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Marco Barroso
01-10-2011 00:00
 

José Duarte - porquê UM Undergrond Music em LUME nome da orquestra portuguesa
que dirige?

Marco Barroso - É uma questão de gosto que, de alguma maneira, tem também a ver com o facto de a minha música ter muitas referências em expressões musicais de raiz afro-americana. Mas se questionarmos o porquê de um nome em inglês, também podemos questionar o porquê de fazer música de origem não portuguesa em Portugal e uma infinidade de outras coisas. Em todo o caso, o termo underground não tem, quanto a mim, um equivalente em português que conserve a mesma carga expressiva e, na realidade,
underground (por oposição a mainstream) usa-se vulgarmente na nossa lingua como significante de algo que é alternativo ou fora do padrão mais comum. Mas não quero fazer afirmar grande coisa com isto. Gosto da carga subversiva da palavra e achei que seria um bom indicativo para o grupo, evitando certos clichés associados à estética deste tipo de formações que seriam sugeridos se eu colocasse no nome da banda palavras como Swing ou Bigband. Em todo o caso, eu não vejo o termo underground, no contexto específico desta banda, sem uma certa ironia. Não me importo nada de ser mainstream. Devo ainda acrescentar que o nome funciona tanto em inglês como em português (LUME).

JD - como se funda uma orquestra como você fundou a LUME?

MB - É preciso uma ideia, um conceito e um repertório que consigam convencer um conjunto de músicos de qualidade a empreender um esforço colectivo na realização de um projecto. Foi o que procurei fazer com o LUME. Devo gradecer a todos aqueles que se envolveram no projecto, e uma referência especial ao Eduardo Lála pelo seu continuado esforço de promoção do LUME.

JD - repertório de LUME?

MB - O repertório é todo da minha autoria.


JD - o que é e como se escreve um arranjo para uma orquestra jazz?

MB - O termo arranjo é um pouco difuso, podendo ter por base premissas muito distintas. A Bigband, enquanto modelo com uma longa e rica tradição tem desenvolvido um conjunto de formas legadas pelos seus mestres que, hoje em dia, na sua rememoração estrita e formulaica configuram situações mais ou menos estereotipadas a que convencionalmente chamamos arranjo. Mas também podemos considerar como arranjo uma composição que, apesar de se apropriar de material já existente, assume critérios de autoralidade, podendo o resultado ser, na realidade, bastante original.

JD - quem escreve os arranjos para LUME?

MB - Toda a música é escrita por mim e da minha autoria.

JD - músicos em LUME são bons instrumentistas e também alguns bons improvisadores? quais?

MB - Todos os músicos de alguma maneira improvisam no LUME, sendo que alguns também o fazem de uma forma solística. São os casos do Paulo Gaspar, Jorge Reis, José Menezes, Elmano Coelho, Luís Cunha, Eduardo Lála, João Moreira, André Sousa Machado e Miguel Amado.

JD - conhece as discografias de Duke Ellington, Gil Evans, Maria Scheneider? comentários

MB - Conheço. Tenho maior interesse pelo Duke Ellington e o Gil Evans. O Duke Ellington introduziu no contexto da linguagem jazzística uma perspectiva ambiciosa da composição com critérios próprios dos eruditos. Isto é bem patente, por exemplo nas Suites ou Sacred concerts. O Gil Evans, por sua vez, foi seminal na sua colaboração com o Miles e mais tarde (anos 70) no tingimento psicadélico das cores bigbandísticas ao conjugar de forma feliz electrónica e improvisação livre com um sentido de textura muito apurado. Ambos foram compositores que souberam, de forma notável, assumir riscos e evoluir ao longo das sua carreiras.

JD - Estudou piano na AAM Academia dos Amadores de Música e no HCP Hot Clube de Portugal - diferenças

MB - São escolas importantes e referenciadas que têm desenvolvido um papel muito relevante no ensino da música, o HCP no Jazz, a AAM no domínio da música clássica.

JD - descreva vosso CD publicado em 2010 - temas, músicos, arranjo(s), interesse da editora, vendas

MB - O disco tem por objectivo dar a conhecer a música que eu tenho vindo a compor para o LUME e que os seus músicos têm vindo a interpretar. Um aspecto particular é a apresentação de um contexto mais electro-acústico onde algumas peças se revestem de sonoridades sintéticas e concretistas. O que procurei com isto foi criar um enredo que reforçasse o sentido narrativo do discurso musical e que tirasse maior partido de uma situação de estúdio. O disco foi editado pela Jacc e tem vendido muito bem. Os temas são: Lux, Turn Around, Ignição, (...), Freestyle Boogie, Curves on the points to find e Festa. Os músicos: Manuel Luís Cochofel, Paulo Gaspar, Jorge Reis, João Pedro Silva, José Menezes, Elmano Coelho, Jorge Almeida, Pedro Monteiro, João Moreira, Luís cunha, Eduardo Lála, Pedro Canhoto, Miguel Amado e André Sousa Machado.

JD - foi vencedor do Prémio Jovem Autor na SPA em 2008 - comentário

MB -  É um prémio com prestígio que recebi com muita satisfação, ainda para mais por se tratar de uma instituição que representa e defende os artistas.

JD - como compositor que tipo de peças cria? afinidade com jazz?

MB - Espero que não sejam de um tipo aprioristicamente definível. A minha relação com o Jazz vem, antes de mais, do facto de a minha música requerer um tipo de flexibilidade (no domínio da música escrita e da improvisação) e uma afinidade com a expressividade da música africana/americana que mais facilmente se encontram nos músicos de Jazz (mas não é imperativo que o sejam). Por outro lado, o facto de eu compor substancialmente para um formato de contornos bigbandísticos, incorre numa necessária relação com os índices que lhe estão associados, ainda que a perspectiva que eu deles tenha não seja própria de um músico com um ethos jazzístico.

JD - uma big band jazz permite resolver a problemática disciplina versus liberdade com a disciplina de leitura de música escrita com a liberdade dos improvisos - para comentar

MB - Não, porque a liberdade é mais arriscada em grupos de maior dimensão orquestral. Ou seja, podemos conjugar muito mais facilmente liberdade e disciplina num grupo pequeno (onde as variáveis são em menor número) do que num grupo grande. Mas, seja como for, a equivalência estrita entre leitura-disciplina e improvisação-liberdade é um pouco simplista. Para além disso, os conceitos de disciplina e liberdade, bem como a dicotomia em causa, devem ser relativizados. Os limites podem estimular a criatividade e a liberdade, pelo contrario, constrangê-la. Tudo depende do que se pretende. Um quarteto a improvisar livremente pode ser muito mais disciplinado que uma Bigband a interpretar repertório.

JD - compõe em função dos músicos de que dispõe?

MB - Sim. Embora essa expectativa, levada demasiado em conta, possa incorrer numa certa limitação.

JD - que lhe parece o ambiente jazz em Portugal? músicos, escolas, público, salas disponíveis, crítica, mercado de cd, etc.

MB - Há um ambiente fértil em termos de produção, divulgação e crítica. que acompanha a qualidade do jazz que se faz em Portugal. Em termos educacionais tem havido desenvolvimentos muito positivos com o incremento do número de escolas e de cursos a nível superior. Talvez faça falta uma maior dinâmica ao nível de clubes que estimulem mais o circuito jazzístico e contribuam para o aumento de um público conhecedor.

JD - conhece a obra de Paulo Perfeito?

MB - Não muito profundamente. Do pouco que ouvi, pareceu-me interessante.

JD - LUME participou no II encontro de big bands jazz em Lisboa - que tal lhe pareceram os outras orquestras jazz? e a ausência da de Lagos?

MB - Infelizmente não tive oportunidade de ver as outras orquestras.

JD - Obrigado Marco Barroso

MB - Obrigado


 
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