José Duarte - suas primeiras influências musicais foram n-americanas? Costa Pinto - Sim. O meu pai era pianista, em Anadia tinha uma orquestra que ensaiava em casa, então ouvia, entre outras músicas, os ‘standards' n-americanos: ‘Some of these days'; ‘Tiger Rag'; ‘All of Me' etc. O João Costa Pinto foi um dos pioneiros em tocar ‘jazz' em Portugal Em finais dos anos 30 eram os ‘standards' que serviam de suporte ao ‘improviso' no jazz! JD - considera-se mais maestro do que baterista? CP -Na qualidade de músico amador, toquei bateria dos 10 aos 17 anos, desde então até aos 29, como profissional; em 17 de Março de 1958 na minha carteira de músico profissional , do Sindicato Nacional dos Músicos, foi adicionada a categoria de "Chefe de Orquestra"-maestro - já lá vão 50 anos ! JD - tem informação e formação em Música escrita? CP - reporta a minha ‘bio' JD - estudou no estrangeiro? CP - idem JD - a primeira vez que dirigiu uma big band em público? CP - 1962/63? JD - faz falta em Portugal uma big band exclusivamente da rádio e outra para a tv como já houve? CP -Não crêio ! o que faz falta é a rádio ‘remunerar' os músicos que utiliza nos programas vários a titulo falacioso de fazer a sua promoção... na televisão o que faz falta são programas regulares com orquestras várias (15 e mais elementos) e não sómente pequenos grupos (4,5 etc) . JD - lembra-se do maestro Fernando Carvalho? CP - Perfeitamente ! companheiro de escola e amigo de meu pai , que me o apresentou no Parque Mayer (anos 50); toquei com sua orquestra no Teatro Monumental , em quadro musical a anteceder o espectáculo de Laura Alves ; mais tarde, na apresentação da sua ‘última' orquestra, organizada pelo trompetista José Magalhães, no Teatro Tivoli, com lotação esgotada! e finalmente em concerto no Pavilhão dos Desportos, para a EN, onde apresentei o meu primeiro arranjo para este tipo de formação - "Tema Um" - que foi ‘bisado' com o Pavilhão também ‘esgotado' JD - cite outros da época e seu conhecimento de seus trabalhos CP - O conjunto de ‘jazz' de Tavares Belo, pianista, que integrava os melhores músicos que tocavam esta linguagem musical :Fernando Albuquerque, trompete; Domingos Vilaça, clarinete; Marques Dias, sax-tenor; Esteves Graça, trombone; Rafael Couto, contrabaixo e Artur Machado, bateria; ocasionalmente, João Andrade Santos, pianista. Conjunto que ouvia nas emissões da EN em transmissão directa do salão de chá do café Chave d'Ouro, em Lisboa. Orquestra ‘Almeida Cruz', violinista nortenho; Orquestra ‘Caravana' do pianista João Vasconcelos JD - que instrumentistas eram bons nos anos 40 e 50 em Lisboa? eram populares? CP - anos 40, não sei! finais dos anos 50 quando tomo contacto com o meio musical lisboeta, recordo os já mencionados e ainda Sousa Pinto, trompete; Edgar Oliveira, trombone, Art Carneiro, Sax-tenor e clarinete, Sebastião Prudente, sax-tenor, Mário Coelho, trompete; Eduardo Ferrão, bateria JD - fazem falta à Música sítios de diversão nocturna com músicos a actuarem? CP -Sim JD - sua opinião sobre instrumentistas como Domingos Vilaça, Fernando Albuquerque e outros CP - Excelentes músicos, bons técnicamente, grande preparação teórica, músicos ao nível dos melhores mundias. Vilaça nos últimos anos de vida desempenhou o cargo de violinista na Orquestra Sinfónica Nacional JD - sei que estudou bateria com um Mestre n-americano do jazz quando? onde? quem era? CP -1965, Berklee College of Music, Boston-USA, Alan Dawson . JD - acha jazz um estilo musical popular em Portugal hoje? CP -Não. Tal como outros géneros musicais, tem a sua ‘gente'! JD - viveu os primeiros tempos do Hot Clube de Portugal - recordações e opiniões CP - recordo o entusiásmo do Vilas Boas, das ‘jam-sessions' na Faculdade de Ciencias, na primeira ‘jam' do salão de chá do café Chave d'Ouro, nas primeiras sédes de Hot, do Gerárd Castelo-Lopes, 'boogie-woogie' pianista, do Menano ‘soft' teclado; do Luís Sangareau, do Tinoco, dos irmãos Mayer e da primeira big band que reuni com músicos amigos, para tocar os meus primeiros arranjos, "Take the ‘A' Train", "East of the Sun", das ‘jam' com o Friderich Gulda, o George Wein e Marshal Brown, o José Rosa a escutar o primeiro LP de Coltrane, na cave da Pr. d'Alegria e de seguida a reproduzir no seu tenor os solos que acabara de ouvir!!! JD - a sua discografia CP - Variada e disseminada pelo mundo ! Portugal, Espanha, Inglaterra, França, Brasil, Estados Unidos da América, Venezuela, África do Sul, Japão - LP's, K7s; 8 Tr.Cartridge; Cd's JD - onde tocou e com quem tocou quando músico da noite? CP -Estreei no Casino da Póvoa de Varzim com orquestra Vieira Pinto; 'Arcádia' com orquestra residente; 'Negresco' com o pianista Mário Teixeira;Casino Estoril com o pianista João Andrade Santos; 'Tágide' com o grupo de Fernando Potier + H. Reis; Grupo de Mário Simões na ‘Carpa'; Grupo de Helder Reis no Casino Estoril; Ray Martino em Espanha e 'Canoa' em Cascais; Mário Simões no Casino Estoril ; Grupo próprio na 'Ronda', Estoril; Hotel Continental, Luanda/Angola com o pianista Miguél Dochado; S.Paulo, Brasil com o pianista Roblêdo JD - é maestro numa orquestra que dirige em exclusivo que actividades têm tido? CP -Desde 2003 uma orquestra organizada para tocar especialmente música de jazz, composta por 99% de músicos portugueses que amam o jazz; temos tocado em festivais do género e vamos tentando ‘sobreviver' apesar da concorrência subsidiada!... JD - estado da Música neste país? CP - Bom, em quantidade; Mau em qualidade! Não há exigência no ensino e o sistema tem ‘falhas' incompreensíveis; poucos são os músicos que ‘cantam' a música, quando perante uma pauta com tema escrito; as centenas de coros que existem, não cantam por música, mas sim "de ouvido"!!! a noção do ‘tempo', em termos da sua regularidade, não é ensinado! daí o ‘desfazamento' constante que se ‘ouve' aquando uma orquestra, um grupo, uma banda ou um coral se apresentam - sejam amadores ou profissionais!!! JD - considera que o jazz não parou que continua a evoluir ou que parou depois da morte de Miles e das suas (con)fusões? CP -O desenvolvimento da música ocidental, desde o "Barroco", século XVII, até ao presente tem sido enorme, tendo em conta os acontecimentos pelos quais a humanidade passou - o ‘jazz', o mais jovem elemento oriundo ‘dessa' música, sofreu um desenvolvimento vertiginoso, nos primeiros cinquenta anos de existência, com o apogêu em Charlie Parker, este o ‘último' grande criador da linguagem musical que se denomina ‘jazz'; desde então os músicos ‘geniais' não têm surgido, tal como na música ‘mãe', a erudita, o génio do Impressionismo, não teve continuadores, naturalmente que me restrinjo á música Funcional , pois a partir de meados do século XX, o ‘dodecafonismo' dá oportunidade ao aparecimento da Vanguarda - Stockhausen, Bério, Boulez, George Russel, Giuffre, Ornette, mas o essencial do ‘jazz' é o swing e desde que essa componente se mantenha, a ‘evolução' do jazz continua ! JD - trabalhou como maestro e baterista no estrangeiro? CP - Como baterista em Espanha e Brasil, como maestro reporta á minha ‘bio' JD - o fosso nos teatros de revistas eram bons conservatórios? CP - Não . JD - opinião as big bands jazz portuguesas? Matosinhos, Lagos, Hot, Nazaré e outras CP - Matosinhos e Hot Club, são excelentes orquestras portuguesas que tocam música de jazz ou equiparada, as outras conheço mal ! JD - dirigiu orquestras para peças de revista? quando? quais? CP - reporta a minha ‘bio' JD - comentários seu programa na RDP antena 2 sobre orquestras? CP -O programa que produzo e realizo na Antena 2 da RTP . o "Coreto" , trata da divulgação de música bandistica mundial , ocasionalmento apresento big bands ou grupos de câmara que pretendo dar a conhecer ao ouvinte JD - estabeleceria uma reforma no ensino de Música em Portugal? de que tipo? CP -Não conheço em pormenor, mas creio que no presente está a ser implementada uma ‘reforma' , mais uma... portanto a ‘minha' não seria oportuna !... JD - desempenhou cargo directivo na RTP - comentários CP -Sub-director da Direcção de Programas, tendo a responsabilidade do Deptº de Música e Entretenimento. Foi cargo que desempenhei com entusiasmo durante os primeiros meses após o que verifiquei da politização e inerente dificuldade em manter me no desempenho das funções, facto que ocasionou o meu pedido de demissão! JD - que experiências tem tido com vozes jazz portuguesas? CP - Maria Viana é cantora ‘residente' da minha orquestra, Kiko já cantou também com a orquestra e por último Fátima Serro, no programa que apresentei recentemente "Tributo a Ella Fitzgerald". JD - quais bons solistas jazz portugueses nomeia? do passado e do presente CP - do passado : Marques Dias, sax-tenor ; F.Albuquerque, trompete; Vilaça, clarinete; Rafael Couto, contrabaixo; Andrade Santos, piano; José Magalhães, trompete; José Rosa, sax-tenor; Mário Jesus, trompete; Helder Reis, Mário Simões, piano; Art Carneiro, sax-tenor; Souza Pinto, trompete;Esteves Graça, trombone ;Sebastião Prudente , sax-tenor ; Vitor Santos , sax-tenor ; Carlos Menezes, guitarra;Fernando Ruéda, bateria; Rui Cardoso, sax-tenor; Jorge Pinto, piano; Mário Coelho, trompete; ESTES OS MÚSICOS PORTUGUESES QUE CONHECI E DIVULGARAM O JAZZ, TOCANDO-O NOS LOCAIS EM QUE TRABALHAVAM, NAS DÉCADAS DE 40-50-60 - no presente: Hugo Alves, João Moreira, Laurent Filipe, trompete ; José Menezes, Carlos Martins, Pedro Mreira, Jorge Reis, saxofones; Luís Cunha, Rui Gonçalves, Eduardo Lalla, trombone; Bruno Pedroso, André S.Machado, bateristas; Filipe Melo, João Paulo, piano; Bruno Santos, Mário Delgado, guitarra; Mário Barreiros, bateria; Pedro Barreiros, Bernardo Moreira, Nelson Gonçalves, Pedro Pinto, Carlos Bica, Zé Eduardo, contrabaixo; Rodrigo Gonçalves, Paulo Gomes,Mário Laginha, Bernardo Sassetti, piano; Maria Viana , Kiko, Fátima Serro , Maria Anadon, cantores, ESTES OS MÚSICOS QUE CONHEÇO, QUE DÃO CONTINUIDADE Á EXISTENCIA DO JAZZ EM PORTUGAL. JD - quais ou qual é a diferença entre um mau baterista de jazz e um dos bons? swing? técnica? bom gosto e personalidade? CP -o ‘SWING' é essencial para identificar um bom baterista de jazz. Bruno Pedroso, no presente, Fernando Ruéda, no passado, bons exemplos . JD - quais as componentes ideias para uma bateria jazz? só tarola e prato de choque? CP -No início do século XX as bandas militares e as orquestras sinfónicas usavam , e ainda usam, o Bombo, a Caixa e os Pratos de chóque manuais, como percussão básica tocada por tres músicos; o jazz criou a Bateria, ou ‘drum-set', juntando aqueles tres instrumentos de forma a serem tocados por um só músico... daí , o ideal minimo de uma bateria de jazz: bombo, caixa e pratos de chóque!... JD - obrigado Jorge Costa Pinto %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% BIO - JORGE COSTA PINTO Compositor - Maestro Cursa piano e composição na ‘Academia Amadores de Música' , tendo como professores, entre outros, Fernando Lopes Graça, Francine Benoit; música contemporânea: Jorge Peixinho e Louis Sager . Em Boston, USA , no "Berklee College of Music" ( 1965 ) estudou Jazz, Arranging , com Herb Pomeroy, James Prógris. Na rádio - Emissora Nacional - 1958 ) , apresenta o seu primeiro grupo a tocar música de jazz , sob o patrocinio de Luís Vilas Boas, com quem foi co-fundador do Hot Clube de Portugal ; Na Rádio Televisão Portuguesa , tem a oportunidade de se apresentar com várias formações - sexteto, octeto e big band - em programas de divulgação desta linguagem musical : " Jazz no Estúdio ‘A' " . Neste programa , a big band , é a primeira orquestra organizada em Portugal , para interpretar JAZZ - ( 1963 ) . Aos 29 anos dedica-se à direcção de orquestra. Dirige em Portugal, Espanha , França , Luxemburgo , Yoguslávia ,Grécia , Irlanda , Brasil , Venezuela , Argentina , África do Sul , país onde grava música portuguesa e internacional a convite da South African Broadcast Corporation - SABC - , dirigindo a sua Orquestra Sinfónica em concertos no City Hall e Auditório da SABC . na cidade de Johannesburg No teatro musicado estreia-se , em 1964 , como compositor e maestro na peça "Boa Noite Lisboa", levada á cena no Teatro Monumental , emLisboa. No ano seguinte compõe música para a comédia "O Impostor Geral" com o protagonista Raúl Solnado na inauguração do seu Teatro Villaret . Em 1988 a comédia musical "Enfim Sós" tem música de sua autoria e estreia no Teatro Maria Matos. No cinema compõe a banda sonora e canções para o filme "Sarilho de Fraldas" , 1966 . Para o filme "Campista em Apúros",1967, compõe banda sonora e canções . Em 1969, compõe a banda sonora do filme "Portugal Desconhecido" . Escreve o tema musical do filme luso-espanhol "Os 5 Avisos de Satanás" em 1969 Para a Televisão Portuguesa colabora como director musical em várias produções : "Convívio Musical"; "Riso & Rítmo"; "Quinta do Dois"; "Um, Dois Três"; "Festivais da Eurovisão", etc. ! De 1960 a 1990, é produtor e director musical de inúmeras gravações discográficas para as etiquetas internacionais EMI, Philips, RCA, e nacionais Tecla, Radio Triunfo; para o Ministério da Cultura, produz gravações com obras de compositores eruditos a editar pela "Discoteca Básica" . Na Rádio Televião Portuguesa ( 1980-1981 ) exerce a função de sub-director de programas, dirigindo o Depº. De Programas Recreativos e Musicais. Professor no Conservatório Nacional de Lisboa - Escola de Música - (1987-1989 ) , iniciou a leccionação de Jazz , como cadeira pós-graduação As suas obras - jazz, câmara e sinfónicas - estão gravadas em disco e editadas em partituras, em Portugal, França, Espanha, Brasil, Japão, USA, Inglaterra, Venezuela, Yoguslávia, Grécia. Em 1999 a convite de António Saiote , escreve um arranjo da peça ‘Amália' para a Orquestra de Sopros dos Templários, Tomar, o qual é grande êxito. Em 2000, por encomenda do INATEL, escreve a peça ‘Paisagens' para Banda Sinfónica, a qual é apresentada, sob sua direcção, pela Banda Sinfónica Jovens Músicos. Em 2005, por encomenda da Filarmónica União Taveirense, escreve um duplo-concerto - "Dialogus Tranquilis", para sax-soprano, sax-barítono e banda sinfónica, com interpretação dos solistas JoãoFigueiredo e Henk van Twillert Organiza e apresenta a sua Big Band, em Julho de 2003, no "XXII Festival Internacional de Jazz do Estoril"; Hot Club de Portugal ; Teatro Aberto, Lisboa ; (2004) "Quinto Funchal Jazz 04" ; "Festival de Big Bands da Nazaré", "Lagos Jazz 2004", "Gala do Jazz", Estoril(2005), 'Centro das Artes e Espectáculos(2007), Figueira da Foz; Teatro Municipal de Almada (2008), Póvoa de Varzim (2008) . Dirige, em 2005, a Orquestra Clássica do Centro (Coimbra) em concerto preenchido com obras de compositores portugueses , estreando a obra "Danças Portuguesas nº.1" de Carlos Paredes , em versão concertante. Na qualidade de maestro e compositor, é convidado a participar nos ‘Cursos de Verão 2006', em Tatuí - Brasil . O seu duplo-concerto "Dialogus Tranquilis" é interpretado por Dale Underwood e Banda Sinfónica . Colaborou em várias iniciativas editoriais; "let's jazz in Público", 31 volumes; artigos publicados em jornais, revistas (Público; Diário de Lisboa; Diário de Notícias; Primeiro de Janeiro; Jornal da Costa do Sol; Autores; Sete Efectua conferências sobre música. Dirige o projecto etnográfico ‘Coral e Típica Scalabitana', Santarém. Professor de ‘História da Música' na Academia Sénior da C.V.P., Parede . Dirige o ‘Coral de S.Francisco Xavier', Lisboa. Produz e Realiza, desde 2006, o programa : ‘Coreto', na Rádio Clássica-Antena 2, Rádio Televisão Portuguesa, divulgando a música bandística de todo o mundo. Para publicar, tem em preparação os livros: "Coreto", textos dos primeiros 100 programas; "Conversas sobre a História da Música"; "Tecla por Tecla", história da Editora Fonográfica ‘Tecla'; "Memórias do jazz em Portugal". Foram-lhe atribuídas as seguintes distinções: "Medalha de Honra da SPA", 2005; "Medalha de Mérito da Fréguesia da Parede 2007; "Medalha Municipal de Mérito Cultural", Câmara de Cascais, 2008 . Em organização, a ‘Banda Sinfónica de Lisboa', que tem prevista apresentação pública no 1º trimestre de 2009. A seu cargo, também a organização a médio prazo, das: "Banda Sinfónica de Santarém" e "Banda Sinfónica de Cascais". Membro das Organizações nacionais e internacionais; WASBE (World Association for Symphonic Bands and Ensembles ); APRS (Association of Professional Recording Services); IMMS (International Military Music Society); SPA (Sociedade Portuguesa de Autores); AES (Audio Engineering Society); CCS (Circulo Cultural Scalabitano). Setembro 2008. |