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Mário Oliveira
15-04-2011 00:00
 

José Duarte - como foi atraído pela gramática musical jazz?

Mário Oliveira - Eu gostaria de me expressar musicalmente através do canto, mas a natureza não me ajudou muito a satisfazer esses desejos.
A minha necessidade de expressão espontânea passou assim para a aprendizagem da linguagem do jazz, já que a minha aprendizagem clássica não privilegiava a improvisação.
As minhas preferências musicais eram, na época, mais a musica anglo-americana (rock e pop), para além da dita clássica desde a minha infancia.
Fui introduzido nos blues (Big Bill Bronzy, Paul Butterfield Blues Band) por um amigo, e mais tarde fiquei maravilhado com músicos de jazz, num contexto que na época eram a vanguarda, e todo o tipo de experiencias que se fizeram (free e fusion). Quando vivi na Belgica, a experiencia ao vivo do Keith Jarrett com o quarteto americano e os Return To Forever (Chick Corea, Stanley Clarke, DiMeola e Lenny White) fizeram-me sentir a força da música improvizada quando tocada por solistas inspirados.
A música (a gramática) de tradição jazz permite compreender, manipular e desenvolver a música no sentido da auto-expressão, dado que obriga a improvisação e à expressão individual do músico. O que está a acontecer reflete de uma forma mais óbvia a personalidade dos músicos, e não é em geral expressão da "objetividade" de uma partitura, (isto não é 100% verdade, mas corresponde à maior fatia da musica de jazz). Na música ligeira e na clássica a interpretação também é importante, mas no Jazz é talvez mais do que isso, é a criação da musica naquele instante. Estudar a gramática musical do jazz (e tudo o que vem com isso), parece ser a resposta mais indicada (e mais prática) se se quer exprimir ou dizer algo.

JD - toca a dita 'clássica'? quais compositores prefere?

MO - Sim, toco e estudo em casa - Bach (Cravo bem temperado) - o meu preferido; dos românticos, gosto muito do Richard Wagner.

JD - conhece a discografia jazz de Scott Joplin e de Brad Mehldau?

MO - Conheço e tenho discos do Scott Joplin (em vinil, o que faz com que não ouça com frequência). Gosto de rag.
Brad Mehldau é actualmente o músico da minha preferência. Conheço-o bem e estou num processo de o conhecer ainda melhor.

JD - em público onde já tocou jazz e onde espera vir a tocá-lo?  Hot ou CCB em Lisboa ou C da M no Porto?

MO - Toquei regularmente no Hot Club em tempos antigos (finais de 80 inícios de 90), no Meridien durante um ano, Velha Goa, Clube dos Empresários, etc.). Agora que recomecei, tenho tocado regularmente na Fábrica de Braço de Prata. Espero voltar a tocar no Hot, CCB ou CM do Porto

JD - gosta de tocar blues?  porquê?

MO - Sim, gosto. Os blues estão no centro de várias músicas da minha adolescência. Acorda-me boas memórias.

JD - o que distingue um blues de outra qualquer melodia?

MO - Não sei se o blues se distingue radicalmente de outra melodia. Noutro dia, durante um ensaio, um amigo meu dizia que em Trás os Montes no cantar tradicional, eles cantavam uma nota algures entre a 3ª maior e a 3ª menor , à semelhança da blue note, que é uma das características da melodias de blues. A utilização como "tónica" do acorde dominante destabiliza a hierarquia dos acordes da música tonal e dá à melodia contornos específicos, "étnicos", pela utilização da escala de blues, que é uma escala exatónica, em modo menor com um cromatismo (IV grau).

JD - seus mestres quem foram?  nacionais e internacionais

MO - Leonor Alvim no Piano. Christopher Bochman em composição. Ricardo Paulino e Carlos Azevedo no Jazz.

JD - tem dificuldades em improvisar?

MO - Não

JD - e em ter e manter swing?

MO - Não

JD - qual é o melhor solo improvisado jazz que conhece? porquê?

MO - Tenho alguma dificuldade em responder objectivamente, já que me ocorrem solos sublimes do Miles, do Coltrane, entre outros, e não consigo hierarquizá-los. Ocorre-me que o tema que para mim é o espírito do jazz é o "round midnight".

JD - conhece a nova linguagem jazz o dito free jazz?  sua opinião

MO - Não conheço profundamente, e o que ouvi não me pareceu interessante ou conseguido, por comparação com o free dos anos 60 e 70.

JD - só utiliza piano acústico?   porquê?

MO - O piano acústico é um instrumento que eu aprendi a gostar. O jazz, para mim, é essencialmente acústico.
Gosto muito dos trabalhos a solo do Keith Jarrett e do Brad Mehldau, embora não se enquadrem totalmente nas fronteiras convencionais do jazz. É nitida a grande influência da dita clássica, firmemente ancorada no blues (Mehldau diz que as suas influências são Schubert, Jarrett e Coltrane).

JD - tem gravações suas? sua discografia

MO - Editei recentemente o meu primeiro disco "Lendas e outras histórias".

JD - sua opinião sobre o mundo jazz português?  músicos - escolas - clubes - palcos - público - crítica

MO - Não conheço profundamente o actual mundo do jazz português. Parece que há presentemente um grande interesse no Jazz. Mais músicos competentes, com mais conhecimentos teóricos e técnicos. Muitas escolas de musica de jazz. Mais gente a escrever sobre jazz. Tudo isto parece bom. Mas nem tudo o que parece é.
Gosto de Júlio Resende, Laginha, Sassetti, Carlos Bica, Candeias, Desidério Lázaro, Carlos Martins. Desculpem se me esqueci de alguém...

JD - pensa que o piano acústico tende a desaparecer em jazz?

MO - Não me parece. É um instrumento insubstituível. Só se deixarem de fabricar pianos...

JD - um pianista jazz deve conhecer estilos jazz e instrumentistas jazz desde os anos 20 do século 20(Earl Hines) até aos anos 10 do século 21 (Matthew Shipp)?

MO - IMPRESCINDÍVEL. Quanto mais alargados os seus conhecimentos melhor. Mas não chega. O jazz está, a meu ver, muito impregnado de ideias musicais de tradição europeia, pelo que também acho importante o contacto (estudo) com outros músicos e ou expressões musicais. O jazz, integrando o blues como elemento constitutivo (entre outros), tem na improvisação a sua principal característica. O desenvolvimento da sua linguagem deve muito ao edifício da música ocidental europeia.

JD - sua opinião sobre a obra completa de Thelonious Monk

MO - Não conheço a obra completa de Monk. Gosto da ideias, dos seus temas e da maneira peculiar de abordar a improvisação. Diria que é o mais individualista dos individualistas, o mais original entre os originais, o mais excêntrico entre os excêntricos e ao mesmo tempo apoiado nos modos de expressão tradicionais. A personalidade da sua musica é resultante também da sua atitude (física e mental) ao abordar o instrumento, da gestualização (tocar com a mão esqª o lado dtº do teclado) - tal como Jacson Pollock ao pintar no chão e não utilizando pincéis -  obtendo necessariamente resultados diferentes dos tradicionais.

JD - obrigado Mário Oliveira

 

 

 


 
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