Inquérito a 4 balconistas |
01-03-2002 00:00 |
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Quais as faixas etárias dominantes entre os clientes dos seus balcões?
PC - Normalmente dos 35 anos em diante, maioritariamente entre os 35 e os 55.
HF - As faixas etárias são muito variáveis, mas a mais dominante situa-se entre os 25/35 e 35/50.
JA - Mais de 25 anos.
TR - Por volta dos trinta, quarenta anos. Pessoas de classe média desperta, que viveu e sobreviveu (bem) á globalização cultural em Portugal nos últimos dez anos. Dotados de algum poder de compra, que se dedicam entusiasticamente às várias formas de estar a par com o que de que de melhor se edita nos vários géneros musicais e que encontra no JAZZ o ímpeto plural de nutrir as suas paixões.
É uma elite que reparo estar a influenciar positivamente a clientela aí pelos vintes, ainda ingénua e perplexa com a singularidade do JAZZ contra o marasmo da musica ligeira.
Ainda uma referência aos mais velhos amadores de JAZZ que apesar de algum obsoletismo alimentam ainda o nosso fervor.
Quantos CDs compra em média cada cliente?
PC - É impossível responder a essa pergunta com objectividade, mas fazendo uma média por alto, talvez 3 ou 4...
HF - Depende da oferta, mas em média e por cada visita á discoteca 3 a 5 CDs
JA - Com muitas variações, mas a media deve ser de 3 a 5 por mês.
TR - A média é um pouco condicionada pelas economias e hábitos de consumo de cada um, e pela quantidade / qualidade de oferta do mercado, mas rondará entre dois e três CD'S Full Price e quatro a cinco CD'S Mid Price.
Há muita clientela flutuante ou os clientes repetem periodicamente a visita?
PC - Há alguma clientela flutuante, mas basicamente são clientes regulares que apenas variam a periodicidade das visitas. Curiosamente na Fnac existem vários clientes que visitam a loja em horários diferentes do meu e que são representativos embora eu não os conheça. É aquela parcela invisível.
HF - Penso que devido à abertura de mais discotecas em Lisboa, os clientes tem
JA - tendência para se dispersarem ou seja, visitam todas as lojas. Existem poucos clientes fieis a uma só discoteca. O cliente de jazz gosta de procurar e de ser surpreendido e para isso vai a todas as lojas até encontrar o que pretende.
TR - Existem ambos os casos. A maior parte da clientela e flutuante.
São em maior número os clientes repetentes, porque conhecem (reconhecem) o atendimento de cada loja, porque procuram e encomendam determinados CD'S, porque pretendem conselhos e diálogo, porque trocam opiniões e impressões e porque são persistentes em encontrar perspicuidade e honestidade no balconista.
Os clientes sabem o que querem comprar, pedem auxílio?
PC - Existem sem duvida clientes que sabem comprar mas são esses que dão mais prazer atender, e que normalmente nos pedem auxilio quando têm a nossa confiança. Talvez a maior parte dos clientes não saibam bem do que andam a procura.
HF - Uma parte dos clientes sabe o que quer, mas de uma maneira geral necessitam de ajuda. Muitos clientes não sabem o que pretendem e têm que ser ajudados. Eu costumo ter a preocupação em mostrar o lado didáctico que existe no jazz ou seja orientar o cliente para uma compra que penso ser a mais correcta.
JA - Pedem auxílio, mesmo quando sabem o que querem comprar...
TR - Apesar de um maior nível de informação e como tal, maior capacidade de escolha, torna-se complexo para o cliente acompanhar a quantidade de edições e delas extrair o bom do mau.
É por isso que cada vez mais procuram auxilio de forma a encontrarem o que melhor se adequa ao seu estilo .(é cada vez mais frequente os clientes deixarem nas nossas mãos escolhe-los).
Sabe onde o cliente vai buscar a informação sobre a oferta de CDs jazz?
PC - Infelizmente a informação em Portugal é escassa embora tenha crédito, Publico e Expresso e agora o DN, mas socorrem-se muitas vezes das revistas estrangeiras.
HF - O cliente vai buscar a informação ás revistas da especialidade, 'Down Beat', 'Jazz Magazine', 'Jazzman', 'Jazz Times', etc. Outro motivo de informação são as criticas que saem nos jornais portugueses, bem como a informação disponível na Internet.
JA - Principalmente a imprensa escrita e rádio (menos).
TR - Grosso modo, através da imprensa escrita como o caso do "Público" e do "Expresso" (os dois com maior peso) e de algumas revistas da especialidade como a JAZZMAN ou a DOWNBEAT. Também para os mais entusiásticos através da INTERNET, de alguns programas de rádio (poucos, poucos) e de conversas e audições com amigos.
A moda é um factor dominante no processo de escolha?
PC - A moda no Jazz é uma coisa relativa. Talvez a Diana Krall ou o Joshua Redman ? Sim têm grande importância no volume de vendas.
HF - Não sei se o factor dominante será a moda, o que se passa no panorama actual é um crescimento da oferta, o que possibilita o alargamento das estéticas mais variadas. Penso que a moda é feita pelos lideres de opinião, quando a opinião é convergente ela é extremamente influente nos clientes: ex. Brad Mehldau e James Carter. Outro factor importante é a publicidade feita nas televisões, muitos anúncios têm Jazz como música de fundo dando origem a grandes vendas de CDs, como aconteceu com a cantora sueca Lisa Ekdal num anúncio a um perfume.
JA - Sim.
TR - È um pouco, para aqueles que se deixam seduzir por elas, mas estão sujeitos às mudanças e transformações que possam surgir.
Qual é a hoje a moda em jazz gravado?
PC - A Diana Krall é o maior exemplo de um fenómeno comercial no Jazz. Não esquecer o Keith Jarrett o Joshua Redman ou o Brad Mehldau que definitivamente caiu no goto dos Portugueses.
HF - Para mim o que está na moda é o jazz que vem das pequenas 'labels' e que trazem uma lufada de ar fresco ao panorama actual que está cheio de discos em que nada acontece e o que propõem é apenas o êxito comercial. 'Labels' como CIMP, AUM FIDELITY, SILKHEART, WINTER & WINTER, LABEL BLEU, EREMITE, garantem novas modas e consolidam o futuro.
JA - Jazz vocal, talvez!
TR - As remasterizações dos clássicos como as editoras BLUE NOTE ou VERVE; os CD'S com super gravações e super-preços para os audiófilos que não distinguem som de música; editoras como a ECM com características de som/produção/grafismo muito fechadas em si e as fusões do JAZZ com a dance music e a música do mundo. Há modas e modos.
Como se vendem os CDs com músicos portugueses de jazz?
PC - Felizmente hoje em dia vendem-se bem. Maria João é a referência máxima embora o Sassetti e os Carlos, Martins e Bica sejam figuras emergentes. Cantoras nem por isso.
HF - Regra geral vendem mal, no entanto existe um fenómeno interessante que é o sucesso da Maria João e Mário Laginha, que vem crescendo ao longo da carreira.
JA - O disco Azul do Carlos Bica vendeu quantidades assinaláveis, assim como o CD Passagem de Carlos Martins.
TR - Bastante bem. Embora poucos, a maioria vende acima da média.
Penso que a dedicação / atenção da procura é maior que a oferta editorial, continua o calculismo exagerado das publicações que limita as já boas vendas dos CD'S com músicos portugueses de JAZZ .
A xenofilia em Portugal terá os dias contados.
Como explicita a força das multinacionais no mercado discográfico português?
PC - A influência das multinacionais no mercado discográfico é enorme. O maior exemplo é a Cassandra Wilson com os números que já se sabem. Têm as maiores maquinas de promoção e basicamente controlam a crítica.
HF - As multinacionais, regra geral trabalham mal. O jazz é visto como uma música que não vende, tendo como consequência os catálogos mal trabalhados, falham em CDs importantes que sistematicamente chegam ao nosso mercado tardiamente. As multinacionais estão a prestar um mau serviço ao jazz e necessitam urgentemente de pessoas que conheçam e possam trabalhar melhor os catálogos bem como de alguém que tome iniciativas no sentido de dinamizarem as suas vendas. Neste momento são as pequenas editoras que melhor trabalham.
JA - Maior poder de divulgação / publicidade. Maior relação preço - qualidade - quantidade.
TR - Usam de maior poder de divulgação e promoção perante o mercado, o que não pode ser traduzido, na minha opinião em força. Se o seu trabalho estivesse ao nível do que fazem com as outras músicas esta força era visível no JAZZ.
A partir de quantos exemplares vendidos um CD jazz é um ‘best-seller’ no mercado português?
PC - Na minha loja um disco que atinja os 200 exemplares vendidos já é um disco a ter em conta embora discos como "Tokyo 96" do Keith Jarrett já tenha vendido mais de 3 mil unidades...
HF - Eu considero um best-seller um disco que venda mais de 25 CDs por semana.
JA - 5000 unidades vendidas, ou mesmo um pouco menos.
TR - Não tenho a noção, mas com certeza será um número bem abaixo da música ligeira.
Vende-se mais jazz antigo, moderno ou contemporâneo?
PC - Sem comparação o Jazz antigo incluindo cantoras. O que é o Jazz antigo ? O Jazz feito há uns anos ou o Jazz feito á moda antiga... É esse mesmo o que vende mais.
HF - O que mais se vende são os grandes nomes como: Miles Davis, Coltrane, Ellington, Ella, Mingus, Metheny, Billie, Sarah, ou fenómenos recentes como Diana Krall, Brad Mehldau ou Cassandra Wilson.
JA - De tudo um pouco.
TR - Vende-se mais o JAZZ antigo e moderno. É como qualquer outra das artes. O contemporâneo é sempre, para a maior parte das pessoas, mais difícil de digerir, há que deixar amadurecer.
Quantos CDs foram vendidos aos balcões onde trabalha nos meses de Janeiro, Fevereiro, Março e Abril de 1999?
PC - Em média nesses meses a minha loja vendeu cerca de 4500 CDs por mês.
HF - Cerca de 4000 CDs nos 4 meses.
JA - Mais ou menos 3000 nos 4 meses.
TR - Perto de 5.500 nos 4 meses
Há relação directa entre a presença de um músico estrangeiro em concerto em Portugal e as vendas de CDs em seu nome? Exemplifique
PC - Sim, existe uma relação directa, especialmente depois do concerto e se ele foi do agrado do publico que normalmente não é muito exigente. Por exemplo o Richard Galliano, músico bastante desconhecido em Portugal e que graças ao concerto vendeu mais de 200 CDs naqueles dias.
HF - Os concertos estimulam as vendas dos CDs desde que sejam bem promovidos como acontece com alguns. A procura aumenta antes e depois dos concertos. Neste momento há procura dos discos do Abdulah Ibrahim e do Max Roach que irão estar brevemente no CCB. Recentemente realizou-se o concerto do Tim Berne na Aula Magna e a procura dos seus CDs não existiu, penso que só um concerto bem promovido se traduz nas vendas de CDs.
JA - Sim. Quase sempre a existência de um concerto de jazz provoca maior procura dos CDs , porque e maior a publicidade a volta do nome, mesmo que o concerto não seja de agrado unanime. Por exemplo o ultimo concerto em Lisboa de Herbie Hancock, que fez aumentar muito as vendas do seu mais recente cd sem haver quase nenhuma ligação no repertório apresentado.
TR - Sempre que a presença seja digna de valor, afecta positivamente as suas vendas.
Ex: O entusiasmo da procura dos CD'S após os concertos de Brad Mehldau ou de Kirk Lightsey ou de John Lurie. Isto é válido tanto para nomes que por cá passaram já bem conhecidos ou para os que se descobrem. Um concerto é um concerto. Uno. O CD, o gravado, ajuda-nos a compreendê-lo, a relembrá-lo.
Os músicos portugueses (incuindo vozes) mais populares entre os seus clientes
PC - Já respondi a essa pergunta na pergunta 8.
HF - Maria João, Carlos Barretto, Carlos Martins e Bernardo Sassetti.
JA - Maria João, Mário Laginha, Carlos Martins, Bernardo Sassetti.
TR - Maria João, António Pinho Vargas, Mário Laginha, Carlos Martins, Carlos Bica.
Os músicos estrangeiros (incluindo vozes) mais populares entre os seus clientes
PC - Também já respondi desta vez na 7.
HF - Miles, Coltrane, Jarrett, Ella, Chet Baker, Bill Evans, Dave Douglas, Joshua Redman, Getz, Monk, etc.
JA - Dianne Krall. Cassandra Wilson. Ella Fitzgerald. Pat Metheny. Keith Jarrett. Jan Garbarek, Charlie Haden, Herbie Hancock, Miles Davis entre muitos outros.
TR - Miles Davis, Ella Fitzgerald, John Coltrane, Sarah Vaughan, Billie Holiday, Keith Jarrett, Bill Evans, Sonny Rollins, Thelonious Monk, Louis Armstrong. |
José Duarte |
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