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Pedro Carneiro
31-08-2002 00:00
 
como define as diferenças entre um baterista e um percussionista, se é que as há? Sim, existem diferenças. Embora a bateria pertença ao naipe dos instrumentos de percussão, requer uma especialização e um trabalho específico, pois é um instrumento desenvolvido essencialmente pela história (e estórias!) do Jazz. O percussionista (seja ele clássico, contemporâneo, 'world music', etc) tem a seu cargo uma enorme panóplia de instrumentos o que implica que a especialiazação em cada um deles é menor. Apesar disso, hoje em dia existem cada vez mais percussionistas a fazerem uma especialização numa área instrumental da percussão, como é o caso da marimba, vibrafone, tímpanos, percussão orquestral ou ainda no caso de multiple-percussion set-ups (conjuntos de vários instrumentos de percussão, específicos a cada peça contemporânea, ou seja, sempre um instrumento diferente consoante a obra a interpretar). Mas a percussão é um mundo vastíssimo, sempre em expansão e mutação, cheio de surpresas. como se aprende a percutir? Uma das facetas mais fascinantes da percussão é o facto de qualquer pessoa poder disfrutar do prazer de fazer som num instrumento. A percussão pode até funcionar como terapia (já foi muitas vezes usada no trabalho com deficientes). Dependendo dos objectivos, a aprendizagem da percussão pode passar por aulas/workshops de percussões "étnicas" para principiantes, dos muitos ritmos do mundo (Brasil, Índia, África, etc) até chegar a masterclasses nas escolas superiores de música com grandes mestres da percussão, como Gary Burton, Trilok Gurtu ou Leigh Howard Stevens. Outra hipótese é ainda juntar tachos, panelas, frigideiras e outros utensílios culinários e tentar uma interpretação caseira da obra My Dream Kitchen de Django Bates - aliás, como recomendada pelo compositor! o que separa um percussionista de jazz de um percussionista para outras músicas? O Jazz tem uma linguagem própria e como tal é necessário falar o idioma. O percussionista estará apetrechado para se exprimir em qualquer estilo musical, porque tem a possibilidade de conhecer várias linguagens. É que a técnica de base para tocar um instrumento de percussão é relativamente uniforme a todos os instrumentos (com algumas excepções, como é o caso da técnica de quatro baquetas para marimba/vibrafone, ou no caso de percussões digitais, como a tabla, etc) e, conhecendo várias linguagens, o percussionista estará apetrechado para se exprimir em qualquer estilo musical. a percussão escreve-se e lê-se em pautas? Na percussão clássica/contemporânea, por exemplo, escreve-se e lê-se em pautas - o grau de exactitude/precisão dependendo do compositor. Compositores como Brian Ferneyhough, por exemplo, escrevem até ao limite todos detalhes musicais que querem ouvir. Outros, como John Cage, podem deixar grande parte do trabalho para o intérprete decidir. Há também tradições na música etnográfica de países Africanos e Asiáticos, por exemplo, cujo ensino é passado por mestres sem o uso de pautas ou outros métodos de notação. a do jazz também? O Jazz cultiva o improviso e dessa forma a criatividade do intérprete é fulcral para o resultado musical final. Como ao intérprete é dado um tema, a partir do qual terá de criar o seu solo, a colaboração compositor/intérprete é espontânea e sempre diferente. qual é o percussionista de jazz seu preferido? porquê? Talvez o Trilok Gurtu. É um percussionista/baterista fenomenal, capaz de produzir grooves poderosos e sempre com imensa elegância. Admiro também o Alexandre Frazão, outro autêntico monstro do groove! que experiência tem como percussionista? A minha experiência como percussionista passa por recitais, música de câmara e concertos com orquestras na área da música clássica/contemporânea, passando um pouco pelo jazz menos tradicional e por outras músicas. É um pouco difícil descrever esta experiência por palavras, por isso gostaria de o convidar a visitar o meu website [ http://www.pedrocarneiro.com ] onde é possível ver o que já fiz e o que estou a fazer. considera-se um percussionista de jazz? O jazz não é a área da minha formação e sou apenas um curioso. Gosto de o fazer, porque adoro o jazz, mas sinto-me mais à vontade no jazz menos tradicional (Inclusivamente estou a trabalhar com o Michael Mantler num novo projecto a ser gravado para a ECM no próximo ano, uma obra para marimba/vibrafone e orquestra de sua autoria). Gosto muito dos jazzes contemporâneos e na música do Michael o jazz já só se ouve ao longe, no entanto deixou marcas profundas... e belas. e um baterista de jazz? Não me considero um baterista de jazz. Poderia fazê-lo, mas precisaria de algum tempo e de estudos e pesquisa para o poder fazer com o mínimo de qualidade. que se passou com a orquestra de Django Bates, a 'European Youth', que recentemente tocou em Portugal, pois na digressão europeia você só tocou em Portugal?! Pude realizar apenas os concertos em Portugal, devido a outros compromissos que tinha. Foi um prazer trabalhar com o Django, eu já o tinha conhecido em Londres em 1999. conhece a cena jazz portuguesa? que opinião tem sobre ela? Conheço apenas alguns dos músicos e dos discos. Uma gravação que oiço frequentemente é a do Septeto do Tomás Pimentel, que gosto muito. Como vivo fora de Portugal há quase uma década, estou por vezes pouco ao corrente do que por aí se vai passando. Por isso, é difícil formar uma opinião. seus percussionistas favoritos Os marimbistas Leigh Howard Stevens e Nancy Zeltsman, Gary Burton, Nebojsa Zivkovic, entre muitos outros. toca o instrumento de percussão que é o piano? Apenas às escondidas! e como vibrafonista que escola frequentou? Não frequentei uma escola específica para vibrafone. Estudei na Guildhall School of Music and Drama em Londres, onde fiz a licenciatura em Percussão e Direcção de Orquestra, cujas áreas de estudo incluiram a percussão em termos gerais e também o vibrafone, com o Prof. Anthony Kerr. em sua opinião quais os vibrafonistas jazz que recomenda? Gary Burton, Dave Samuels e David Friedman. tem opinião sobre Stefon Harris? Apenas ouvi falar do nome, não conheço o seu trabalho. um bom músico de jazz tem necessariamente que ser um bom improvisador? Penso que sim, pois o jazz é uma música cuja essência assenta no improviso. e um bom improvisador é necessariamente um bom músico de jazz? Poderá sê-lo, mas não obrigatoriamente ... a música não é uma ciência exacta. conte-nos o que musicalmente se passou no HCP quando lá tocou com Ruben Alves, que Música tocaram? Tocamos temas do Ruben, do João Paulo Esteves da Silva e do Egberto Gismonti, assim como improvisações totalmente livres. Este duo explora músicas escritas e improvisadas, que não sejam realmente jazz, nem avant-garde. a batida do samba só pode ser atingida, tocada, por um brasileiro? Qualquer batida/ritmo/groove pode ser tocada com o sabor especial a que se refere (em relação ao Samba, por exemplo) por uma pessoa de qualquer nacionalidade. Um colega e amigo Londrino, o percussionista Matthew Rich, é branco e, por vezes, faz-me lembrar um Africano na forma como toca o djembé. O sabor que se dá a um ritmo é algo mais profundo que a simples nacionalidade ou cor da pele - é musicalidade pura. é essencial saber ritmos africanos para ser um percussionista de jazz? Conhecer ritmos africanos é algo importante para um percussionista, seja ele de jazz, ou de outra área musical. África é a mãe da Percussão. descreva os instrumentos de percussão que usa Marimba, vibrafone, instrumentos de pele diversos (todo o tipo de tambores, pandeiros, bongós, congas, etc), pratos, gongs e muitos outros, inclusivé os tais tachos, panelas e frigideiras que mencionei numa resposta anterior! como se medem os progressos musicais de um percussionista / baterista? Pela desenvovimento e maturação da sua técnica, musicalidade, cultura, experiência, repertório e tudo mais. O desenvolvimento de um músico é um processo longo, que precisa de ser "regado" a muitos níveis ... a ouvir música, músicos, artistas de outras áreas, por exemplo. e os percussionistas de Strasbourg? sua opinião São excelentes músicos! Artistas inovadores que desenvolveram o repertório de câmara para percussão de uma forma notável, mudando a história da percussão no século XX. Além disso, têm uma colecção de instrumentos notável, com especimens mais loucos que as minhas pobres frigideiras !

José Duarte
 
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