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Claus Nymark
01-02-2002 00:00
 
desde quando reside em Portugal e porquê é que escolheu este país sem jazz para viver? Cheguei ao Portugal em Agosto de 1986 e nessa altura vim cá para estar com a minha então namorada que tinha conhecido num "curso" de música da INATEL em que participei em Setembro de 1985 na Costa da Caparica. como foi a sua educação jazz em geral e no trombone em particular? Eu só comecei a estudar jazz aos 16 anos, tocava num "combo" de alunos numa escola e tinha aulas de harmonia e improvisação privadas com um guitarrista Dinamarquês chamado Morten Hoejring, um dos grandes guitarristas "be-bop" na Dinamarca. Alem disso tocava em bandas de Funk e de R&B aonde também os outros músicos estavam interessados em jazz e assim depois dos nossos ensaios íamos normalmente a casa de alguém ouvir discos de jazz. No trombone nunca tive aulas com nenhum trombonista de jazz. Todo o ensino de trombone que tenho é clássico, e tive a grande felicidade de aprender com um grande mestre do trombone clássico, o Dinamarquês Carsten Svanberg, actualmente professor de trombone em Graz (Musikhochschule) na Áustria. É uma pessoa (lê professor) extraordinário que vai muitas vezes aos EUA dar Masterclasses e ele deu me uma base solida para depois poder estudar a linguagem de jazz mesmo sem professor de trombone. qual era e qual é o panorama do jazz na Dinamarca? há muitos músicos? o governo, a monarquia ajuda o jazz? Na Dinamarca ha muitos músicos e ha cerca de 6 anos que temos um "conservatório de jazz" com o mesmo prestigio do conservatório clássico que de certo modo veio a tornar o jazz na Dinamarca tão respeitado como a musica clássica em termos oficiais. Eu acho que sempre houve uma grande interesse pelo jazz na Dinamarca logo desde o "inicio". Eu lembro me de músicos de jazz dinamarqueses dos anos 30 e 40 já com muita fama lá e mais tarde tivemos a grande sorte de ter a viver na Dinamarca grandes músicos de jazz americanos que com certeza ajudaram a estimular os músicos dinamarqueses. O Governo apoia bastante o jazz. Existem muitas escolas mais ou menos oficiais e mais importante de tudo ha já uma boa tradição no jazz que faz com que seja facil encontrar bons professores em todos os instrumentos. Se a rainha gosta de jazz ou não, não sei, mas sei que ela pelo menos deixa o jazz em paz! qual a sua opinião sobre os músicos portugueses de jazz? quantos trombonistas há e qual deles é o melhor? A minha opinião sobre os músicos portugueses em geral e no jazz em particular é de que são um bocado preguiçosos no que diz respeito a trabalhar a musica. Mas é um mecanismo natural visto que é fácil ter trabalho como musico aqui; os "sítios de musica" não tem muito cuidado com a qualidade da musica que apresentam nas suas casas e a concorrência entre os músicos é pouca. Felizmente esta a aparecer uma nova geração de músicos altamente qualificados que dão me a ideia de estarem mais prontos a trabalhar para obter melhores resultados na musica. Mas dito isto também devo dizer que os músicos todos que eu conheço tem sido,e são,umas pessoas maravilhosas que eu hoje em dia considero meus amigos e não "trocava" por nada. Quando a trombonistas, ha toneladas deles no pais e muitos deles muito bons! Infelizmente a "escola" do trombone cá é um tanto antiquado e sinto os trombonistas um pouco presos as velhas ideias.Nomes a ter em mente para o futuro são talvez o Rui Gonçalves e o Ruben, dois trombonistas com muita técnica e uma boa potencialidade. O meu concelho para eles será: Vai lá para fora estudar um ano ou dois (eu depois serei o primeiro a pedir aulas)!! como surgiu a sua orquestra de jazz em Portugal? tem sucesso? dá concertos? há músicos suficientes? A orquestra sempre foi um sonho meu e um dia simplesmente decidi começar a trabalhar. Levei alguns 3 anos a preparar o nosso primeiro repertório (as vezes por falta de tempo, outras vezes por falta de estímulo). Temos bastante sucesso nos nossos concertos, devido a orquestra já estar a trabalhar regularmente ha 2 anos e de ter alguns dos melhores músicos portugueses e também devido ao facto de uma orquestra ser uma coisa que da impacto com os vários sonoridades que pode criar...uma orquestra tem as formações diversas (quintetos, sextetos etc.) todas incluídas. Nos temos conseguido ter em media duas actuações por mês, o que considero muito bom para uma orquestra. De momento estamos incluídos num projecto da IPAE que se chama " UNIFONIA" em que vamos as universidades do país dar concertos. Alem disso a orquestra também tem um repertório "comercial" e de vez em quando vamos fazer festas...tocar para dançar! De facto não ha músicos suficientes para se ter uma orquestra "fixa", assim eu tenho quase duas orquestras ou seja praticamente todos os músicos tem um substituto e as vezes quase que o substituto toca mais vezes do que o "fixo". acha bem a Escola de jazz do Hot formar músicos de jazz e eles irem alimentar a música comercial dos estúdios e das televisões? Acho bem a música comercial e os estúdios de televisão alimentarem os músicos! O problema não está ai! A musica é uma profissão como qualquer outra e os músicos não tem os preços das coisas (carro, casa, comida etc.) mais baratas por serem músicos. O que me as vezes parece que acontece é que esses músicos se "esqueçam" da musica a passam a ser uns meros comerciantes da musica. Eu trabalho na televisão e na musica comercial (também como e durmo como o resto das pessoas), mas tento também continuar a tocar pelo gozo...o que, em primeiro lugar, me levou a ser musico. escolha os seus três trombonistas preferidos e diga-nos porquê Em primeiríssimo lugar o Ray Anderson! Tem um estilo muito próprio e trata o trombone por "tu". Gosto como ele se "atira" a musica ser saber se tem rede ou não, ou seja quando o ouço a tocar, nunca sinto medo nele. Também é um musico que se aventura por quase todos os estilos musicais, sempre com um toque muito pessoal! Sugiro ouvir ele tocar "Mona Lisa". De resto podia fazer uma lista de vários "kilobytes", mas deixa-me sugerir alguns: Jack Teagarden, no seu tempo já estava muito avançado no trombone e aposto que ele tocava muito melhor do que a melhor parte dos músicos pensam em geral (tenho um vídeo muito surpreendente com ele). J.J. Johnson que não teve medo dos "rápidos" (sax e trompete) e resolveu o "problema". Frank Rosolino que levou o trombone a tocar tão rápido como qualquer outro instrumento. Conrad Hervig pela sublime técnica. Michael B. Nelson dos "HornHeads" (secção de sopros do Prince) que conheci pessoalmente e que é um trombonista incrível...muito funky. Ed Neumeister pelos intervalos (tocados). sobre a cena jazz portuguesa, clubes, cds, concertos, público, festivais, qual é a sua opinião? O jazz em Portugal está cada vez melhor ou seja os executantes estão cada vez melhores e são cada vez mais. Actualmente encontramos aqui músicos tão bons como em qualquer parte do mundo. O que pode fazer falta talvez é a experiência, dado que o "circuito" de jazz é pequena. O publico também não ajuda muito, dado que no "dia a dia" não vão ouvir, mas depois quando ha um concerto num sitio "colunável" vão todos...( o artista até pode ser o mesmo). Tenho ouvido CDs maravilhosos feitos cá (ou pelo menos com músicos portugueses) ultimamente, mas faz me falta "potuguizar" o jazz feito aqui. Um grupo/CD que adorei foi "Suite da Terra" exactamente por achar que era jazz português. como explica a diversidade do seu repertório, de Coltrane ao Dixieland? Eu em primeiro lugar gosto de musica seja ela qual for e o repertório que escolhi só escolhi por gostar das musicas e me apetecer tocar-las. qual é a sua opinião sobre o jazz que se toca hoje na Europa? Da-me ideia que o jazz é muito mais respeitado na Europa em geral do que nos EUA e acho que já podemos falar do jazz "europeu" que tem uma sonoridade bem diferente do jazz americano. Importamos a musica dos EUA e agora já é nosso também. Aqui em Portugal, como disse, faz me falta ouvir mais jazz europeu. qual é o melhor solo em trombone que conhece gravado? Não sei...ha tantos solos que me impressionam, prefiro falar em solistas e para isto pode consultar a lista dos trombonistas aqui em cima. o jazz é um tipo de Música séria, tecnicista, dramática,para divertir ou divertida? sabendo do apreço que tem por humor, acha que o jazz utiliza o humor na sua linguagem? É seria e divertida no mesmo tempo, se for só uma das coisas, a mim fica-me a faltar qualquer coisa. Infelizmente em muitos casos os próprios músicos, quando a mim, levam o acto de tocar para um publico demasiado a serio e esqueçam-se de se divertir. Nota que, quando falo em divertir, não falo em "baixar a qualidade" da musica tocada. Assim o publico também não sabe bem como reagir a musica, e todo o ambiente normalmente fica um tanto "pesado"...afinal ouvir jazz e ir a igreja não é bem a mesma coisa para mim. ainda há improvisação no jazz ou está escrita ou vem decorada de casa? Acho que ha imensa improvisação no jazz, logo visto que são normalmente varias pessoas a tocar juntos uma musica não escrita, existe improvisação, nunca sabemos exactamente o que vai acontecer quando começamos a tocar. É obvio que não podemos estar "inspirados" 24 horas por dia e por isso decoramos frases ou mesmo solos inteiros de outros músicos que gostamos, para depois podermos usar parte disso no nosso próprio solo ou talvez para nos inspirar a inventar outras frases. Visto que somos nos a decidir quando e aonde tocar essas frases, acho que também podemos chamar improviso a isso. um trombonista dinamarquês a viver entre portugueses que nacionalidade de jazz toca? Não penso que "o meu jazz" tem nacionalidade..talvez a minha atitude para com a musica tem. É certo que cresci com a musica na Dinamarca e que é um povo diferente, embora muitos digam que é um povo bastante parecido com o povo de aqui, logo o meu temperamento e as minhas atitudes são influenciadas por tradições diferentes das de aqui, e isso talvez me faça tocar de maneira diferente. escolha os músicos com quem gostaria de tocar, de gravar? tantos quantos quiser! Existe poucos músicos com quem não gostaria de tocar ou gravar. Logo que eu sinto que um musico tem qualquer coisa para eu aprender (e a melhor parte tem) fico interessado.

José Duarte
 
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