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Sara Serpa
29-03-2009 00:00
 

José Duarte - quando descobriu a linguagem musical jazz?

Sara Serpa - Descobri a linguagem musical jazz quando entrei para o Hot Clube de Portugal em 2002. Lembro-me de ter ouvido bastante o disco da Ella Fitzgerald com Louis Armstrong quando era criança, mas não cresci a ouvir jazz. So quando entrei na escola do Hot é que comecei racionalmente a pensar e a descobrir o jazz.

JD - sendo nova sentiu-se preparada para gravar sua voz em diversos cds com influência jazz?

SS - Não entendo bem esta pergunta. Gravar faz parte da evolucão de qualquer músico e serve também como o registo de uma época. Se formos perfeccionistas, sentiremos sempre que não estamos completamente preparados para gravar, mas acho que há que arriscar e atirarmo-nos para a frente e aprender com os erros e sucessos.

JD - quem a convidou para sua discografia?

SS - Greg Osby, André Matos Mike Pinto.

JD - estudou jazz?

SS - Estudei na Escola do Hot Clube de Portugal. Estudei na Berklee College of Music durante 3 semestres. Estudei no New England Conservatory onde tirei um Mestrado em Jazz Performance.

JD - quais as vozes jazz que mais aprecia ouvir? porquê?

SS - Carmen McRae, Billie Holiday, Sarah Vaughan, Etta Jones, Betty Carter pela riqueza emocional, rítmica, cultural e musical das suas vozes e interpretações.  Frank Sinatra, pelas interpretações incríveis e pelo controle vocal. Theo Bleckmann, pela inovação, cor e textura.

JD - compõe? quantas canções já escreveu?

SS - Componho muito. Não sei o numero de canções que escrevi. Há muitas.

JD - usa improvisação em seu cantar? porquê?

SS - Sim. O que me atraiu para o jazz foi a possibilidade de improvisar e de me poder exprimir com mais liberdade. Entender a harmonia de um tema e conseguir cantar sobre esses acordes e estimulante para mim. A arte de improvisar é um desafio constante. Mas é o que me dá mais prazer.

JD - canta blues? porquê?

SS - É uma pergunta difícil. Não sou cantora de Blues. Isso não significa que não tenha ouvido e que não conheça a linguagem dos Blues . Mas não apresento isso em público, apesar de tudo o que ouvi e analisei faça parte de mim e da minha música.

JD - canta standards? porquê?

SS - Canto standards. Aprender  novas canções e conseguir absorver a harmonia, melodia, letra dos standards faz parte da minha formação como músico de jazz. É um trabalho constante. Quando mais oiço jazz mais entendo a riqueza e o valor dos standards de jazz e a arte de os cantar bem.

JD - porque é tão raro usar nos seus cantos ‘palavras do dicionário' (como as de Eugénio de Andrade)?

SS - Eu acredito que a música é uma linguagem universal - Com ou sem palavras, há sempre uma historia por trás. O facto de ter tocado piano durante tantos anos, faz com que pense como um músico.  Gosto de ouvir o som da voz só como um instrumento, alicia-me poder levar mais longe os desafios melódicos e harmónicos. As vezes as palavras são demasiado definitivas. Sem palavras as pessoas podem imaginar a história que eu estou a contar. Isso não quer dizer que eu não trabalhe cantar com palavras. Mas tem que fazer sentido para mim, qualquer que seja o texto que eu cante.

JD - não usa ‘scat' só sons com alto desenvolvimento e perfeição harmónica e melódica - comentários

SS -Acho que ja respondi na pergunta anterior.

JD - importância na sua obra do instrumentista jazz negro-norte-americano Greg Osby e seus companheiros?

SS -  Greg Osby foi uma das primeiras pessoas com uma experiência enorme a dar valor à minha musica. Fez-me sentir mais segura quanto ao caminho que eu escolhi. É um musico muito inspirador, aprender a música dele é também um desafio constante- há um abertura enorme, uma vontade de arriscar e de não ter as coisas completamente definidas. O facto do Greg Osby procurar músicos jovens é muito generoso da parte dele - faz-nos evoluir como músicos e pessoas. Tem sido muito bom!

JD - quantos cds na sua discografia? datas de gravação quais e editora(s)?

SS - Sara Serpa "Praia" Inner Circle Music, 2008

         Greg Osby "9 Levels" Inner Circle Music, 2008

         André Matos' Rosa-Shock", TOAP, 2008

         Mike Pinto "Prologue", Inner Circle Music, 2008

Há ainda uma edicao de autor que eu fiz em 2005, antes de vir para os EUA que não tem nome,apenas "Sara Serpa Quintet" que esta disponível no cdbaby.com

JD - influência da obra do brasileiro Sérgio Mendes na esquina dos anos 50 para os 60 há alguma? dos princípios da bossa - das sonoridades lisas e claras

SS - Não ouvi muito Sérgio Mendes. Gosto muito de musica brasileira, Chico Buarque, Edu Lobo, Maria Bethânia, Elis Regina, Hermeto Pascoal.  Gosto muito de Milton Nascimento e de Toninho Horta também. O timbre da minha voz é muito similar ao das cantoras brasileiras - brilhante, sem vibrato. Talvez dai se ter lembrado da música vinda do Brasil ao ouvir-me?

JD - algum ou alguns jazzmen portuguesas a têm influenciado?

SS - Gosto muito de Mário Laginha e de Maria João. Gosto de André Matos, André Fernandes, Nelson Cascais, Joana Machado.

JD - para que vive em New York?

SS - New York é uma cidade incrível que me fascina imenso. Toda a diversidade musical cultural, social que aqui existe é super inspiradora. É uma cidade que me faz mexer e trabalhar e não me acomodar. Estou a gostar muito de estar aqui neste momento, apesar da crise económica grave que afecta os EUA.

JD - nas vozes jazz portugueses (que hoje em dia são muitas) quais as sua preferidas? porquê?

SS - Gosto de Maria João- é uma cantora impressionante. Todo o ritmo dela, capacidade vocal, originalidade. Tem uma presença de palco incrível.

JD - conhece a discografia de Billie? e de Laureen Newton? comentários

SS -  Gosto muito de Billie Holiday. Adoro as sua interpretações, a sua voz vivida e sofrida. Conheço o trabalho de Laureen Newton, super avant-garde e corajoso. Gosto dela.

JD - usa muito o uníssono nas suas peças gravadas porquê?

SS - Gosto da sonoridade da guitarra e voz, como se fossem um instrumento apenas.

JD - tem preocupações em swingar os temas? porquê?

SS - A definição de swing é muito controversa. Se falarmos da linguagem, do feeling rítmico característico do jazz mais straightahead,  mais tradicional, então é óbvio que não existe esse swing na minha música a acentuação no 2 e 4, o walking bass. Se falarmos da banda estar toda conectada ritmicamente e juntos conseguirmos criar musica que  de vontade de dançar, que tenha energia, groove e  que cause impacto, então sim, tenho essa preocupação.

JD - como correu sua actuação no clube ‘Jazz Standard' ? e no clube ‘Village Vanguard'? ambos em NY

SS -  Foram ambas experiencias muito boas. Aprendo sempre que actuo ao vivo, principalmente nesta cidade, onde o público é tão exigente e conhecedor. Houve sempre casa cheia e sucesso musical. Vou ter oportunidade de apresentar a minha banda outra vez no 'Jazz Standard' em Abril e estou muito entusiasmada com esta data.

JD - assistiu aos espectáculos da Orquestra de Jazz de Matosinhos com o saxista Lee Konitz no mesmo ‘Jazz Standard'?

SS - Assisti em duas noites. Gostei muito dos arranjos, de ver a OJM a tocar em NY com Lee Konitz. Esteve sempre cheio e acho que houve sucesso musical. Foi óptimo para matar saudades dos meus amigos.

JD - ainda é uma desconhecida no mini-mundo jazz de Portugal mas entre os especialistas sua originalidade impressiona bastante - comentários

SS -  Não sei muito bem como comentar isto. Vivo nos EUA ha 4 anos, mas canto em Portugal todos os anos. As pessoas do mundo do jazz sabem quem eu sou. Só agora, finalmente tenho um disco a venda e isso permitira as pessoas terem um acesso mais fácil à minha música e à minha personalidade musical. A minha ambição e fazer boa música e que as pessoas consigam entendê-la e apreciá-la.

JD -  quanto tempo esteve na Escola Berklee em Boston? que cursos tirou?

SS -  Estive 3 semestres na Berklee, a fazer um  Professional Music Diploma.

JD - dado que não canta em português nem em qualquer outra língua mas sim com um vocabulário abstracto prevê seu sucesso no mercado discográfico jazz mundial?

SS - O mundo está a atravessar uma fase difícil e o futuro da música e das vendas ode discos é completamente imprevisível. Tudo isto está a mudar radicalmente e muito rapidamente. Mas a música é importante na vida das pessoas e eu acredito que se fizer um trabalho honesto, com paixão e dedicação, o público irá ouvir, receber e aceitá-lo, tenha letra ou não. Acredito na abertura de espírito dos amantes da música (e não só) e acho que o facto de cantar sem palavras não é um impedimento ou uma limitação. E o que faço neste momento como forma de expressão artística, não é estanque e está em constante evolução.

joseduarte@ua.pt

26 jan 09


 
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