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Gonçalo Sousa
31-05-2011 00:00
 

José Duarte - quando e como jazz chegou a seu conhecimento?

Gonçalo Sousa - Desde novo, por influência familiar, ouvi alguns ícones do jazz, tais como Frank Sinatra e Cole Porter e as suas orquestras, no entanto foi através da audição dos discos do João Gilberto com Stan Getz e a atracção pelo improviso que me levaram a procurar essa linguagem denominada de jazz.

JD - hoje em dia estuda e pratica jazz?

GS - De forma a manter o nível musical, e uma vez que trabalho a ´full-time` sem ser na música, é me exigida uma organização bastante disciplinada para conseguir praticar pelo menos uma hora a hora e meia por dia.

JD - como chama a seu instrumento: gaita de beiços ou harmónica de boca? cromática porquê?

GS - Harmónica cromática. É cromática dado que tem as 12 notas que constituem a escala cromática ocidental, sendo assim, podemos tocar em qualquer tom devido a uma engenhosa corrediça chamada "slide button" ou pistão. Este pistão faz com que se obtenha meio tom acima ou abaixo pressionando-o (eu utilizo uma harmónica Hohner 270 que está afinada em dó, sendo o dó mais grave o dó central num piano e tem uma extensão de 3 oitavas).

JD - liga sua harmónica à eletricidade ou toca-a acústica?

GS - Depende do contexto em que toco, mas normalmente tenho de amplificar a harmónica, usando um microfone, para que eu e os músicos com quem toco consigamos ouvir a harmónica, visto que é um instrumento com reduzida capacidade de volume de som.

JD - tem instrumentistas que o influenciam? quais?

GS - São muitos os músicos que me influenciaram e influenciam e acima de tudo me inspiraram e inspiram a continuar a tocar. Neste leque vastíssimo de músicos poderei dividi-los em três grupos: a) aqueles com quem partilho o seu talento e conhecimento musical seja num palco ou numa aula, e poderei citar alguns tais como João Moreira, Afonso Pais, Bruno Santos, Filipe Melo, Victor Zamora, Barros Veloso, André Santos, Júlio Resende, Gonçalo Marques, Nuno Ferreira, Perico Sambeat, Pedro Moreira, André Carvalho, Joana Espadinha, Zé Maria, Luís Barrigas, Bruno Pernadas; b) aqueles com quem aprendi através dos seus discos ou concertos tais como Carlos Paredes, Tom Jobim, Claude Debussy, Richard Galliano, Miles Davis, J.S. Bach, Stan Getz, Chopin, Paco de Lucia, Vicente Amigo, Pearl Jam, John Coltrane, Clifford Brown, Astor Piazzola, Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Bernardo Sassetti, Hank Mobley, Pink Floyd, Elis Regina, Heitor Villa-Lobos, Dave Matthews Band, Dexter Gordon, Freddie Hubbard, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, João Gilberto, Chet Baker, Hamilton de Hollanda, Pixinguinha, Bill Evans, Lee Morgan, Mário Laginha, Art Farmer, Caetano Veloso, Sérgio Godinho, Michel Petrucciani, Paquito de Rivera; c) neste grupo estão inseridos os músicos que me influenciaram na escolha e no prosseguir do estudo da harmónica e aí destaco o músico que me levou a estudar harmónica, o António Serrano (após um concerto em 2003 no Hot Clube com o pianista André Sarbib), Toots Thielemans, Stevie Wonder, Gregoire Maret, Larry Adler, Gabriel Grossi, Mauricio Einhorn, Raul Mendes e José Peralta.

JD - conhece a discografia de Muddy Waters?

GS - Conheço pouco, é sem dúvida um "grande" mestre dos blues, mas não foi uma influência no meu desenvolvimento musical.

JD - descreva a quem nos lê o que é um blues? musical e socialmente

GS - Um blues é acima de tudo um estado de alma, tal como outros estilos musicais culturalmente diferentes, como o fado, o flamenco ou o tango. Musicalmente, o blues tradicional é apresentado numa estrutura com um ciclo de 12 compassos, com sucessões tónica/ sub-dominante/ dominante (exemplificando um blues tradicional em Dó, seria: dó de sétima, fá de sétima e sol de sétima, estes seriam os acordes base), em que é muito utilizada a chamada blue note, a terceira menor numa tonalidade maior (num blues em dó seria o ré sustenido). O blues nasceu da assimilação das várias formas musicais do povo afro-americano, desde os tempos das plantações de algodão e das famosas work songs dos afro-americanos, provém de uma tradição de canção em que se expressava de modo pessoal e melancólico as angústias, sofrimentos e tristezas deste povo àquela época.

JD - que lhe parece a Música de Tooths Thielemans?

GS - Conheço muito bem o trabalho de Toots Thielemans, apesar de não ser a minha grande referência em termos jazzísticos. O Toots foi o primeiro músico no panorama do jazz a dar crédito a um instrumento tão subestimado como é a harmónica.

JD - toca sua harmónica em outras músicas? quais?

GS - Sim, tento abranger o mais variado tipo de linguagens musicais, desde clássico, bossa nova, chorinho, pop, tango, rock, funk, reaggae, drum´n´bass, este ano tive a oportunidade de gravar com dois grandes artistas angolanos Don Kikas e Eduardo Paim em que o semba foi o estilo músical apresentado.

JD - que tal tem sido sua experiência ao tocar com a voz de Maria Anadon?

GS - Tem sido excelente, até porque não é todos os dias que se pode partilhar musica com tais músicos, além que me identifico muito com o reportório que é desenvolvido no quarteto da Maria.

JD - há outros instrumentistas portugueses em harmónica próximos do jazz? quais?

GS - Que eu conheça só o João Luz, que toca harmónica diatónica muito bem. Penso que continua a ser um instrumento muito subestimado, e que ainda subsiste o estigma que a harmónica é um instrumento tocado pelos "ceguinhos no metro" ou  utilizado apenas no "blues", mas basta ouvirem o António Serrano a tocar e vão perguntar se aquilo é mesmo uma harmónica, e caiem por terra todos esses preconceitos.

JD - improvisa a solo em concerto público?  prepara seus solos?

GS - Muito raramente improviso a solo, até porque utilizo a harmónica como se se tratasse de um trompete ou saxofone. Quanto aos solos preparo-me para a improvisação, estudando a melodia, a harmonia, no entanto a abordagem ao solo terá de acontecer no momento da improvisação, senão a meu ver isso não será um improviso.

JD - qual o repertório onde se sente melhor: blues, standards, originais?

GS - Depende, mas sinto-me bastante à vontade nos "meus" originais e a tocar standards jazzísticos, o blues vai no momento, mas não me considero um "blues man". 

JD - ter swing é uma preocupação em si permanente ou é um swingman nato?

GS - Não sou um swingman nato, ou seja, o swing é uma coisa que trabalho, até porque o jazz é uma linguagem que apesar de estudar há já vários anos não cresceu comigo, poderei dizer que me sinto bastante "em casa" a tocar música brasileira, desde do choro à bossa e ao mpb.

JD - onde tem atuado? CCB? Casa da Música? clubes jazz?

GS - Penso ter tocado na grande maioria dos clubes de jazz em Lisboa, mas ainda não surgiu a oportunidade para tocar no CCB ou na Casa da Música.

JD - vive com os euros que ganha como músico?

GS - Longe disso, não toco com tanta frequência para poder viver da música, além que tenho outra profissão e é dessa que vivo financeiramente.

JD - quantas harmónicas tem? é um instrumento caro?

GS - Tenho várias, mas estão praticamente todas à espera de arranjo, infelizamente não conheço ninguém que as arranje. É um instrumento que apesar de ser barato (cerca de 90€) torna-se caro dado o seu curto período de vida, que em média são 6 meses (dependendo da frequência com que se toca, dos cuidados com o instrumento e do modelo da harmónica).

JD - no jazz ou fora dele já tocou outro instrumento? porquê? para quê?

FS - Sim, até porque o meu primeiro instrumento musical foi a guitarra eléctrica. Toquei primeiro rock e blues na guitarra eléctrica (15 anos), depois iniciei o estudo da guitarra clássica no centro musical de cascais em 1997 com 16 anos, aos 21 iniciei os estudos na escola do Hot Clube em guitarra jazz ao mesmo que tempo que frequentava o estudo da guitarra portuguesa na Escola do Museu do Fado (cheguei a fazer uma apresentação num festival de homenagem ao Carlos Paredes na Aula Magna), entretanto em 2003 (22 anos) iniciei o estudo de piano jazz com Filipe Melo e iniciei de forma autodidacta o estudo de harmónica cromática, mais tarde "aventurei-me" a estudar trompete. Penso que é a curiosidade por diferentes sonoridades que me levaram a querer aprender vários instrumentos, sendo que ainda há vários que pretendo aprender (nomeadamente saxofone, bandoneon e bateria).

JF - obrigado Gonçalo Sousa

 

 


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