José Duarte - como começou com a orquestra de Lagos? Lucia Capobianco - Foi em maio deste ano através dum colega e amigo o contrabaixista Hugo Santos que conheci o trompetista Hugo Alves, director da Orquestra de jazz de Lagos. Nessa altura a Orquestra tinha uma tournée em Espanha e precisava de um substituto no piano, fui depois convidada pelo Hugo Alves para fazer parte da big band e dar aulas de piano na AJMMA (Atelier de Jazz e Musica Moderna do Algarve). É para mim um privilégio fazer parte desta formação. JD - onde nasceu sua paixão jazz? LC - Nasci em Itália, Nápoles. Já tocava piano clássico hà uns anos quando um amigo meu passou lá em casa com umas velhas cassetes de Charlie Parker, adorei, aquela musica dava-me uma grande sensação de liberdade e fui à procura de mais. De seguida frequentei a A.N.D.J. (Associazione Napoletana Diffusione Jazz) onde ganhei uma bolsa de estudo para frequentar um workshop em Siena com os pianistas Enrico Pierannunzi e Franco D'Andrea. Em 1999 mudei-me para Bruxelas para frequentar o Conservatoire Royale de Bruxelles no departamento de Jazz com o pianista Eric Legnini. Desde então continuo a estudar por mim e a acumular experiências. JD - que estilo jazz prefere? porquê? LC - Gosto tanto da tradição como do jazz moderno, não posso dizer que gosto mais de um estilo ou outro, o que me atrai muitas vezes é o universo particular de um musico, compositor ou a energia de um grupo. JD - sua carreira jazz desde quando? com quem? LC - Trabalhei bastante com cantores e autores na variedade e canção francesa e nalguns projectos jazz (Steve Houben,Sam Gertmans,Vincent Noiré,Didier Laloy, Alex Scorier...) mas não posso dizer que tenha propriamente uma carreira no jazz. Espero que esteja a começar... JD - aprecia Martial Solal? porquê? LC - Aprecio Martial Solal pela sua inventividade e criatividade, é um grande musico. JD - improvisa a solo? LC - De momento estou mais interessada na interacção e a tocar em grupo. Tenho algumas composições minhas, talvez um dia me lance nessa aventura. JD - conhece a discografia de 'Duke' Ellington e sua big band? LC - Não integralmente, há sempre coisas a descobrir, espero ter a ocasião de tocar algumas delas com a Orquestra. JD - a prática blues é-lhe familiar? LC - O blues influência também a minha linguagem e liga-me às raízes do jazz, a familiaridade constrói-se a partir daí. JD - quais são os pianistas jazz seus favoritos? LC - Gosto muito de Bill Evans pela sua sensibilidade e lirismo, a sua maneira de tratar a harmonia e as suas composições, adoro o album "You must believe in spring". Gosto também do groove de Herbie Hancock e do seu periodo funk. O Oscar Peterson pelo seu fraseado que transpira tradição do swing e do blues, que fluidez... adoro. E ainda, Keith Jarret, Brad Meldhau, Gonzalo Rubalcaba, John Taylor e muitos outros. JD - já ouviu Cecil Taylor? suas impressões LC - Já, mas acho que estou longe do seu universo. JD - conhece o panorama jazz português? opinião LC - Ainda não muito bem, estou a descobrir. JD - e o público português que tal? LC - É um publico caloroso e apreciador, foram as impressões que mais me marcaram. JD - suas gravações? LC - Ainda não gravei no dominio do jazz, como dizia há bocado, trabalhei sobretudo com cantores e autores na variedade e canção francesa com os quais gravei: Stéphanie Blanchoud (Á coeur ouvert), Fabrice Sautereau (Les Bombons), Olivier Ô (Jardin Secret). Espero vir a faze-lo em breve... JD - ouviu já Mary Lou Willams ou Geri Allen? LC - Geri Allen conheço, ouvi-a num concerto em Nápoles, ela tem imensa energia, gostei imenso, Mary Lou Williams infelizmente não conheço. JD - já tocou com grupos de músicos em combo? LC - Tive a ocasião de tocar durante um ano com a Little Brussels Big Band dirigida por Alex Scorier e também em todo o tipo de formações do duo à big band, e mais recentemente com a OJL redux(octeto) com a qual fizemos uma tour em Espanha. JD - jazzmen portugueses que prefere? LC - Ainda estou a descobrir... tenho actualmente o prazer e o privilégio de trabalhar com o Hugo Alves um dos melhores trompetistas portugueses, é alguém que transmite a sua experiência e paixão pela musica na direcção de uma big band. JD - sua opinião sobre free jazz? LC - Penso que no free jazz se pode alcançar uma grande liberdade de expressão e criatividade mas acho também ser necessário ter uma sólida bagagem nesta linguagem que é o jazz e na sua tradição para dela nos libertar-mos e fazer boa música. JD - que é que a fez decidir-se por Portugal e Lagos em particular? LC - O acaso... o destino, as pessoas, a orquestra em particular, e claro, o céu azul, as praias e o barulho das gaivotas...(risos) . JD - pensa que swing ainda é expressão válida no jazz de hoje? LC - Acho que o swing é a alma do jazz e ela está presente mesmo na expressão do jazz mais moderno. JD - a que atribui a pouca presença de mulheres na prática jazz? LC - Talvez a emancipação da mulher ainda esteja em curso, mas acho que há mais mulheres no jazz hoje em dia do que há 50 anos atrás. JD - obrigado Lucia Capobianco LC - Obrigada, foi um prazer. |