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Diogo Vida
01-04-2011 00:00
 

José Duarte - depois do Conservatório Nacional e da Escola 'Hot Clube de Portugal' como se deu na Escola Superior de Música em Lisboa?  nestas três Escolas se aprende a tocar jazz?  

Diogo Vida - Na Superior de Lisboa estudei Composição, ouvi muita música e entre outras coisas, aprendi como se pensa na composição dita "erudita contemporânea". Durante o curso do Conservatório toquei exclusivamente as obras dos compositores "clássicos". O Hot, como escola de jazz que é, foi o único sítio onde lidei exclusivamente com improvisação e com os materiais e o pensamento do jazz, que depois desenvolvi durante a Licenciatura em Jazz na Escola Superior de Musica e Artes do Espectáculo do Porto.  

JD - antes de sua 'maioridade' jazzística tocou aprendeu jazz com vários jazzmen n-americanos e portrugueses e de outra nacionalidade  - quem foram?  estes dois processos completam-se? a das Escolas e o da prática  

DV - As escolas são importantes porque transmitem um conhecimento sistematizado e proporcionam uma série de experiências muito valiosas, mas penso que no caso do jazz, o mais importante é tocar, experimentar, errar. Para além das escolas, fiz muitos workshops...Lee Konitz, Aaron Goldberg, Hal Galper, Mario Laginha, Bernardo Sassetti, só para citar alguns...foram mesmo muitos!  

JD - porque preferiu o piano acústico?  já tocou pianos ligados à corrente elétrica?  

DV - O acústico é melhor! Já toquei eléctrico e ainda toco, mas toco melhor quanto melhor e mais acústico for o piano.  

JD - onde (salas, cidades, países, clubes) tem tocado?  

DV - Em muitos sítios: o meu projecto que deu origem ao cd "Alegria" foi apresentado no Hot Clube , no Bflat, no Guimarães Jazz e noutros lugares mais pequenos...Quando toquei no grupo da Jacinta fomos ao Calle 54 em Madrid e a Salamanca, Luanda e corremos o país de Norte a Sul e Ilhas. Nos outros projectos em que participei como sideman já nem me lembro de todos os sítios em que toquei, mas foram muitos festivais, auditórios e clubes. Quando vivi em Barcelona toquei em todas as jams da cidade e quando vou a uma cidade que não conheço a primeira coisa que faço é saber onde é a jam!  

JD - para além de seus solos improvisados que são composições em tempo directo tem já uma obra composta?  

DV - Acabo de lançar o meu 1º CD, "Alegria",  preenchido quase na totalidade com composições da minha autoria.   

JD - sobre que composições prefere improvisar: standards ou blues?  

DV - Nunca fiz essa pergunta a mim próprio...ambos propõem os seus desafios específicos e só me preocupo em tocar o melhor possível...  

JD - defina blues na sua forma e conteudo  

DV - Eu entendo que o blues, na sua origem, é um sentimento e uma sonoridade que se confunde com um povo e com uma cultura, que é a cultura afro-americana, muito à semelhança do fado, enquanto sentimento e sonoridade que se reconhece como integrante da cultura popular portuguesa. A forma, do ponto de vista da estrutura da peça musical, pode ser diversa, mas é comumente aceite que a forma standard é de 12 compassos, aos quais corresponde uma progressão harmónica  predefinida, pelo menos nos seus traços mais gerais.   

JD - sua discografia?  

DV - Breve, por enquanto:"Alegria" é o meu 1o CD. Toquei no cd de estreia dos Elephants Terribles em 2000 ("Urbanalidades") e penso que nenhuma das outras gravações que fiz teve edição comercial.  

JD - está contente com seu primeiro cd 'Alegria' para a editora 'Numérica? descreva-o (instrumentistas e temas)  

DV - Sim, estou contente! Em primeiro lugar porque é um projecto que está para ser gravado há uns anos e finalmente foi concretizado. Penso que o cd tem um alinhamento interessante na medida em que há temas a solo, trio, quarteto e sexteto. O próprio carácter das composições contribui para essa diversidade, e para mim é sempre um prazer tocar com estes músicos fantásticos que são simultaneamente grandes amigos: estou a falar do José Pedro Coelho (saxofones), Filipe Teixeira (contrabaixo) e o João Cunha (bateria). Pedi também ao Paulo Perfeito (trombone) e ao Rui Teixeira (sax barítono) para participarem no tema para sexteto e estou bastante contente por ter feito o cd com eles todos.  

JD - seus Mestres principais conheceu-os via gravação em cd?  

DV - Sim, no Jazz, sim...Horas e horas a ouvir, a imitar e a transcrever as lições dos mestres!  

JD - Bill Evans ou Keith Jarrett são pianistas / compositores jazz que o influenciaram?  

DV - Sim, bastante...O Jarret durante muito tempo foi o único pianista no meu universo... O Bill Evans foi uma relação diferente, mas o Sunday Live at the Village Vanguard foi e é um disco muito importante para mim. Entre tudo o que já se disse sobre o Bill Evans, uma das coisas que mais aprecio nessa formação é o universo de novas possibilidades sonoras que trouxe para o jazz, e não apenas na interacção e performance dos músicos, como também nas composições desse disco. Há ali qualquer coisa de muito especial que não voltei a ouvir nos trios mais tardios do Bill Evans.    

JD - quais os pianistas jazz portugueses que mais aprecia?  

DV - O Triunvirato: Laginha, Sassetti, João Paulo, não essencialmente por esta ordem!  

JD - prefere tocar com vozes ou com sopros?  

DV - Não faço essa distinção... Gosto muito de tocar musica estritamente instrumental, adoro tocar temas rápidos com solistas habilidosos, mas também adoro as palavras e as canções...e felizmente conheço umas magníficas vozes!  

JD - o swing tem-se mantido como característica essencial ao longo da História desta linguagem musical ? do jazz antigo ao jazz dito free?  

DV - Penso que o elemento musical  que propulsiona a dança e o movimento dos corpos foi sempre uma constante no jazz e penso que ainda hoje o jazz não faz sentido sem esse elemento visceral, o groove. No entanto, há também exemplos que exploram a ausência de pulsação e que organizam os acontecimentos musicais no tempo com base noutro tipo de referências e penso que esta concepção não é suficiente para definir algo como não sendo jazz.  

JD - qual a opinião que tem sobre os conhecimentos jazz do público jazz português?    

DV - Penso que quando vejo um qualquer auditório cheio num concerto de jazz não tenho a ilusão que toda a gente sabe trautear o night in tunisia, mas isso também não é o mais importante: o importante é que as pessoas gostem do que vão ouvir e tenham curiosidade e gosto de ouvir mais musica ao vivo. A contextualização que se faz através dos conhecimentos jazz é importante para ter perspectiva histórica, relacionar concertos e conceitos e para entender algumas "piscadelas de olho" dos músicos aos ouvintes, mas não me parece que esta musica só possa ser disfrutada por entendidos.  

JD - aprecia Cecil Taylor? conhece a discografia de Barry Harris?  

DV - De Cecil Taylor conheço pouco, e interesso-me pela sua música enquanto sonoridade e técnica pianística pouco habitual, mas confesso que nunca tive vontade de aprofundar os meus conhecimentos sobre a sua obra. Quanto a Barry Harris conheço melhor, enqunto sideman e também nalguns cds enquanto líder. Acho que é um optimo exemplo de classe e bom gosto de um pianismo jazz do período bebop.  

JD - qual o melhor solo piano jazz que conhece?  

DV - Esta é difícil, há vários, mas para indicar um, direi o primeiro que transcrevi, que foi o do Winton Kelly no Freddie Freeloader, no Kind of Blue do Miles Davis...esse solo é um tratado de Blues, como muitos outros desse pianista genial.  

JD - piano é um instrumento de percussão onde percutem teclas para accionarem martelos - comentários  

DV - Concordo inteiramente, e uma das tarefas do pianista é iludir o ouvinte que isto não é assim, que o piano pode soar como uma voz ou um instrumento de sopro! Os martelos percutem as cordas, mas se as teclas são percutidas ou não, já é mais discutível...   

JD - já tocou para o público dançar? opinião  

DV - Já, felizmente! É bom saber que a música que tocamos tem esse efeito nas pessoas. E a manifestação da dança só pode interessar a quem se interessa por uma música que ao longo da sua história nunca se dissociou do groove.  

JD - conhece o tocar das pianistas jazz Gery Allen ou de Marian McPartland? opinião    

DV - Conheço a Gerry Allen, tive a oportunidade de ouvir ao vivo um par de vezes, e é uma pianista excepcional. Da Marian McPartland conheço muito pouco, mas sei que também faz um trabalho de divulgação do jazz na comunicação social.  

JD - pode tocar-se um instrumento sem o saber tocar e sem 'saber' Música? - consta que instrumentistas como Erroll Garner ou Chano Dominguez estão neste caso para além de Ornette Coleman em violino e trompete  

DV - Penso que sim, a história tem vários exemplos de músicos excelentes que não tiveram uma educação formal, numa escola. Penso que para além do extremo talento dessas pessoas, o trabalho e a clareza dos seus objectivos é determinante para o seu sucesso.  

JD  - obrigado Diogo Vida  


 
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