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Luís Figueiredo
15-05-2011 00:00
 

José Duarte - como chegou ao jazz?  

Luís Figueiredo - O jazz sempre me acompanhou ao longo do meu percurso musical. Sempre ouvi muito e sempre comprei mais discos de jazz do que de qualquer outro género. Acontece que estive dedicado à música erudita até bastante tarde, e só me dediquei a tocar jazz há alguns anos atrás.

JD - é um dos novíssimos pianistas jazz talvez posterior a Júlio Resende e Filipe Melo - jazz aprende-se ? como se passou com quem e onde conheceu a linguagem jazz?  

LF - Sim, eu apareci um pouco depois do Júlio e algum tempo depois do Filipe. São dois amigos que estimo muito e que têm sido extremamente generosos comigo neste meu início. O Filipe foi a primeira pessoa (a única, diria) com quem tive aulas de piano jazz, durante alguns meses na Escola do Hot Clube. Ele mostrou-me, entre outras coisas, que o jazz se aprende, de facto.  

JD - toca blues? compõe melodias bluesy?  

LF - Sim.  

JD - para além dos 'inevitáveis' Mário e Bernardo quem aprecia cumo pianistas jazz portuguêses?  

LF - Tenho uma ligação musical muito estreita com o Mário Laginha, e o Bernardo Sassetti é um pianista impressionante. Considero o João Paulo Esteves da Silva um verdadeiro portento da improvisação. Dos músicos mais recentes, respeito muito o domínio da tradição do Filipe Melo e admiro muito a confiança estética do Júlio. Há outros interessantes, como o Filipe Raposo, por exemplo. Mas julgo que os pianistas mais novos ainda têm de crescer bastante.  

JD - que tal foi sua experiência de tocar recentemente na 'Casa da Música' no Porto em trio?  

LF - Foi muito bom. O espaço tem uma dimensão óptima para este tipo de concerto, embora com alguns problemas acústicos. É importante passar por este tipo de salas.    

JD - acha necessário conhecimentos históricos jazz para um artista jazz?  

LF - Julgo que sim. É importante ter alguma noção da tradição, como acontece na música erudita (ou noutro estilo qualquer, imagino). Em qualquer área artística é essencial ter algum conhecimento sobre aquilo que já foi feito antes de nós. Mas não me parece que seja forçoso ser-se um perito em história do jazz. Essa é a função dos historiadores.  

JD - opinão sobre a maneira de tocar piano de Bill Evans? foi sua principal influência?  

LF - Bill Evans não foi a minha principal influência, mas foi o primeiro pianista que ouvi. É um pianista que admiro imenso, um autêntico craque em harmonia e uma sensibilidade musical única. Oiço-o bastante, mas julgo que a minha forma de tocar não o denuncia.  

JD - acha Jarrett um pianista jazz over rated?  

LF - De forma alguma. Jarrett é, para mim, "o" pianista. É um fenómeno inexplicável e considero-o um caso completamente à parte de todos os outros pianistas.  

JD - conhece a discografia de Teddy Wilson e John Lewis? sua opinião  

LF - De Teddy Wilson conheço pouco, apenas algumas coisas com Billie Holliday. Recordo sobretudo a elegância do seu piano. Quanto a John Lewis, conheço o seu trabalho com o MJQ.  

JD - free jazz atrai-o cumo músico? porquê? para quê?  

LF - Tenho uma relação ambígua com o free jazz. Dentro desse universo, interessam-me algumas coisas e desagradam-me outras. Gosto de algum do free inicial, a «new thing» propriamente dita, e acredito na ideia de improvisação livre. Gosto de ter momentos de improvisação livre, mas não gostaria de me dedicar inteiramente a essa orientação. Uma grande reserva que tenho é que sinto que há muita margem para bluff, um pouco como na chamada música contemporânea - aliás, na arte contemporânea em geral.  

JD - swing na execução em piano ainda hoje é necessário?  

LF - Eu diria que sim, se utilizarmos a palavra «swing» numa acepção mais abrangente. Nesse sentido é absolutamente indispensável. É preciso que a música swingue, que groove. Mesmo que se esteja a tocar em even eighths ou uma composição totalmente escrita. Isso tem a ver com ser um músico de jazz, é uma abordagem muito particular. Enquanto característica rítmica, não me parece indispensável.  

JD - a improvisação cultiva-se desenvolve-se?  

LF - Cultiva-se e desenvolve-se, sim.  

JD - prefere tocar com cbaixo e bateria ou com sopros?  

LF - Tenho mais experiência a tocar em trio (com contrabaixo e bateria). É um formato de que sempre gostei muito, e penso que há qualquer coisa de especial nele. Mas também gosto muito de tocar com sopros. Inclusivamente, tenho um quarteto com um trompetista (João Moreira), o LADO B, e teria todo o interesse em tocar com ensembles um pouco maiores e com mais sopros.  

JD - no que diz respeito a músicos / escolas jazz / público conhecedor de jazz / concertos / festivais / divulgação na imprensa rádio e tv Portugal está bem servido?  

LF - O jazz está hoje na moda, isso parece-me claro. E hoje em dia há uma quantidade enorme de festivais, escolas e eventos de jazz. Comparado com a altura em que eu comecei a interessar-me pelo jazz, o cenário está substancialmente diferente. É incrível como mudou tanto em apenas 10 ou 15 anos! O que me parece que ainda falta é alguma formação de públicos e de hábitos associados ao jazz, sobretudo fora de Lisboa e Porto.  

JD - decora seus solos antes de os 'improvisar'?  

LF - Não. Isso seria no mínimo estranho...  

JD - pratica música escrita?  

LF - Toco música erudita em casa, para estudo e prazer pessoal. Mas uma parte do jazz que faço também é escrita. Na minha opinião, o que muda substancialmente é a atitude perante o texto.

JD - que pensa do pianar de Cecil Taylor? e do de Jorge Lima Barreto?  

LF - Quando tinha uns 18 ou 20 anos, recebi de presente o disco "Conquistador!", de Cecil Taylor para a Blue Note. Na altura eu dedicava-me exclusivamente à música erudita, e a sensação de estranheza foi grande. Mas ficou-me a impressão de uma energia musical fortíssima. De Jorge Lima Barreto conheço pouco.   

JD - quais são para si os pianistas jazz vivos mais importantes e porquê importantes?  

LF - É sempre muito difícil fazer este tipo de selecção, mas vou arriscar-me a adiantar quatro nomes: Keith Jarrett, John Taylor, Brad Mehldau e Jason Moran. Jarrett pelo que já disse acima. Taylor porque é um mestre da linguagem e simultaneamente um original como pouquíssimos. Mehldau é um gigante e mudou o piano jazz numa altura em que se dizia que o jazz estava morto há muito. Moran porque sintetiza toda a história do piano jazz.  

JD - fale-nos de seu primero cd   LF - É um disco em trio, com o Nelson Cascais no contrabaixo e o Bruno Pedroso na

 bateria. É composto por composições minhas, à excepção de um standard, "I Fall in Love Too Easily". Estou bastante satisfeito com o resultado e as primeiras reacções têm sido muito favoráveis, o que é sempre agradável. Espero que venha a ter uma longa vida e que seja ouvido por bastantes pessoas.  

JD - quantos vezes cumo pianista de jazz actua por mês? dá para viver?  

LF - Depende muito dos meses e dos projectos em actividade. Estes primeiros meses do ano 2011 estão bem preenchidos, embora na sua maioria se trate de concertos em clubes e locais pequenos, em que o cachet é mínimo. É complicado viver das actuações, sem dúvida. O que acho admirável é que os músicos neste meio continuam a tocar porque acreditam na música e nos projectos, porque precisam de tocar, muitas vezes independentemente das remunerações.  

JD - quais as diferenças musicais que os jazzmen criaram pós morte de Coltrane em 1967? dado que o free surgiu há 53 anos teriam sido as confusões criadas por Miles?    

LF - Não me parece que o aconteceu no jazz depois de Coltrane seja assim tão diferente do que aconteceu antes. O que acontece é que tudo se passou a uma velocidade vertiginosa, e acompanhado por um factor central, o da escolarização generalizada do jazz. Isso produziu muito mais músicos, muito mais discos e muito mais orientações estéticas em simultâneo. Mas a minha visão da história do jazz é a de um estilo aglutinador e sempre curioso por tudo o que o rodeia.

JD - obrigado Luís Figueiredo

LF - Obrigado José Duarte


 
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