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Luísa Vieira
20-06-2011 00:00
 

José Duarte - como surgiu jazz na sua vida?

Luísa Vieira - Desde pequena que ouvia música de vários estilos em minha casa, desde música clássica até ao rock and roll dos anos 60. Por influência da minha mãe que nasceu no Brasil ouvia muita música brasileira, discos de Tom Jobim, Vinicius Moraes, João Gilberto, Elis Regina e Caetano Veloso, entre outros. Quando o meu pai viajava a trabalho trazia-me sempre cds e livros com partituras de jazz para cantar ao piano, através dos quais conheci muitos standards. E assim fui ouvindo grandes nomes do jazz como Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Nat King Cole, Duke Ellington, Count Basie, entre outros. Também adorava ver os musicais de Hollywood, filmes com Gene Kelly, Fred Astaire, Judy Garland, Frank Sinatra, etc. No entanto, até abrir o curso superior de jazz na Escola Superior de Música do Porto ouvia jazz de forma descomprometida.

JD - que características musicais no jazz mais a interessam?

LV - A improvisação sem dúvida. A composição e os arranjos, a possibilidade de incorporar na música pequenos ingredientes de diferentes influências musicais. A forte componente rítmica, os grooves. Toda a informação, a exploração máxima da melodia, da harmonia, do ritmo, do som, etc. A criatividade, a interacção com os outros elementos do grupo, a criação de algo único no momento, a partilha. A expressividade, a interpretação e afirmação pessoais.

JD - atrai-a o solo improvisado?

LV - Bastante. Sempre gostei muito de compor. Vendo a improvisação como composição em tempo real, numa interacção constante com os músicos e o ambiente envolvente, torna-se um desafio ainda maior. Há uma certa adrenalina aliada a essa espontaneidade e criatividade exigidas. E quanto mais vou aprendendo mais divertido se torna, mais libertador...

JD - porquê a flauta transversal?

LV - A minha mãe tocava piano e acordeão, então desde cedo nos pôs em contacto com a música. Quando eu tinha mais ou menos 8 anos, ainda antes de entrar no conservatório, comecei a ter aulas de piano numa escola de música. Infelizmente tive azar com a professora e resolvi mudar de instrumento. A alternativa era a flauta transversal. E assim foi até terminar o curso clássico (flauta) na ESMAE. Depois apareceu o jazz...

JD - foi aluna do Berklee College of Music em Boston,  - é um colégio caro? teve prova(s) de admissão?

LV - Em 2008 depois de terminar o curso de jazz (canto) na ESMAE senti a necessidade de ir para fora. Optei pela Berklee pois tinha um bom feedback de amigos meus que tinham estudado lá. Fui a Paris fazer a prova de admissão e ganhei uma bolsa de estudo para estudar em Boston.

JD - que cadeiras frequentou e se formou?

LV - Não fui para a Berklee com o intuito de fazer um curso. Foi uma espécie de complemento daquilo que tinha aprendido até então. Foi muito importante para mim a passagem pelos Estados Unidos pelo seu dinamismo e a sua diversidade cultural e musical. Aí estive em contacto com músicos de todo o mundo com diferentes abordagens. Senti uma maior abertura para diferentes tipos de expressão musical. Durante o ano que estive em Boston tive a oportunidade de estudar instrumento (voz) com Rhiannon, Bob Stoloff e Dominique Eade, história do jazz vocal com Lisa Thorson, improvisação com Tomassi, Hal Crook e Mitch Haupers, composição com Dick Lowell e Jackson Schultz, solfejo rítmico indiano com Bruno Raberg, participei em combos de jazz, música do mundo, música brasileira e música africana, entre muitas outras actividades, workshops e concertos incríveis.

 JD - acha a voz um bom instrumento jazz?

 LV - Claro que sim, se for bem explorado. No campo da improvisação, para além de ser um instrumento com imensas possibilidades tímbricas, de dinâmica e de contraste, é muito imediato pois não temos que decifrar em notas aquilo que temos no ouvido. O problema é que dá trabalho saber ouvir...então por vezes é mais fácil ir pela intuição...seja ela boa ou má... No segundo caso, é necessário ganhar vocabulário e fazer o mesmo trabalho de casa que os outros instrumentistas. A meu ver, se acrescentarmos a isso o trunfo da letra, que pode levar a expressividade a outro nível, a voz é um excelente instrumento jazz.

JD - toca blues? porquê e para quê?

LV - Com pouca regularidade mas gosto da sonoridade, do feeling e da alma inerente a um bom blues.

JD - um erro é aceitável em jazz?

LV - Depende do que se entende como erro. Acho que revela maturidade pegar num suposto erro em tempo real e desdobrá-lo de forma a torná-lo interessante... deixa de ser um erro e passa a ser aceitável. Além disso, por vezes o que é um erro para uns faz sentido para outros.

JD - onde tem actuado? clubes? 'Musicaldas'?

LV - Como líder dos projectos tenho vindo a actuar maioritariamente no Norte em clubes de jazz como Breyner 85, Galeria de Paris, Hard Club (Porto), Tertúlia Castelense (Maia), Espaço Cultural Pedro Remy (Braga) e Contrabaixo (Mira). Com outros projectos de jazz e música do mundo toquei um pouco por todo o país assim como na Irlanda, Luxemburgo, Moçambique, entre outros. Quanto ao Musicaldas a minha participação será como professora do curso de canto jazz. 

 JD - no jazz há poucas mulheres instrumentistas e então flautistas...

 LV - Já estou a perder 2 a 0... Mas estejam atentos para o contra-ataque (risos)

 JD - compõe? apresente-nos seu tema que mais goste

 LV - Sim, adoro! Talvez o "Viagem".

JD - escreve letras para suas melodias?

LV - Sim, quando a música assim o sugere. Até hoje, quer para as minhas composições originais, quer para os meus arranjos, a letra surgiu depois. Dependendo das sensações que a melodia ou a harmonia me transmitem, tento encontrar as palavras adequadas.

JD - que músicos jazz nacionais e internacionais mais aprecia?

LV - É difícil escolher...t emos cada vez mais músicos de jazz de qualidade em Portugal. Então internacionais... Sem falar noutros estilos de música... Para simplificar vou nomear apenas alguns músicos jazz nacionais: Mário Laginha, Bernardo Sassetti e Maria João; cantores internacionais: Esperanza Spalding, Gretchen Parlato, Fay Claassen, Bobby Mcferrin e Rhiannon; e flautistas internacionais: Magic Malik e Nicole Mitchell.

JD - já tem gravações suas?

LV - Ainda não tenho nada meu editado. Mas pouco tempo depois de regressar da berklee, em Março de 2010, gravei uma demo com alguns dos meu originais em quinteto que se encontra disponível online na minha página do my space (www.myspace.com/luisavieira). Desde então tenho vindo a fazer pequenas alterações em determinados temas e a acrescentar novas composições originais ao projecto, com diferentes colaborações. Pretendo gravar o meu primeiro álbum brevemente. À  parte disso tenho uma pequena participação em duas faixas do cd "Porto" (2010) de Sofia Ribeiro e Gui Duvignau como flautista e cantora.

JD - toca standards? quais?

LV - Sim, gosto um pouco de tudo, quer sejam temas mais tradicionais, ou temas mais modernos.

JD - com quais músicos já tocou?

LV - Ainda tenho um longo caminho a percorrer mas tenho tido a oportunidade de tocar com excelentes músicos e amigos, nomeadamente Óscar Graça, Jeff Davis, Nuno Campos, Marcos Cavaleiro, Rita Martins, José Carlos Barbosa, José Marrucho, Susana Santos Silva, Leandro Leonet, Mário Costa, Donald Regnier, Marc Demuth, Nuno Ferreira, Patrick Groenland, Georgia Cusack, Dylan Coleman, Luisa Sobral, Katerina Polemis, Aurélien Lino, Gui Duvignau, Sofia Ribeiro e João Salcedo, entre outros.

JD - quando canta scat? scat aprende-se?

LV - Quando improviso com a voz ou canto um tema sem letra. É uma questão de gosto e contexto sonoro... qual o som que queremos tirar do nosso instrumento... qual o feeling que queremos dar a determinada melodia... é como trabalhar a articulação e a sonoridade noutro instrumento, por exemplo a flauta. Mais importante ainda que as sílabas usadas no scat é o fraseado, as articulações, acentuações, nuances, inflexões e dinâmica usadas, sem perder o groove. O scat não deve ser um obstáculo mas sim uma ferramenta para obter um discurso musical fluído.

 JD - é preocupação sua ter swing enquanto toca? swing aprende-se?

 LV - Preocupo-me em ter um bom sentido rítmico, em curtir a música, tocando muito e essencialmente ouvindo.

JD - como explica ter melhor solos improvisados do que outros?

LV - A meu ver a qualidade de um solo improvisado pode depender de várias coisas, entre elas o conhecimento da harmonia ou a métrica em questão, a inspiração nesse momento, a confiança do solista, o ambiente envolvente e a interacção com os outros músicos em palco.

JD - aprecia jazz comercial?  Diana Krall?

LV - Sim, se fôr de qualidade ou do meu gosto. Dependendo da circunstância, a níveis distintos e por razões diferentes sabe bem ouvir Diana Krall, Norah Jones, Michael Bublé, Jamie Cullum ou a encantadora Luísa Sobral por exemplo.

JD - obrigado Luísa  Vieira 

  LV - Obrigada eu por este tempo de antena!  

 


 
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