Inquérito a 4 balconistas |
01-03-2002 00:00 |
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Como prepara a sua actualização em relação à oferta internacional do mercado?
PC - Viagens constantes á Internet, compra assídua de todas as revistas e conversas com muita gente.
HF - Estou atento ao que pode aparecer no nosso mercado, e importo o que não tem representação em Portugal. Procuro a informação nas revistas da especialidade e recorro à Internet para saber pormenores sobre as Labels e o que estas tem para editar.
JA - Atraves da consulta da imprensa e informação fornecida por distribuidores nacionais e estrangeiros.
TR - A análise através de variadissimas revistas periódicas, alguns programas de rádio e televisão, pelos imensos programas da Internet, pela leitura de vários guias, dicionários que vou adquirindo, e pela troca de conversas com pessoas ligadas ao meio.
Quantas unidades por CD encomenda ao fornecedor? Porquê?
PC - De um disco vulgar, exemplo Aldo Romano, Stefon Harris, ou Milt Jackson peço 25, Cassandra, Mehldau,250, Diana Krall 1000. Varia muito. Estes números são para primeiras encomendas. Existem também discos que peço a 5 ou 10 mas felizmente não são muitos.
HF - É muito variável e depende do tipo de CDs que são apresentados, se for Diana Krall poderão ser mais de 100, se for Tom Harrell 5.
JA - Varia dependendo se aposta ou não da minha parte ou da parte do fornecedor: mínimo 2, mãximo-100.
TR - Varia bastante de acordo com o que eu possa considerar mais ou menos vendável. Entre um mínimo de 1 CD para as incógnitas e de algumas dezenas para nomes como Wynton Marsalis e algumas centenas para por exemplo um CD novo da Maria João.
Que preço poderia ter um CD?
PC - Eu penso que com um certo esforço das lojas e das distribuidoras especialmente das multinacionais, o preço dos CDs não passaria nunca dos 3.000$.
HF - Deveria rondar os 2.500 escudos.
JA - Bastante inferior - rondando os 2000 escudos.
TR - O ideal, de acordo com as carteiras seria á volta de 2.000$00, não mais.
Os clientes acham os CDs caros?
PC - Sim a maior parte acha os CD´s caros mas compra na mesma, é uma característica dos Portugueses e é por isso que os preços continuam a subir.
HF - Acham e neste momento confrontam os preços nas diversos discotecas.
JA - Sim, claro.
TR - È natural que sim. Todos sabemos que em países, como por exemplo, a França, o preço dos CD'S equiparam-se com os nossos e que o nível de vida é no mínimo três vezes superior.
Uma segunda encomenda é corrente? Os fornecedores têm habitualmente ‘stock’?
PC - Sim, quase sempre é feita reposições dos CDs, só casos raros de falta de vendas justificam essas medidas. Normalmente os fornecedores não têm stock a não ser dos best-sellers e mesmo assim... A Warner por exemplo nem armazém tem em Portugal embora sejam dos mais rápidos a repor as encomendas.
HF - Sim, muito embora haja CDs que vendem mais do que se estaria à espera, o que provoca rupturas de stock.
JA - Sim.
TR - È bastante frequente uma segunda encomenda, visto que os CD'S por vezes são apresentados pelos fornecedores antes de qualquer publicação crítica que normalmente determina o número de vendas. Como é excessiva a prevenção por parte das editoras no stock de JAZZ é habitual não terem capacidade de resposta.
Quais marcas de discos faltam no mercado português? Apresente-as
PC - Hoje em dia estão quase todas em Portugal. Talvez a Silkheart ou a Music & Arts.
HF - Atavistic, 9winds, Music & Arts, Jazz Focus e Silkheart.
JA - Não muitas.
TR - Sou da opinião que a totalidade das marcas representadas em Portugal continuam em falta. O trabalho de quem as representa continua deficiente para os nossos desejos. Mas de qualquer maneira aqui deixo meia dúzia:
- AUM FIDELITY - Jazz contemporâneo do mais cativante
- FMP - Peter Brotzmann / Charles Gayle
- RED - Phil Woods / Bobby Watson
- JAZZ CLASSICS IN DIGITAL STEREO - King Oliver / Muggsy Spanier
- STASM - Charlie Parker no seu melhor
- JSP - Louis Armstrong Hot Fives & Seven
- OWL - Paul Bley / Jimmy Giuffre
- 32 JAZZ - Roland Kirk / Yusef Lateef
Há competência musical, conhecimentos jazz, entre quem representa e oferece, para venda, CDs jazz?
PC - Normalmente não. Especialmente nas multinacionais onde é gritante a falta de conhecimentos acerca desta música.
HF - Nas multinacionais os conhecimentos são escassos, conhecem nomes mas não conhecem a música. As únicas editoras que tem vendedores que sabem o que estão a vender são a Dargil e a Megamúsica.
JA - Ha pouca competência generalizada.
TR - Pela minha experiência própria que adquiri, não existe competência nenhuma e muito menos conhecimentos de JAZZ. As casas editoriais e seus vendedores têm um único objectivo, um único horizonte - números, muitos números traduzidos em massacre da qualidade.
Em relação ao LP quais são as vantagens e os inconvenientes do CD?
PC - As vantagens são mais que as desvantagens. Mais fáceis de transportar, mais resistentes, mais fáceis de arrumar, mais práticos e com maior duração de gravação. Inconvenientes só vejo um, as capas...Que saudades...
HF - Os grandes inconvenientes do CD são a capa, é tudo muito reduzido e muitas vezes a informação é omitida, isto acontece principalmente nas reedições. Em termos gráficos o LP é mais bonito e as capas espectaculares.
JA - Vantagem na fácil utilização e manuseamento, desvantagem na qualidade sonora (embora discutível) e preço.
TR - Vantagens:
- Não estão sujeitas a desgaste; melhor qualidade de som; melhor comodidade de transporte, audição ( que torna o local irrisório), armazenamento; as faixas bónus não presentes no LP.
Desvantagens:
- A apresentação; o grafismo e textura; perde-se um pouco do culto da audição, o levantar do sofá para mudar o lado...
O mercado do LP ainda existe?
PC - Sim ainda existe a justificar a presença nas lojas de pequenas secções com material muito seleccionado.
HF - Existe e posso dizer que na discoteca onde trabalho vendo LPs. Importo LPs da Blue Note, Impulse, e Columbia. Consigo adquirir LPs da ECM, Delmark e Prestige. Muitos clientes ficam surpreendidos com os LPs e acham uma certa nostalgia.
JA - Praticamente não existe.
TR - Existe, mas reduzido ao alcance de alguns audiófilos mais viajados e abastados.
Uma loja que só vendesse CDs jazz e de blues teria futuro comercial numa cidade como Lisboa?
PC - Eu julgo que não porque os clientes estão agora muito presos á grande oferta das megastores e aos sítios onde elas estão inseridas como centros comerciais. Não existem em Portugal ainda condições para a presença de um comercio alternativo e não estou só a falar dos discos. Talvez há dois ou três anos atrás isso fosse possível, hoje não, a oferta é muito grande...
HF - Neste momento seria muito difícil competir com as grandes discotecas que existem em Lisboa.
JA - Sim.
TR - Sim. Com gente de bom gosto, de profundos conhecimentos musicais do mercado, capaz de a gerir de uma forma descomprometedora. E, porque não? Se existe procura há que melhorar a oferta. E nada mais satisfatório de um espaço dedicado como uma espécie de peregrinação que vá ao encontro dos desejos e características destes clientes ainda marginalizados pelo nosso sistema.
Os CDs tiram público aos concertos/festivais ou são os concertos/festivais que tiram fregueses aos CDs?
PC - Eu julgo que não, além do mais muitas vezes são públicos diferentes. Muitos vão aos concertos mas não são propriamente amantes do Jazz e mais ainda são aqueles que compram discos e que não vão aos concertos.
HF - Dos clientes que me visitam com frequência, poucos são os que vão a concertos. O público dos concertos não os costumo ver na loja a comprar CDs, portanto parece-me que este tipo de concorrência concertos / CDs é muito pouca.
JA - Nem uma coisa nem outra, muito pelo contrario.
TR - Os CD'S levam o público aos Concertos / Festivais trazem fregueses aos CD'S.
O público prefere novidades ou reedições?
PC - É difícil de dizer, depende das novidades e das reedições. Talvez as novidades tenham maior procura.
HF - O público prefere novidades, no entanto existem reedições que criam grandes apetências nos clientes.
JA - Novidades.
TR - Apesar da preferência não ser assim tão evidente as novidades são preferidas.
As ‘caixas’ com CDs e que reúnem partes escolhidas de discografias têm êxito junto do público?
PC - Sim têm um certo êxito porque existem muitos 'completistas' em Portugal, aqueles que quando gostam querem ter tudo.
HF - São poucas as que tem sucesso, o caso de maior sucesso a que assisti foi a caixa do John Coltrane 'Live at Village Vanguard'. O problema das caixas prende-se com o preço, porque a maior parte são integrais.
JA - Sim.
TR - Têm êxito relativo devido ao preço que aumenta, claro na quantidade que as identifica e pelo facto de os clientes preferirem caixas com discografias completas, bem organizadas, documentadas e apresentadas.
De que é que dependem os êxitos de venda de CDs jazz em Portugal?
PC - Dependem da qualidade da música, seja em que estilo for, porque se não prestar ou não tiver outros atractivos eu não os compro e não os aconselho e os empregados de balcão vendem também muitos discos. A crítica e os 'opinion makers' são também muito importantes, assim como a promoção que é feita e a própria apresentação dos CDs.
HF - Dependem de serem criticados pela imprensa nacional e estrangeira, dependem da realização de concertos e de serem aconselhados pelos vendedores especializados que existam nas discotecas.
JA - Da qualidade/ género do mesmo e da publicidade realizada.
TR - Das boas críticas e destaques da imprensa, de promoções editoriais esporádicas e pela transmissão da palavra positiva de um amigo ou de um balconista.
Se jazz se aprende e dá prazer com uma dúzia de CDs, para que são precisos mais? Comente
PC - Porque o Jazz implica investigação, são milhares os músicos importantes, é como um novelo que se começa a desenrolar, puxa-se, puxa-se, e cada vez são mais os nomes que se conhece e os discos que se tem de comprar. O volume de informação ao nosso dispor hoje em dia é tanto que não é preciso ser muito curioso para juntar centenas de discos.
HF - Esta pergunta é tramada porque é quase um castigo ao que tenho feito, comprar muitos discos. É difícil resistir a certos músicos e editoras. Ainda tenho discos que não ouvi e muitos mais vou ter. Um só disco de um músico por vezes não chega para perceber as suas qualidades de composição ou de improvisação. E para mim o jazz é um vicio, antes os CDs e LPs do que a farmácia ou o médico.
JA - O jazz não se aprende com uma dúzia de CDs e para ter prazer quantos mais melhor...
TR - O prazer é de certeza imenso mas de certeza que uns "quantos CD'S" não abrangem a viagem de New Orleans do início do século ao CD do Matthew Shipp que escutei ontem. Há que continuar a preencher este universo de estrelas, "ouve-lo" e alargar / captar os horizontes da maneira possível. E essa maneira é alimentar o prazer enchendo o copo, como isto de bom vinho se tratasse. |
José Duarte |
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