produção muito grande , e não somente em Buenos Aires. 

 

JD – só toca em acústicos? porquê?

 

 PL – Naõ gosto de teclados. Detesto aliás. É um paradoxo, porque adoro por exemplo ouvir como alguns pianistas usam os teclados tão bem, mas para mim não funciona. O piano me basta. Mas eventualmente toco em Rhodes. Gosto do som aveludado do rhodes, mas não para tocar a solo. 

 

JD - executa blues? o que diferencia um blues de outra canção qualquer?

 

PL – O blues é uma música modal com características muito peculiares. O chorus de apenas 12 compassos, para ficar apenas em 1 exemplo. Gosto de tocar blues em Jam sessions e eventualmente toco algo nos concertos em trio. gOSTO muito do Monk tocando blues. Aquilo sim...

 

JD - conhece pianistas jazz portugueses? quais? quais prefere? porquê?

 

PL – Portugal tem EXCELENTES músicos. Tenho a sorte de ter como professor no mestrado João Paulo Esteves da Silva. Ouvi o JP em trio e a solo e em ambos ele foi genial. Adoro o Laginha. Ele é único. Misturou os mundos ali na sua cabeça e o que saiu ( e sai) é incrível. Em dezembro tocamos em um mesmo festival de Jazz na Africa. Eu abri o concerto e depois ele e a Maria João me convidaram para encerrarmos juntos. Foi uma emoção sem igual dividir o palco com aqueles gigantes. Tocamos a 4 mãos. 

Um pianista da nova geração que eu adoro tb é o Julio Resende. tem uma respiração única. Gosto muito de ouvir o Sassetti também. Estes 4, de diferentes gerações são pianistas que eu adoro.

 

JD – conhece o público jazz português? que tal o acha em conhecimentos jazz?

 

PL – Olha, a um ano e meio atrás ,  estava em lisboa e me surpreendi com a movimentação pelo dia 30 de abril. a data tinha sido recém oficializada pela ONU ( perdão, ONU ou UNESCO?) como dia mundial do jazz e houve inumeros concertos comemorativos. Portugal tem público para o Jazz. Portugal tem o clube de jazz mais antigo da Europa. Portugal tem extraordinários músicos, ou seja...

 

JD – compõe? quais são os compositores que prefere e utiliza?  só brasileiros porquê?

 

PL – Nem sempre utilizo os compositores que mais gosto pra os concertos. Sou um adorador dos românticos, sobretudo  Brahms e Schumann e encontro ali um repertório de pesquisa para minha música. Naõ quer dizer que vá tocar Brahms em um concerto ( se bem que uma vez fiz isso e ninguém notou. Toquei o intermezzo 2 opus 118). Tenho a música brasileira muito interiorizada e quando escolho uma cantiga para uma performance, a solo ou não, nunca penso se é brasileira, americana ou do Nepal. É uma cantiga que por alguma razão me atraiu e por isso a incluirei no alinhamento de determinado concerto ou CD. Se colocar nesse ponto, tenho no "estrangeiro" compositores brasileiros, italianos, ingleses, americanos, moçambicanos e argentinos. Olhando assim parece um CD comemorativo da Onu, mas é muito mais simples do que isso. Toco Chico, Tom e Edu ( brasil), Duke Ellington e Herbie Hancock ( EUA), Morricone ( Italia), Beatles( Inglaterra), e João Carlos Schwalbach (Moçambique). Ah, e eu, claro. 

Ia esquecendo, sim sou compositor.

 

JD – descreva relações de Maputo com sua Música e porquê Maputo? já tocou em Luanda? 

 

PL –Tenho um amigo de Maputo que estudou comigo no Brasil. Fizemos a Universidade e depois ele foi para Londres para o mestrado. Voltou a Moçambique anos atrás para montar um grande estúdio. Tínhamos perdido contacto mas por acasos da vida, nos reencontramos na rua na Espanha. Curiosamente estávamos tocando no mesmo festival. Dali em diante fui algumas vezes à Moçambique a realizar concertos e sessões com grandes artistas africanos. Esse produtor, músico e compositor foi gravado no Cd também.

Toquei em Luanda uma única vez, mas como sideman de um artista brasileiro. 

 

 

JD – jazz Música cumo herança directa de África não é popular em África porque será?

 

PL – A influência dos rítmos africanos na chamada música popular ocidental ( via America) á partir do século XIX é fortíssima. Essa influência africana + a estrutura harmonica da música europeia formou o que ouvimos e fazemos hoje . Nas minhas viagens à Africa ( Africa do Sul, Moçambique e Angola muito rapidamente) pude perceber que existe o maior respeito à música improvisada. Talvez seja um problema de estrutura. Se no Rio de Janeiro ja é difícil achar bons pianos em clubes e teatros, que dirá em países Africanos com tantos e tantos problemas de ordem estrutural.  Evidente que isso acaba podando o que poderia ser um celeiro de excelentes músicos. Mas existem clubes, existe o movimento que faz com que essa música tão maravilhosa se perpetue mundo afora. E hoje não podemos descartar o poder da internet. O acesso democratizou se. Más é preciso educação, formaçao. E fica difícil ensinar piano a uma população cheia de crianças que não tem o que comer. As prioridades são outras.Mas o jazz também está lá

 

 

JD - pianista(s) que mais o influenciaram? em quê?

 

 

PL – Quando tinha 14 anos fui a um concerto de um pianista brasileiro chamado Cesar Camargo Mariano. Era pra ser concerto com banda mas quando entrei no teatro so havia um piano no palco. Coclusão, quando acabou eu decidi que seria um solista. Aquele concerto marcou a minha vida e definiu o que sou hoje. Tive a honra de tocar com ele a dois pianos em um concerto no Rio de Janeiro em 2008. Alguém que estava na plateia postou uns vídeos desse dia no YOUTUBE.é meu único registro, além da minha memória afetiva. Anos depois ouvi o Gonzalo Rubalcaba ao vivo e tive outro (bom) colapso emocional O Monk, que so vi em vídeo foi uma revelação: É POSSÍVEL TOCAR SEM IMITAR NINGUEM. Esse foi o legado do Monk para mim JARRET, por tudo que fez.

 

JD – toca “clássica”? porquê para quê?

 

PL – Em 2008, para me preparar para o meu primeiro Cd, fui ter aulas com um brilhante pianista brasileiro, que por acaso agora vive em Lisboa- Luiz Avellar.

Ele me ouviu por 40 minutos e me mandou embora. disse que eu tinha que procurar   um fulano.. Pois, esse fulano se chama Marcelo de Alvarenga e é o maior professor de piano( classico) do Brasil. Pupilo de Nice Obino etc etc. Aquilo mudou minha vida e minha maneira de ver o piano. Percebi que sem o estudo do repertório erudito não poderia realizar o que ouço em minha cabeça. Ou seja, ja está tudo escrito no repertório erudito ( Tudo escrito em termos de arquitetura). Mesmo harmonia, os chamados acordes de apoio ja eram feitos por Chopin, e as esclas alteradas idem. No estudo revolucionário dele ja na introdução temos uma escala alterada. Está tudo lá. É a fonte Jarret não seria o que é sem a música erudita. 

 

JD – todos os países da Argentina na América do Sul têm um folclore e Música popular definidas

porque prefere Música de origem brasileira ou jazz da América do Norte

 

PL – O Brasil tem um enorme defeito: Não conhece nada do que se passa à sua volta. O Brasil so é alinhado culturalmente com os EUA. O Brasil não conhece o que se faz na Europa nem na Africa nem nos próprios vizinhos, e a música feita na America do sul é coisa séria. Cresci com esse panorama formatado, mas como disse , ouço e toco muita música de outros lugares.  Uma coisa maravilhosa da Europa é essa troca com outras culturas. Isso para um músico é algo inspirador.

 

JD – muito obrigado Pablo Lapidusas

 

 

 

 

 
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