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Paulo Perfeito
23-07-2010 00:00
 

José Duarte - é um músico de várias de todas as músicas ou só de jazz?

Paulo Perfeito - Na minha opinião, um músico de Jazz é sempre um músico de varias musicas uma vez que o Jazz é, na sua génese e tem-no sido durante toda a sua história, uma fusão de varias culturas, estéticas e linguagens musicais. Se fosse possível definir o Jazz teria que ser através de uma linhagem de criadores espontâneos que, apesar de conhecedores e seguidores da tradição, sempre souberam inovar e tirar partido do ambiente sonoro que os rodeava.

JD - que idade tem e como e quando começou com jazz?

PP - Nasci em 1974, com a liberdade e comecei a estudar musica na Filarmónica que os meus antepassados fundaram no Porto. Conheci mais tarde dois grandes pedagogos do Jazz que me iniciaram na linguagem, um foi o Alberto Jorge na Escola de Jazz do Porto e o outro foi o Paulino Garcia no Conservatório.

JD - porquê o trombone?

PP - A paixão pelo trombone não apareceu de imediato. O meu primeiro instrumento foi o trompete para o qual não tinha grande aptidão... daí fui para o euphonium (popularmente conhecido por bombardino). Uma vez que no Conservatório não existia classe neste instrumento optei por aquele que tinha mais semelhanças. Hoje em dia considero que fiz uma escolha feliz.

JD - trombone é instrumento onde os sons não estão 'marcados' como estão com as chaves dos saxofones ou as teclas do piano é preciso ir à procura delas apalpá-las... - comentários

PP - Assim é, de facto. Essa característica torna a aprendizagem mais difícil pois a questão da afinação, que é uma das mais difíceis de resolver, é-nos colocada logo desde o inicio... não há onde nos "agarrarmos" daí que temos que começar logo a desenvolver a pratica de escutar o que nos rodeia em busca de referências. Talvez por isso tantos trombonistas se tornam bons arranjadores/orquestradores.

Apesar disso, essa é precisamente a grande mais-valia deste instrumento, a sua expressividade, o seu carácter orgânico que tento o aproxima da voz humana.

JD - trabalha na área do Porto e em Sines! comentários

PP - O músico tem duas opções; ou toca para si próprio com as obvias consequências que dai advêm, ou toca para quem o quer ouvir. A razão para repartir o meu tempo entre estas duas cidades é ter encontrado em ambas quem me queira ouvir numa perspectiva artística e pedagógica.

Na minha opinião, quem ensina musica tem que ser musico a tempo inteiro e manter na sala de aula a mesma paixão e postura que teria num palco. Alem disso, acho que manter a nossa carreira de performers e criadores e actualizar-nos face ao panorama musical é a única forma de nos prepararmos para transmitir aos nossos alunos os conhecimentos necessários para fazer deles músicos bem preparados. Tendo a minha carreira de performer sedeada no Porto obriga-me a uma deslocação semanal a Sines que faço com agrado pois o ambiente lá criado é muito prometedor e aliciante.

JD - como arranjador sua opinião sobre 'Duke' Ellington e Maria Schneider

pp -Duke foi o primeiro Jazz Composer. Não que ate aí não houvesse compositores da linguagem mas tratava-se fundamentalmente de Song Writers ou arranjadores. Duke desenvolve e expande formalmente as suas composições, escreve para os seus músicos numa perspectiva individualizada tirando real partido das suas mais-valias, apoia-se na tradição Jazzistica mas as suas obras revelam influencia claras da sua formação em música erudita. É quase impossível ser um Jazz Composer moderno sem compreender a importância histórica e dissecar pelo menos algumas das obras de Duke.

Maria insere-se, na minha opinião, na escola que Gunther Schuler baptizou de Third Stream. A sua estética tem evoluído progressivamente para a equidistância entre o Jazz e a Musica Erudita.

Uma delicadeza melódica que por vezes contrasta com uma elaborada textura contrapontística (Choro Dançado) ou mesmo a agressividade de um ostinato grave sobre o qual assenta toda a orquestra (Dance you monster...) são características que se sobrepõem à herança de Gil Evans ou Bob Brookmeyer. Desde o primeiro álbum Evanescence, com uma escrita quasi-tradicionalista e seccional ate Concert in the Garden e Sky Blue onde a composição e as texturas orquestrais revelam uma técnica muito mais madura mas também mais distante do main stream, Maria tem-se afirmado como uma das principais criadoras do Jazz Contemporâneo. A sua música é definitivamente bela mas talvez não tão seminal como a da Duke, Mingus, Gil Evans ou Brookmeyer.

JD- conte-nos a história do cd 'Bodhi Suite' gravado em 2006 e onde toca com 5 músicos jazz portugueses só composições e arranjos seus

PP - Na última edição do Festival de Jazz do Porto tive a felicidade de me ter sido encomendada uma composição. Tratava-se de uma oportunidade única para um jovem musico/compositor pois para alem da estreia no palco do teatro Rivoli ainda existia o apoio à  gravação e edição do CD; algo que não acontecia, nem voltou a acontecer no nosso país. Pouco tempo após a encomenda iniciaram os eventos que levaram a que o Porto "perdesse" não só um Teatro Municipal mas também a empresa que o geria; empresa esta que por muitos defeitos que tivesse tinha pelo menos a virtude de encarar a vida cultural da cidade com uma certa responsabilidade formativa. Ao ser confrontado com a ignorância que se instituía face a impotência ou mesmo conformismo das massas, uma forte identificação com a fé Budista motivou-me a escrever esta obra cujo significado está detalhadamente explicado abaixo:

Bodhi em Sânscrito e Pali significa despertar. Um despertar da consciência, do conhecimento e da percepção. Tradicionalmente a palavra tem sido associada com o estado de iluminação atingido por Sidartha Gautama quando se tornou n'O Buda mas também com a Arvore debaixo da qual meditava quando tal sucedeu. 

Nesta perspectiva Bodhi é o oposto da ignorância, o entendimento da existência que destrói o sofrimento e pacífica. A ignorância gera o medo, e este por sua vez motiva a agressividade. Assim sendo, a busca de BODHI como estado de espírito é do interesse de qualquer Ser mas também da humanidade como um colectivo.

Na sequência do meu ultimo trabalho Ahimsa (não-agressão), o titulo agora escolhido enquadra-se no meu estado de espírito face ao enraizamento progressivo e generalizado da ignorância, mediocridade e conformismo na sociedade. O titulo não pretende de modo algum ser uma critica mordaz ou direccionada mas antes uma manifestação da solidão sentida por aqueles que ainda apreciam a estética nas suas infinitas formas e ambicionam um Universo melhor.

A BODHI SUITE pretende ser um gesto único. Apesar de vários momentos de grande contraste, existem elementos que usados durante a peça a solidificam como um corpo Uno. A melodia que representa a Arvore, inicialmente apresentada pelo contra-baixo é o exemplo de um destes elementos que será revisitado diversas vezes. Outro elemento de grande importância são os números primos, apenas divisíveis por eles próprios ou pela unidade, foram usados inúmeras vezes como fonte de inspiração rítmica. O intervalo de quinta perfeita, com uma proporção 3:2 representa progressão e é usado logo no início tornando-se posteriormente motívico. Finalmente o motivo cíclico minimalista apresentado pelo piano, na sua essência de algo que muda mantendo-se inalterado, representa o princípio da impermanência em todas as coisas.

A música não deve ser um objecto cristalizado, deve crescer e manter-se viva. A vida é improvisação contínua e improvisar não é mais do que composição espontânea. Os momentos de improvisação nesta peça são também momentos de descoberta e experimentação que completam e maturam a obra musical. Assim, resta-me conceder os créditos merecidos aos elementos do 6teto pois eles têm sido na realidade, muito mais do que meros operários, os co-compositores da minha música.

JD -  seus músicos de jazz portugueses e estrangeiros preferidos e respectivas razões

PP - Os meus músicos preferidos variam com a ocasião em que sou confrontado com essa questão por isso vou-me limitar a 3 de cada porque não e possível nomear todos os que realmente gosto. Entre os músicos de Jazz Portugueses destacam-se Zé Eduardo pela criatividade e sentido de humor, Carlos Azevedo que eu considero o maior Jazz Composer Português e João Paulo Esteves da Silva, um músico/compositor genial e um improvisador de extremo bom gosto sem medo de ser Português.

Internacionalmente, John Hollenbeck lidera a lista porque se trata de um compositor que escreve para grande ensemble de uma forma totalmente inovadora e surpreendentemente bela. Wycliffe Gordon é para mim O Trombonista da nova geração, técnica e musicalmente muito bom, possui um grande sentido de humor e está fortemente enraizado na tradição do Blues e sobretudo do Gospel. Finalmente Ben Alison é um músico cuja carreira tenho seguido atentamente. A sua escrita para pequeno ensemble é muito interessante e inclui frequentemente timbres menos convencionais como o violoncelo ou a cora. O Jazz Composers Colective de que ele faz parte tem um projecto que eu considero louvável pois recria os temas de Herbie Nichols, um músico de grande talento menosprezado pela história.

JD - conhece o jazz dos trombonistas jazz n-americanos Kid Ory e J. J. Johnson? 

PP - Trata-se dos trombonistas de Jazz mais significativos da primeira e da segunda geração respectivamente, praticando duas linguagens muito distintas: Traditional Tailgate e Be-Bop. Nas primeiras décadas do sec. XX Ory liderava uma das bandas mais populares de New Orleans onde tocava com Jelly Roll Morton, "King" Oliver e Louis Armstrong entre outros. Ory era detentor de uma notável energia sonora e uma expressividade emocional que assentava essencialmente na articulação, nos longos glissandos e no growl pois a linguagem harmónica e melódica da época era caracterizada por uma grande simplicidade.

Uma das consequências do surgimento do Be-Bop foi transformar o trombonista numa "raça em extinção" (tendência que ainda hoje se mantêm.) J.J. Johnson foi o re-inventor do trombone nesta época desenvolvendo técnicas como o doodle-tonguing ou against the grain que tornavam a articulação mais rápida nos fulgurantes tempos do Bop.

Se não conhecesse (e não adorasse) J.J., teria ainda assim que manifestar a minha ligação a este músico pois trata-se do trombonista mais influente da história do Jazz. Há um pouco de J.J. em todos os trombonistas modernos ainda que seja por via de outros músicos.

JD - que tal a cena jazz portuguesa actual no que diz respeito a concertos, clubes, festivais, mercado de cds portugueses e estrangeiros?

PP - A cena Jazz Portuguesa padece, a semelhança de muitas outras áreas, de um défice de criação nacional. Muito embora as coisas estejam a melhorar existe ainda uma tendência de atribuir maioritariamente os palcos a artistas estrangeiros sem que muitas vezes isso se justifique com critérios de qualidade.

Os festivais são imensos e alguns de grande qualidade mas na minha óptica dever-se-ia investir mais na programação regular pois será esse tipo de perseverança que potencialmente ajudará na criação de novos públicos. Não faz grande sentido investir dinheiro do orçamento de estado na criação de cursos superiores que trarão para a rua dezenas de artistas licenciados por ano sem que isso se traduza numa real capacidade do mercado absorver grande parte dessas competências.

Relativamente a cds, hoje em dia a dificuldade de obter seja o que for e quase mínima uma vez que Internet colocou quase tudo ao nosso alcance. A grande dificuldade esta em ser criterioso com as nossas escolhas. Relativamente a edição, também me parece que as dificuldades de produzir um trabalho são hoje em dia significativamente menores do que a uns anos atrás.

De qualquer modo, persiste ainda um problema sério com o qual eu e os meus colegas nos debatemos há muito tempo que é a ausência quase completa de agentes e promotores. Muitas vezes os músicos vêem-se confrontados com a dificuldade de ter, eles próprios, que lidar com as questões burocráticas e de representação. Na minha opinião um músico deveria preocupar-se exclusivamente com questões relacionadas com música sem esgotar grande parte do seu tempo com telefonemas, reuniões e recibos verdes que demoram uma eternidade a ser liquidados.

JD - o público português de jazz sabe jazz?

PP - Algum publico saberá de Jazz, outro talvez nem tanto. No entanto o ideal seria que todos tivessem abertura de espírito para tentar apreciar uma forma de arte que requer alguma disponibilidade intelectual e flexibilização dos nossos parâmetros estéticos preconcebidos.

Penso que aí há ainda um longo percurso a fazer, não só no Jazz mas na música em geral. Há que reformular o nosso sistema de ensino de modo que seja mais abrangente e exponha os alunos ao máximo possível de experiências... Ninguém sabe se gosta de uma determinada iguaria sem que esta lhe seja dada a provar. Algumas iguarias requerem mesmo  uma certa adaptação do palato para serem devidamente apreciadas. Se as novas gerações forem expostas ao Jazz certamente estaremos a criar muitos ouvintes num futuro próximo.

JD - como se aprende jazz?

PP - O caminho faz-se caminhando. Aprende-se Jazz tocando, mas sobretudo ouvindo discos e concertos. Intelectualizar, memorizar e ouvir conselhos de músicos mais experientes numa sala de aula é um bom atalho que nos pode poupar anos de caminhada. Se não se for capaz de transpor espontaneamente para o instrumento aquilo que se ouve no nosso intimo criativo a "aprendizagem" não vale de nada. Esse ponto só se atinge tocando e estudando o instrumento quase obsessivamente. Na verdade o Jazz não tem professores, só alunos!

JD - em Portugal existem muitos guitarristas jazz (demais?) mas menos saxofonistas pianista trompetistas cbaixistas bateristas e ainda menos trombonistas porque serà?

PP - As dificuldades técnicas do instrumento levam a que muita gente desista. Basta ver que numa guitarra, piano, bateria etc. consegue-se emitir som a partir da primeira vez que se toca no instrumento... ate se pode tocar uma melodiazinha ao fim de poucas aulas. No caso dos sopros pode levar meses ate que um aprendiz emita algo parecido com o som que se pretende. Isto é logo a priori um grande factor de desmobilização. Alem disso, porque a televisão publica e algumas autarquias tem abdicado do seu papel educativo, cada vez menos se assiste a espectáculos que integram este tipo de instrumentos pelo que quando um aluno chega a uma escola de musica para aprender um instrumento:

1 - Nao escolhe um instrumento que desconhece;

2 - Nao escolhe um instrumento que não irá torna-lo propriamente popular entre os colegas.

JD - depois de estilos como o de New Orleans do swing do bebop do free qual será o futuro do jazz?

PP - O Jazz disseminou-se mais ou menos esteticamente coeso. Salvo raras excepções como por exemplo o Quintette du hot club de France que nos anos 30 e 40 practicava uma linguagem muito propria, as regras estéticas do Jazz foram, ate aos anos 70 com o aparecimento da ECM, ditadas quase exclusivamente pelos músicos Americanos.

No futuro, o Jazz pode muito bem localizar-se através da fusão de elementos da tradição main-stream com elementos das músicas locais e desenvolver inúmeras nuances estéticas regionais. Na Europa já temos observado este fenómeno, mais prevalente nos países de leste, e chamamos a isso Nu Jazz.

JD - já compõs blues? porquê?

PP - já escrevi diversos Blues em varias linguagens; aliás faço-o regularmente como forma de exercício... como podem testemunhar os meus alunos de composição. O Blues é a raiz mais profunda da linguagem, é a forma mais intuitiva de todas e adequa-se simultaneamente a uma abordagem simples ou de elevada complexidade.

Alem disso, a forma do Blues tem-me servido de matéria-prima para o desenvolvimento de outras formas, nomeadamente expandindo e modificando a fórmula original para criar secções de solo nas minhas composições. Isto acontece recorrentemente em Bodhi Suite. Nesta perspectiva penso muitas vezes no blues como um compositor clássico pensaria na forma sonata.

JD - como solista improvisador os blues agradam-lhe prefere-os? porquê?

PP - Como improvisador tenho reparado que o Blues é um veículo muito eficaz para articular ideias entre músicos e audiência. Dada a sua forma simples e quase hipnótica, que pode ser intuída com relativa facilidade ate pelas audiências menos especializadas, assim como a sua linguagem melódica, frequentemente apoiada em escalas pentatónicas que nos remetem para referencias quase primitivistas, o Blues permite que o improvisador vagueie, pesquise e se arrisque por terrenos menos sólidos sem correr grandes riscos. Nestas alturas, um cliché bem colocado é normalmente suficiente para aliviar a tensão, regressar ao familiar e congregar a audiência em torno de algumas manifestações por vezes bastante sonoras.

JD - gosta de compôr de escrever arranjos de tocar em big bands?

PP - Enquanto compositor, a Big Band é o meu habitat natural. não existe tradicionalmente no Jazz outro agrupamento onde se reúnam simultaneamente tantas possibilidades tímbricas. Ao contrário do que muita gente acredita, não foram os compositores que criaram as Big Bands mas estas é que potenciaram o aparecimento da actividade de Jazz Composer. Na medida que cresciam os salões de dança cresceram também os agrupamentos que lá tocavam, passando a existir a necessidade de se criar um reportório para estas novas formações. Hoje em dia a Big Band tornou-se de tal modo erudita que já ninguém se lembra que o Jazz era uma música funcional... Servia para entreter, dançar e ate rir (Perguntem ao Cab Calloway) Neste momento e com a disponibilidade generosa de alguns amigos meus, fundei a minha propria Big Band que actua regularmente no palco do Hot5, a Nu Jazz Orchestra.

Paulo Perfeito Nu Jazz Orchestra - "Nu Jazz is to (traditional) Jazz what punk or grunge was to Rock. [...] The songs are the focus, not the individual prowess of the musicians. Nu Jazz instrumentation ranges from the traditional to the experimental, the melodies are fresh, and the rhythms new and alive. It makes Jazz fun again." Tony Brewer, Jazz Critic A Nu Jazz Orchestra, liderada pelo trombonista e compositor Portuense Paulo Perfeito, actua regularmente no palco do Hot5. Este notável grupo de músicos de acentuado carácter inconformista, eclético e rebelde tem como missão reinventar o Jazz e a Big Band. Num sublime Blitzkrieg de criatividade e humor a Nu Jazz ira explorar novas fronteiras musicais e num impulso quase iconoclasta fundir, adulterar e caricaturar varias linguagens.

JD - tem trabalhado com David Murray músico residente em Portugal, Sines - com que fim?

PP - não se trata de trabalho propriamente dito. Eu admiro o trabalho do David desde há muito tempo, tendo inclusive estudado alguma da sua música durante o Mestrado pelo que foi uma honra enorme para mim conhece-lo pessoalmente. Desenvolveu-se entre nós uma relação de amizade e respeito que tem dado alguns frutos do ponto de vista musical. não só partilhamos Jam Sessions como eu lhe tenho dado umas dicas com a transcrição informática das suas partituras. Nas celebrações do passado dia 25 de Abril em Sines apresentei uma composição original de 45 min dedicada aos ideais da revolução onde o David Murray foi o solista convidado.

JD - nomeie os trombonistas jazz portugueses - qual o seu preferido?

PP - Claus Nymark e Lars Arens, muito embora não tenham nascido cá representam o mais alto expoente do instrumento no nosso país. Ruben Santos, Luís Cunha, Rui Gonçalves são aqueles que me recordo de imediato. Quanto a escolhas, não faço! Considero  que todos são bons, embora com características distintas pelo que qualquer comparação ou escolha seria desadequada.

JD - que lhe faz falta no mundo jazz português de hoje?

PP - Acho que tenho vindo a responder gradualmente a esta pergunta ao longo de toda a entrevista. Falta-me no entanto dizer que os músicos necessitam urgentemente de se organizar e agrupar em torno de uma estrutura comum que lhes permita exercer algum poder de lobby em torno das entidades que directamente influenciam a nossa profissão. A respeitabilidade da profissão tem-se-nos escapado por entre os dedos por culpa quase exclusiva da incapacidade dos músicos se mobilizarem.

JD - já tocou no Hot? na Casa da Música? porquê?

PP - Toquei na Casa da Musica mesmo antes desta estar concluída... menciono isto porque o fiz integrado na Orquestra de Jazz de Matosinhos dirigida pela Carla Bley, ao lado do Steve Swallow e do Gary Valente naquele que foi um dos concertos mais memoráveis da minha carreira. Entretanto tenho actuado lá regularmente. Infelizmente no Hot não toquei tanto como gostaria... prefiro só dizer que seja qual for a causa, é muito difícil para um músico de Jazz do Porto apresentar-se na capital. Honras devidas para as raras excepções. Esta situação também poderia ser minorada se houvessem mais projectos transfronteiriços promovidos pelos músicos.

JD - só vive do jazz?

PP - Finalmente posso dizer que sim. Após ter passado muitos anos a fazer concessões artísticas várias hoje divido-me entre a performance, a composição e a pedagogia mas todas elas exclusivamente ligadas ao Jazz

JD - obrigado Paulo Perfeito


 
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