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Gonçalo Prazeres
15-04-2010 00:00
 

José Duarte - porque escolheu um instrumento de sopro para tocar jazz?

Gonçalo Prazeres - O saxofone é o instrumento que eu sempre quis tocar, mas pelo valor do instrumento e desconhecimento de professores de saxofone foi mais fácil começar pela guitarra. Passado uns anos comecei a aprender jazz e aos poucos começou a fazer sentido aprender a tocar o instrumento que gostava mais. É no saxofone que eu encontro e continuo a procurar a minha expressão artística.

JD - como começou a interessar-se por jazz?

GP - Tudo começou com o prazer que eu sempre tive em improvisar sobre blues/rock quando ainda tocava guitarra. A importância da improvisação no jazz chamou-me a atenção para este estilo. Aos poucos fui ouvindo o Miles Davis e daí descobri os seus sidemen e o seu trabalho. Em 1997 participei num workshop de 6 meses com o Zé Eduardo e fiquei apaixonado pelo Jazz.

JD - quais são os saxofonistas 'mestres' portugueses?

GP - Para mim é o Jorge Reis, inclusivamente trato-o por Mestre. É sempre uma inspiração ouvi-lo tocar.

JD - e estrangeiros?

GP - Lee Konitz, Mark Turner, Tony Malaby, Steve Coleman, entre outros.

JD - conhece a discografia de Jon Iragagon?

GP - Não. Já ouvi um pouco de um disco do grupo Mostly Other People do the Killing e gostei mas não conheço mais nada dele, infelizmente.

JD - leva solos na memória ou são verdadeiramente improvisados?

GP - Uma parte do meu estudo diário é transcrever solos e praticar vocabulário jazzístico, outra parte é improvisar sobre standards de jazz e tentar realmente improvisar algo novo. Nos concertos procuro que os meus solos sejam o mais improvisados possível e que estejam ligados àquele momento.

JD - como se passou a gravação de seu primeiro cd?  (etiqueta - estúdio - repertório - músicos com quem tocou - porquê 'Depois de alguma coisa' - takes)

GP - A gravação foi feita em dois dias e com poucos ensaios. Nunca tínhamos tocado juntos até ao primeiro ensaio. Fomos descobrindo como tocar uns com os outros e como desenvolver uma sonoridade de grupo já com os microfones ligados. Foi um ambiente muito descontraído mas intenso. Gravámos no estúdio Timbuktu do André Fernandes e do Nuno Costa. O quarteto base é formado pelo Nuno Costa na guitarra, Demian Cabaud no contrabaixo e Luís Candeias na bateria. O vibrafonista Jeffery Davis aparece como convidado em duas músicas. São todos músicos que me inspiram, muito criativos e que dão o seu melhor sempre que tocam. O disco chama-se "Depois de Alguma Coisa". Esta é uma das músicas que me marcam mais no disco pela intensidade como é tocada. O nome da música fica à interpretação de cada um.

JD - tocou alguma vez no extinto Hot? em que clubes jazz portugueses (se os há...) já tocou?

GP - A primeira vez que toquei no Hot foi em 2001 ainda como guitarrista numa jam session. Desde então toquei várias vezes em jams e concertos, tanto como líder do grupo como sideman. Existem outros bares com música ao vivo onde também se toca jazz regularmente, mas como o Hot Clube não há nenhum. Espero que o Hot volte muito rapidamente.

JD - ouve cds jazz? onde? na rádio? há cds à venda? só na Amazon?

GP - Oiço bastante música de vários estilos, principalmente no carro que é onde verdadeiramente tenho tempo para ouvir os cds que compro. Procuro regularmente música nova, sejam clássicos ou música recente, em lojas e através da internet. Não há nada como ter os discos originais!

JD - qualidades e defeitos do mini-mundo jazz em Portugal?

GP - O mundo do jazz em Portugal é cada vez maior, com mais e melhores músicos, muitos deles bastante originais. Ainda assim existem músicos que teimam em criar rivalidades no meio, como se não houvesse espaço para todos. Numa altura em que há cada vez mais cruzamento de diferentes tipos de música e conceitos, para mim não faz sentido estar fechado num só estilo. Música é música!

JD - toca blues? o que é um blues (musical e socialmente)?

GP - Claro que toco blues, mas não é a minha estrutura favorita para improvisar.

JD - seu standard favorito para sobre ele improvisar?

GP - Nos últimos tempos tem sido o "Out of Nowhere" principalmente pela melodia do Lennie Tristano "317 east 32nd Street". Há uns meses era "You Stepped Out of a Dream".

JD - aprende-se a tocar jazz no colégio Berklee ou na escola Hot?

GP - Nos dois sítios aprendem-se técnicas fundamentais, mas mais importante do que isso é o contacto que se estabelece com professores e colegas. Estas relações inspiram e alimentam o processo de constante aprendizagem e descoberta. Creio que só se aprende jazz ao tocar com outros músicos, a ter aulas e conversas com músicos que inspiram e a ouvir jazz ao vivo e nos discos.

JD - os jovens jazzmen portugueses tocam jazz muito parecido com um imaginável estilo entre swing e bebop? e todos parecidos uns com os outros?

GP - É natural haver semelhanças de conceitos entre alguns músicos, mas não são cópia uns dos outros

JD - agrada-lhe a disciplina do solista improvisador numa big band lendo arranjos? já tocou em big band?

GP - Gosto muito de tocar em Big Band e em naipe. Dá-me imenso prazer tocar os arranjos da big band do Count Basie, Duke Ellington e Thad Jones. Estou sempre pronto a tocar neste tipo de formação.

JD - melhor concerto que assistiu em Portugal?

GP - É difícil escolher o melhor. Entre os favoritos estão Claudia Quintet no Jazz em Agosto, Dave Holland no Seixal Jazz em 1998 ou 1999, o quarteto do Carlos Barreto com o Perico Sambeat, o Bernardo Sasseti e o Mário Barreiros, o quinteto do Pete Rende com o Chris Cheek, AOM Trio com o Mark Turner, trio do Carlos Bica, todos no Hot.

JD - como classifica comportamento com o jazz da Casa da Música no Porto e da Fundação Gulbenkian em Lisboa?

GP - A programação da Casa da Música parece-me muito mais dirigida para o Jazz. Costuma ter na programação actuações de grandes músicos de jazz não esquecendo os músicos portugueses. Admito que muitas vezes fico a roer as unhas por haver no Porto um concerto que quero mesmo ver mas como vivo em Lisboa nem sempre é possível fazer os quilómetros necessários. Em Lisboa, a Fundação Gulbenkian tem uma programação com bastante menos concertos de Jazz mas por outro lado tem o Jazz em Agosto, um festival de que gosto muito. Costumo estar mais atento à programação da Culturgest que está mais dirigida para os meus gostos musicais.

JD - dão-lhe para viver euros ganhos com suas actuações como jazzman?

GP - Dão para viver mas nem sempre é o suficiente. De qualquer forma gosto de tocar em bandas de outros estilos musicais e de dar aulas.

JD - o uso de swing perdeu-se na História do jazz?

GP - Creio que não. Actualmente existe uma grande influência da música pop e são tocados mais temas "even eights" mas o swing é parte importante do jazz e por isso dificilmente se irá perder.

JD - quem escolheria para constituir uma secção rítmica ideal?

GP - Paul Motian e Drew Gress. São dos meus favoritos e certamente seria incrível tocar com eles. Um dos meus discos preferidos é o "Adobe" do Tony Malaby, trio de saxofone com esta secção rítmica.

JD - conhece a discografia de Charlie Parker?

GP - Sim. É obrigatório para qualquer saxofonista e músico de jazz. Faz parte da história e é incontornável.

JD - conhece New York do jazz? é um must para qualquer jazzman

GP - Já fui a Nova Iorque algumas vezes e volto quase sempre inspirado. Existem tantos clubes com música diferente e é possível ver, praticamente todos os dias, músicos que admiro. Gosto de lá ir com frequência mas não é uma cidade em que me veja a viver durante muito tempo.

JD - conhece a obra em sax soprano de Bechet ou Coltrane ou Lacy? toca soprano?

GP - Conheço relativamente bem os discos do Coltrane em que ele toca saxofone soprano. Por vezes toco soprano embora prefira sempre o alto e o barítono.

JD - obrigado Gonçalo Prazeres


Gonçalo Prazeres
 
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