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conversa via mail com Lydie Carrell uma voz com jazz
25-06-2008 00:00
 

JD - como descobriu o jazz?

Eu conheci o jazz muito nova, mas a sua complexidade assustava-me.  Daí que a minha intromissão no jazz foi gradual. Um dia fui convidada a integrar uma banda de blues, e adorei a aventura. O guitarrista desse grupo falava-me do jazz com tanta paixão e incentivava-me tanto à leitura da sua história, a ouvir os grandes, que fui aos poucos ouvindo os cds que ele me emprestava,  cada vez mais e mais, e a introduzir um tema e outro. Até que fui convidada a integrar um grupo cujo repertório era apenas standards jazz, aceitei e aí, a exploração e descoberta foi mesmo muito maior. Hoje estou apaixonada.

JD - porquê cantar jazz?

 Usando a célebre frase de Oscar Wilde: "Sou uma pessoa de gostos simples, o melhor basta-me."  (sorriso)

JD - que outras músicas aprecia? Porquê?

Aprecio a boa música. Desde que me possa ensinar algo, que seja bem executada, que me proporcione prazer e emoção seja a ouvir ou a cantar.

Gosto de  músicas étnicas, pela diversidade sonora que encontramos, ou pela riqueza rítmica e porque revela as marcas de um povo e acaba por funcionar como uma viagem pelo mundo, o que acho fantástico.

Também gosto muito de canto polifónico, uma influência Corsa certamente, pela perfeita harmonia vocal de um conjunto de vozes, recheadas de uma profunda emoção e sensibilidade, um canto que não se pode praticar sem generosidade, sem um verdadeiro respeito e amor do outro, pois a voz é espelho das emoções.

São muitas as músicas que aprecio, por razões diferentes, ou, finalmente, as mesmas.

JD - conte-nos a sua história de emigrante

É uma história bonita... :) Nasci numa ilha lindíssima em pleno Mediterrâneo, a Córsega, onde vivi uma infância fantástica até aos 10 anos. Idade com que fui para outra terra bem bonita, a de todas as minhas raízes familiares, Portugal. Mas há 1 ano e meio, mudei-me para Paris para prosseguir os estudos e tentar a minha sorte. Mas como a história da maioria dos emigrantes, voltarei para Portugal e espero que em breve.

JD - quando pensa gravar seu primeiro cd?

Esse é um desejo gigante!  Sempre trabalhei nesse sentido, mas nunca quis gravar pela simples concretização desse desejo. Queria sentir que estava preparada vocal e musicalmente, ter  a certeza que iria fazer um bom trabalho.  Hoje sinto que estou pronta a dar esse passo. Estou à espera da oportunidade, mas como raramente se tem a sorte dela bater à nossa porta, estou a preparar sozinha esse projecto.  Escrevendo, compondo, reagrupando e seleccionando ideias. Espero que a sorte se una ao meu trabalho muito em breve.  

JD - qual é o seu repertório?

O meu repertório tem vivido sempre modificações, evoluções. Quando comecei, cantava apenas standards de jazz e bossa-nova, e à medida que avançava, introduzia temas novos, retirava outros... Mas este último ano tenho tentando criar um repertório mais original, tenho trabalhado ideias de fusões, como fiz com a "Canção do Mar", fado com jazz. Mas também re-arranjando temas que à partida não são jazz, como  "Ces petits riens" de Serge Gainsbourg. E outro trabalho que tem sido árduo, mas que me tem dado muito gozo é o de escrever letras sobre solos de saxofone.  Até agora apenas o fiz sobre canções de Jonh Coltrane, com "Naima" e "Syeeda's Song Flute", por exemplo. Tento assim compor um repertório um pouco diferente, mais à minha imagem.

JD - qual o standard em que se sente mais à vontade?

O à-vontade surge em qualquer standard após ter sido bem trabalhado e praticado. Sinto essa confiança com diversos standards: Round Midnight, Misty, Lush Life, My Funny Valentine...

JD - influências? Nacionais e estrangeiras

Ouço imensa música! E de muitos géneros diferentes. Embora confesso que estes últimos anos têm sido ainda mais focalizados em jazz, em todas as suas formas.

Obviamente ouço as grandes divas e crooners desde Ella a Dianne Reeves, de Frank Sinatra a Al Jarreau, mas também adoro mùsica instrumental, de Miles Davis a Brad Meldhau entre muitos outros. Também ouço gospel,  funk, soul, world music, tenho muita curiosidade pela identidade musical das diferentes culturas, assim como as diferentes fusões que foram surgindo ao longo dos anos. É tão enriquecedor!

Mas nunca perco de vista o que se faz no país das minhas raízes,  o nosso fado, o nosso jazz.

Tudo acaba por me influenciar. De tudo o que ouço retiro referências, ideias, aprendizagens...

JD - toca algum instrumento? Para além de seu instrumento ser sua voz

Posso dizer que a minha primeira e pequena expressão musical foi com 4 ou 5 anos, quando reproduzia num órgão que tínhamos em casa, as melodias que ouvia na rádio ou televisão. Chegada a Portugal iniciei aulas de órgão, percorrendo os míticos "Orgãos Magicos", durante 3 anos. Desesperava! (risos)

E depois tive 1 ano de piano, até que descobri a voz, este incrível instrumento! Hoje estou de novo a ter aulas de piano e harmonia, de modo a complementar a minha caminhada.

JD - conhece o mundo jazz português?

Como estou fora de Portugal, há ainda algumas pessoas do jazz português que não tive a oportunidade de ouvir e conhecer. Mas a minha curta vida já me permitiu conhecer e trabalhar com alguns dos grandes talentos do nosso país, e tenho tentado manter-me ciberneticamente informada.

JD - e o público conhece-o?

Não totalmente, mas espero ter oportunidade de conhecer.

JD - apreciaria entender-se com um saxofonista e ele consigo e à maneira de Billie/Lester e tocarem juntos? Traria vantagens mútuas?

 Claro! Billie Holliday e Lester Young eram de uma complementaridade musical incrível. É fantástico poder ter num palco esses diálogos, uma comunicação tão cúmplice. Sendo o sopro de um, a inspiração do outro. Penso que é o desejo de qualquer músico conseguir encontrar esse nível de interacção.

JD - fala mais línguas para além do português?

Falo  Francês,   Inglês e tenho conseguido dialogar, dentro do que me é possível, em espanhol e italiano.

Isso lembra-me um grande amigo pianista espanhol,que uma vez me disse com ar perplexo: "Uma portuguesa nascida na Córsega, que vive em Paris, e que me fala espanhol com sotaque italiano! Não pode haver duas assim!"  (Risos)

JD - apoia uma voz portuguesa fazer de abrasileirada?

Não apoio nem critico, respeito. Eu própria já o fiz, tanto para perceber o que isso poderia trazer à interpretação da bossa nova, como porque me diziam que lhe dava mais cor e elegância.  Tentei por diversas ocasiões, mas eu não o sei fazer e não gosto de ouvir o resultado. De modo que deixei de o fazer, desisti. Cantar em línguas diferentes, mesmo se a pronúncia não for perfeita, acho interessante e tem o seu charme. Agora cantar a nossa língua, mas forçar-se a imitar um sotaque, não acho piada. O português de Portugal tem por si uma sonoridade tão bonita, que me satisfaz plenamente.  Mas temos sem dúvida vozes portuguesas que o fazem muito bem.

JD - desculpe mas que idade tem?

24 anos bem frescos.

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Lydie Carrell - cantora v. José Duarte em 25 junho 2008


 
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