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Rita Nunes
15-10-2010 00:00
 

José Duarte - de onde veio seu interesse pelo jazz?

Rita Nunes - O jazz entrou na minha vida sem pedir licença. Sendo a minha formação no saxofone clássico, a rua do jazz sempre foi paralela à minha. Quando vim estudar para Lisboa, em 1995, conheci outros meios, outras pessoas, outras músicas. Uma vez reconhecida como boa saxofonista, especialmente no saxofone barítono, vi-me convidada para realizar um concerto com a orquestra do Hot Clube que foi a porta de entrada para o mundo do jazz que não mais abandonei. Como se de um destino se tratasse, foi no naipe de saxofones da Reunion Big Jazz Band que encontrei o meu marido que se tornou o meu mentor no jazz. Graças à sua vastíssima discografia e conhecimento, tenho vindo a aumentar o meu gosto e interesse por esta música.

JD - onde estudou música?

RN - Iniciei os meus estudos musicais no Conservatório Regional de Tomar ingressando depois na Escola Profissional de Música de Almada onde concluí o curso complementar de instrumento nas classes de Saxofone e Música de Câmara do professor Alberto Roque. Prossegui os estudos na Escola Superior de Música de Lisboa (ESML) onde me licenciei nas classes de Saxofone e Música de Câmara do professor José Massarrão. Realizei a Profissionalização em Serviço na ESML, no ano lectivo 2008/2009. E, actualmente, sou Mestranda do Curso de Saxofone na ESML.

JD - porque escolheu o saxofone?

RN - Na aldeia onde cresci existe uma Banda Filarmónica onde ingressei quando tinha 9 anos de idade. Nessa Filarmónica dava-se o clarinete às meninas e o saxofone aos meninos. Como sempre fui do contra, escolhi o saxofone. A parti desse momento tive a certeza que esse seria o meu instrumento.

JD - e porquê o alto?

RN - O saxofone alto sempre teve grande importância na minha vida. Foi o primeiro saxofone com o qual tive contacto, foi o primeiro que tive, oferecido pelos meus pai que sempre me apoiaram, e grande parte da minha formação foi feita neste saxofone. Embora tenha sido o meu eleito durante um longo período de tempo, durante a minha formação comecei a tocar saxofone barítono que rapidamente ganhou o seu espaço na minha vida sendo, neste momento, o instrumento com que me identifico mais. Considero que descobri o meu saxofone, a minha voz. O saxofone barítono é realmente o meu instrumento. Ainda assim, e devido à minha facilidade em mudar e me adaptar aos outros saxofones, tenho realizado trabalho com os vários, desde o soprano ao baixo sendo que, com alguma frequência, toco com todos na mesma performance. Curiosamente, o saxofone com o qual sinto menos afinidade artística é o saxofone tenor.

JD - quem são para si os melhores saxofonistas jazz em Portugal?

RN - Neste momento, felizmente, existe já um grande número de saxofonistas portugueses cujo trabalho é reconhecido e que muito admiro. Posso citar alguns, tais como: Desidério Lázaro, João Capinha, César Cardoso, Francisco Andrade, Guto Lucena. Não posso deixar de referir outros nomes da "velha guarda" como: Jorge Reis, Edgar Caramelo, Pedro Moreira e Carlos Martins. Na realidade já trabalhei com todos eles. Tenho a certeza que haverá muitos outros que desconheço.

JD - porque escolheu a big band dirigida por Claus Nymark?

RN - Na verdade, não fui eu que escolhi a big band, foi a big band que me escolheu! Em 2006 fui chamada para fazer uma substituição no saxofone barítono. Depois disso fui convidada a permanecer na orquestra. Na altura, já conhecia o Claus que é um músico que muito admiro. Realizámos vários trabalhos juntos, nomeadamente na Big Band do Hot Clube, pelo que aceitar esse convite e integrar a Reunion Big Jazz Band foi um prazer e uma revelação.

JD - qual foi o papel que Coltrane teve na História do jazz?

RN - Para mim o Coltrane foi um dos grandes inovadores. A sua influência perdurou no jazz até aos dias de hoje, o que é bem patente num dos meus saxofonistas favoritos, David Liebman.

JD - arrisca solos improvisados em jazz?

RN - Ainda não... Mas estou a trabalhar para isso.

JD - pensa que o público jazz e os músicos jazz em Portugal conhecem jazz?

RN - Penso que sim. Com a crescente oferta de concertos e festivais nos últimos 10 anos, mesmo quem não queira acaba por conhecer. Ainda que a profundidade desse conhecimento esteja, muitas vezes, longe daquilo que seria desejável, a crescente oferta de música ao vivo e a persistente divulgação do jazz na rádio, são chaves fundamentais neste processo.

JD - sua opinião sobre o ensino do jazz em Portugal

RN - Foi com muita satisfação que assisti à abertura do curso de jazz na Escola Superior de Música de Lisboa. A adesão foi completa e isso só pode significar que já fazia falta um currículo académico no jazz. Foi o meritório trabalho de escolas como o Hot Clube ou a JBJazz, entre outras, que proporcionaram o aparecimento de muito bons músicos que agora completam a sua formação académica nas escolas superiores. Parece-me assim, que o ensino do jazz está no bom caminho. Falta agora aproximá-lo às camadas infantis. De pequenino...

JD - qual o futuro dos alunos jazz em Portugal?

RN - A grande maioria criará os seus próprios projectos divulgando-os pelo país. Alguns encontrarão, também, outros palcos no estrangeiro.

JD - quais os melhores solos de saxofone que conhece gravados?

RN - Conheço muitos bons solos que me dão imenso prazer. Para aferir isso saiba que no meu casamento escutou-se Charles Loyd, Lovano, Griffin, Paquito, Harry Carney, Cannonball, Michael Breker Charlie Parker, Gerry Mulligan, George Adams, Lockjaw Davies e, como não podia deixar de ser, Coltrane.

JD - repertório onde se senta mais à vontade? standards? blues?

RN - Como solista, ainda em nenhum. Como "sidewoman" estou à vontade em tudo.

JD - conhece a discografia de Gene Ammons? e de Stan Getz?

RN - Na verdade, pouco mais conheço do trabalho do Stan Getz do que a discografia do reportório brasileiro, particularmente Jobim. O Gene Ammons desconheço, mas agora já fiquei com a "pulga atrás da orelha".

JD - quanto melhor tecnicista for melhor é um músico jazz?

RN - Penso que não. È obvio que a técnica ajuda, mas ser músico, seja ele do Jazz ou de outra área, vai muito para além da técnica. Já vi concertos de muita técnica mas ao fim de 10 minutos já me apetecia sair. De alguma maneira, o que sobrava em dedos faltava em música.

JD - considera o saxofonista David Sanborn um músico jazz?

RN - Essa é uma questão polémica. Penso que passamos demasiado tempo a rotular os músicos e a sua música quando na verdade a maior valência, nos dias de hoje, é sermos músicos versáteis e polivalentes. É incrível analisar gravações, de grandes nomes do jazz, nas várias fases da sua vida e perceber que nem sempre foram músicos de jazz como nós entendemos que deviam ser e não é essa uma razão que os torna menores. No entanto, o Sanborn tem gravações reconhecidamente de jazz.

JD - Obrigado Rita Nunes

15 outubro 2010


 
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