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Mila Dores
03-05-2012 00:00
 

José Duarte - certamente com  menos de 30 anos de idade cronológica que experiências teve com jazz e como o conheceu?

Mila Dores -  Comecei a ouvir jazz num cd de compilações que comprei há uns 12 anos atrás. Tinha lá uma versão do "Blue Train" do Coltrane. Quando ouvi aquele som não consegui gostar de mais nenhum género de música durante imenso tempo. Fiquei viciada no som do jazz. E comecei a explorar a música

JD - que produção sua ou alheia já tem gravada?

MD - Editei o meu primeiro álbum "Is Love the Word?" em Fevereiro deste ano pela editora independente de jazz de Londres, F-IRE label, com o meu quarteto britânico EH JOE. Já participei em álbuns de músicos amigos meus em Inglaterra.

JD - as suas autorias musicais mais importantes são só em composição na autoria de letras na vocalização? é instrumentista?

MD - Eu gosto muito de compor para instrumentos. É um desafio porque se fica a conhecer um instrumento muito melhor quando se escreve para ele. E dá-me muito gosto compor para pessoas que conheço. Quase todos os temas do álbum foram escritos por mim, não só as letras mas também a melodia de voz e toda a parte harmónica e rítmica dos temas.  Toco piano desde os 6 anos mas neste momento só toco em casa quando estou sozinha e uso-o como um auxiliar para compor.

JD - interessa-lhe fado?

MD - Gosto muito de fado. Aliás, quando fui viver para Inglaterra, em 2006, para fazer a licenciatura em jazz comecei a ouvir muito fado. Fez-me sentir em casa, embora estivesse muito longe e com muitas saudades de Portugal. Quando canto fado sinto-me muito eu e ligada a um sentimento que "self" que me deixa calma e confortável.

JD - quem são os instrumentistas que a acompanham no CD ‘Eh Joe'? porque escolheu estes?

MD - Nesta banda somos todos muitos amigos, acima de tudo. Escolhi-os porque são meus amigos, admiro-os a todos como músicos e acima de tudo porque aprendemos sempre muito uns com os outros. Tanto na sala de ensaios como nos concertos. Damo-nos todos muito bem, gostamos imenso uns dos outros e essa intimidade e camaradagem reflete-se naturalmente na nossa música e na forma como a tocamos juntos. EH JOE conta com Sam Watts no piano. Sam é um jovem pianista sobredotado e extremamente sensível. É neste momento bolsista no mestrado de jazz na Royal Academy em Londres. Começámos a tocar em duo na escola onde estudámos, no Leeds College of Music, fomos desenvolvendo uma intimidade musical e uma amizade muito grandes. É um músico simplesmente lindo e magnífico. Joost Hendrickx na bateria, porque considero a sua sensibilidade musical fascinante. E depois a forma como toca bateria é simplesmente fascinante Vai do animal ao mais sensível que pode haver. Rus Pearson no contrabaixo porque tem um som fantástico no instrumento e é uma enciclopédia musical ambulante. Ele toca jazz como ninguém, e vive cada nota que toca como se fosse a última vez que a tocasse. Adoro aquelas pessoas, tenho muitas saudades deles. Como voltei a Portugal já não convivemos tanto, só quando nos encontramos para dar concertos e compor para futuras gravações.

JD - tem vivido muito em Londres para quê?

MD - Eu vivi em Leeds durante 5 anos. Fui para lá em 2006 para fazer a licenciatura em jazz e música clássica norte-indiana e como estabeleci muitas relações a nível musical e social volto lá sempre que posso para cantar e visitar os meus amigos.

JD - conhece as peças musicais de Anita O'Day e Betty Carter e Roberta Gambarini?

MD - Conheço o trabalho da Anita O'Day e da Betty Carter muito bem. Sou fã. Da Anita O'Day pela sua voz quente e o seu swing malandro e a Betty Carter pela sua força vocal e a sua capacidade incrível de improvisação e fluidez. Ainda não ouvi muita coisa da Roberta Gambarini mas está na minha lista.

JD - porque será que no jazz existem mais vozes femininas do que masculinas?

MD - Esta pergunta é difícil. Será porque as mulheres são seres mais impulsivos e cantar é uma forma mais imediata de expressão? Queremos mostrar tudo o que sentimos imediatamente, sem ter necessidade de ultrapassar barreiras técnicas de um instrumento? Cantar é realmente uma coisa muito especial. Está ligado diretamente ao coração, à emoção. O corpo é o instrumento mais antigo de todos e é o veículo mais rápido para a propagação do pensamento. (para quem tem tendência de se expressar musicalmente, claro) Portanto na minha opinião, de uma forma geral, as mulheres gostam mais de falar e os homens mais de lidar com engenhocas e ferramentas, portanto deve ser por isso.

JD - conhece as discografias de Sinatra e Armstrong e Joe Williams?

MD - O Sinatra e o Armstrong são dois heróis meus. Grandes professores, aprendo´muito sempre que os ouço. O Joe Williams era o que os ingleses chamam de "Cheeky", mais malandreco e contador de histórias, mas não conheço a sua discografia tão bem. Mais um para a minha lista de - "a explorar urgentemente".

JD - está já decidido seu objetivo como artista para a Música? aliar experiências de textos (canções populares) com sons (jazz e outras músicas)?

MD - Está super decidido. O que eu mais quero nesta vida é continuar a cantar, a compor e a interagir com músicos incríveis. É o que me faz feliz. A música faz-me apaixonar todos os dias, portanto se estiver feliz com a vida, não posso querer mais nada.

JD - no seu CD ‘Eh Joe' quem é a Senhora Benilde que em português com forte sotaque fala na faixa 3? para que foi ela contratada convidada?

MD - A dona Benilde é uma senhora de Paços de Brandão. Quando gravámos o disco nos estúdios da Numérica costumávamos tomar café e lanchar no seu café. Simpatizámos muito com ela porque vinha sempre falar connosco e contava-nos da sua vida. Foi um elemento marcante desse verão em que gravámos o disco e decidimos incluí-la no processo.

JD - nesse CD ‘Eh Joe' porque incluiu o inglês do irlandês Samuel Beckett?

MD - Eu sempre fui fã da linguagem de Beckett. Ele alia o abstrato e a realidade de forma muito natural, considero a sua loucura super saudável e divertida. E no fundo eu adoro uma boa história bem contada. Eu sou fã de teatro e considero Beckett um dramaturgo expecional e muito musical. Eu e o Sam conhecemo-nos numa aula de improvisação onde tínhamos de tocar música experimental e praticávamos composição imediata. Um dia resolvemos compor uma pequena peça para um exerto de um dos seus textos e correu muito bem, começámos a explorar esse caminho e a escrever música como se fosse banda sonora.

JD - qual o significado da fotografia na capa frente desse CD?  com uma cabeleira azul carregado e uma máquina de escrever?

MD - Se reparar bem, no topo da máquina de escrever está pousada a maçaneta de uma porta. A máquina de escrever representa a inspiração que obtivemos dos textos de Beckett, além de a usarmos como percussão em alguns temas. A peruca azul não sei bem...uso-a às vezes como capacete para canalizar a inspiração.

MD - conhece o público português? sua opinião Gostei muito das experiências que tive com o público português. Foram sempre muito carinhosos e recetivos à minha música. Quero muito cantar para eles mais e mais.

JD  - onde já experimentou atuar em palco? porquê?

MD - Já atuei em Inglaterra, Portugal e Roménia. Porque sou portuguesa, estudei em inglaterra e participei numa competição de jazz na Roménia. Gostei de atuar em todos os sítios onde fui. O palco é onde me sinto mais à vontade, sempre.

JD - tem estudos teóricos de Música? quais?

MD - Comecei a estudar música com 6 anos na academia musical de Vilar de Paraíso, em Vila Nova de Gaia, onde cresci e vivi durante muitos anos. Estudei piano, canto, formação musical e cantava em dois agrupamentos corais. Em 2009 terminei a licenciatura no Leeds College of Music, em Inglaterra - e fiz especialização em jazz performance e musica clássica norte indiana.

JD - que vozes femininas quer destacar na cena musical portuguesa?

MD - Quero destacar a grande Amália Rodrigues que sempre estará em cena para mim, por ser uma enorme inspiração para a vida "Cantarei até que a voz me doa..." A Maria João porque é uma força da natureza, a Sara Tavares porque a sua voz é muito doce e pura e o Camané porque é um apaixonado.

JD - porque incluiu uma canção de Paul Simon em seu CD ‘Eh Joe'?

MD - "50 Ways to Leave your Lover é simplesmente um tema genial" - tem de ser cantado.

JD - canta blues? sua opinião social sobre os blues

MD - Canto blues I got the blues  Acho blues uma força de expressão muito grande, uma tesoura metafórica para muitas correntes.

JD - piano / cbaixo / bateria / voz foram os instrumentos disponíveis para a gravação de ‘Eh Joe' as decisões na preparação e em estúdio foram democráticas?

MD - Sim Corre sempre tudo bem com esta banda, é uma delícia.

JD - onde gravou CD ‘Eh Joe'? porquê? satisfeita?

MD - Decidimos gravar em Portugal. Eu vim a casa no Verão, eles vieram de férias, sentimos que se gravássemos o álbum num ambiente calmo a música fluiria melhor. Gravámos na Numérica e ficamos muito satisfeitos com o processo todo, a experiência do engenheiro Fernando Rocha e o resultado final foi muito bom.

JD - é eclética? por e para quê?

MD - Sou eclética. Gosto de experimentar juntar várias coisas e ver no que dá. Gosto muito de misturas em tudo Nas pessoas, na cor, na música. Não consigo ter uma só visão das coisas e vejo a vida de muitas perspetivas. Portanto a minha relação com a música também é assim. Misturar ingredientes e experimentar é super criativo, se não calhar bem, pelo menos o processo vale sempre a pena.

JD - Obrigado Mila Dores

MD - Obrigada


 
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