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Mariana Pais
18-07-2004 00:00
 

tão jovem - teenager - como se decidiu e desde quando a tocar cbaixo?
Acho essencial começar-se jovem a tocar qualquer tipo de instrumento, o que não foi o meu caso, comecei por estudar guitarra aos 17 anos e só depois despontou em mim uma maior curiosidade relativamente a outro instrumento. Estudo contrabaixo desde os meus 18 anos. Tudo começou quando o meu irmão, Afonso Pais, comprou um contrabaixo em segunda mão e lhe pedi para experimentar. Achei imensa piada tanto ao instrumento como ao seu som e curioso modo de tocar. Durante um mês ou assim tocava de vez em quando, sem grande compromisso, procurando as notas, tentando não as dar ao acaso. Assim que comecei a perceber como "funcionava" senti que deveria estudar aquele novo instrumento em profundidade. Aí desisti da guitarra e tive a certeza que seria pelo contrabaixo que eu enveredaria.

onde estudou e estuda Música?
Estudei música no Hot Clube de Portugal, tanto guitarra como contrabaixo. Terminei recentemente o segundo ano de instrumento (contrabaixo) e o terceiro de teoria e combo. Tendo concorrido e sido aceite este ano nos conservatórios de Amsterdão, Haia e Roterdão, na Holanda, optei por Roterdão, onde continuarei os meus estudos.

que a atraiu no jazz?
É impossível não ser sucinta nesta resposta... tudo, a espontaneidade, o bom gosto, os sons, os músicos, o desafio... Vejo o Jazz como um estilo musical muito completo. Leitura, improviso, criar em tempo real, todo este desafio de tocar em grupo, as harmonias, as melodias, todo um conjunto de situações que me deixam curiosa, sempre um longo caminho a percorrer, e muita vontade de "swingar", "groovar".

cbaixistas portugueses e estrangeiros seus preferidos?
Portugueses são, sem dúvida, Carlos Barreto, Carlos Bica e Bernardo Moreira, por razões diferentes embora todos músicos impressionantes, completíssimos. Dos históricos, o Grande Ron Carter, inivador em todos os aspectos, tal como o seu "pai espiritual" Paul Chambers. Não posso deixar de mencionar o Ray Brown, Dave Holland, Bob Hurst, Christian McBride, Larry Granadier, Avishai Cohen, Garry Peacock entre tantos outros que marcam presença nos meus favoritos e na minha prateleira.

toca baixo eléctrico? porquê?
Já toquei baixo eléctrico em algumas formações, mas comecei mesmo pelo contrabaixo. Para mim o baixo eléctrico é um passatempo. Comecei porque ví um anúncio de um grupo que precisava de baixista e decidi tentar, achei divertido, mas neste momento uso-o apenas em casa, muito raramente. A diferença é que o contrabaixo além de passatempo é paixão e futura profissão.

com que músicos habitualmente toca? onde?
Sendo contrabaixista toco com muitos músicos, por enquanto só alunos, embora faça um ou outro gig com alguns professores do Hot Clube. Representei, ingressando num combo, o Hot Clube no II Festival de Jazz do São Luís, onde tive o privilégio de conhecer grandes futuros músicos da minha geração, foi gratificante. Toco com alguma frequência com músicos muito diferentes em pequenos festivais e bares, que é onde a maior parte de nós se vai safando. Toco, também, na actual Big Band de alunos do Hot Clube de Portugal. Enfim, vai-se ganhando experiência e algum "calo".

conhece gravações de Jimmy Blanton e Christian McBride? que lhe parecem?
Apesar de não ter nenhum registo gravado do trabalho de Jimmy Blanton, nomeadamente da sua participação na Big Band de Duke Ellington, sei quem foi e a sua importância no papel do contrabaixo no Jazz. Admiro profundamente um seu discípulo, Oscar Pettiford, que deu o passo seguinte, contornar as dificuldades técnicas do contrabaixo e improvisar linhas melódicas de uma forma só praticada até então por outros instrumentos, essencialmente solistas. Adoro Christian McBride, é incrível a sua fluidez melódica, o seu pulso "Ray Browniano", o seu som. Tenho um disco seu ("Gettin' to it"), mas apesar de tudo prefiro-o como "sideman", por exemplo com Chick Corea e Roy Haynes, com Antonio Hart ("For the first time"), disco onde tinha só 18 anos! Acho que consegue incorporar toda a tradição e contribuir com a sua personalidade musical tao característica.

que repertório prefere? standards jazz? standards não jazz?
Não tenho um repertório fixo, até porque um contrabaixista deve, na minha opinião, ser relativamente flexível. Gosto bastante de tocar originais, acho um desafio extremamente interessante. Em relação aos standards, tento cada vez mais impôr a mim própria uma auto-disciplina no sentido de construir um repertório de standards que saiba de cor. Dá-me um gozo enorme tocá-los e, para além disso, são condição essencial nas Jam Sessions, que frequento tanto quanto possível. Um repertório ideal para mim, e que muitas vezes pratíco, seria originais alternados com standards re-arranjados, tentando nunca desprezar o espírito original do standard.

improvisa em solo com facilidade?
Este é aquele tipo de pergunta que é sempre penoso responder...depende do tema. Gosto muito improvisar embora ache que a insatisfação é uma necessidade. Depende muito da dificuldade do tema, improviso bastante melhor sobre um "blues" do que sobre um tema de harmonia mais complexa. Por enquanto improviso tímida e intuitivamente, pelo que me é mais fácil improvisar sobre uns temas do que sobre outros...muitos são os temas que me deixam sem tom, literalmente...

acha qua ter swing clássico é condição essencial para se ser um músico de jazz?
Acho que uma longa caminhada começa por um grande passo, o "ter swing clássico". Para correr temos que primeiro aprender a andar ("walking"), é essencial passar pelo swing clássico para se ter uma boa noção de tempo, de "groove", de "walking", ritmo, interação.

espera gravar CD em breve?
(risos)... Não me sinto nem me sentirei pronta para gravar um disco sem primeiro me sentir num nível de precisão bastante mais avançado do que aquele em que me encontro. Mas sonhar é sempre bom e nunca fez mal a ninguem. Para já de CDs só mesmo aqueles que compro.

encara com confiança seu futuro como jazzwoman?
Encaro o meu futuro no Jazz com a mesma pré-determinação que qualquer outro aspirante a músico profissional. Acho imensa piada quando vêm ter comigo com um ar muito espantado e me perguntam "a menina é contrabaixista?". Encaro com confiança o meu futuro como "jazzwoman", esforço-me e continuarei a esforçar-me para me sentir cada vez mais confiante como músico de jazz no futuro, acho essencial a confiança, uma total entrega para um futuro músico profissional. É gratificante ser o pilar harmónico/rítmico do grupo, e ser mulher, isso é outra conversa...

apertei uma noite a mão a Paul Chambers - sua mão parecia uma tábua. Não se importará?...
Já desisti de me importar com as minhas mãos há algum tempo. Assim que me começaram a surgir as primeiras bolhas nos dedos desisti de cuidar das mãos, depois foram as peles e os calos (quase pedra). É mais uma questão de hábito que outra coisa, faz parte do "charme" de contrabaixista, não me incomóda absolutamente nada.

quantas e quais raparigas/mulheres conhece que tocam cbaixo jazz?
Contrabaixistas raparigas/mulheres relevantes no panorama jazzístico internacional confesso que não conheço. Noutros instrumentos (sem ser voz) conheço a Terrilyne Carrington, Cindy Blackman, Joanne Brackeen, Renée Rosnes, Ingrid Jansen, Maria Schneider, Aki Takase entre muitas outras instrumentistas.

em que estilo de jazz se sente mais à vontade como músico?
Terei que dizer que no Bebop, por ser o estilo que mais estudo e uma base para a aprendizagem da linguagem jazzística essencial. Gosto muito de ouvir e tocar temas com uma linguagem mais moderna (neo bop, fusion, etc), mas tenho plena consciência que fazê-los soar de forma musical é um desafio que só poderei superar realmente tendo umas bases extremamente sólidas, o que leva tempo e maturidade.


José Duarte
 
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