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Maria Mendes
14-08-2014 00:00
 

José Duarte - porquê só agora um CD? ‘Along the road'

 

Maria Mendes - Along the Road nasceu da necessidade de querer partilhar o meu caminho pessoal pela música(s). Algumas delas fizeram parte dos meus primeiros anos de envolvimento musical, outras fazem parte do meu imaginário actual. Esta vontade veio agora, no momento certo de querer partilhar o meu universo pessoal e musical.

 

JD - canta outras músicas? quais?

 

MM - Canto o que me faz "sentir". Muitas vezes o género/estilo musical de onde as canções ou ideias musicais vem não o sei catalogar. Não acho importante as definições de o que é o quê. O que sei é que quando escuto e sinto as músicas e mais tarde quando as canto, respeito aquilo que ouço e quero desenvolver em mim: um fraseado e articulação pessoais inspiradas e absorvidas pelo Jazz.

 

JD - considera seu recente CD ‘Along the road' um CD jazz cantado?

 

MM -Sim.

 

JD - escolou jazz vocal? onde?

 

MM - Aulas privadas com a cantora Portuense Fátima Serro antes do meu bacharelato. Bacharelato em canto Jazz na ESMAE no Porto com a cantora Holandesa Fay Claassen. Mestrado na CODARTS em Roterdão (Holanda) com as cantoras Holandesas Fay Claassen e Connie de Jongh e na Koninklijk Conservatorium em Bruxelas (Bélgica) com o cantor Belga David Linx. Workshops e seminários constantes com o pianista Belga Diederick Wissels; trompetista Holandês Jarmo Hogendijk; cantores Americanos: Sheila Jordan, Jay Clayton, Rhiannan Watson, Dominique Eade.

 

JD - improvisa? em letras? em scat?

 

MM - Sim Em letras considero mais fraseado do que improvisação. Vocalise não, Scat sim

 

JD - em que salas e clubes tem cantado?

 

MM - Festivais de Jazz na Holanda, Suíça e Brasil. Teatros e clubes de Jazz na Holanda, Alemanha, Bélgica, Suíça e Portugal.

 

JD - sente êxito em músicos e em espetadores jazz?

 

MM - Reconhecimento e respeito pelos colegas com quem partilho música e palco sim, reconhecimento mutuo por músicos que vão conhecendo o meu trabalho e com quem ainda não tive oportunidade de tocar, sim.

Com o público tem sido uma descoberta constante de apreço e carinho chegando do Japão aos Estados Unidos passando pela Noruega até ao Brasil.

 

JD - Diana Krall é uma vocalista jazz? porquê?

 

MM - Sim vocalista e pianista com um fraseado vocal demais parecido com a grande Shirley Horn...

JD - Billie Holiday foi uma vocalista jazz? porquê?

 

MM - Pelo seu fraseado e exaustão na sinceridade de cada palavra cantada a seu ritmo.

 

JD - e Maria João?

 

MM - Sim, pela sua linguagem bem moderna.

 

JD - qual seu repertório?

 

MM  -  Considero que já respondi a esta pergunta. "Canto o que me faz "sentir"".

 

JD - porque canta em brasileirês?

 

MM - Canto em Português Língua de Camões e Jorge Amado e de tantos outros que a falam, escrevem, poetizam e cantam. Encanta-me como o Português Brasileiro swinga e como ele faz parte da minha história de família e da pessoa que sou.

 

 JD - conhece o cantar de Annie Ross e Elis Regina?

 

MM - Elis Regina muito, Annie Ross pouco.

JD - ensaia diariamente?

 

MM - Estudo semanalmente. Ensaio aquando da apresentação dos projecto - concertos - tournées.

 

 JD - preparou o timbre sensual de sua voz?

 

MM - Considero o timbre vocal a cor natural de cada voz. Com isto quero dizer que o meu timbre é um resultado natural do meu instrumento, melhorado com a técnica vocal que mantenho e trabalho com rigor. Sim é possível "camuflar" um timbre, mas não é algo que considere interessante, pois o grande interesse para mim é escutar o timbre/cor natural e honesta de cada vocalista. Por isso não, não "camuflei" o timbre sensual que o José escuta na minha voz. 

 

JD - no CD ‘Along the road' no tema de Hermeto Pascoal 'Chorinho para ele' faixa 8 atinge em scat personalizado alto nível musical jazz e de todas as outras músicas é uma peça prima que foi estudada preparada ensaiada? parabéns

 

MM - Este é um tema que faz parte do meu reportório já há alguns anos. Quando estudei o arranjo do Hermeto foi-me necessário um trabalho de dedicação e atenção máxima para manter o rigor técnico, rítmico na entoação e expressividade musical.  Já para o "Along the Road" quis brincar ainda mais com a melodia e a expressividade... Pretendi então com o meu arranjo tornar o carácter tradicional do choro-samba do Hermeto em algo mais jazz, com espaço para improvisação vocal, constantes modulações e alterações na quadratura para um efeito virtuosista e inesperado na melodia, mas também a intenção de usar o som do contrabaixo para mudança na dinâmica da música e dar também ao contrabaixo um papel mais relevante com espaço para solo.

JD - porque não gravou com músicos portugueses? onde nasceu?

 

MM - Nasci no Porto. A minha decisão em gravar com músicos Holandeses prove do facto de residir e trabalhar mais na Holanda e norte da Europa. Estes músicos, conhecidos por fazerem parte da banda do Toots Thielemans tiveram um papel também muito importante na decisão, pois para este álbum de estreia quis incluir o Wim Dijkgraaf (musico Brasileiro/Holandês que toca harmónica). Foi importante por isso ter uma equipa que conhece bem não só a voz mas também o som da harmónica.

 

 JD - porquê uma harmónica no quarteto que a acompanha no referido CD?

 

MM - A ligação musical que tenho com o Wim Dijkgraaf é muito especial. Admiro muito a forma como o Wim sente a música e faz da harmónica um instrumento tão melódico, sensível e ao mesmo tempo virtuosista. Ambos sentimos a música de forma muito idêntica e acho que se escuta isso na simbiose e diálogos entre a voz e a harmónica ao longo do álbum.

Foi uma certeza desde o início que o Along the Road ia envolver o Wim Dijkgraaf.

 

 JD - ‘Along the road' está ser bem vendido? onde em Portugal?

 

MM - Sim Possível de comprar nas lojas Fnac, bem como online em vários websites (www.maria-mendes.com, iTunes, Amazon, Bol.com)

 

JD - a etiqueta ‘Dot Time Records' é a de seu CD? porque não uma portuguesa?

 

MM - Fui convidada por uma editora de Jazz americana de Nova Iorque para me representarem e lançarem o meu álbum. Não recebi qualquer proposta de uma editora Portuguesa.

 

JD - já cantou em Portugal? onde?

 

MM -Sim Casa da Música, CCB, Teatro Rivoli, Teatro A Barraca, Casino da Póvoa, Casino Figueira, entre outros clubes de Jazz no Porto (alguns já extintos...).

 

JD - o mini-mundo jazz português mostra interesse pelo seu cantar tão próximo do jazz?

 

MM - Sim.

 

JD - canta blues?

 

MM - Tenho um blues do Mingus no meu repertório. Mas dedicar-me somente ao reportório e estilo Blues é algo que não faz parte dos meu planos musicais.

 

 JD - nas 10 faixas de seu CD 7 são de autores brasileiros e 3 são standard - descreva o tratamento arranjo aplicado em ‘Come rain or come shine' de Harold Arlen e Johnny Mercer

 

MM -O meu pensamento para o arranjo do "Come Rain or Come Shine" foi trazer/criar vários ambientes sonoros. A intro vocal, à capella, é inspirada nas melodias possíveis e encontradas nas cantatas de Bach - (esta inspiração provém do meu background e estudo musical em música clássica). Esta intro em modo menor conduz a um pattern/ostinatto em 5/4, também menor que se vai repetindo ao longo do tema. A "graça" do arranjo foi swingar no 5/4 e progredir as dinâmicas do tema com alusões menores (como por exemplo, também no solo do piano). O papel da harmónica foi maioritariamente progredir a dinâmica e lirismo melódico da metade do 2º chorus até ao "grande" final do tema. 

 

JD - quais as vozes masculinas jazz favoritas? porquê?

 

MM - Chet Baker pela maravilhosa inspiração no scat e lindo fraseado instrumental. Sinatra pelo seu swing falado e pela mestria na intenção de cada palavra. Nat king Cole e Kevin Mahogany pelo timbre vocal quente e aveludado e o romantismo impresso no fraseado. Curtis Stigers pela voz incomum e toque bluesy. Kurt Elling pela mestria no vocalise, fraseado e instrumento vocal. Gregory Porter pela voz e fraseado quentes e "cool". David Linx pela inspiração contínua no fraseado rítmico e melódico sinceros, pela escolha do seu repertório singular e pela energia em palco.

 

JD - e femininas portuguesas e estrangeiras? porquê?

 

MM - Betty Carter pela unidade e singularidade do seu fraseado rítmico e intenso nas palavras. Ella Fitzgerald pela inspiração energética, tímbrica, fraseado swingado e romantico e pelo seu maravilhoso scat. Carmen McRae pelo scat e fraseado swingado. Shirley Horn pela genialidade no silêncio integrado no seu fraseado musical. Diane Reeves pela mestria no instrumento vocal, fraseado romântico, scat e energia em palco . Nina Simone pelo timbre quente e masculino e pelo seu cool soul jazz. Esperanza Spalding pelo scat e pelo lado edgy e cool do seu jazz. Elis Regina (jazz?) que para mim é a Betty Carter da "música Brasileira" não só pela energia vocal e inspiração no seu fraseado vocal único e sincero, mas também pelo swing do seu cantar.

 

JD - obrigado Maria

 

 

na Lapa em Lisboa

25 nov 2012

 

joseduarte@ua.pt


 
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