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Carlos Martins
13-01-2002 00:00
 
porque é que não há jazz com 'sabor' português como o há com 'sabor' a Irlanda, a Catalunha, a Noruega, a Galiza, a Alemanha, a América Latina, a Polónia, a etc.? Porque é que não há drageias com sabor a alfarroba? Sinceramente não sei. Para responder a essa pergunta teria que perceber o que é isso do Jazz com sabor. O jazz é uma musica tipicamente americana(com sabor americano?) que teve uma recepção positiva na Europa. O que creio ter acontecido foi que enquanto muitos músicos tentavam reproduzir fielmente essa musica tal como os negros e brancos americanos outros europeus, por exemplo, incorporavam tão só muitos dos aspectos de grande riqueza expressiva e gramatical dessa música e usavam esses recursos para produzir musica inspirada na tradição ou folclore do seu país. Em Portugal temos alguns exemplos daquilo que acabei de dizer. Se Portugal fosse um país rico de espirito e numeroso em sinceros seres, artistas ou não, certamente que não só toda a gente saberia dos caramelos com sabor a alfarroba como estes ainda seriam exportados. 'Lusofonia' são afinal Músicas africanas, urbanas, modernas? Os "Sons da Lusofonia" são musicas africanas, brasileiras, portuguesas, orientais, urbanas mais do que rurais (embora o que passa por urbano seja muito discutível em África por exemplo), musicas resultantes de um roteiro de influências que só agora começamos a sentir com alguma intensidade. Foram muitos anos de história onde a musica teve um papel privilegiado (veja-se os Jesuítas no Oriente e Brasil) mas poucas foram as recolhas e estudos e composições feitas sobre essas rotas/estradas musicais abertas pelo espirito humano e o seu dom criativo. O nosso 1º Disco apela ao trabalho que agora começou sob a entrega dos artistas africanos a este projecto e sobre a experiência que todos nós tivemos em conjunto nos últimos anos. O resultado é musica de inspiração africana, relativamente urbana e produzida com modernos meios. O próximo trabalho será musica portuguesa e oriental, escoada na suas passagens por África, 100% urbana e outro tanto moderna pelas suas apostas. Coltrane esgotou o tenor? Não esgotou o tenor mas a ele próprio esgotou-se certamente: um homem de grande entrega a vários níveis e com grande capacidade de trabalho. Por outro lado há tantas vozes tão belas no saxofone tenor e nem elas todas juntas esgotariam esse instrumento. Só se esgota aquilo que se conhece... Como está a cena jazz portuguesa? Praticamente não há "cena jazz" portuguesa. O único cenário jazz digno desse nome é o hot clube. As salas, os promotores, os divulgadores em nada contribuem para que haja uma "cena jazz" portuguesa. Assim não há músicos que resistam, nem musica, a não ser aquela feita por meia dúzia de musico-improvisadores onde eu me incluo. E depois quem é que vai continuar? Onde estão os jovens futuros improvisadores? Quem é que os vai formar? E como? É uma "cena" muito triste, pouco "jazz". Que Música para um próximo cd? Com quem? Durante a década de 80 grandes nomes da MPP foram constantemente e sistematicamente ao Hot Clube de então, que era uma escola viva porque produzia mão de obra musical para o seu país, dizia, foram buscar imensos músicos para incluir nos seus grupos ou discos. Artistas como Janita, Fausto, Jorge Palma, Sérgio Godinho, etc encontravam ali alunos mais dotados do que em qualquer outro lugar. A maior parte deles nunca seriam grandes músicos de jazz mas foram certamente bons acompanhantes e contribuíram para enriquecer a musica desses compositores aos quais muitas vezes faziam arranjos musicais e re-harmonizavam as canções. Nunca ouvi até hoje ninguém, em nenhum espectáculo comentar esse contributo ou agradecer a existência desse movimento fabuloso por essa década à volta do Hot Clube. Então e por uma questão de respeito e honestidade para com a história e para com a arte e os meus colegas resolvi agora, passados 25 anos sobre o 25 de abril, começar a gravar algumas canções desses fantásticos compositores que desde então podemos escutar e assim "subtrair-lhes" a eles o que tem de melhor, enriquecido pelo contributo da escola de jazz, e usá-lo agora para fazer jazz, ou simplesmente musica. A improvisação ainda existe como elemento musical jazz definitivo? Não creio que possa haver jazz com todas as derivações possíveis sem haver improvisação. A improvisação tem no seu desempenho uma alegria trasbordante que arrasta as nossas emoções de uma forma abstracta e indescritível e que do meu ponto de vista não pode ser falsificada: musica assim não mente e faz pensar que o Mundo será salvo pela BELEZA. A outra salvação vem da musica de carácter formal, mas a essa não se chama musica improvisada ou para abreviar, jazz. Um cd indispensável, de referência obrigatória. E porquê? Um cd, uma musica um quadro uma emoção só é indispensável para uma pessoa que a toma como referência voluntariamente e em determinados contextos. E porque está sempre a mudar agora oiço Borodin: quarteto de cordas nº2. Não sei porquê !? O jazz tem futuro ou os seus músicos abrigam-se em outras Músicas para sobreviverem? Eu acredito que o jazz terá uma forte aceitação dentro de poucos anos. Quando as pessoas mais jovens se fartarem de ouvir as mesmas musicas de sempre terão oportunidade e espaço para ouvir musicas alternativas àquelas a que agora chamam de alternativas. Nessa altura a improvisação no jazz assumirá novamente o seu papel e transbordará a sua alegria criativa (como já acontece um pouco pobremente com a experiência Hip-Hop) genuína a uma audiência sequiosa de novas emoções: (deve ter sido com pensamentos destes que muitas vezes encarei o facto de por vezes, poucas, ter que fazer outras musicas). È esta crença sem querer nos plenos valores da estrutura, da improvisação e liberdade da que me mantém musico de jazz. Além disso costuma ser bastante enriquecedor fazer outras musicas desde que sejam BOAS. Como se explica um alentejano a tocar 'blues'? Como se explica um alentejano a tocar Villa Lobos com a oficina musical do porto, ou a tocar uma ópera de William Walton com os solistas do Teatro São Carlos, ou a tocar com Carlos Paredes, ou com a novayorquina Cindy Blackman, etc...enfim há sempre uns quantos mistérios por resolver. Esta pergunta entra no capítulo da pura "fricção"... noutra altura, noutro lugar... O que é um bom público de jazz? O português é bom? Um bom público é aquele que nos deixa "tocar" a intimidade dos seus mais secretos sentimentos e ainda nos bate palmas por isso. O público português é genericamente bom.

José Duarte
 
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