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Mário Delgado
01-04-2002 00:00
 
antes que seja tarde diga-nos tudo sobre o desafio que o Festival do Porto 2000 lhe lançou... Fui o músico convidado pelo festival do Porto deste ano. Convidaram-me para compor um repertório inédito, a ter a primeira apresentação no dia 2 de Novembro. Escolhi como tema a Banda Desenhada, fazendo-lhe assim um terna e respeitosa homenagem. Esta foi ramificada sobre a forma de temas dedicados ou inspirados em alguns herois ou autores com os quais eu "vivi" grandes aventuras. A formação que escolhi foi a de um quinteto com Andrzej Olejnikzak nos saxofones, Claus Nymark no trombone, Carlos Barretto no contrabaixo, Alexandre Frazão na bateria e eu próprio. acha que tem feito progressos musicais como improvisador? como é que um improvisador o sabe? Claro que sim. Como diz Collor de Mello "à que pensar positivo" e sei-o graças ao meu minidisc que grava tudo aquilo que eu toco. Não há nada melhor do que aprender com os nossos próprios erros! a clássica e sempre útil, necessária: os seus guitarristas preferidos e com um pequeno resumo de razões para cada um Wes Montgomery. É a genialidade, a musicalidade, a perfeição, o som, é o Bach da Guitarra Jazz. Jim Hall é o Picasso da guitarra, é sempre o caminho alternativo que nunca foge á tradição (ou se calhar foge e ninguém consegue perceber ), é o rei das emoções e da simplicidade. Nunca o ouvi tocar um cliché. John Scofield. É a força, toca como se fosse o pistoleiro mais temível que entra pelo Saloon a dentro (acho que mesmo John Wayne não se sentiria tranquilo com Scofield pela frente). O seu som, sempre semi distorcido e bluesy, faz-me imaginar por vezes B.B King ou John Lee Hooker a tocar Jazz. Vejo-o como o guitarrista mais saxofonista de sempre. Bill Frisel. Apesar de ser único podemos vê-lo como o grande continuador do universo de Jim Hall, misturado com o psicadelismo de Hendrix e Fripp. Os seus acordes e sons fascinam-me. Pat Metheny. É um guitarrista que eu ouvi muito. Evito-o ouvir presentemente. Fez coisas que considero geniais. Assume várias personalidades musicais muito eficazes (algumas não são das minhas favoritas). Guitarristicamente é perfeito e um inovador completo. Ralph Towner. Foi durante muito tempo a minha referência número um quando pegava na guitarra acústica. O seu mundo harmónico é único, tecnicamente é perfeito e súbtil. Quando toca standarts faz-me lembrar Bill Evans. John Abercrombie. Ouvi-o muito durante a altura do seu quarteto com Richie Beirach. Tem uma sonoridade única e uma linguagem muito inteligente e moderna. Kurt Rosenwikel, Ben Monder, Brendon Ross, Marc Ducret são alguns dos guitarristas mais recentes que oiço e admiro. Acho que vieram trazer uma grande lufada de ar fresco ao panorama da guitarra Jazz. e Jimi Hendrix? Não falei dele na pergunta anterior porque já sabia que ele era a seguinte. Hendrix é enorme, Hendrix foi a ponte ou a "tradução" daquilo que Coltrane fez no Jazz para o Rock. Band of Gipsyes é um dos melhores discos do século XX. Hendrix inventou o papel da guitarra no Rock e mudou o curso da carreira de uma personalidade como Miles Davis. Atenção que Hendrix não era só guitarrista, foi também cantor e compositor (ouça-se o disco de Gil Evans "Play the music of Jimi Hendrix") Mário Delgado é um guitarrista com swing? Não sou a pessoa indicada para falar sobre isso, mas espero que sim. quem swinga tem discurso + pobre? Não, mas quem swinga de várias maneiras pode pintar quadros muito diferentes. como explica que haja tantos alunos para guitarra na Escola do Hot em detrimento de sopros e percussões? Há duas razões fundamentais. Por um lado, a guitarra é um dos instrumentos mais populares e por vezes um dos mais acessíveis. Por outro, o facto incontornável de o povo português ter os "genes primordiais" para tocar guitarra. o piano foi o instrumento do século 19 - será a guitarra o do século 20 ou a trompete, o saxofone? É uma pergunta complicada, mas espero que cada vez mais a música venha a trascender os próprios instrumentos. as influências estrangeiras pesam muito nos seus trabalhos como compositor? Tudo o que eu oiço e ouvi pesa imperativamente na minha música. Isso será sem dúvida o meu conteúdo musical. Procuro encontrar no meio de tudo isso o meu verdadeiro eu, e ser um adversário temível da "clonização", ou seja de tudo o que não for suficientemente autêntico. há jazz português? Sim, felizmente acho que sim e isso deve-se ao amadurecimento dos músicos portugueses e à necessidade de sentirem que tocam musicalmente o solo que pisam. não há músicos portugueses de jazz para constituir uma big band - como explica. Se bem entendo a pergunta julgo referir-se ao facto de não haver ainda a possibilidade de construir uma Big Band apenas com músicos portugueses ou residentes em Portugal com formação jazzística. Apesar de ser uma situação nova no nosso País, julgo existirem pelo menos quatro Big Bands a funcionarem regularmente: a do Hot Clube dirigida pelo Pedro Moreira, a de Claus Nymark, a do Porto dirigida por Carlos Azevedo e Pedro Guedes e a de Faro dirigida por José Eduardo. Saliente-se que numa Big Band nem todos os músicos necessitam de ser improvisadores. Assim podemos contar com os músicos que apesar de não terem formação Jazzística podem ser excelentes interpretes numa Big Band, ultrapassando deste modo a limitação numérica exposta na pergunta. outras músicas que ouve, outros músicos que ouve Oiço música portuguesa de músicos portugueses de variadíssimos tipos, brasileira, como Caetano Veloso, Vinicius Cantuária, Hermeto Pascoal, africana, como Ali Farka Touré, música clássica (mas nunca Opera). Oiço também rock onde procuro ouvir as coisas mais recentes que me despertam interesse. Sou um freak absoluto dos Beatles, Led Zepelin., The Who, Jimi Hendrix Experience e Stely Dan (o último disco é com Chris Potter). Dentro do Jazz Kenny Wheller, Tom Harrel, David Holland, Keith Jarret, por exemplo. aprecia Barney Kessel? Sim conheci-o num workshop. Foi um dos pioneiros do Bebop juntamente com Monk, Powel, Parker, Diz e Roach e é, tal como Joe Pass, Tal Farlow ou Herb Hellis, um dos supremos executantes a solo. Recordo uma interpretação incrível de Yesterday de Lennon/McCartney porque é que não desliga mais vezes da electricidade a sua guitarra? Porque por vezes é difícil ter em concerto um som satisfatório na guitarra acústica. quer indicar o melhor solo jazz de guitarra que conhece? É muito difícil escolher um, mas na minha resposta sobre a discografia jazz básica para guitarra estão seguramente alguns dos melhores. escolha um grupo para com ele tocar - à sua disposição tem todos os músicos de jazz deste e do outro mundo Miles Davis, Jimi Hendrix, John Coltrane, Bach com os teclados de Zawinul, Dave Holland, Al Foster e eu a produzir. recomende um método de trabalho para um guitarrista que comece a tocar Ouvir muita música das melhores castas, ter uma grande vontade e estudar muito. descreva-nos o seu equipamento Tenho várias guitarras, mas toco quase sempre com a minha velha Gibson 345 ligada a um amplificador com um pré amplificador a válvulas. Em contextos de Jazz mais Underground junto a isto uns pedais de efeitos que raramente estão em On. um músico português de jazz ganha bem a tocar jazz? É difícil ganhar bem só a tocar Jazz. È preciso apostar também no ensino. sabe dançar? acha importante para um músico ou crítico saber dançar? É sobretudo importante sentir o corpo livre. Um bom exemplo é ver Thelonious Monk a tocar e a dançar. que pensa dos críticos portugueses de jazz? Existem críticos e críticos. Não reconheço competência em certas pessoas para escreverem ou pensarem publicamente sobre Jazz ou música em geral. Lembro-me por exemplo que este ano a propósito de um concerto de Ralph Towner com Gary Peacock (que eu vi) li das coisas mais bizarras e impossíveis de serem pensadas por alguém que se intitule crítico (atenção que não estou a fazer nenhum ataque, pois nem conheço nem me lembro do nome da pessoa em questão). Aí podia-se ler entre outras "impossibilidades" que não traduziam de modo algum o que se tinha passado no concerto que Ralph Towner tinha influências da música Celta (?!). Mas brincando um pouco com a pergunta também devo dizer que assim como os músicos de Jazz os críticos também tocam "notas erradas", só que enquanto na música o hábil músico pode usar essa nota de forma a que ela venha a soar muito bem, na escrita já não é bem assim... qual foi a sua mais recente surpresa positiva e/ou negativa em matéria de disco com guitarrista de jazz? Adoro o disco de Chris Potter Vertigo com Kurt Rosenwinkel. É uma das gravações em que mais gosto de o ouvir (K. Rosenwinkel). Acho os temas de Chris Potter muito actuais e de um extremo bom gosto. Gosto também do último disco de Don Byron "Romance with the Unseen" e do novo de David Holland "Prime Directives". a sua opinião sobre o guitarrista Ricardo Rocha e as guitarras portuguesas no fado e no jazz O Ricardo é um músico incrível com uma intuição assustadora e sobretudo um músico sem fronteiras (oiçam o seu solo no tema Certeza de João Paulo Esteves da Silva no disco "Fábula" de Maria João). Quanto ao papel da guitarra portuguesa no Jazz, de certeza que não é para tocar Blues, Rhythm Changes ou Standarts. O disco de Maria João "Fábula" pode ser o princípio do caminho. onde gostaria de frequentar estudos de guitarra jazz? Julgo que as escolas de Jazz portuguesas já estão ao nível das melhores da Europa. Na América a Berklee e a New School serão sempre duas grandes referências. é possível um bom solo improvisado sem recorrer a frases feitas? Claro que sim e deveria ser sempre assim, mas os músicos de Jazz têm sempre o seu "pocket" que usam sempre que é preciso, uns mais do que outros. recomende uma discografia jazz básica para guitarra Vou começar pelos clássicos -Wes Montgomery "Smokin`at Half Note" ou "The Verve Jazz Sides" que é o mesmo disco junto com uma compilação da Verve Qualquer disco da Riverside é bom nomeadamente: "The Incredible Jazz Guitar of Wes Montgomery" "Boss Guitar" "Full House" -Jim Hall Sonny Rollins (com Jim Hall) "The Bridge" ou "The Quartets featuring Jim Hall" que é basicamente o mesmo disco Paul Desmond (com Jim Hall) "Easy Leaving" Jim Hall com Ron Carter "Telephone" "Alone Together" "Live at VillageWest" Bill Evans & Jim Hall "Undercurrent" -Kenny Burrel "Kenny Burrel & John Coltrane" Falta aqui um disco que traduza o génio de Charlie Christian (que julgo poder ser encontrado na discografia de Benny Goodman) e outro de Django Reinhardt Agora os que já são ou podem vir a ser clássicos -Pat Metheny "Bright Size Life" "80 81" -Ralph Towner & John Abercrombie "Sargasso Sea" -John Scofield "Time on my Hands" Joe Henderson (com John Scofield) "So Near So Far" -Dave Holland (com Kevin Eubanks) "Extensions" -Paul Motian (com Bill Frisel) "Bill Evans" "Monk in Motian" "Broadway vol.I,II & III"

José Duarte
 
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