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Ricardo Pinto
01-12-2012 00:00
 

José Duarte - ganha euros suficientes para viver tocando apenas jazz?

Ricardo Pinto - Não consigo só com o jazz tenho de tocar mais estilos de música o que torna muitas vezes mais enriquecedor o processo, sendo que de momento tenha de dar aulas para sobreviver.

JD - como chegou à Reunion orquestra onde hoje em dia toca?

RP -Foi através do meu querido amigo Fernando Soares que me acompanha há muitos anos nesta forma de vida e de estar vivo na música e essencialmente com o jazz.

JD - onde e com quem aprendeu trompete jazz?

RP - Habilitações Musicais:

2009| 2011: Licenciatura em música do curso de Jazz da Escola Superior de Música de Lisboa (ESML)  
Os professores de trompete foram João Moreira, Gonçalo Marques e Hugo Alves.
2003: Bolsa de Estudo para a "Berklee College of Music.
2003 : Frequentou o Hot Club de Portugal tendo aulas com os seguintes professores, João Moreira, Pedro Madaleno, Ricardo Pinheiro e Bruno Santos.
1999: Seminário de Jazz em Sevilha orientado por Perico Sambeat; Mike Philip Mossman ; Edward Simon ; Ben Monder ; Adam Cruz entre outros. Workshop no Estoril Jazz orientado por Al Galper e Jack Wallrat. 
1996|98: Frequentou a escola de música "Acorde Comigo" sendo orientado por nomes como: Pedro Madaleno; Mário Delgado; Miguel Gonçalves; Alexandre Dinis; Yuri Daniel; José Menezes entre outros.
Já tocou com músicos em várias formações como:
Óscar Graça Jeffery Davis Nuno Costa Rui Caetano Ana Paula Sousa André Matos
Hugo Antunes Gonçalo Almeida Luís Candeias Yoanas Krieger João Rijo
Atualmente fazem parte do seu quinteto, Daniel Hewson, Francesco Valente, Bruno Margalho e Rui Pereira.
Entre muitos outros que passaram pela Reunion Big Jazz Band

 JD  - aprende-se a tocar jazz numa escola de jazz ou também ouvindo vendo conversando com outros instrumentistas da mesma Música?

RP - Sem dúvida que a grande aprendizagem ou se calhar a capacidade de análise e filtragem do que se apreende na teoria surge na pratica com todos os que se cruzam na nossa vida no jazz e fora dele a tocar e a falar.

JD - o improviso ensina-se? e o swing?

RP - Para mim será sempre uma luta constante de trabalho e de escutar muito , pois alguém me disse uma vez "Só tocamos o que conseguimos ouvir" E se pretendo tocar esta música ela sobrevive também com essas duas componentes.

JD - onde (salas e formações) já tocou até hoje?

RP - já toquei com muitas formações ao longo destes anos , a primeira foi em Sintra com os Sintra jazz ensamble com o meu "Pai musical" Virgílio Mora onde  numa pequena garagem me deu a conhecer grande parte da história do jazz através do seu vasto espólio   musical  e com o qual tive a honra de participar e tocar em várias formações onde pude explorar e ter a liberdade de  arriscar....depois com várias formações, as mais significativas foram os Yetiproject em que toquei muito tempo com os meus queridos amigos Nuno Costa , Óscar Graça e Jeffery Davis, antes dos Yetiproject tinha já começado algumas formações minhas onde toquei com outros amigos entre os quais posso referir o André Matos, Rui Caetano, Luís Candeias, Hugo Antunes, Gonçalo Almeida, João Rijo entre outros, comecei por essa altura a tocar nos Reunion Big jazz Band, depois disso passei pelos Yamanjazz e mais recentemente lancei o meu disco com o nome de Sintra Project com a seguinte formação , Daniel Hewson no piano, Rui Pereira na bateria, Francesco Valente no contrabaixo e o Bruno Margalho no saxofone alto. Toquei noutros projetos de outros estilos musicais tais como os Demobius, os Kumpania Algazarra banda que ainda hoje faço parte entre outras mais. Toquei em todos os bares de jazz Lisboa e Porto menos no Bflat no Porto e mais recentemente em Lisboa no Teatro do Bairro, onde não consegui qualquer resposta a propostas, toquei com os Yetiproject no Centro Cultural Vila Flor no Out Jazz entre outros com o meu Quinteto Sintra Project toquei no Festival dos Oceanos no Arte e Manha no Bacalhoeiro no Vinil, no Out Jazz 2012 no Volvo Ocean Race e no Hot clube nos dias 28 e 29 de Dezembro deste ano. Faltam dois sítios onde toquei tanto com os Yetiproject como mais recentemente com o meu quinteto, que foi a Malaposta na programação de jazz que têm mantido e bem ao longo detes anos, constituindo um trabalho desigual no apoio a esta música , seria injusto da minha parte não falar desta instituição cultural assim como do Braço  de prata onde me deram várias oportunidades de apresentar o meu trabalho com o quinteto .

JD - sente-se bem tocando trompete jazz em Portugal?

RP - Seja em Portugal ou em qualquer parte do mundo, pois é a única maneira que tenho de viver e de me sentir realizado no que faço .

JD - quais os trompetistas jazz que mais aprecia em Portugal e no estrangeiro?

RP - Tenho muito respeito por todos os meu colegas e professores que me acompanham nesta pequena grande terra, posso naturalmente frisar e relembrar o nosso grande João Moreira, mais recentemente o meu amigo Diogo Duque que já representa uma grande promessa do jazz nacional, os meus mestres fora de Portugal passam naturalmente por nomes como Miles Davis, Freddie Hubbard, Woody Shaw, Kenny Wheeler, Thomas Stanko entre muitos outros.

JD - conhece a discografia de Bix Beiderbecke? e de Woody Shaw?

RP - Conheço mal o Bix Beiderbecke. Quanto a Woody Shaw estudei e continuo a admirar o seu génio transformador e inovador no trompete.

JD - frequentou o Berklee College of Music em Boston USA - experiências de lá retiradas? interesse pela etnomusicologia e por outras Músicas?

RP -Em 2000 enquanto terminava a minha licenciatura em Artes Plásticas na ESAD nas Caldas da Rainha fiz juntamente com o meu amigo e colega Nuno Costa as provas para a Berklee College of Music em Paris na qual consegui uma bolsa de 80% do curso, com grande pena minha a minha situação financeira não me permitiu ingressar nessa aventura onde muitos amigos embarcaram e bem nessa altura, contudo tentei sempre minimizar a minha perda com mais pesquisa e estudos que me ajudaram a ultrapassar essa oportunidade perdida. Por isso fiz um ano de estudos no Hot Clube onde tive aulas com o João Moreira e mais recentemente fiz a licenciatura em Jazz na Escola Superior de Música em Lisboa. De certa forma o meu interesse pela etnomusicologia, considerando o jazz uma evolução de misturas étnicas, mais recentemente deparei-me com a música de leste e mais concretamente com a música balcânica e cigana e do norte de África, na qual tenho debruçado grande interesse e empenho na sua diversidade e riqueza

JD - estudou com Pedro Madaleno e João Moreira entre outros em Portugal e onde mais e com quais outros?

RP - Entre todos os nomes que já referi antes, tive ainda oportunidade de ter aulas na ESML com Afonso Pais, Nelson Cascais, Pedro Moreira, André Sousa Machado, Filipe Melo e André Fernandes .

JD - indique um ou mais solos improvisados jazz que considere ‘perfeito'

RP - Não sei dizer se são perfeitos mas teria bastantes solos que poderiam perfazer algo de substancial naquilo que penso ter sido uma referência nos meus estudos e naquilo que depreendo da história da improvisação, sendo que apontaria para começar quase todos os solos de Charlie Parker, grande parte dos solos do Clifford Brown e para pegar num disco que poderá ser perfeito nesse sentido o ‘Kind of Blue' em que desde o Coltrane ao Miles temos a genialidade de Cannonball Adderley. Como referi antes tenho dedicado o meu estudo ao Woody Shaw e posso referir um solo dele que estudei no "Standart there will never be another you" Outro grande solo que admiro bastante é no tema de Bill Evans "You must believe in spring "

JD  - Marsalis o Winton um instrumentista extra ordinário com 50 amos de idade cumo explica seu interesse por Música dos anos 20 do século passado Ellington em particular?  é Música a que se toque hoje nos tempos que correm um estilo negro n-americano?

RP -Posso entender o fascínio que Winton Marsalis tem no Ellington e no seu único e genial estilo ainda contemporâneo de arranjos que o imortalizaram na história do jazz e nas suas fundações e Winton depois de ter feito o disco "Black codes" e o que ele contribui-o para o avanço na história do jazz do séc. xx pode fazer o que quiser , compreendo naturalmente e admiro e respeito o seu trabalho e lugar importantíssimo na vida actual do jazz que terá de ser cada vez mais elástico e ter capacidade de englobar todas as variedades e estilos inovadores ou que de certa forma consigam renovar ou refazer o que de bom já foi feito, para além disso considero que a história do jazz é ainda muito recente comparando-a com a da história da música erudita e o que isso possa representar.

JD - quais os seus favoritos arranjadores para big band? Neal Hefti ou Dan Hewson ou Maria Schneider ou outro (s)? escreve arranjos?

RP - Devo desde já dizer que admiro bastante o pianista e grande amigo Dan Hewson e considero o seu trabalho de arranjos bastante interessante, para além disso tenho o privilégio de tocar quer na Big Band onde ele executa esses arranjos quer no meu quinteto onde naturalmente me ajuda na minha própria composição. Admiro bastante a Maria Schneider embora não seja um grande conhecedor a fundo do seu trabalho daquilo que já ouvi, percebi imediatamente a sua influência do Gil Evans no seu trabalho e também um pouco de Bob Brookmeyer, a sua mistura da composição mais erudita é notável e fascinante. Quanto a  Neal Hefti  penso ter tocado um arranjo de tema dele chamado "Lil Darlin", mas não conheço assim tão bem para dar a minha opinião. Quanto a arranjos no que respeita ao meu trabalho sou sempre eu a realizar esse trabalho abrindo sempre o caminho para que surjam novas ideias que possam de certa maneira completar e melhorar o que foi apresentado. Tenho em conta sempre este processo de trabalho, que permite o espírito crítico e alimenta a liberdade criativa de cada músico com quem trabalho

 JD - no jazz resolve-se a contradição leitor/improvisador pois qualquer um deve cumprir as duas missões - dacordo?

RP -sim concordo plenamente com isso aliás cada vez mais qualquer músico nos dias de hoje e respectivamente no jazz deverá ter essa dualidade a 100% trabalhada e deve manter essa agilidade mental.

JD - opine sobre a cena jazz em Portugal:

*nível musical da audição de espectadores

*exagero de festivais e concertos para músicos só com músicos estrangeiros

*mesmos músicos que tocam em grupos diferentes ou cumo por ex só com 3 músicos se organizam 4 grupos

*escolhas muito discutíveis de músicos pelos raros clubes jazz

*‘já os ouvimos todos' poderá dizer um espectador enganado pela alta frequência só de alguns

*pagamento em percentagem de euros recebidos ‘à porta'

*abuso de encores

*notícias nos meios de informação

RP -Não acho que seja exagerado os festivais de jazz, simplesmente nem todos têm a facilidade de ter grandes nomes da cena do jazz internacional, mas isso é uma oportunidade de dar voz ao nacional, na velha questão de serem sempre os mesmos a tocar em todos os projetos, isso também tem os dias contados pois cada vez mais existem novos talentos e novas vontades o que permite uma lufada  de ar, no entanto a comunidade é bastante pequena ainda para perdermos energia com quem toca mais ou menos, a verdade é que  o nível profissional tem subido bastante e todos os bons músicos acabam por serem ouvidos, se tivéssemos um sindicato de músicos que organizasse e estruturasse o trabalho dos músicos, assim como existe em França por exemplo um professor universitário que seja musico teria de dar oportunidade a outros músicos de tocar não podendo passar de um x de concertos por mês  e assim daria hipótese de outros tocarem, é claro que seria extremamente difícil de concretizar tal feito. Quanto à situação completamente precária em que os músicos se encontram nos dias de hoje, eu decidi não tocar mais com percentagens de porta, pois desta forma nunca conseguimos sequer pagar o jantar, acho ainda que se todos os músicos parassem de fazer isto, obrigariam os donos dos espaços a angariarem fundos culturais e isto poria em marcha muitos dos subsídios que ficam congelados e nunca são entregues, faria com que as empresas apostassem o seu mecenato na cultura sem que de retorno tenham sempre os mesmos assentos vazios nas principais salas de cultura do país que definem em grande parte os únicos actos de mecenato  fornecidos, a entidades com visibilidade mediática. Este ano tive a oportunidade de gravar o meu primeiro trabalho tive ainda a enorme felicidade de contar com a ajuda de muitas pessoas que contribuíram para a divulgação e promoção do meu trabalho, para além dos músicos e técnicos  o trabalho de promoção foi precioso incansável  e impagável, feito pela nossa  grande amiga em comum Ulika.

JD - quanto custa uma ou um? trompete? quanta(o)s tem?

RP -Tenho dois trompetes ambos com 50 anos e preciosos no meu caso tive alguma sorte na compra destes instrumentos e sendo cada um deles como se diz em inglês priceless, nos dias que correm é muito raro arranjar-se trompetes destes, novos custam à volta de 3500€ e o metal já não é igual.

JD - usa flugel? porquê? para quê?

RP -Sim em contextos de Big Band e quando acho pertinente para alguma música em especial .

JD - qual a diferença jazz entre workshop e seminário?

RP - Não sei bem mas penso ser na duração dos mesmos e na complexidade do grupo e objectivo de trabalho, já frequentei um  seminário de jazz em Sevilha e envolve mais dias mais cadeiras e objectivos, os workshops são mais curtos e menos detalhados, não sei se será isto?

JD - experiências em palco com músicos estrangeiros residentes em Portugal? e no estrangeiro?

RP - São sempre tidas com o maior prazer e respeito pelos meus colegas tentando sempre dar o que de melhor sei fazer e será nesse tempo em questão a minha melhor performance musical .

JD - actuações com Yeti Project e Kumpania Algazza e Reunion Big Jazz Band espetivas constituições de músicos estrangeiros v. tugueses?

RP -Yetiproject em que toquei muito tempo com os meus queridos amigos Nuno Costa , Óscar Graça e Jeffery Davis , tocámos no Onda Jazz varias vezes, Máxime, Contagiarte, Centro Cultural Vila Flor e Out Jazz 2009. Com a Reunion Big jazz Band já passaram muitos músicos e tocámos em muitos eventos privados no festival de jazz do São Luís e no Hot clube. Com os Kumpania Algazarra já passámos por vários palcos e festivais, posso referir os principais festivais onde passamos: Os Kumpania Algazarra surgem em 2004 pelas ruas de Sintra, inspirados pela energia da folia e boa disposição, e levam consigo um percurso bastante animado. Nesse mesmo ano já estavam a tocar no palco principal do Festival Andanças e a fazer vibrar por quem lá passou. Em 2005 gravam o seu primeiro EP e daí partem à aventura. A caravana anima Portugal de lés-a-lés e inclusive passando por Espanha, Itália e uma tournée na Eslovénia. Entretanto era altura de deixar um legado dos anos passados na estrada e eis que surge em Fevereiro de 2008 o lançamento do seu primeiro trabalho de originais com nome homónimo. Ainda em 2008 vencem o Mercè a Banda, concurso internacional de bandas de rua das Festas de La Mercè, em Barcelona. Daí saltam para os grandes palcos na Festa do Avante, Optimus Alive, SuperBock Surf Fest, Sudoeste, Festival de Músicas do Mundo de Sines e muitos mais. A nível internacional passam por países como Espanha, Holanda, Bélgica, Inglaterra, Suíça, entre outros. Em 2010, foram convidados para representar Portugal nos Encontros Culturais de Língua Portuguesa no Rio de Janeiro. Pelo caminho, muitos são os DJ e produtores interessados em misturar esta algazarra e surge a ideia de fazer o Kumpania Algazarra Remix (2010), ou seja, as músicas do primeiro CD remisturadas em vários estilos. Xoices, Nsekt, Woman in Panic, Sam the Kid, Beat Laden, Kronik People, entre outros, fazem pura alquimia, transformando o som orgânico da Kumpania em algo fresco para novas pistas e novas danças. A passagem pelo Festival de Músicas do Mundo de Sines em 2011 ficou marcada pelo lançamento de um EP ao vivo, lançado pela Optimus Discos. Em 2012, os Kumpania Algazarra marcaram presença no Concurso Internacional de Fanfarras do Guca Festival na Sérvia. Neste momento o Artista encontra-se em estúdio para preparar o lançamento do seu segundo disco de originais que será apresentado em 2013.

JD - já tocou nos palcos CCB ou C da M ou Culturgest Lisboa ou Gulbenkian?

RP - toquei recentemente nos concertos de dose dupla com o Dan Hewson no CCB e na Gulbenkian toquei há dez anos com um dos meus projectos "De mobius". no último Capitals no Acarte, mas nunca na Culturgest .

 JD - obrigado Ricardo Pinto


 
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