Susana Silva |
01-06-2002 00:00 |
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é músico profissional, vive do que ganha com o jazz, há quantos anos toca trompete?
Eu comecei a aprender trompete com o meu avô aos 7 anos de idade. Aos 10 anos entrei para o Conservatório de Música do Porto. Há 3 anos atrás acabei o Conservatório e entrei para a Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo. Assim, considero-me ainda uma estudante mas espero vir a ser músico profissional e viver da música. Para já, o dinheiro que ganho com o jazz vai dando para comprar alguns CD´s e partituras!!
dará tanto prazer como isso passar os Concertos a ler pautas jazz?
Dá tanto prazer como tocar sem partitura. Em orquestra, por exemplo, o que estamos a tocar está sempre, de alguma forma, interligado com o que os outros estão a tocar, as linhas de cada instrumento cruzam-se e interagem, e isso dá um significado especial a cada nota que lemos na partitura.
suas e seus trompetistas favoritas e favoritos? porquê?
Tantos! O meu nº 1 é, sem dúvida, o Wynton Marsalis, porque desde o clássico ao jazz consegue atingir uma espécie de perfeição musical que engloba aspectos como a técnica, o som, o fraseado, a imaginação, a criatividade, a musicalidade. Chet Baker, pelo fraseado e intenção sonora;
Miles Davis pela essência da sua música; Jon Faddis pela sensibilidade, o som e a capacidade de me conseguir surpreender; Louis Armstrong, porque
toda a sua música transpira jazz e swing; Clifford Brown, Freddie Hubbard, Dizzy Gillespie, Tom Harrel, Ingrid Jensen, Dave Douglas, entre outros.
Para além da cena jazzística tenho, obrigatoriamente, que mencionar alguns dos mestres da trompete: Philip Smith, Maurice André, Edward Tarr, Adolph Herseth, William Vacchiano, Vincent Penzarella, Ray Mase, Pierre Dutot, Thomas Stevens, entre outros.
ir a solo é um degrau essencial para um músico de jazz subir?
Sem dúvida que sim. Um músico de jazz por excelência é um improvisador e um solista. Faz parte da natureza do jazz logo, de qualquer músico de jazz; caso contrário, será apenas um músico que toca jazz.
tem Música gravada e publicada?
O único CD que gravei foi com o Ensemble do Carlos Azevedo, "A Lenda".
a experiência 'Orquestra de Jazz de Matosinhos' é benéfica para um músico português de jazz? escreva-nos sobre o trabalho (ensaios, repertório, concertos, aceitação) com a Orquestra
Para mim tem sido uma óptima experiência, e acho que qualquer músico português de jazz poderia enriquecer musicalmente a trabalhar com O.J.M. A orquestra tem vindo a realizar um trabalho contínuo e progressivo, de ensaios semanais, desenvolvendo um repertório de originais do Carlos Azevedo e do Pedro Guedes, que torna todo este projecto ainda mais interessante. E é muito bom, ao fim de tantos ensaios, podermos apresentar o trabalho da orquestra em concertos, e verificar, a maior parte das vezes, que esse trabalho é reconhecido por parte do público que nos ouve.
o seu CD (LP) de jazz favorito com trompetista(s)
Sem saber explicar muito bem a razão, há um CD do Wynton Marsalis do qual eu gosto especialmente e que se chama Carnaval. Dentro do jazz, o "Kind of Blue", do Miles, foi o primeiro CD que ouvi e comprei e tem um valor especial, principalmente por me ter 'aberto os ouvidos' para o jazz. Já agora, o último CD que comprei foi "A Thousand Evenings", do Dave Douglas, que eu achei muito interessante, para dizer o menos.
o seu solo de trompete favorito e porquê?
É impossível escolher um solo de trompete que seja o melhor, porque qualquer solo bem tocado tem, pelo menos, uma ideia, uma nota, uma frase ou uma sonoridade que é a minha favorita...
para quando solos seus improvisados?
Isso é um pouco complicado para já. Saber improvisar é um desejo que eu tenho há já algum tempo e espero um dia destes poder realizá-lo. Neste momento tenho que dividir o meu tempo entre as aulas, as horas de estudo ('trompete clássico'), ensaios e concertos, e não tenho disponibilidade para me concentrar no estudo da improvisação.
marca e características da(s) sua(s) trompete(s)
A minha trompete em Sib é uma Bach, modelo 37; a trompete em dó também é Bach, modelo 239H; a trompete em Mib/Ré é uma Schilke, ML; o flugel é um Yamaha, YFH-631.
e tocar 'fluegel' (fliscórnio) requer outras aptidões e/ou anseios?
Não acho que sejam precisas outras aptidões. Outros anseios? Talvez. O flugel é capaz de transmitir, melhor que a trompete, sentimentos mais íntimos, mais doces, mais intensos,... mais nossos. Por isso, temos que permitir-nos dar à nossa música um pouco mais de nós próprios, e isso nem sempre é fácil!
indique bons trompetistas portugueses de jazz
Laurent Filipe, João Moreira,... Eduardo Santos...
como se consegue sonoridade pessoal?
Com muito trabalho individual. Primeiro, temos que saber qual o som que queremos ter e depois trabalhar muito para o conseguir obter. E esse trabalho passa, por exemplo, por um estudo específico de exercícios (notas longas), uma boa respiração e a correcta utilização da coluna de ar.
Ingrid Jensen é uma boa trompetista de jazz?
Acho que a Ingrid Jensen é realmente uma boa de trompetista de jazz, e eu admiro muito a sua música.
ser mulher favorece ou prejudica a profissão de trompetista de Música Improvisada? ou, para o caso, o sexo é indiferente?
O sexo feminino é uma minoria no que diz respeito à trompete e ao jazz e, como qualquer minoria, por muita qualidade que tenha, encontra sempre alguns obstáculos quando se pretende afirmar. No entanto, creio que, na 'hora da verdade', o sexo seja realmente indiferente, ou assim espero!
há muitas raparigas a estudar, a praticar jazz em Portugal? quais e em que instrumento?
Penso que, hoje em dia, já começam a haver mais raparigas interessadas em conhecer e estudar jazz, mas ainda é difícil encontrarmos nos palcos portugueses presenças femininas, à excepção talvez da voz. Mas será, certamente, uma questão de tempo...
toca exclusivamente na Orquestra de Matosinhos?
Neste momento, a O.J.M. é o projecto mais importante e regular (e que me dá mais prazer) do qual eu faço parte; no entanto, vou fazendo outras coisas dentro e fora do jazz.
como encara esta extraordinária temporada da 'Orquestra de Jazz de Matosinhos' no panorama do jazz em Concerto em Portugal?
Encaro-a, de certa forma, esperançada que o jazz adquira uma voz mais activa no panorama musical português, e que a O.J.M. se possa desenvolver cada vez mais e multiplicar muitas vezes esta temporada que disse extraordinária.
papel das autarquias no desenvolvimento do jazz em Portugal?
Eu não sou, com certeza, a pessoa mais indicada para falar sobre este assunto mas, num país que com tanta dificuldade luta para levar o jazz a bom porto, a O.J.M. tem conseguido alguns apoios, que têm permitido à orquestra manter-se de pé. Mas, penso que no geral o panorama não é muito positivo.
com quem gostaria de tocar no seu primeiro CD? valem todos, estrangeiros, portugueses...
Com músicos que tivessem tanto prazer a tocar comigo como eu com eles! E isso vale para todos... |
José Duarte |
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