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Hugo Raro
14-06-2011 00:00
 

José Duarte - como surgiu nome do agrupamento jazz onde toca! 'Baba Mongol'!!!  

Hugo Raro - As duas expressões foram introduzidas no nosso vocabulário pelo To Torres, e passaram a ser por nós utilizadas com muita frequência. Uma das definições de 'Baba' é, mostrar prazer ou antecipação de prazer; 'Mongol' além de estar relacionado com a Mongólia, é para nós também uma Qualidade que as pessoas, situações ou qualquer outra coisa podem/devem ter, e que reconhecemos uns nos outros. Somos portanto uns Mongóis que gostamos muito de Babar.  

JD - porquê um quinteto clássico com 2 sopros e 3 para uma secção rítmica?  

HR -  Juntámo-nos e decidimos tocar os nossos temas como banda. Todos apresentamos temas, e nos ensaios, todos contribuem para que a música ganhe forma, e por esse lado a formação do quinteto foi natural. Calhou-me dar a cara pelos Baba, mas poderia ser qualquer um de nós. Não me lembro de nenhuma situação, em ensaio, em que uma ideia lançada por qualquer um de nós fosse recusada sem ser primeiro tocada. Enquanto preparáva-mos os arranjos para o disco, que foi editado pela TOAP/OJM, experimentamos tudo o que nos lembramos e tentamos "ver" a música de tantas perspectivas quantas conseguíamos. Por outro lado, procuramos manter o som o mais acústico possível, é assim que ouvimos esta música.  

JD - quando e como surgiu a linguagem musical jazz na sua vida? que idade tem?    

HR -  A primeira lembrança que tenho é de ouvir um disco do Chet Baker em casa de um amigo, que tocava baixo, nos últimos anos da escola secundária. Na altura já estudava piano, e tinha feito parte de algumas tentativas de banda  Rock, e procurei ouvir e conhecer mais discos e músicos, e conseguir tocá-la ....tenho 37 anos.  

JD - no cd 'Baba Mongol' em 8 temas três foram compostos por si, 1 por José Afonso e os restantes pelos outros músicos - porquê José Afonso?  

HR - Queríamos incluir no disco uma versão de um tema português, e Zeca Afonso é um nome incontornável da música portuguesa e do cancioneiro popular português, mas o que nos fez escolher um tema de Zeca Afonso foi o próprio tema "Que amor não me engana" , mais até do que quem o escreveu.  

JD - em que estilo acha vosso jazz se integra?  

HR -  Nunca pensei muito nisso, nem me preocupa saber isso. Não sei responder a essa pergunta.  

JD - como pianista conhece as discografias de Teddy Wilson e de Cecil Taylor que tocará em 'Jazz em agosto' em julho?  

HR - Do Teddy Wilson conheço melhor os discos que gravou com a Billie Holiday. Cecil Taylor, como um dos pioneiros do free,  tem o estatuto de "Mestre Mongol" do jazz.    

JD - aprendeu jazz? jazz aprende-se? com quem? onde?   HR - A harmonia, a melodia, o ritmo, a historia, a evolução e o porquê de certas c

oisas terem acontecido em determinada altura, em resumo, as ferramentas para conseguir tocar jazz aprendem-se. Depois é preciso saber o que fazer com essas ferramentas. Aí entra o lado Mongol da música, e isso não tenho a certeza que se aprenda. Comecei aprender na Escola de Jazz do Porto com o Pedro Guedes. Depois fui para Londres três anos onde estudei na Middlesex University, mencionando apenas o ensino académico.  

JD - pratica outras músicas?  

HR -  Penso que o único preconceito que tenho em relação a isso, é o meu próprio gosto. Desde que seja boa música toco tudo.  

JD - de quais outros pianistas portugueses e estrangeiros gosta mais?  Bill Evans, Keith Jarrett, Mário Laginha, Thelonious Monk?...  

HR - Além dos mencionados, e com certeza que vou esquecer de alguns, Art Tatum, Bud Powel, Wynton Kelly, Paul Bley, Herbie Hancock, Ethan Iverson, Uri Caine, Jonh Taylor, João Paulo Esteves da Silva, Django Bates, George Duke, Hank Jones  

JD - no repertório de 'Baba Mongol' não são usados standards?  

HR -  Até ao momento não pensamos em tocar standards nos Baba, mas não e uma ideia que esteja definitivamente posta de lado. Gostaríamos de fazer mais versões de temas portugueses.  

JD - onde tem tocado? clubes jazz portugueses? CCB? Onda Jazz? Casa da Música?...    

HR - Sim, CCB e Casa da Musica, alguns Festivais, auditórios um pouco por todo o país, e clubes de jazz aqui pelo Porto e Norte. Não é tão fácil conseguir tocar em clubes mais a Sul.  

JD - utiliza teclados amplificados ou só pianos acústicos? porquê?  

HR - Utilizo teclados também, dependendo do que a música pede. Em algumas bandas como "Mandrax", "Acácio Salero Secret Apache" ou "Low Budget Research Kitchen" só toco teclados. Também gosto de tocar teclados desde que seja para usufruir da electrónica possível desses instrumentos. Não gosto de tocar piano em pianos eléctricos. Não soa ao real, por melhor que seja o teclado, mas às vezes não há outra alternativa.  

JD - como acha o mini mundo jazz em Portugal? público, crítica, escolas, lugares para tocar, possibilidades para gravar e editar cd (Clean Feed, TOAP, JACC), popularidade jazz?  

HR - Penso que ainda há muito a fazer, mas é justo dar valor ao que já foi feito. A oferta de escolas não têm comparação com o que se passava há uns anos. O que faz com que haja cada vez mais músicos, e a tocar muito bem. A qualidade, quantidade e diversidade da musica feita neste pedacinho de terra é impressionante. Era bom que existissem mais lugares onde tocar, especialmente para quem toca jazz que não é mainstream, e que os clubes ou bares apostassem em ter a mesma banda em cartaz durante uma ou duas semanas, ou então organizar um circuito nacional de locais onde os músicos pudessem apresentar e desenvolver a sua música regularmente. Penso que o público reagiria a isso. A recém criada Associação Porta- Jazz, constituída por músicos do Porto, organizou dois eventos distintos que são a prova disso. O primeiro foi o Festival Porta-Jazz. Durante dois dias apresentaram-se treze bandas no mesmo espaço da baixa do Porto, e o público disse presente. O segundo foi o ciclo Porta-Jazz onde oito bandas se apresentaram em oito bares e clubes do Porto, em oito sábados consecutivos. Mais uma vez o público esteve presente e os dois eventos foram um sucesso.  

JD - pensa que o que hoje define jazz é o quase exclusivo lugar para a  improvisação (embora em todas as Músicas haja espaço/tempo para improvisações) e o domínio do discurso pessoal jazz (fraseado jazz, uso de blue note, influência de um dos estilos jazz) dado que o swing clássico já só pertence ao jazz mainstream)?  

HR -  Não concordo, penso que o jazz é tudo o que foi feito , desde o inicio até aos dias de hoje. Continua a haver espaço para todos os estilos, mesmo nos dias de hoje.  

JD - seus conhecimentos jazz também se devem à leitura livros/revistas jazz, audição discos jazz, rádio jazz, troca de infs com outros músicos jazz?   HR - Com certeza que sim. Mas especialmente ao ouvir discos e a partilha entre músic

os.   JD - improvisa com facilidade ou leva 'bengalas' para seus solos piano improvisados?   HR - Improviso com facilidade, agora a qualidade do improviso, isso é outra coisa. Nunca abordei um solo com "bengalas" ou frases pré concebidas, mas penso que é natural, que inconscientemente, recorra algumas vezes às mesmas soluções, ou escolha os mesmos caminhos nos solos. Quando noto que isso está a acontecer tento procurar outros caminhos e "forçar-me" a encontrar mais recursos.   JD - qual é a sua opinião sobre free jazz estilo que apareceu há décadas?   HR - É um estilo que gosto muito de tocar.   J

D - aceita que se toque jazz num instrumento que se não sabe tocar ou se toque mal?    

HR - Acho que é o mesmo assunto do ser ou não possível aprender jazz. Por hipótese é possível que alguém que com poucas ferramentas no instrumento consiga fazer boa musica, por mais simples que seja, e que tenha o lado Mongol tão apurado que se consiga reinventar e "aprender" fazendo, o suficiente para que a musica se mantenha interessante, mas as probabilidades não são a favor. Não me lembro de ninguém para citar como exemplo. Sem se estudar o instrumento chega-se ao limite do que se consegue fazer num instante.  

JD - à semelhança de quase todos músicos jazz portugueses também não presencia concertos jazz em Portugal com músicos estrangeiros?  

HR - Vou aos concertos que quero e posso assistir, sejam de músicos portugueses ou estrangeiros.  

JD - o que é uma blue note?  

HR - É o que torna o blues Mongol.  

JD - é raro tocar blues?  

HR - Muito pelo contrário, é bastante frequente, mesmo que seja a solo ou em estudo. O blues tem Baba.  

JD - preocupa-se quando toca com o balanço de seu tocar?  

HR - A musica tem de balançar e deve ser para dançar, mas algumas das "danças " serão, certamente, mais extravagantes que outras.  

JD - comente a maneira de tocar piano de Count Basie e John Lewis  

HR -  Dois pianistas que primam pela simplicidade, economia de recursos e espaço.

JD - soube agora mesmo que o pianista jazz Ray Bryant foi-se embora com 79 - conheceu seu jazz?  

HR - Confesso que não é dos pianistas que segui com mais atenção...  

JD - obrigado Hugo Raro  


 
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