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Marta Hugon
08-08-2008 00:00
 

José Duarte - qual o seu repertório? standards? blues? temas originais?

Marta Hugon - O meu repertório é feito de standards, de originais e de outras canções que não vêm necessariamente do universo jazzístico puro.

JD - acha bem uma portuguesa cantar em abrasileiradamente?

MH - Muitas vezes, sem o sotaque do original, perde-se parte da rima e da própria musicalidade. Acho tão bem quanto cantar inglês com sotaque americano.

JD - domina a técnica scat?

MH - O scat é uma técnica que não tenho explorado e que só utilizo pontualmente ao vivo. Gosto de letras e palavras e quando improviso uma linha melódica, faço-o geralmente com o apoio destas.

JD - passar swing é sua preocupação quando canta?

MH - Sim. O swing acontece quando o grupo está "colado" e os músicos têm prazer naquilo que estão a tocar. E eu tenho o privilégio de cantar com músicos que têm muito swing...

JD - aprendeu Música? onde? com quem?

MH - Fiz um percurso de trás para a frente, isto é, comecei por cantar com grupos que tocavam algum repertório de standards e por descobrir o meu interesse pelo jazz dessa forma. Só mais tarde, quando percebi que era mesmo isto que queria fazer, é que me inscrevi na escola do Hot Clube. Em simultâneo frequentei cursos de jazz com a Norma Winstone, com a Nancy Marano da Manhattan School of Music e tive aulas particulares com a Paula Oliveira. Tenho mantido sempre aulas de técnica vocal com a Cristina Castro.

JD - pensa que imitar outras vozes é feio em jazz?

MH - Se imitar implicar copiar literalmente características que outros eternizaram como suas, não me parece nem feio, nem bonito. Parece-me redundante. Mas é natural que um cantor incorpore na sua forma de cantar qualidades que admira noutros intérpretes, personalizando-as.

JD - de quem vem sua principal influência?

MH - De uma mistura de intérpretes e compositores, do universo do jazz mas também da música brasileira e da pop anglo-saxónica. Nina Simone, Nancy Wilson, Elis Regina, Tom Jobim, Chico Buarque, Sarah Vaughan, Sinatra, Maria João, João Gilberto, Joni Mitchell, Prince...Não é fácil escolher.

JD - sua discografia

MH - Com o meu grupo (Filipe Melo no piano, Bernardo Moreira no contrabaixo e André Sousa Machado na bateria) gravei  "Tender Trap" que saiu em 2005 e "Story Teller"  que saiu este ano em Abril. Tenho o guitarrista André Fernandes como convidado em ambos os discos. O guitarrista Bruno Santos toca no primeiro disco e o trompetista João Moreira toca neste segundo trabalho.

JD - já cantou em alguns dos auditórios jazz deste país como CCB ou Casa da Música?

MH - Já cantei em ambos. No CCB com o trio da pianista Lynne Arriale e o projecto Spill do guitarrista André Fernandes, e na Casa da Música com o meu grupo.

JD - sua opinião sobre a discografia de Betty Carter - alguma vez a foi ouver cantar?

 MH - Não tive o privilégio de a ouvir ao vivo. A Betty Carter era uma cantora excepcional sob todos os pontos de vista. Não só pelo domínio absoluto do instrumento, mas também por aquilo que fazia quer em termos de interpretação, quer no improviso e nas suas próprias composições. E em palco, "partia a loiça"! Acho que as primeiras gravações que ouvi dela foram do disco com o Ray Charles e também os duetos com a Carmen MacRae. Acho muito bonita a forma como a voz dela evoluiu com a idade, sem nunca perder uma clareza e alegria únicas.

JD - canta blues?

MH - Gosto muito de cantar blues, embora não o tenha feito ainda em nenhum disco.

JD - foge muito quando actua em público às melodias e respectivas linhas melódicas e harmónicas?

MH - Faz parte da interpretação. Quando re-exponho o tema, costumo improvisar melódica ou ritmicamente.

JD - prefere cantar em clube pequeno ou em auditório grande? porquê?

MH - Depende do projecto que estou a apresentar e do público. O clube pequeno permite à partida criar um ambiente mais intimista e mais próximo do público e eu gosto disso, mas nem sempre é assim. Já tive a experiência inversa, em que de repente, um auditório grande se transforma num espaço muito próximo porque a comunicação entre o grupo e quem está a ver acontece de forma intensa. Esta imprevisibilidade também faz parte do encanto de fazer jazz ao vivo.

JD - o que tem a dizer sobre o grande número de vozes femininas portuguesas hoje no jazz?

MH - É um número directamente proporcional à quantidade de vozes que estão a aprender jazz no nosso país. É bom poder ouvir e muitas vezes aprender com outras vozes e outras cantoras para que dessa diversidade possa também nascer uma maior exigência. Acho que isso faz parte do crescimento individual de cada músico.

JD - como prefere cantar com secção rítmica clássica ou apoiada num instrumento de sopro?

MH - Depende. Prefiro cantar com a formação que melhor fizer viver o repertório que tiver em mãos.

JD - canta mesmo quando se não sente inspirada?

MH - Canto sempre. A inspiração aparece com o prazer de cantar e é algo que também se aprende a controlar a nosso favor. A música costuma inspirar os dias menos inspirados.

JD - pensa que o público português sabe jazz ou que frequenta certos auditórios?

MH - Penso que o público português ouve cada vez mais jazz e que sabe que há músicos portugueses de jazz incríveis. As pessoas habituaram-se a associar o jazz a auditórios mas também a festivais ao ar livre e outras circunstâncias que se têm criado em maior número nos últimos anos.

JD - gosta de fado? canta-o?

MH - Gosto de algum fado, apesar de não ser uma conhecedora. Mas não canto. Gosto muito de ouvir vozes cuja emoção me toca, como é o caso do Camané, da Cristina Branco ou da Aldina Duarte.

JD - cantar jazz em Portugal dá para viver?

MH - Há meses em que sim.

JD - a sua versão jazz preferida de um tema? qual? qual voz? data?

MH - "She's leaving Home" dos Beatles na "voz" do Brad Meldhau (Day is Done, 2005).

JD - conhece o cantar de Dinah Washington? e de Lee Wiley?

MH - Gosto muito do timbre da Dinah Washington, e de uma espécie de tensão contida que ela põe na forma como canta. A Lee Wiley conheço mal. Dentro das crooners, gosto bastante da Julie London, da Peggy Lee e da Dinah Shore.

JD - tira partido de ser mulher em cena? tal como Peggy Lee usa charme sensual?

MH - A música, como todas as artes, apela aos sentidos e por isso tem um lado sensual. Cada cantor, como aliás qualquer instrumentista, revela esse lado à sua maneira.  E como acho que se canta não só com a voz mas com o corpo todo, a sensualidade aparece sempre que a música o pedir.

JD - já cantou no estrangeiro?

MH - Sim, mas não com o meu grupo.

JD - obrigado Marta Hugon

 


 
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