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Ricardo Barriga
14-01-2014 00:00
 

José Duarte - Qual foi o acontecimento ou pessoa que o influenciou para ter escolhido Música para trabalhar?



Ricardo Barriga- Desde de novo que sempre gostei de música. Ouvia rock, como por exemplo Beatles ou Guns n' Roses, mas também discos que a minha mãe tinha em casa como discos do Zeca Afonso, Sérgio Godinho ou Jobim. Houveram várias pessoas que me fizeram querer viver da música, desde o meu amigo José Casimiro que me passou, pela primeira vez, uma guitarra para as mãos, como os meus primeiros professores de guitarra: Luiz Arantes, Vasco Mendonça e Ricardo Pinheiro.



JD-Tem relações familiares com o pianista de jazz Luís Barriga? Há tão poucas Barriga na Música portuguesa...


 

RB- Só conheço o pianista Luis Barrigas. Será o mesmo? Do Luís Barrigas sou apenas amigo e colega de trabalho. Era muito porreiro fazer um duo: Barrigas e Barriga duo.


 

JD- Nascido em 81 em Portugal como é já prof. de Música, de guitarra eléctrica e de Combo? o que se ensina na disciplina de Combo?


 

RB- Desde que acabei os estudos, que queria dar aulas para conseguir pagar contas e apenas tocar com projectos que gostasse. Claro que já toquei em projectos que gostava menos, mas isso faz parte da vida de um músico. Tento tocar quase sempre com projectos que gosto e com pessoas que gosto. Esta é a razão pela qual sou professor de música. Na unidade curricular de combo ensinamos os alunos a tocarem em grupo.


 

JD- Também ensina Improviso? Como se ensina a improvisar?…


 

RB- Eu vejo a improvisação como uma conversa. Existem as palavras que dão origem a frases e por sua vez a conversas. Na música, existem as notas que dão origem a melodias que por sua vez dão origem a solos ou um discurso melódico. É como aprender a falar, devemos aprender as escalas, as harmonias e começar a utilizar. Ouvir música e transcrever solos pode ajudar, porque quando todos nós começámos a falar, aprendemos a ouvir os nossos pais. Não sou contra a aprendizagem de "licks", acho que pode ser útil para alguns músicos, porque na realidade, todos nós aprendemos "licks" para falar, tais como "Olá, Bom dia, como está?" ou " Muito gosto em conhecê-lo", não é isso que vai fazer dos nossos solos um plágio, até nos pode ajudar a desenvolvê-los.


 

JD- Conhecemo-nos no Hot. Voçê no grupo " Trisonte" que muito aprecie - conte-nos a História do "Trisonte".


 

RB- Os Trisonte surgiram quando ainda estudava na Escola do Hot Club e senti que os contrabaixistas estavam sempre bastante ocupados devido a serem poucos e muito requisitados, algo que melhorou bastante nos últimos anos. Nessa altura falei com o meu colega de turma, o saxofonista Gonçalo Prazeres e disse-lhe para fazermos um grupo sem baixista. Na altura ainda tinha pouco contacto com grupos com esta formação, mas pareceu-me algo interessante. Na primeira formação, os Trisonte eram um quarteto: Eu na guitarra, Gonçalo Prazeres no Saxofone, Miguel Cordeiro nos teclados e Rui Pereira na bateria. Actualmente é um trio: Eu, o Gonçalo e o Luís Candeias na bateria. Fico agradecido pelos seus comentários positivos em relação ao grupo e por ter ido novamente ver-nos no Café Tati.


 

JD-No seu CV há variadas referências às suas actividades como prof. de Música em Tires, Parede, Oeiras, S.João do Estoril, Alcabideche e Haia na Holanda Nessas escolas que se ensina: Jazz? "clássica"? Rock ? Teoria musical?


 

RB- Nas escolas que mencionou apenas dava aulas de guitarra eléctrica e teoria musical, mas são escolas de música que não abrangem um estilo de música concreto. 


 

JD- Acha que é músico de jazz, da "clássica", de rock ou de todas as Músicas mesmo as outras?


 

RB- Nunca procurei um rótulo dessa maneira. Gosto de tocar Jazz como gosto de tocar Rock mas, acima de tudo, tento tocar o que gosto.


 

JD - Explique-nos as Músicas destes "seus" grupos: "Peste e Sida", " Big Weird Box" e "Trisonte".


 

RB-Os grupos que menciona são bastante diferentes. Os Pestes e Sida são um grupo de Rock com letras de intervenção e têm cerca de 27 anos de carreira. Eu apenas toco com eles ao vivo, quase como músico "convidado". Eles escrevem e gravam tudo e eu vou tocar ao vivo com eles. É engraçado porque era um dos grupos que ouvia intensamente quando era mais novo.

Big Weird Box é o grupo que gravou o meu primeiro disco. Os temas foram todos originais meus excepto o Three piece, escrito pelo saxofonista Matthew Berrill, e acaba por ser uma ligação entre o jazz e o pop/rock. 

Trisonte, como já foi mencionado anteriormente, é um trio de guitarra, saxofone e bateria, sendo o seu principal objectivo, criar música para esta instrumentação. Nas composições do grupo encontramos temas mais virados para o jazz, outros para o rock, free jazz, indie e até alguma música clássica.


 

JD- Em qual das Músicas que pratica atinge maior sucesso? Porque será?


 

RB- Sem duvida que o Rock/ Pop. É um género musical que tem mais seguidores, existe um maior número de pessoas a ver concertos e a comprar discos. 


 

JD- E na digressão do espectáculo "Get Back the Beatles Tribute Band" escreveu os arranges e tocou? Quantos alguns dos quais músicos tocavam na Band? Iniciativa e sucesso?


 

RB- Sim. Toquei guitarra e escrevi os arranjos para os 3 sopros que se juntaram ao grupo. O grupo era constituído por 4 músicos, com uma vasta experiência em grupos de covers, e criaram este tributo aos Beatles. Eles desempenhavam muito bem o papel, estudaram as músicas muito bem, incluindo todas as vozes que os Beatles faziam nas músicas, tocavam tudo a rigor, mudavam de " fatiota" consoante a época, chegando mesmo a vestir os fatos do Sargent Peppers. Nos concertos que fiz com eles, éramos 9 músicos em palco: o quarteto, pianista, saxofone, trompete, trombone e eu. 

Os Concertos foram engraçados e tinham muita afluência porque é um repertório de um grupo que todos conhecem e muitos veneram.


 

JD- Que instrumento(s) toca para além da guitarra, o instrumento do século XX? Está de acordo?


 

RB- Além da guitarra, estudei trombone, o qual já não toco há uns tempos, e piano, que apenas toco nas aulas teóricas que dou. Não concordo que seja o instrumento do século XX. Foi um instrumento que se tornou bastante popular com o pop rock mas não o considero o instrumento do século XX. Existem outros instrumentos bastante interessantes criados no século XX como os teclados eléctricos ou o Fender Rhodes.


 

JD- Como arranjador conhece - se sim analise- no jazz o trabalho do já ido arranjador Gil Evans e da jovem Maria Schneider?


 

RB- Antes de mais, não sei se me posso considerar um arranjador. Os únicos trabalhos que fiz de arranjos foi para o tributo a Beatles, no qual escrevi os arranjos para 3 sopros, e anteriormente, fui solicitado para escrever para um quinteto de sopros para tocar com o mesmo tributo. Conheço o trabalho do Gil Evans através dos discos do Miles Davis, mas nunca me sentei a analisá-los e poder falar mais concretamente. 

 De Maria Schneider gosto muito.


 

JD- Perante a multidão de guitarristas jazz portugueses e estrangeiros qual os seus 3 favoritos? e o recentemente ido Jim Hall?


 

RB- Não sei se será por esta ordem, nem sei se posso dizer que sejam os meus preferidos porque existem "n" guitarristas que adoro mas ultimamente tenho ouvido o Bill Frisell, John Scofield e Wes Montgomery. Em relação ao Jim Hall, fiquei muito triste, como a maior parte dos guitarristas de jazz. Perdemos um músico que fez muito pela guitarra no jazz. Sempre gostei muito do seu disco em trio "Live", do disco "Alone together" com Ron Carter ou dos trabalhos mais recentes como por exemplo o disco Hemispheres  com Bill Frisell.


 

JD- Como lhe Correu em Haia, na Holanda, a sua Licenciatura em Jazze Música Improvisada: Vertente Performance e Ensino?


 

RB- Os meus estudos na Holanda tiveram uma primeira fase atribulada devido à mudança de país, cultura e exigência. Depois dessa primeira fase correu tudo bem. Foi um verdadeiro "abre olhos",não apenas musical, mas também cultural. Tive a oportunidade de tocar com músicos Irlandeses, Alemães, Holandeses, Americanos, Espanhóis, Franceses, Coreanos, Ingleses, Gregos, Austríacos e Italianos. Acho que é sempre bom para qualquer pessoa ter uma experiência fora do seu país de origem. No caso da música é fundamental para tocar com pessoas de outros países, para conhecer outras culturas, outras maneiras de ver e pensar em música.


 

JD- E que tal o seu futuro Mestrado em Jazz- Unidade Curricular Principal-Guitarra Jazz, orientado por Ricardo Pinheiro e Frank Mobus na Ecola Superior de Música em Lisboa?


 

RB- O mestrado também correu bem. Tive a sorte de ter como orientadores dois músicos dos quais gosto bastante: Ricardo Pinheiro e o Frank Mobus e também de utilizar o grupo Trisonte como objecto de pesquisa. O tema do mestrado foi "O papel de um guitarrista num grupo sem baixo", o que fez todo o sentido para o trabalho que faço em Trisonte.


 


 

JD- E os estudos workshop com músicos portugueses (ex Delgado) ou estrangeiros ( ex Mobus) têm resultado bem? Cite mais jazzmen com quem tocou em privado ou concerto.


 

RB- Neste momento não me encontro a ter aulas, mas aproveito sempre que o Frank vem a Portugal para ter uma aula.  Além dos meus professores e colegas (portugueses/estrangeiros, mais ou menos conhecidos), participei em Jams com Jesus Santandreu e Jamey Aebersoud ( Sim É verdade. Sei que todos os músicos de jazz já tocaram com os discos do Aebersoud, mas eu tive a oportunidade de tocar com ele em pessoa (riso)). Verdade seja dita que não tenho uma vasta lista de nomes mas são os que me estou a lembrar de momento. Não costumo ir a muitas jam sessions em bares ou clubs, prefiro fazer concertos ou sessões para experimentar temas e ideias novas. Isto também pode ajudar a que não tenha uma vasta lista de músicos que tocaram comigo, mas não é algo que me preocupe.


 

JD- Escreva-nos pf sobre públicos das Músicas que toca? Culto?Jovem? Comportamento de conhecedores do que estão a ouvir? Copos e drogas? 


 

RB- Os públicos são bastante diferentes. Quando vou tocar com Big weird box ou Ponto RAR tenho um público jovem e adulto, mas direccionado para o jazz. Com Trisonte já é diferente: existe uma maior diversidade de pessoas: as que gostam de jazz, rock ou música alternativa. Isto devesse, sem dúvida, á sonoridade de Trisonte abranger diversos estilos.            Por fim, com Boca Doce ou Peste e Sida, o público já é mais rockeiro e por vezes existem mesmo Punks de Crista em pé. A diferença entre BD e Peste, é que Peste leva mais gente e abrange diversas gerações de fans devido á sua longa carreira. As pessoas que vão, já conhecem os projectos, mas por vezes, nos concertos de Trisonte, existem pessoas a virem falar connosco a dizer que nunca tinham visto um grupo sem baixista e a tocar este género de música. Isto deixa-nos bastante felizes e dá-nos força para continuar a escrever música. 

Não vou ser mentiroso em dizer que não existe álcool e drogas, vejo acontecer em qualquer concerto dos grupos que mencionei. Em relação a mim, experimentei drogas leves há uns anos e não me dou muito bem com elas, mas gosto de beber uns copos.


 

JD- O nível médio musical, técnico dum do rock é aceitável?


 

RB-  Cada vez mais. Existem muito bons músicos e bons grupos de Rock. É uma estética bastante diferente do jazz mas não deixa de ser música. Tenho alunos que me perguntam se ao aprenderem a tocar jazz vão conseguir tocar todo o género de música? Costumo responder que não, mas que ajuda muito. Já vi grandes músicos de jazz a não conseguirem tocar rock e vice versa.


 

JD-Porque não se dedicou em exclusivo a um estilo de Música preferindo usar vários? Um Jazzman que é um rocker conhece algum? e vice-versa? ou um rock & roller a tocar Chopin...


 

RB-Pela simples razão de que gosto de vários estilos. A malta do jazz diz que sou do rock e a do rock diz que sou do jazz. Não me importo e até acho piada. Também gosto de Chopin...


 

JD-Sei que nunca se pode responder justo mas responda com os ouvidos: o melhor alto e soprano e tenor jazz?


 


RB- Uii... É uma pergunta complicada. Como gosto muito dos dois: John Coltrane e Wayne Shorter nos saxofones tenor e soprano, e para o alto escolhia o Charlie Parker.


 


JD-Ensaia ou pratica muito entre todas as actividades musicais que desenvolve?


 


RB- Costumo ter bastantes ensaios por semana, porém, gostaria de ter mais tempo para estudar e praticar. Sempre que tenho um espaço entre ensaios e aulas tento estudar ou escrever música.


 


JD-Está atento às novidades musicais de ruptura que de fora chegam? Conhece a Música de Robert Glasper?


 


RB- Tento estar o mais atento possível. Não conheço a música de Robert Glasper, mas irei pesquisar. Das novidades exteriores, tenho gostado bastante da música dos Bad Plus, Christian Scott, Steve Lehman ou Miles Okazaki. Gosto muito da música dos músicos do norte da Europa como: Frank Mobus, Mats Eilertsen ou Daniel Erdmann. 

 

 

 

JD - Obrigado Ricardo Barriga



 
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