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Mário Barreiros
27-02-2007 00:00
 

 JD - tinha 5 anos de idade quando o 'Cinco Minutos de Jazz' foi para o ar a primeira vez e 10 quando se realizou o justamente célebre e celebrado '1º Festival Internacional de Jazz de Cascais'! Parabéns! Como aprecia as eventuais mudanças da cena jazz deste país que entretanto aconteceram?

MB - Acho que se tem conseguido muita coisa. Talvez queira sublinhar sobretudo a grande influência que as escolas de jazz têm tido não só nos músicos de jazz como também nas muitas pessoas que frequentam estas escolas com o intuito de se cultivarem num estilo de música de caracteristicas tão complexas e exigentes quer para quem a faz como para quem a ouve.
  
JD - Seu Pai, que julgo pertencer à primeira geração jazz em Portugal, a de Villas-Boas, teve muita importância na divulgação do jazz no Porto e na sua prática jazz?


MB - O meu pai esteve sempre do nosso lado, o seu apoio tem sido infinito. Ainda hoje, com 78 anos está, juntamente com os meus irmãos Jorge e Pedro, na direcção da Escola de Jazz do Porto.

JD - quem foram os músicos jazz (certamente n-americanos) que mais  o marcaram no seu início das suas actividades musicais?

MB - O tema Actual Proof de Herbie Hancock do album Thrust e o album Ugetsu de Art Blakie são o que eu recordo de mais importante na minha iniciação ao jazz, ouvi vezes sem conta, acho que ainda me lembro de todos os solos de Wayne Shorter. Mas as minhas duas maiores influências foram o Miles Davis Quintet com o baterista Tony Williams e o John Coltrane Quartet com o baterista Elvin Jones.
 

JD - tem conhecimentos musicais daqueles que os Conservatórios ministram para a Música escrita?

MB - Estudei no Conservatório de Música do Porto: Acústica, História da Música, Composição e Educação Musical.
 
 JD - onde e quando tocou pela primeira bateria jazz em público? recordações

MB - Não me lembro do primeiro concerto, mas sei que foi com o Quarteto Zanarp do António Pinho Vargas,  José Nogueira, e Artur Guedes pouco tempo depois de o baterista José Martins se ter mudado para Lisboa.

JD - é da geração de músicos como Pinho Vargas, Rao Kyao e Zé Eduardo este o único que ficou com o jazz - comentários

MB - Eu também fiquei com o jazz, assim como o Mário Laginha, Maria João, João Paulo Esteves da Silva, Carlos Martins e etc..
 
JD - músicos portugueses e estrangeiros que aprecie e tivesse estudado
  
MB - Da minha geração para cá admiro o Mário Laginha, o André Fernandes, o Brad Mehldau, o Mark Turner, o Kurt Rosenwinkel, o Ben Monder e o Jeff Ballard. Estes talvez os mais, mas a lista é extensa, o que é sinal da excelente saúde em que se encontra o  jazz actual.
 
JD - está de acordo que uma peça para ser de jazz tem que ter swing e improvisação?
 
MB - Swing é o ritmo mais importante do Jazz. É um ritmo composto, porque tem subdivisão ternária e é por isso mesmo bastante mais difícil do que os de subdivisão binária (ritmos simples). Destaco na resposta anterior o baterista Jeff Ballard exactamente porque  tem um dos melhores swings da actualidade (muito ao estilo de Tony Williams). A improvisação é sem dúvida o elemento central do jazz.  Partilho a convicção de que um bom músico de jazz tem de ter um bom swing e que é impossível improvisar no jazz sem o estudo e conhecimento profundo das gravações de pelo menos os últimos 50/60 anos desta grande música.

JD - depois da morte de Coltrane (1967) e da aproximação de Miles ao rock que rupturas houve no jazz nas últimas 3 décadas?

MB - Há aliás um belo disco de John Coltrane e Rashied Ali  "Interstellar Space" gravado em 67 poucos meses antes da sua morte. A editora ECM teve um papel importantíssimo nos anos 70 e 80. Nos anos 80, os irmãos Marsalis recuperam a tradição (memorável o concerto de Wynton Marsalis Quintet em 83 no pavilhão dos Salesianos no Estoril). Nos anos 90 a geração "Smalls" - Brad Mehldau, Mark Turner, Kurt Rosenwinkel, etc.

JD - a sua carreira está mais  ligada a Músicas não jazz e à produção - exemplos que constam de seu curriculum: Jafumega, Rui Veloso, Pedro Abrunhosa, Unu, Clã, Ornatos Violeta, Silence 4, Xutos & Pontapés, Da Weasel, Yellow W Van, David Fonseca, Blind Zero, Mesa, Gomo, Pluto, José Peixoto e Jorge Palma.

MB - A minha primeira ocupação tem sido a de produtor musical.

JD - o sexteto Mário Barreiros é agora  a sua ligação mais forte com o jazz?
 

MB - Estive alguns anos afastado dos palcos porque precisei de me dedicar por inteiro ao projecto do MB Estúdios. Desde o meu regresso de há três anos gravei com Lee Konitz e a Orquestra de Matosinhos e toquei com Nuno Ferreira, Demian Cabaud, Nelson Cascais, Manuel Beleza, Rodrigo Gonçalves, Mário Delgado, Abe Rabade, Carlos Barreto, Paco Charlin, etc. Com o sexteto ensaiamos todas as semanas e desenvolvemos um trabalhos com base em originais.

JD - na geração que aí está a aparecer há muitos instrumentistas, bons leitores e poucos improvisadores - estará assim ameaçado o futuro desta Música neste país?

MB - Acho que não, acho que o jazz em Portugal melhorou bastante na última meia dúzia anos. Há muita gente nova com muita qualidade que está a aparecer, o melhor exemplo que conheço é o do saxofonista José Pedro Coelho cujo talento e cultura jazzística são excepcionais.
 

JD - que pensa da dificuldade de sobrevivência do único e primeiro  clube de jazz no Porto - 'Hot Five' - cidade onde há um par de escolas, alguns concertos jazz na 'Casa da Música', já não há Festival, mas talvez haja a maioria dos melhores - embora escassos - jovens improvisadores?

MB - O Porto neste aspecto continua como sempre - as pessoas não gostam muito de sair.
 
JD - já foi ou tocou no 'Hot Five'?
 
MB - Já, com o trio de Manuel Beleza.

JD - jazz ensina-se ou aprende-se? como?
 
MB - Ensina-se mas só a quem quer aprender, e aprende-se muitíssimo ouvindo e lendo sobre jazz.
 
JD - sua opinião sobre a não existência de jazz nos Conservatórios portugueses? por serem conservadores?
 
MB - É notavél o Curso de Jazz da ESMAE. O único oficial em Portugal.

JD - conhece a discografia do baterista Jeff 'Tain' Watts? que opinião tem sobre ele? 
 
MB - É um dos maiores bateristas de jazz. Desde 83 que o vejo a tocar ao vivo, já antes o conhecia atravéz dos cds "Think Of One" e "Black Codes" do quinteto de Wynton Marsalis. Ainda há dois anos deu um excelente concerto com o quarteto de Branford Marsalis no Estoril Jazz. Vi-o pela última no Jazz Gallery de Nova Iorque num concerto em homenagem ao pianista Kenny Kirkland.

JD - e do baterista 'Cozy' Cole?
  
MB - Conheço mal. Dos mais antigos estudei Max Roach, Art Blakie, Philly Joe Jones e Jimmy Cobb.
 
JD - não acha que fazem falta ao mini-mundo do jazz em Portugal os musicólogos que nascessem a par com os instrumentistas e musicólogos/instrumentistas como Helder Bruno a doutorar-se na Universidade de Aveiro para além de outros 3 instrumentistas também eles a doutorarem-se?
 
MB -
  
JD - acha bem licenciados em jazz examinados por seus ex-alunos?
 
MB -  
 
JD - acha bem um aluno acabar seu curso de jazz e no ano seguinte  ser professor?
 
MB - 
 
JD - no mercado n-americano a Música escrita e o jazz, pode dizer-se e escrever-se, 'não têm público', não 'existem', comparadas com as Outras Músicas - sua opinião

MB - Existem, continuam a ter público e recomendam-se. Acho muito difícil que uma pessoa que adore jazz deixe de ouvir e/ou ver jazz. Por outro lado é evidente a grave crise em que se encontra a indústria musical, o que explica provavelmente que algumas  "majors" como há poucos anos a Warner Brothers tenham rescindido todos  os contractos que a ligavam a músicos de jazz. É  inadmissível que um músico como Mark Turner não tenha neste momento um contracto discográfico com uma editora. Sendo muito grave a situação em que se encontram as grandes editoras, é da maior importância a existência de um circuito de pequenas editoras
especializadas com contactos internacionais.

JD - e em Portugal? os jazzlovers portugueses são uma minoria sem qualquer expressão nacional?

MB - Não, discordo em absoluto. Acho que o Cascais Jazz foi o fenómeno que foi porque não existia practicamente mais nada e o rock só apareceu em força dez anos mais tarde. Que ninguém pense que em 71 haviam dez mil consumidores de jazz em Portugal. Não tenho qualquer dúvida que o jazz é hoje uma música de elite, e que é natural que assim seja, porque é mais complexa e subtil que a maioria das músicas populares.

JD - como explica os músicos jazz portugueses não assistirem a concertos em Portugal com músicos estrangeiros inequivocamente melhores que eles?

MB - Sempre que posso vou. São os grandes músicos que me inspiram.

JD - é verdade que o jazz se aprende ouvindo-se ? que esta é a primeira lição

MB - A verdade mais pura.

JD - e o futuro do jazz contemporâneo  qual será?

MB - O futuro do jazz depende do talento dos músicos do futuro.

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JD - José Duarte 

MB - Mário Barreiros 

a 'originalidade' de perguntas sem respostas deve-se como se vê a MB tal como Blakie em vez de Blakey

26 fevereiro 2007


 
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