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Capinha
27-12-2013 00:00
 

José Duarte - há quantos anos nasceu e há quantos toca saxofones?

 

Capinha - Nasci há 27 anos e toco saxofone há cerca de 16/17 anos.

 

JD - quais saxofones toca? Por quê?

 

C - Comecei a tocar saxofone alto desde o início e actualmente toco nos quatro mais habituais: soprano, alto, tenor e barítono. Estou também a começar aos poucos na flauta transversal. O porquê desta minha decisão tem que ver com vários factores: o facto de gostar de tocar em big bands onde é necessário dobrar instrumentos; o sentir alguma facilidade em trocar de instrumentos e a vontade de me exprimir, literalmente, em diversos registos. Também acho que enquanto método de estudo é vantajoso rodar entre os vários saxofones de modo a estar sempre alerta para correcções de embocadura, emissão de som, etc.

 

JD - tocou e ainda toca outras músicas?

 

C - Comecei a tocar nas bandas filarmónicas da região oeste e, como passo natural, segui para o conservatório, onde tive formação clássica. Mais tarde voltei-me para o jazz através das big bands e foi aí que aprendi a improvisar e a soltar-me dentro dessa linguagem.

Continuo a tocar diversos estilos de música, desde a música clássica, música africana, rock, pop, etc., embora o meu foco actualmente esteja na área do jazz. Quanto mais bagagem recolher mais margem de evolução terei.

 

JD - tocar jazz e ser pago dá para viver? bem?

 

C - Possivelmente não serei a melhor pessoa para responder a esta questão, mas da minha experiência se quisermos viver exclusivamente do jazz, concertos em clubes e festivais muito dificilmente o conseguiríamos. O jazz é uma música de minorias, principalmente em Portugal, que é o panorama que conheço. Sendo eu um novato a entrar no meio do jazz nacional ainda mais dificilmente viveria senão fosse a minha abertura a tocar de tudo um pouco. Agora acho que se formos sérios, trabalhadores e honestos vamos conseguindo subir uns degraus. Aliás é válido para todas as profissões.

 

JD - por onde e com quem tem tocado?

 

C - Tenho tocado um pouco por todo o país. Mas pela necessidade de viver actualmente em Lisboa tenho tocado mais por esta zona. Tenho projectos regulares como a Reunion Big Jazz Band, Orquestra do HCP, Tora Tora Big Band ou Tabanka Djaz. Em formações mais pequenas tenho estado a liderar um projecto pessoal em quinteto e vou contribuindo para outras formações como "Pintura Fresca" de Leo Espinoza, Quarteto Zeca Neves, Quarteto Dan Hewson, entre outras. Trabalho como freelancer maioritariamente.

 

JD - vamos aos sax altistas jazz - suas opiniões sobre: Johnny Hodges

 

C - Não conheço o suficiente para poder comentar.

 

JD - Benny Carter

 

C - Não conheço o suficiente para poder comentar.

 

JD - Charles Parker

 

C - Um dos primeiros cd's de jazz que tive foi dele. Excelente músico. Não há muito que possa dizer acerca dele que não tenha sido já dito, embora como alvo de estudo do bebop prefira estudar o Sonny Stitt.

 

JD - ‘Cannonball Adderley

 

C - Um dos meus saxofonistas favoritos da velha guarda. Foquei o meu trabalho nele durante algum tempo e é sem dúvida um dos "blues man" mais importante e interessante que eu conheço.

 

JD - Phil Woods

 

C - Como o Cannonball, foi também alvo do meu estudo. Outro dos grandes que tento estudar detalhadamente.

 

JD - David Sanborn

 

C - Um saxofonista que muito admiro embora seja algumas vezes desprezado por muitos, pura e simplesmente por não se identificarem com o estilo. Dentro do género de música que ele faz sem dúvida é o melhor. E embora controverso gosto bastante do seu som.

 

JD - Eric Dolphy

 

C - Nunca foi um músico que me chamasse muito a atenção. Lembro-me mais dele em gravações com o Coltrane e nunca me levantou muito interesse.

 

JD  - Lee Konitz

 

C - Um senhor que muito respeito e que também dediquei parte do meu estudo a analisar um pouco dos seus solos. Encontra-se longe da minha perspectiva sobre a música e é definitivamente um dos caminhos que para já não quero seguir. Aprendi muitas coisas boas com ele e ter estudado um pouco o seu fraseado levou-me a perceber novas coisas e a finalmente percebê-lo.

 

 

JD - Ornette Coleman

 

C - Gosto das suas melodias embora não consiga gostar da sua estética.

 

JD - e sopranos:  Sidney Bechet

 

C - Se bem me lembro, fiz um trabalho para a disciplina de História do Jazz sobre Bechet. Muito bom e sem dúvida fez o saxofone soprano subir à ribalta. Não gosto do vibrato exagerado mas sei que era o que se usava na época.

 

JD - John Coltrane

 

C - Uma lenda. Mas eu prefiro ir além disso. É muito bom estudá-lo (e é um dos meus objectivos actuais) e ouvi-lo. A verdade é que para mim a partir de uma certa altura são padrões e mais padrões. Não me interpretem mal, pois adoro-o.

 

JD - improvisa ou apenas lê? dificuldades e prazer

 

C - Improviso e leio. Graças à minha formação desde as bandas até hoje, sempre trabalhei em grupos grandes (orquestras de sopros, big bands, bandas filarmónicas, ensembles, etc) e a questão da leitura esteve sempre presente. Considero-me um bom leitor e adoro ter desafios de leitura pois só assim consigo manter a leitura afinada. A improvisação é algo que começou há menos tempo mas já me começo a sentir confortável e finalmente a evoluir nesse aspecto. Sinto um enorme prazer a tocar mesmo que seja a melodia mais fácil. Acho que fazer música tem que ver com prazer.

 

JD - da sua idade / geração quais os músicos portugueses que destaca? porquê

 

C - Tenho conhecido muitos músicos felizmente e vou puxar a "brasa à minha sardinha" e falar de saxofonistas. Normalmente não gosto de falar destas questões mas tenho de referir o Ricardo Toscano. É sem dúvida um enorme saxofonista e arrisco-me a dizer que até ao momento ainda não tinha visto ninguém assim. Admiro-o a tocar e aprendo a ouvi-lo. Destaco também o Desidério Lázaro e o José Pedro Coelho. Poderia estar aqui eternamente a citar nomes pois acho que temos vindo a crescer em quantidade e qualidade. Cada vez mais temos melhores músicos (em todas as áreas) e continuamos com a síndrome do que o que vem de fora é que é bom. Apenas oiçam os músicos que cá temos.

 

JD - trata regularmente sua sonoridade? porquê e para quê?

 

C - Sim. Essa tem sido uma das questões principais, um dos meus pilares base. Para mim ter um bom som é a primeira coisa a trabalhar. Quando ouvimos um concerto, o que ouvimos primeiro? A técnica do instrumentista ou o som? Para mim é o som sem dúvida. Por isso preocupo-me em trabalhar o som diariamente em todas as suas vertentes: afinação, timbre, endurance, controlo, etc.

 

JD - estudou jazz ou estudou Música? onde?

 

C - Como já referi anteriormente, comecei nas bandas filarmónicas (pela zona oeste). Segui para o conservatório (em Caldas da Rainha) e acabei o ano passado a licenciatura em Jazz na ESML (Escola de Música Superior de Lisboa). Actualmente frequento o Mestrado em Música, também na ESML.

 

JD - tem gravações em que participa? quais?

 

C - Felizmente nos últimos tempos têm vindo a crescer as participações em gravações. Tenho gravado com a Big Band da Nazaré, Reunion Big Jazz Band e Tora Tora Big Band. Fora do âmbito do jazz tenho gravado para artistas da área do Pop e Hip-Pop nacional dos quais destaco DJ Link.

 

JD - que tal o público português? entusiasmado? entusiasmante? conhecimentos jazz?

 

C - O público português parece-me bastante receptivo ao jazz e tenho reparado que se tem incluído as gerações mais novas também. No entanto continuo a achar que grande parte dos portugueses tem aversão ao jazz por não o conhecerem. Este facto não passa pelo portugueses serem comodistas ou algo do género mas, na minha opinião, isto acontece porque grande parte de nós músicos já não faz música para o público mas sim música para os músicos e estudantes de música. 

 

JD - o melhor solo de alto jazz que conhece português e estrangeiro? porquê?

 

C - Honestamente não me estou a lembrar de nenhum solo de alto português que me tenha chamado a atenção. Também não conheço muita, muita coisa. A verdade é que o caminho dos altos no jazz em Portugal ainda está a começar a surgir. Existem mais referências no tenor que no alto em Portugal. Quanto a estrangeiro existem vários que me agradam e enchem as medidas. Vou citar nomes de saxofonistas e não de solos num ou noutro tema em particular: Perico Sambeat, Chris Potter, Dick Oatts, Kenny Garrett, entre tantos outros.

 

JD - já tocou fora de Portugal ou Madeira ou Açores?

 

C - Felizmente já. Já tive o prazer de tocar na Alemanha, Espanha, Angola, Moçambique e Senegal.

 

JD - gostaria de tocar com um mais sabido saxofonista cumo Rudresh Mahanthappa?

 

C - Gostaria de tocar com quem gosta de tocar e de certeza tenho sempre algo a aprender com todos os músicos. Se surgisse essa oportunidade seria uma honra para mim mas não faço disso meta ou objectivo.

 

JD - gosta mais de ser ouvido gravado ou não?

 

C - Normalmente não sou o fã máximo das minhas gravações porque muitas vezes sei o que estava a sentir e a pensar e muitas vezes sinto-me algo "frustrado" por não ter conseguido ir pelo caminho que queria.

 

JD - decora solos improvisados e gravados? porquê ou para quê?

 

C - Já aprendi uns quantos sim. Serviram de base de estudo para analisar determinada linguagem de um músico ou fraseado. No entanto acho que me ajudou mais a aumentar a capacidade de memorização pois não sou defensor máximo de memorizar "n" solos mas sim de perceber momentos chave e quais as ferramentas que determinado músico utiliza para resolver determinado problema.

 

JD - qual sua opinião: a um instrumentista jazz faz falta saber História do jazz? ou o passado está passado ou quem cá estiver que o viva ou copie?

 

C - Acho que a todas profissões faz falta saber um pouco de história. Pelo menos para não cometermos os mesmos erros e tentar melhorar. No que toca aos instrumentistas de jazz acho que é fundamental conhecer minimamente as várias fases para se perceber a evolução dos estilos e acima de tudo percebemos que aquele determinado estilo existiu devido ao contexto social, económico, político, etc. Hoje, obviamente, o jazz é diferente do que o que se fazia nos anos40 por exemplo. O contexto social é outro. Mas também acho que isso não pode ser desculpa para ignorarmos o passado e não aprendermos um pouco do mesmo. Não podemos construir palavras sem conhecermos o alfabeto.

 

JD - quanto se paga a um jazzman quando toca em clube e em concerto?

 

C - Não existem valores fixos. Já se tentaram afixar valores mas com o estatuto de músico que existe na sociedade é impossível isso vir a acontecer como acontece noutras profissões.

 

JD - quanto custou seu alto? e seu soprano?

 

C - Os meus instrumentos têm os seus valores. Acima de tudo não corro atrás dos nomes e das lendas dentro dos instrumentos. Todos eles foram comprados em alturas de boas oportunidades de negócio. Interessaram-me instrumentos que fossem fáceis de tocar, sem demasiada resistência e que me permitam ao máximo fazer música.

 

JD - muito obrigado Capinha

 

 

 

na Lapa em 24 novembro 2012

 

José Duarte

joseduarte@ua.pt

 

 

 


 
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