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Fernando Alvim
04-03-2012 00:00
 

José Duarte - porquê Gui em Fernando Gui Sampaio Sousa Alvim seu nome completo?

Fernando Alvim - Gui é o nome de um santo francês de quem a minha mãe era devota e a quem pediu protecção para que o parto corresse bem...

JD - para si qual a diferenças entre viola e guitarra? em qual destes instrumentos acrescenta ou não as palavras portuguesa ou de fado? porquê?

FA - À Viola acrescento a palavra Fado e à Guitarra acrescento a palavra Portuguesa. Ambas são fundamentais no acompanhamento do Fado pois estão na sua origem e ambas se complementam, isto é, os graves da Viola de Fado complementam os agudos da Guitarra Portuguesa. Não obstante as novas abordagens do Fado com outros instrumentos que também ligam bem com este género musical, a Viola de Fado e a Guitarra Portuguesa serão sempre os instrumentos por excelência ligados ao Fado e os que melhor expressam e "casam" com ele.

JD - ao instrumento com cordas no flamengo chamam guitarra e no samba viola ou violão - como explica?

FA - O nome do instrumento é Guitarra que, por exemplo, em Portugal toma o nome de Viola de Fado (e assim se distingue da Guitarra Portuguesa), no Brasil tem o nome de violão. O formato e o tamanho podem variar, cada um mais apropriado a um estilo de execução. Mas o instrumento, com o formato de um 8, é o mesmo.

JD - depois da aprendizagem de violoncelo chegou o fado - quais as razões?

FA - Ouvia cantar o Fado na Emissora Nacional e nas reuniões de amigos, conhecidos e familiares. Identifiquei-me com o género musical. Depois, um tio meu tinha uma Guitarra (Viola) e eu, sempre que podia, ia a casa dele e aí passava horas a experimentar diferentes acordes e a namorar o som desse instrumento que me fascinou desde o primeiro momento em que o experimentei...

JD - quantas viola de fado tem? sugiro nos conte a vida de sua principal guitarra

FA - Tenho duas guitarras: a Ernestina, a que levo e uso nas férias e a Concertista que me acompanhou durante a minha carreira e que foi comprada em 1957 na oficina do Quim Grácio. Estava na montra da loja. Olhei para ela e ... Foi amor à primeira vista... Custou na altura 1.500 escudos, o que era muito para a época. Com ela acompanhei toda a discografia de Carlos Paredes e outros guitarristas bem como inúmeros fadistas. Com ela também dei a volta ao mundo

JD - quem foi Pedro Araújo na sua vida musical?

FA - Pedro Araújo é o nome da pessoa que me transmitiu conhecimentos na arte de acompanhar o Fado à viola. Tinha 14 anos quando comecei a aprender a acompanhar fado. Aliás, foi com essa idade que assisti, pela primeira vez, a uma actuação da Amália Rodrigues no Café Luso (no Bairro Alto).

JD - estudou e lecionou na Escola José Duarte Costa - conte-nos como passou musicalmente esses anos 50

FA -A Escola de Guitarra de José Duarte Costa foi a primeira escola de guitarra clássica em Portugal. O Prof. Duarte Costa tocava e acompanhava extraordinariamente bem.  Foram anos muitos interessantes de aprendizagem no campo clássico. Depois, quando ele me convidou  para dar aulas fi-lo com entusiasmo. Tive vários alunos. O Vitorino Nemésio foi um deles. Às vezes o Carlos Paredes ia assistir a uma ou outra aula.

JD - qual é a diferença entre um fado e uma canção?

FA -O Fado é destino, é sentimento, é uma forma de expressar as emoções e extravasar estados de alma. A canção por si só é um género mais ligeiro podendo ou não expressar estados de alma

JD - porquê este prolongado silêncio das 35 melodias por si compostas em ‘Fados & Canções do Alvim' esse histórico par de cd de verdadeira Música Portuguesa só agora publicadas?

FA - É o destino, o Fado As coisas acontecem quando tem de acontecer... Sempre me dediquei ao acompanhamento e tive uma vida muito movimentada. Já tinha feito uma ou outra aproximação à composição na década de 1960. Mas só há 2 anos, num abrandamento da actividade, é que a música começou a surgir...

JD - nestes esplendorosos 2 cd agora publicados em seu nome convidou Rao Kyao e Ricardo Toscano músicos jazz para consigo tocarem - com que intenção?

FA - Com a intenção de dar um toque de jazz nas composições em que eles entraram. É sempre um prazer renovado tocar com o Rao Kyao que é um músico extraordinário. Quando ao Ricardo Toscano, conheci-o o ano passado. É um jovem promissor e talentoso. Ambos com um bom sentido de improvisação.

JD - o improviso entra na sua maneira de tocar?

FA - O improviso entra na minha imaginação quando toco. Preciso dele para respirar...

JD - nos anos 50 frequentava o ‘Hot Clube de Portugal' - conviveu com Villas-Boas - tocou naquela histórica cave com os primeiros heróis da divulgação jazz e tocou guitarra com som amplificado como era o jazz nesse tempo na Praça da Alegria em Lisboa? porque ligou  sua guitarra à eletricidade?...

FA - Por influência de ouvir os guitarristas dos discos que o Luís Villas-Boas trazia da América e que eu ouvia atentamente no Hot Clube de Portugal, tais como Jim Hall, Joe Pass, Barney Kessel, Wes Montgomery, Tal Farlow, entre outros. Era um ambiente fascinante de muito swing e bossa. Era no Hot Clube que fazia os ensaios para os programas Nova Onda.

JD - de como a nova batida samba e suas respetivas harmonias e maneira cool e branca de cantar influenciou sua maneira de tocar guitarra - comentários

FA - Aprendi as novas e fascinantes harmonias e ritmos da bossa-nova com um brasileiro, o guitarrista dos Jograis de S. Paulo. Este género musical estava na altura  no auge com os êxitos de João Gilberto e Tom Jobim. A bossa trouxe novas possibilidades harmónicas que me agradaram muito das quais resultaram melodias muito bonitas.

JD - sua colaboração com Carlos Paredes deu-se entre 1959 e 1984? - que influências teve na obra de Paredes?

FA - Procurei enriquecer a parte rítmica e harmónica da obra de Carlos Paredes. Procurei ser uma espécie de alicerce ou base de sustento para a música melódica e improvisada de Paredes

JD - que relações teve com as canções de Coimbra? serão fados?

FA - Acompanhei não só fados como também canções de Coimbra. Tenho um disco gravado de fados de Coimbra com o Dr. Augusto Camacho em que o guitarrista foi o Dr. António Brojo. Toquei também guitarradas de Coimbra com o Artur Paredes embora não tenha gravado com ele. Mas toquei com o Carlos Paredes, variações de Coimbra feitas pelo Artur Paredes e que estão gravadas, como por exemplo, as variações em re menor.

JD - tocou com muitos grandes nomes da Música Popular Portuguesa como Alfredo Marceneiro ou Pedro Caldeira Cabral ou Fontes Rocha ou José Afonso ou Adriano Correia de Oliveira ou Amália Rodrigues entre muitos outros - comentários sobre os artistas portugueses atrás citados

FA - Todos tinham características diferentes o que tornava aliciante trabalhar com eles.

JD - no seus trabalhos com tantos e tão diferenciados artistas portugueses na ditadura salazarista sofreu com a Censura e/ou  com perseguições da PIDE?

FA - Não, felizmente.

JD - como encara a recente ‘explosão' de vozes femininas e masculinas nos fados e canções compostas e criadas em Portugal e impecavelmente mostrada em seus dois cd publicados recentemente?

FA - Encaro com grande optimismo e felicidade por estar a aparecer toda uma nova geração que nos garante a continuidade no futuro da música portuguesa, quer no Fado quer nas Canções.

JD - qual sua opinião sobre as letras do jovem Tiago Torres da Silva?

FA - Aprecio bastante as letras do Tiago Torres da Silva. São muito bonitas e diversificadas.

JD - na consequência dos cd ‘Fados & Canções do Alvim' como correu o concerto em dezembro 2011 na ‘Casa da Música' na cidade Porto?

FA - O espectáculo correu extraordinariamente bem. Foi uma tertúlia musical e humana muito enriquecedora e gratificante.

JD - qual é o seu segredo em compor dezenas de fados e canções que tão bem ficam em vozes e estilos tão diferentes como entre outros os de Vitorino e Amélia Muge ou Cristina Branco e Manuel Freire ou Filipa Pais e Carlos do Carmo ou Ana Moura e Vicente da Câmara e Rui Veloso ou Camané e Carminho?

FA - O "segredo" talvez tenha sido compor as melodias destinadas a eles, pensando neles e no seu estilo.

JD - obrigado Fernando Alvim

OBRIGADO, JOSÉ DUARTE

 

 


 
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