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Sofia Ribeiro
22-03-2006 00:00
 
JD - 'Dança da Solidão é o seu primeiro CD?
o repertório foi muito cantado antes do CD sair para o mercado?
 
SR - Sim, este é o meu primeiro CD. O repertório foi bastante tocado por mim e pelo Marc e essa foi uma das razões pelas quais sentimos vontade de o gravar e de, assim, registar uma etapa do nosso percurso.
 
JD - porque só agora se dá a conhecer ao público português?
 
SR - Eu tenho vindo a dar-me a conhecer de uma forma natural, sem grandes pressas. E a verdade é que dois anos da minha ainda curta carreira foram passados fora de Portugal, um em Barcelona e outro nos Estados Unidos, onde estou actualmente a estudar. O facto de me estar a dar a conhecer mais nesta altura tem a ver com o lançamento do meu primeiro disco, que é uma boa oportunidade para divulgar o meu trabalho e partilhar com o público o que tenho vindo a fazer musicalmente até aqui.
 
JD - quem é e de onde vem?
 
SR - Sou a Sofia! Nasci em Lisboa (por mero acaso) há 27 anos e vivi em Gaia durante a minha infância e adolescência. Desde sempre quis ser veterinária ou educadora de infância. Estava bem enganada e só mais tarde, lá para os 21 anos, é que descobri que a música era a minha grande paixão. Antes disso andei meio perdida em diferentes cursos a tentar encontrar algum tipo de realização profissional. Não funcionou! Agora não quero outra coisa; é uma paixão para toda a vida! Sou uma pessoa exigente, sensível, dinâmica, alegre, teimosa, adoro viagens e detesto rotinas.
 
JD - com quem aprendeu a cantar à maneira jazz?
 
SR - Comecei por estudar canto jazz na Escola de Jazz do Porto com a professora Fátima Serro. Foi o início da minha descoberta do mundo do jazz, altura em que aprendi as bases deste estilo de música. Mais tarde tive aulas de combo com o contrabaixista Pedro Barreiros, que foi uma pessoa muito importante no arrancar do meu percurso musical. Fez-me questionar imensas coisas, essencialmente sobre a minha forma de cantar e estudar. Foi também com ele que tive o meu primeiro grupo de jazz. Mais tarde, já no curso de jazz da E.S.M.A.E., comecei a estudar com a minha professora actual, Fay Claassen, com quem iniciei um trabalho mais aprofundado em termos de interpretação, técnica vocal e improvisação. Tive também outros professores de canto, tais como Maria João, Mireia Lara (em Barcelona), Claire Sneiders e Eugénio Barreiros. Actualmente estudo com Bob Stoloff na Berklee College of Music, em Boston.
 
JD - suas vozes estrangeiras preferidas e porquê?
 
SR - Ella Fitzgerald foi, desde que comecei a ouvir jazz, a minha referência e será sempre a minha preferida. Acho que tem tudo: o swing, o scat, o timbre, a energia e o fraseado. Chet Baker é também uma grande influência para mim, essencialmente pelo fraseado e scat. 
Quanto a cantores modernos… Luciana Souza (Brasil), principalmente pelas suas composições e pela forma como as interpreta, numa perspectiva muito instrumental; Gretchen Parlato (EUA), pelo timbre, estilo intimista (e sem necesidade de “show off”) e também pela originalidade e vertente espiritual; Maria Pia de Vito (Itália), pela atitude experimental e originalidade; Fay Claassen (Holanda), pela forma moderna e instrumental como improvisa e pela capacidade de transmitir mensagens quando canta.
E, é claro, Bobby McFerrin, por ser o cantor mais completo que conheço!
De preferência cantores que sejam músicos e que de alguma forma inovem!
 
JD - suas vozes portuguesas preferidas e porquê?
 
SR - Maria João, pela originalidade e pela forma como explora a voz até aos limites (se é que eles existem).
 
JD - conhece a História do jazz instrumental?
 
SR - Sim, conheço uma boa parte. Mas ainda há muito por descobrir!
 
JD - o que não gosta neste seu CD?
 
SR - Não há nada de que não goste mesmo. Há muita coisa que podia estar melhor, sem dúvida, mas isso não me aborrece, até porque marcou uma fase do meu percurso e representa a forma como eu cantava em Outubro de 2005. 
 
JD - e o que mais gosta?
 
SR - Gosto do espaço, do intimismo e da forma como a música respira. Não há lutas de volume, ego ou espaço.
 
JD - como e onde conheceu Marc Demuth e como começaram a tocar juntos até decidirem gravar este CD juntos?
 
SR - Eu e o Marc conhecemo-nos em Barcelona em Setembro de 2003, altura em que ambos fomos estudar para Barcelona através do programa Erasmus. Um dia tocámos numa jam session juntos e depois disso ele convidou-me para tocar em Palma de Maiorca com o seu quarteto. Desde aí começámos a fazer concertos em Espanha, Luxemburgo, Bélgica, Portugal e por aí fora. Sentimos desde sempre uma grande cumplicidade e ligação musical. A primeira vez que tocámos em duo foi nesse primeiro concerto em Palma de Maiorca. Tocámos o “Willow weep for me” e correu muito bem, mesmo sem ensaios. Mais tarde o Marc convidou-me para cantar com ele em duo no seu exame de mestrado no Conservatório de Haia. Eu fiquei meio assustada mas aceitei o desafio. A partir daí começámos também a fazer concertos em duo, a que o público sempre reagiu muito bem. Ouvimos já muitas pessoas dizerem que preferem ouvir-nos em duo do que com outras bandas. E mais ou menos há meio ano chegámos a um ponto em que sentimos a necessidade de registar o que tínhamos vindo a construir há cerca de 2 anos e assim decidimos gravar o nosso primeiro CD.
 
JD - acha bem uma cantora da língua portuguesa 'imitar' vozes em brasileiro?
 
SR - Não acho bem nem mal, o que interessa é que soe bem, o nosso ouvido é que manda! Há letras que foram escritas a pensar no sotaque brasileiro e que, a meu ver, não soam bem com o sotaque português. Outras sim. Acho que deve ser à escolha do cantor, desde que soe natural e que a letra passe para o público.
 
JD - faltam informações no vosso CD tais como data da gravação, onde e o que é Linovi (?), dados bio sobre si e o cbaixista embora nos remeta para seu website, a própria etiqueta não está muito bem nem bem visível
comentários
 
SR - O CD foi gravado ao vivo porque eu e o Marc quisemos que o público estivesse presente. No entanto, esse não foi o conceito e essência do disco e, talvez por isso, não incluímos muita informação sobre a própria gravação. De qualquer forma, o disco foi gravado ao vivo nos dias 4 e 5 de Outubro de 2005, a partir de dois concertos no L’Inoui, um Café Teatro em Redange (Luxemburgo) que tem umas condições fantásticas. Já lá tínhamos actuado em duo e foi o próprio dono do clube que nos propôs gravarmos lá ao vivo, o que aceitámos de imediato.
Para mais informação sobre nós, o melhor será mesmo visitar www.sofiaribeiro.com e www.jazz.lu!
 
JD - quem escolheu o repertório deste CD?
é o seu repertório para clubes e concertos?
 
SR - Eu e o Marc escolhemos os temas. É o nosso repertório em duo, apesar de estarmos a renová-lo e a introduzir alguns temas novos. Para outros projectos, como por exemplo em quarteto ou quinteto, tenho um repertório diferente, com menos standards, mais temas brasileiros e alguns originais.
 
JD - a sua técnica e balanço em scat são muito bons e originais e a ideia de 'tocar' trombone com a voz resultou
comentários
 
SR - Obrigada! A ideia de imitar um trompete surgiu depois de termos lido uma notícia no jornal sobre o duo e que realçava a importância do humor no nosso projecto. E eu lembrei-me de que isso podia ser uma ideia engraçada para acrescentar ao nosso programa. Acho que acabou por funcionar e é normalmente uma das partes em que o público reage mais! Quanto ao scat, é algo que ando a trabalhar já há algum tempo e que vou continuar a trabalhar durante muitos anos. Eu diria que o caminho da improvisação é uma opção de vida, que implica muito estudo e muita paciência!
 
JD - Sheila Jordan com um cbaixista é usual na discografia da cantora n-americana - houve influência?
 
SR - Não houve influência, apesar de já ter conhecimento há bastante tempo de que ela gravou vários discos em duo com contrabaixo. Conheço pouco o trabalho dela, mas penso que é bastante “straight ahead”, sem grandes arranjos adaptados ao duo. A nossa perspectiva é diferente, penso eu, essencialmente no aspecto dos arranjos, que eu e o Marc tentamos elaborar tendo em conta a peculiaridade da formação. Na verdade tivemos poucas influências, o que nos fez explorar mais esta formação por nós próprios.
 
JD - não lhe faz falta nas suas actuações um sopro, um piano?
 
SR - No início, quando comecei a ensaiar em duo, sentia a falta de outros instrumentos. Parecia-me tudo um pouco vazio e, para além disso, era bastante mais difícil para mim por não ter as referências harmónicas e de tempo dos instrumentos habituais. Tive que aprender a ter essas referências dentro de mim e funcionar de uma forma mais independente. À medida que nos fomos habituando a tocar em duo, aprendendo a tirar partido deste tipo de formação e explorando diferentes possibilidades de arranjos, fui gostando cada vez mais. Agora sinto-me muito confortável e não sinto falta dos outros instrumentos. Sinto, sim, que há muito espaço. Torna-se tudo mais simples, de certa forma!
 
JD - actua regularmente em público? em que países?
 
SR - Sim, actuo regularmente ao vivo. Os países mais frequentes são o Luxemburgo, Portugal e a Bélgica. Para além disso, actuo por vezes na Alemanha, Holanda, França e Espanha. Mais recemente nos E.U.A. também.
 
JD - as palavras para si quando canta são elementos musicais ou empenha-se no seu significado representando?
é uma actriz com canções ou procura nelas só sons para swingar?
 
SR - Cada vez mais as palavras para mim são essenciais e não devem servir apenas como sons para swingar. Se as letras não tiverem sentido para quem as canta, acho que é preferível cantar sem palavras. Acho que as palavras são muitas vezes desvalorizadas; eu própria, durante muito tempo, cantava letras mesmo sem reflectir sobre o seu significado, o que hoje em dia já não acontece. Quando as palavras são sentidas, há um outro tipo de emoções, mensagens e imagens que passam para o público e que tornam tudo muito mais intenso. Eu tento sempre buscar dentro de mim algum tipo de relação entre a minha vida e as palavras que canto, para que elas ganhem um outro sentido.
 
JD - os seus standards favoritos - porquê?
 
SR - Tantos! Ok, vou tentar seleccionar dois ou três… Body and Soul, Where or when, My funny valentine, Spring is here. Gosto muito dos temas da dupla Rodgers and Hart.
 
JD - sabe solos de cor? quais?
 
SR - Sim, sei alguns solos de cor. Acho que são quase todos do Chet Baker, alguns vocais, outros de trompete. Por exemplo, solos dos temas “It Could happen to you”, “Dancing on the Ceiling”, “Visa”. Sei alguns solos da Fay Claassen (que recomendo!), como por exemplo o solo do “Firm Roots”, de Cedar Walter e do “It never entered my mind”.
 
JD - canta fado? porquê?
 
SR - Canto um pouco de fado apenas. Quando comecei a fazer concertos fora de Portugal, muita gente me pedia para cantar fado por eu ser portuguesa. Isso fez com que eu começasse a ouvir mais fado e a valorizá-lo também. E cada vez sinto mais influência do fado na minha forma de cantar quando os temas são apropriados. Um dos temas do disco é um fado de que gosto muito, o “Ó gente da minha terra”. Gosto da intensidade que o fado carrega.
 
JD - tem formação teórica musical?
professores, solfejos, conservatórios?
 
SR - Sim, estudei música clássica no Conservatório Regional de Gaia, onde frequentei o curso de Canto durante vários anos. Estudei também piano, guitarra, formação musical, composição e arranjos. Mais tarde fui para a Escola de Jazz do Porto, onde comecei a estudar jazz. Uns anos depois entrei na Escola Superior de Música em canto clássico e passados dois anos mudei para o curso de jazz da mesma escola. Professores foram muitos!
 
JD - sente-se apta para cantar blues? porquê?
 
SR - À minha maneira, sim. Não da mesma forma como, por exemplo, a Billie Holiday, que sem dúvida viveu experiências completamente diferentes de mim. Cada pessoa tem as suas vivências e emoções/amarguras que pode transmitir num blues, mesmo que sejam de dimensões totalmente diferentes. Mas à medida que vou crescendo como pessoa e acumulando mais e mais experiências de todo o género, sinto também que tenho mais a transmitir.
 
JD - leva para os seus solos certas frases decoradas?
 
SR - Não, os solos são improvisados. Pode acontecer que cante uma frase igual em concertos diferentes, mas não é planeado.
 
JD - gravou os temas com várias takes cada um?
 
SR - Sim, cada música teve no mínimo dois takes, já que foram dois concertos ao vivo.
 
JD - tentaria cantar um standard n-a com letra em português musical?
 
SR - À partida não me motiva muito a ideia. Há muitas letras de standards de que não gosto e imagino que em português não iam soar melhor, pelo contrário. Mas tudo é possível!
 
JD - qual a sua opinião sobre Cecilia Bartoli?
 
SR - Conheço pouco. Tenho ideia de que tem uma voz bastante forte, que é virtuosa e que faz umas expressões faciais muito estranhas ao cantar. Não sei muito mais sobre ela.
 
JD - e Betty Carter?
 
SR - A Betty Carter tem coisas muito boas e algumas menos boas, na minha opinião. Tem um grande rigor rítmico, muita energia, atitude forte, swing, presença e musicalidade. A afinação, já considero um problema.
 
JD - e Ricky Lee Jones?
 
SR - Só conheço o disco “Pop Pop Pop” e gosto muito! Tem um timbre bastante invulgar e gosto da forma como usa a voz. É muito expressiva e original!
 
JD - como irá construir seu futuro musical? à volta do jazz?
 
SR - O jazz é uma referência para mim, eu diria que é a base para outros voos. É o estilo que mais me preenche e, para mim, o mais completo, principalmente pela liberdade que lhe está associada. No entanto, não sei se a música que vou fazer no futuro se vai chamar jazz, mas isso também não me preocupa. Gosto de todos os estilos de música, desde que seja bem feita e/ou que me faça sentir coisas. Gostava de estar sempre envolvida em diferentes tipos de música, sem a preocupação dos rótulos ou preconceitos, que acabam por ser muito limitativos. Quero compor muito, sem dúvida. Escrever letras! Criar projectos com artistas de diferentes áreas. Tentar inovar, sempre! Nunca parar de estudar! E que a música seja uma forma de transformar o mundo em algo de mais bonito, intenso!…

José Duarte
 
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