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Paulo Gomes
29-10-2012 00:00
 

José Duarte - sobre a crise capitalista e ocidental  em que vivemos com dificuldades que aumentam dia a dia em que é que os músicos portugueses jazz já foram afetados?

Paulo Gomes - Em tudo o que foram afectados os cidadãos portugueses. Realço que  a menor capacidade financeira das instituições ligadas à cultura e à educação (públicas e privadas) , reflectem menores oportunidades de trabalho. O público em geral, também ele afectado por esta crise, acaba por consumir menos o trabalho que nos propomos fazer..

JD - há quantos anos toca piano jazz? a idade a passar beneficia ou prejudica um improvisador jazz?

PG - Piano, desde os 4 ou 5 anos . Piano jazz, desde os meus vinte e poucos.  Tenho a certeza que beneficia. A improvisação é reflexo da experiência musical e da experiência de vida.  Podemos gostar mais daquilo que  fez um músico, do que aquilo que faz. Mas isso tem a ver, com a forma técnica do momento, as opções estéticas, as modas...

JD - é prof jazz sabe-se mas que ensina de diferente com a aprendizagem de Música escrita?

PG - Essa aprendizagem abre todo um mundo de conhecimentos. O jazz é uma música muito recente. O ensino das bases para se fazer essa música, está numa enorme transformação. Não se conseguiria essa evolução, sem o conhecimento da música escrita.

JD - ter swing ensina-se?

PG - Não. Mas aprende-se.. Acho que só com referências auditivas muito fortes, se consegue aproximar dessa forma de interpretar a música. Há práticas que ajudam, mas a audição, a paixão e a imitação,  são essenciais.

JD - ter swing será essencial desde o jazz final dos anos 50 com o free?

PG - Essa é ambigua. Se reduzirmos o swing (como muitos letrados e iluminados o fazem), a um "bass walking" e um "ride" com subdivisão ternária explícita, a minha resposta é : Não  Se o swing é uma forma de fluidez musical, de liberdade de interpretação rítmica de qualquer música, a minha resposta é obviamente: sim

JD - com que razões afirma que este pianista jazz é pior do que outro?

PG - A um nível básico, pode ser por questões de capacidade técnica, ou por diferenças notórias na cultura musical que evidenciam. A um nível mais profundo e mais subjectivo, por aproximações ou distanciamentos a estilos e estéticas que me agradam mais ou menos.

JD - porque será que as vozes femininas portugueses não  cantam (regra geral com raríssimas excepções) em português canções ou sambas brasileiros mas sim no ridículo brasileirês? nos temas brasileiros incluidos no primeiro cd de ‘Jogo de Damas' você toca piano  em que línguagem? jazz assim espero mas porque é que então um percussionista brasileiro foi convidado para tocar num samba?

PG - Não sendo a pessoa ideal para responder (porque não canto), consigo compreender as diferentes opções de sotaque que os cantores fazem para interpretar uma canção.  Porque não? Não sou português a todo o custo.  Só sou  Irrita-me o "tem que ser assim, porque...". Já fiz música para ser cantada em vários idiomas (o português também). As línguas têm diferentes sonoridades, diferentes músicas. Quanto à segunda questão: não me sinto filiado a esta ou aquela linguagem. Toco como sinto. O percussionista que toca nesse tema do disco, foi convidado porque toca bem; não por ser brasileiro.

JD - cumo acha estar a cena jazz portuguesa em relação a músicos terem clubes e palcos para tocarem e serem remunerados sem ser no incrivel modo ‘percentagem da porta'? tem tocado em clubes? quais? já tocou em salas cumo Culturgest em Lisboa ou em Porto em CCB ou C da M?

PG - A crise, mais uma vez. É um facto que os músicos andam a trabalhar com condições que não imaginavam há pouco tempo. Nós, como quase todos os profissionais de qualquer área. Por isso, há uma certa naturalidade neste fenómeno, mas também algum aproveitamento da parte de quem promove o nosso trabalho. Tenho fases de tocar mais em clubes; gosto de muitas das características próprias que têm as actuações nesse tipo de espaços. Não o faço a todo o custo. Nunca o fiz por percentagem da porta. Em Lisboa, os músicos do Porto tocam muito pouco. Nunca toquei na Culturgest, e se toquei nos auditórios do CCB, na Aula Magna,  ou noutras importantes salas de Lisboa,  foi porque alguns músicos me convidaram para projectos deles próprios. Esta é a forma normal, de os músicos do Porto  tocarem em Lisboa. Continuamos a constatar que afinal os provincianos estão sobretudo na capital

JD - conhece a discografia de Robert Glasper o novo artista jazz n-a?  e a de Jason Moran?

PG - São dois pianistas que admiro. O Moran, em muitos contextos, e sempre muito interessante...ou até, brilhante. O Glasper, fantástico no estilo com que apareceu, e menos interessante nas últimas coisas que ouvi dele. Demasiado protagonismo para o dj's e rappers... e menos para o talentoso pianista que é.

JD - que pensa da obra de Pinho Vargas também um pianista?

PG - Nunca tive grande admiração pelo Pinho Vargas como pianista. Foi um músico de grande importância na divulgação e na afirmação do jazz em Portugal. 

 JD - a breve prazo os CDs jazz irão acabar se é que já não acabaram? e a divulgação então pense em Portugal...

PG - É verdade. Os CD's jazz (ou outra qualquer), têm um peso completamente diferente do que tinham na indústria da música. As editoras e os meios tradicionais de distribuição, estão todos baralhados. O que se está a passar cá e nos países que melhor conhecemos (Europa e EUA), é que os discos servem como cartões de visita de um projecto musical.  As edições são cada vez mais de autor, e a distribuição é feita na internet e na venda directa nos concertos.

JD - pertence à ‘escola evanista' a seguidora de Bill Evans?  porquè? para quê?

PG - Se diz que sim (?)... O pertencer a uma ou a outra escola, faz parte de um processo muito natural e pouco consciente, da aprendizagem que fiz destas músicas. É um facto que passei fases de ouvir intensivamente a música de Bill Evans. Mas também do Jarrett, do Hancock, do Hersch, do Jamal, do Peterson, do Garland, do Taylor ou do Stenson... 

JD -  usa teclas com som amplificado pela eletricidade? porquê?

PG -  Refere-se concerteza ao meu disco "Trabka", que gravei com o Eric Vloeimans. São opções como os idiomas e os sotaques. Se estes ajudam a obter cores e emoções diferentes na mesma música, os timbres também. O piano acústico continua a ser o instrumento que, de longe, mais gosto, e o que pratico diariamente . Mas às vezes...

JD - acha que Jarrett é um pianista jazz overrated? e McCoy Tyner?

PG - Não o acho over nem under. É um músico singular na história da música das últimas décadas, um músico com uma cultura musical imensa. um pianista excepcional, um improvisador extraordinário  Não sou grande fã do Tyner. Reconheço a genialidade de alguns momentos e a originalidade pianística. O seu valor indiscutível, cairia para um nível muito inferior, se não fosse a preciosa e longa colaboração com o genial John Coltrane.

JD -  compõe? blues? seu reportório inclui blues? porquê?

PG - Gosto muito de escrever música. Sim, tenho algum repertório a que poderia chamar blues, ou melhor: "bluesy".  Isto porque não é propriamente tradicional, mas com influências claras deste género. O blues está ligado ao jazz duma forma quase indissociável. Se estudarmos jazz, passamos obrigatoriamente pelo blues. É uma música tão forte, tão instintiva, tão primária, que me parece natural a influência que vai exercer ao longo de um percurso na música.

JD - se fosse n-a em quem votaria? em Obama?

PG - Sou admirador do Obama. Para mim, como observador não muito atento da política americana, ele simboliza a mudança. Para mim, chega... ou quase.

JD - E seu recente trabalho para a editora Numérica? 

PG - Este seu muito recente disco "Recital" é uma consequência bem evidente de um curso de mestrado que fiz há um par de anos. Nesse contexto, propus-me estudar a ligação que existe entre a música clássica da primeira metade do séc.XX, e o jazz que se fez e faz desde então. Em dois recitais previstos no decorrer do curso, re-escrevi alguma música de um e de outro universos musicais. A intenção foi obter uma linguagem comum independentemente do género a que pertencem. . Os arranjos para uma das formações que mais gosto - trio de piano, contrabaixo e bateria - ajudam a uniformizar esse conceito. O repertório escolhido para este trabalho de investigação, de escrita, e de interpretação, foi baseado na música de Schostakovich, Prokofiev, Mompou, Gershwin, Porter...

JD -muito obrigado Paulo Gomes


 
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