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Luís Figueiredo
18-05-2010 00:00
 

José Duarte - desde quando estuda piano?

Luís Figueiredo - Desde os oito anos.

JD - o que lhe falta para terminar os estudos portugueses de piano jazz? ou já terminou?

LF - A bolsa que me foi concedida pela FCT para realizar este trabalho termina em Setembro de 2010. Vamos ver se tudo fica concluído até lá.

JD - Quem o acompanha em seus estudos piano jazz?

LF - Na parte prática, Mário Laginha. Na parte teórica, Susana Sardo.

JD - quem o examina?

LF - No final deste trabalho, defenderei a minha tese perante um júri de investigadores nomeado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e pela UA, do qual fará parte a minha orientadora teórica. Quanto à parte prática, terá lugar um concerto final (ou uma série de concertos) que originará provavelmente um CD. Aí estarão presentes também alguns músicos, entre os quais o Mário Laginha.

JD - pode-se ser licenciado em piano jazz em Portugal?

LF - Sim, desde 2002 na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo do Porto, e mais recentemente na Escola Superior de Música de Lisboa e na Universidade de Évora.

JD - e ser professor? como se obtém o doutoramento?

LF - Julgo que não existem em Portugal licenciaturas orientadas para o ensino do jazz (como existe por exemplo na Universidade de Aveiro e noutras, mas na área da música erudita). O doutoramento em jazz obtém-se, para já, com um trabalho sobre jazz desenvolvido sob orientação de um académico da área da música. Foi o que sucedeu com o Ricardo Pinheiro, guitarrista de jazz lisboeta que concluiu em 2008 o seu doutoramento na Universidade Nova de Lisboa, com uma tese sobre a jam session em Nova Iorque sob orientação da professora doutora Salwa Castelo-Branco. A minha situação é semelhante, muito embora o meu programa de doutoramento preveja também uma parte prática.

JD - qual a importância da Universidade de Aveiro no ensino e divulgação do jazz em Portugal?

LF - A UA é uma instituição pioneira no estudo do jazz em Portugal. Sobre a valiosíssima colecção doada pelo JD, foi criado o Centro de Estudos de Jazz, que alberga e oferece condições a investigadores e alunos para realizarem estudos de pós-gradução em jazz, com recurso a um importante arquivo português. Na vertente performativa, a UA permite também o contacto com músicos de relevo, tanto enquanto orientadores de pós-graduação (como é o meu caso) como em situações pontuais de workshops.

JD - tem bolsa para estudos?

LF - Sim, da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

JD - que sabe da História do piano em jazz? de Eubie Blake a Jason Moran?

LF - No jazz comecei pelo fim: Keith Jarret, Brad Mehldau, Chick Corea, Esbjörn Svensson, Mário Laginha. Desde então, tenho andado para trás. Mas confesso que os estilos mais antigos de jazz não me atraem tanto, sobretudo quanto ao piano. O Moran interessa-me muito porque penso que faz uma síntese fantástica do percurso do piano jazz.

JD - qual o seu pianista jazz português favorito? porquê?

LF - O primeiro pianista português que conheci (musical e pessoalmente) foi o Mário Laginha, por isso a minha relação com ele e a sua música é muito especial. Suponho que é o pianista que tenho mais presente na minha música, por razões óbvias. O Mário tem uma musicalidade absolutamente contagiante e o piano dele é muito especial. Mas com o tempo descobri muita coisa importante em outros pianistas: Bernardo Sassetti, Filipe Melo, João Paulo, Rodrigo Gonçalves, Júlio Resende e outros.

JD - segue estilos como os de Cecil Taylor ou Matthew Shipp? ou prefere os de Tommy Flanagan - Hank Jones - Barry Harris?

LF - Conheço todos estes pianistas superficialmente, sobretudo porque me atraem mais os músicos que cruzam estes dois eixos (mainstream e free) do que propriamente os que exploram cada um deles. A fusão de estilos é uma abordagem importante para mim.

JD - estilisticamente que separa Bill Evans de Keith Jarrett ou Keith de Bill? ouve-se o toque de algum deles no seu tocar?

LF - Evans foi o primeiro pianista de jazz que ouvi, mas Jarrett foi o primeiro por que me apaixonei. É ainda hoje o pianista que mais oiço, e por isso é provável que se oiça algo dele na música que faço. Bill Evans é um pianista arrebatador, com um controlo harmónico impressionante e uma sensibilidade única. Jarrett é o homem-piano: julgo que é impossível retirar mais do instrumento.

JD - quando e com quem actuou em público?

LF - Eu toco em público há bastante tempo, embora não necessariamente na área do jazz, uma vez que a minha formação é na música erudita. Toco jazz seriamente há relativamente pouco tempo, e desde então toquei com Nelson Cascais, Bruno Pedroso, Júlio Resende, Mário Laginha, João Custódio, Joel Silva. Tenho tocado em locais do jazz lisboeta (Hot Club, Ondajazz, Braço de Prata, etc.) e em diversos eventos pelo país, incluindo festivais, teatros, auditórios municipais, conservatórios, etc.

JD - o público jazz português sabe jazz?

LF - Agora sabe mais, embora continue a ser um nicho. Na verdade, sempre o foi, não concorda?

JD - sua opinião sobre o ensino de Música em Portugal e em particular de Música jazz?

LF - Não fossem as ameaças ao ensino artístico especializado e eu diria que tende a melhorar, embora lentamente. Quando comecei a estudar música, só existiam os conservatórios, o HCP e a Escola de Jazz do Porto. O conservatório era (é?) uma instituição extremamente conservadora e até castradora para alguém como eu, que tinha uma visão transversal da música. Hoje em dia, os conservatórios são instituições um pouco diferentes, há licenciaturas em música erudita de valor considerável, e já é possível estudar jazz de bom nível na universidade. Ainda assim, essas mudanças situam-se sobretudo em Lisboa e Porto.

JD - inconvenientes e/ou vantagens de pianos acústicos?

LF - Só vejo vantagens.

JD - para consigo tocar quem convidaria? português e/ou estrangeiro?

LF - Não tenho uma resposta rápida para esta pergunta. Não vou responder que gostaria de tocar com Coltrane ou Mingus (embora fosse verdade). Os músicos com que gostaria de tocar são aqueles a quem reconheço uma sonoridade muito particular, como Jon Christensen, Perico Sambeat, Charlie Haden, Branford Marsalis ou Ralph Towner. Mas poderia dar dezenas de nomes. Na fase em que me encontro, o músico com quem gostaria de tocar é o próximo.

JD - sua opinião sobre Martial Solal

LF - Do que conheço, é um pianista com um domínio estrondoso do instrumento. Estilisticamente, soa-me bastante «americano».

JD - sua discografia?

LF - Nenhuma, por enquanto.

JD - que idade tem?

LF - 29.

JD - é verdade que o piano acústico perdeu importância em grupos de jazz?

LF - Não creio.

JD - toca blues?

LF - Menos do que devia.

JD - quais standards são seus favoritos?

LF - É-me muito difícil escolher uma ou duas composições de entre os milhares de standards que existem. Tenho uma predilecção por alguns temas de Billy Strayhorn, e os de Monk continuam a fascinar-me. De resto, gosto de tocar temas de várias proveniências. Como é natural, tenho especial prazer em tocar as minhas próprias composições.

JD - compõe?

LF - Sim.

JD - improvisação e swing serão as características essenciais numa peça jazz?

LF - A improvisação sim, no sentido em que um músico de jazz está permanentemente a improvisar - mesmo quando não está a solar, mesmo quando está a tocar uma passagem completamente escrita. Na minha opinião, é este conceito alargado de improvisação que define um músico de jazz.

JD - dá aulas de Música para piano?

LF - Já dei. Agora não.

JD - sua opinião sobre Herbie Hancock

LF - Curiosamente, estou agora mesmo a ouvi-lo bastante, sobretudo em dois discos do Miles Davis: ‘Four & More' e ‘Seven Steps to Heaven'. Gosto particularmente das coisas dele deste período, tanto com o Miles como enquanto leader, na Blue Note. É um daqueles pianistas que desconstruiu uma linguagem e a levou ao patamar seguinte. O pensamento rítmico dele é fabuloso. Não esquecer o papel dele na década seguinte, e a exploração tímbrica de outros teclados.

JD - futuro do jazz?

LF - O jazz sempre se apropriou do que estava à sua volta para se enriquecer e encontrar novos caminhos. Por outro lado, a partir de certa altura foi adoptado e adaptado em variados locais do mundo. O que espero do futuro do jazz é o conjunto de ideias que continuem a nascer desta constante troca.

JD - obrigado Luís Figueiredo

8 maio 2009

joseduarte@ua.pt


 
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