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Dave Douglas (I)
10-03-2006 00:00
 

Toca muito muito bem trompete, faz dela o que muito bem quer e lhe apetece, é novo, já com prestígio mundial e muita obra gravada em direcção a várias frentes, Músicas todas diferentes umas das outras e das que já existem. É vedeta ‘clean’, valor garantido para o Futuro da Música. Marcámos o encontro para o seu hotel, em Lisboa, em 97. Aparecemos à hora. ‘Entreviste-me enquanto almoço’, disse-me. Encostou-me às cordas. ‘A minha Mãe ensinou-me a não falar com a boca cheia’, disse-lhe. Foi ao tapete. Passámos a entendermo-nos melhor. Músico inteligente, culto, proporcionou uma boa luta. O resultado foi obtido aos pontos. Só o descobri (desconfiava) pedante, com dificuldade. Ser pedante não é ser ‘snob’. É bem diferente. Segue o combate em dois ‘rounds’, o segundo será em 28 deste mês, neste ‘ring’, à mesma hora.

Gosta de George Brassens... h! se gosto!... é grande Música!... porque é que não havia de gostar?!...

O que é a Música de Brassens significa para um norte-americano? Falo francês, percebo as palavras que são tão bonitas, era um grande poeta e gosto das suas canções, gosto de Música que é maliciosa e que não é fácil de tocar... é como ouvir canções pop de tantos e grandes compositores de Música popular com estruturas interessantes, um estranho número de compassos, mudanças de tom ou mudanças melódicas que nos levam por caminhos inesperados... repare em pessoas como George Brassens ou Burt Bacharah ou Lennon ou McCartney, grandes compositores do século 20, que tornaram especiais as suas memoráveis melodias...

E que tal Jacques Brel? Claro... também... Serge Gainsbourg ... em qualquer país encontra-se sempre alguém... no Brasil.. Caetano Veloso, Gilberto Gil e tenho a certeza que em Portugal há Músicos que eu deveria conhecer melhor... fadistas!

Você é um típico norte-americano branco, intelectual, que toca Música muito bem?... (risos)... Espero que não! Não penso que seja típico e não sei o que é que isso tem a ver com tocar. Só tenho a certeza é que sou branco! (risos)... Toco Música e serei um intelectual... tudo depende da sua definição...

Cita Noam Chomsky, Walter Benjamin, Hannah Arendt... reconheça que o nível é alto!... Obrigado!

Já tocou em Lisboa com John Zorn, na Gulbenkian com outro grupo e ainda tem várias Músicas para mostrar... Gostaria muito de cá vir com o meu Tiny Bell Trio. Penso que é o mais fluente dos meus grupos, estamos juntos há muito tempo, divertimo-nos muito, acho que o público português iria gostar muito!. Há ainda os diferentes aspectos dos meus trabalhos com o grupo de Sting, com Mark Feldman, com Eric Frielander... não gosto de dizer jazz de câmara mas o público ouve-a como uma combinação entre Música clássica contemporânea e Música improvisada... penso ainda que o meu trabalho com Myra Melford é muito importante... ...para mim citar Benjamin ou Arendt ou Booker Little penso que não tem nada de intelectual, é o que eu vivo com a Música, o que eu penso todo o dia. É por isso que o faço.

Não grava para nenhuma das grandes marcas multinacionais. Porquê? Actualmente sinto-me muito feliz assim porque posso continuar a fazer todas as Músicas diferentes que quero. Quando experimentar a possibilidade de mudar para uma ‘major label’ verificarei que terei de parar com 75% do que hoje faço. Nesta altura da minha carreira tal não é nada interessante, o que é interessante para mim é continuar a experimentar... tenho no entanto um pressentimento que em breve me decidirei por uma nova e grande etiqueta, hoje estou muito contente com a nova relação que tenho com a ‘Arabesque’.

Musicalmente falando você parece estar em todo o lado... uma espécie de ‘overcomposing’, ‘overplaying’... Não penso assim... não me sinto super-exposto... quando uma grande companhia de discos publica um disco a isso é que eu chamo super-exposição!... só se vê, por toda a parte, em revistas e jornais anúncios a esse disco e os seus autores só podem gravar um disco de 12 em 12, de 18 em 18 meses!... a isso é que eu chamo super-exposição!... Penso que todo o autor devia ser livre de tocar com músicos diferentes...

A sua primeira gravação foi em 1987 com John Esposito... Não foi em 86?... tem a certeza?... Eu?... eu não... Penso que foi em 1986

Esposito era um obscuro pianista em New York... Yeah! Ainda toca, é um dos grandes! O que gravei com ele foi, provavelmente, a Música mais ‘straight ahead’ que eu jamais toquei! É um ir e vir entre duas tradições. A tradição de Art Blakey e os Jazz Messengers e a dos meados dos anos 60 com o quinteto de Miles Davis ... são as Músicas que me estão mais próximas do fundo do coração... quando fui para New York queria tocar com os Jazz Messengers, queria ser um trompetista ‘straight ahead’ mas sempre ouvi todos as espécies de Música ...

 Tocou num sexteto de Horace Silver... 6 meses!

Quem era o sexto músico? Andy Bey, o cantor...

(fim do primeiro ‘round’)

O intervalo dá para ouvir ‘Stargazer’ (grav. dez 1996 - ed. Arabesque) onde o trompetista se faz acompanhar por Uri Caine (piano), Joey Baron (bateria) + 3.


José Duarte
 
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