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o que André Fernandes nos disse
16-11-2008 00:00
 

JD - a guitarra que se diz eléctrica é o instrumento jazz mais tocado em Portugal - peço-lhe um comentário  

A razão incial para a guitarra se ter tornado um instrumento tão comum em Portugal, comparando com outros instrumentos, ultrapassa-me. Mas esse fenómeno deu origem ao aparecimento de alguns bons guitarristas de jazz, que por sua vez inspiraram jovens aspirantes a músicos a seguirem os seus sons, criando uma espécie de ciclo que ainda hoje se mantém. Esse foi o meu caso, que pude ouvir o Mário Delgado, o Sérgio Pelágio ou o Pedro Madaleno ao vivo muitas vezes, inspirando-me a procurar uma voz na guitarra. Hoje, esse facto para mim, continua a ser um estímulo fantástico para não "adormecer". O facto de aparecerem mais bons guitarristas nesta área, obrigam-me  a estar atento ao que se passa, e permitem-me continuar a ser inspirado.

  JD - qual é o guitarrista rock que mais ouve? porquê?  

Ouço muitos na verdade. Sempre gostei de rock, embora seja muito selectivo. Mas talvez possa mencionar o Josh Homme, Jimi Hendrix, Van Halen, Kurt Cobain como regulares. Por razões diversas. Dão-me coisas muito diferentes.

JD - descreva-nos a sua parafernália instrumental ou usa simplesmente uma guitarra com som amplificado?

   Normalmente uso mais do que a guitarra e amplificador. Embora para estudar raramente ligue a guitarra ao amplificador, e muitas vezes use só uma guitarra acústica. Mas nos contextos em que sou mais ouvido, uso como base a guitarra, um pedal de delay, um de volume e um de distorção. Gosto de usar outras coisas e procurar novos sons frequentemente, sendo que o pedal de whammy (um pedal com que controlo o registo das notas que toco de uma forma contínua) e o de ring modulator também me divertem muito.
 

JD - a sua opinião sobre Charlie Christian  

Charlie Christian foi o antepassado de todos os guitarristas de jazz. Abriu caminho para o instrumento, e tornou-o aceitável num estilo de música em que não existia. Se não fosse ele, eu hoje tinha que tocar banjo.

JD - em solo pensa antes de tocar uma nota?  

Não. Ouço.

JD - como preparou sua sonoridade?

A busca de um som próprio é um dos grandes desafios de qualquer músico. Claro que passei muito tempo a explorar sonoridades em casa, mas penso que só comecei a descobrir o meu som em palco. A necessidade de adaptação à música em tempo real é que me obrigou instintivamente a tocar de certa forma. Ao contrário do que se possa pensar, o som de um guitarrista vem 95% dos seus dedos, palhetado, etc, e não da guitarra, amplificador ou efeitos.

  JD - conte-nos suas experiências com jazzmen estrangeiros - quais? que resultados?  

Toquei muito com o Lee Konitz durante 2 anos em que fiz parte do seu grupo. Essa experiência marcou-me muito. Aprendi que tocar simples é muito mais complicado do que se pensa! E acompanhá-lo foi um desafio pela sua exigência e entrega ao momento.  Outros músicos estrangeiros que me ajudaram a crescer musicalmente foram o David Binney, Dan Weiss, Pete Rende, Jochen Rueckert, Chris Cheek, Julian Arguelles, Perico Sambeat e Bill McHenry, só para mencionar alguns. Mas não os coloco acima de muitos músicos portugueses que me deram e dão tanto ou mais que estes.

JD - quem foi seu Mestre?


Nunca tive um Mestre. Alguém que me tivesse acompanhado durante muito tempo, etc. Tive algumas pessoas que me foram desbloqueando etapas, como o António Pinto, Mário Delgado, Hal Crook e Bret Wilmott no plano académico.  Talvez pela sua música, e por aquilo que senti e aprendi com ele, o Lee Konitz seja quem mais se qualificaria para esse papel.

  JD - a sua discografia


André Fernandes "O Osso" . TOAP001. 2002 Jorge Reis "Pueblos" . TOAP004 . 2003 André Fernandes "Howler" . TOAP005 . 2003 Bernardo Moreira "Ao Paredes Confesso" . Universal . 2003 1UIK Project "Strategies and Survival" . Enchufada . 2004 Spill "Amplitude" . TOAP Amplitude . 2005 Marta Hugon "Tender Trap" . Som Livre . 2005 Camarão "The Remixes" . Loop Recordings . 2005 Nelson Cascais "Nine Stories" . TOAP007 . 2005 Mário Franco + David Binney "This Life." . TOAP014 . 2006 TOAP Colectivo "Vol.1" . TOAP 016 . 2006 Andre Fernandes "Timbuktu" . TOAP 017 . 2006 Lee Konitz Big Band, dir. by Ohad Talmor feat. OJM "Portology" . Omnitone . 2007 André Fernandes "Cubo" . TOAP020 . 2007 Marta Hugon "Story Teller" . IPlay . 2008 Rocky Marsiano "Outside the Pyramid" . Loop . 2008

  JD - onde prefere tocar - em clube?


Sim, em clubes. Gosto de algumas salas maiores, mas sinto que em clubes se "trabalha" mais a música.

  JD - como encara seu futuro como jazzman em Portugal?


Tento não pensar naquilo que faço como uma carreira. Até agora aquilo que tenho vindo a conseguir profissionalmente, a maior visibilidade etc,  representa para mim uma forma de eu poder continuar a fazer a música que gosto. Espero que a honestidade com que tento fazer música, seja recompensada com a possibilidade de a mostrar às pessoas durante muito tempo.

  JD - quantos concertos dá em média por mês?


Varia muito. Mas num mês ocupado talvez 15, num mês menos preenchido posso dar só 5! Mas ocupo muito do meu tempo sem concertos a escrever musica, ou a investir na produção musical, que é uma outra paixão.

  JD - está satisfeito com seu estilo ou prevê mudanças?


Estou satisfeito e prevejo mudanças. Satisfeito porque não adianta sofrer com aquilo que não sou, ou que não consegui ainda fazer. Prefiro usufruir das coisas que o meu estilo hoje me traz de bom. Prevejo mudanças porque sempre as houve ao longo de toda a minha vida musical, e não imagino ter paciência para tocar da mesma forma que toco hoje para o resto da minha vida.

  JD - a sua opinião sobre Pat Metheny e Wes Montgomery


O Pat Metheny foi uma grande influência para mim pelo seu som, e principalmente pela sua articulação, que revolucionou a forma de tocar guitarra no jazz. O Wes, adoro. Não há guitarrista que "swingue" mais do que ele. É um mestre.

  JD - compõe? descreva-nos seus temas - composições


Componho. A melhor descrição dessas composições está nos meus cds "O Osso", "Howler", "Timbuktu", "Cubo", e "Amplitude". 

  JD - como será a linguagem jazz daqui a 20 anos? entender-se-à?


Já hoje em dia é dificil categorizar aquilo que se faz como jazz. Eu penso que o jazz como estilo mais ou menos puro, acabou nos anos 60. A partir daí, ou se encontram músicos a redescobrir o jazz dos anos 40, 50 ou 60, ou então os novos estilos emergentes estão sempre contaminados por outras músicas, desde o rock, ao clássico, ao pop, musica electrónica, world music, etc. Não sei como será daqui a 20 anos, mas espero que se entenda. É provável que não se possa chamar jazz, mas tem que afectar as pessoas emocionalmente, ou então não serve para nada. Se o fizer, então entender-se-á!

  JD - como define swing? acha-o hoje imprescindível numa peça jazz?


Não defino. Mas sei quando está lá. E quando não está. Se o jazz que estamos a falar é o tal jazz no seu estado mais ou menos puro, então sim. É imprescindível. E muitas vezes nas suas metamorfoses também o é. 

  JD - toca blues?


Não. 

  JD - Obrigado


Ora essa. Obrigado eu





 
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