PROJECTO TOAP/GUIMARÃES JAZZ 2013

A parceria entre o Guimarães Jazz e a editora Tone of a Pitch tem vindo, ao longo das suas sucessivas reencarnações, a desenvolver um trabalho importante de criação de espaços de visibilidade, reconhecimento e valorização dos músicos de jazz portugueses, tanto em colaboração com músicos estrangeiros de renome como num formato de apresentação de projectos em nome próprio. É este o caso desta edição de 2013, em que convidámos o jovem saxofonista e compositor João Guimarães a reunir, com total autonomia, uma formação para interpretar em palco e gravar temas da sua autoria. Esta estratégia resulta da conjugação tanto da vocação própria de uma editora com a identidade da TOAP como da forma como perspectivámos o papel de um festival como o Guimarães Jazz no contexto da música portuguesa. Mas é também um sinal incontornável da existência, hoje, de uma geração de músicos em Portugal mais preparada, mais competente e com um trabalho artístico mais relevante na área do jazz, que exige de todos os mediadores e agentes a maior atenção e empenho no sentido de lhes permitir processos sustentados de crescimento e consolidação do seu trabalho.

O percurso de João Guimarães é marcado por uma fase inicial, muito precoce e veloz, de ascensão e afirmação no panorama jazzístico português, tendo colaborado com alguns nomes históricos desta música, tendo-se seguido a esta um período de intensa aprendizagem e formação em Nova Iorque. Actualmente, este jovem músico atravessa um momento crucial de definição da sua identidade musical, que parece passar pela experimentação de territórios tangenciais e adjacentes ao jazz sem abdicar de um classicismo modernista ancorado na memória do jazz fundacional e nos movimentos de vanguardas que ajudaram a construir a sua história. Este talvez seja o mapa através do qual podemos entrar neste trabalho, que apresenta composições do saxofonista interpretadas por um alinhamento de músicos idiossincrático e invulgar, que junta lado a lado nomes emergentes da cena jazzística de Brooklyn com jovens instrumentistas portugueses. Contidos e subtis, os temas aqui presentes revelam uma visão artística que parte das coordenadas de um jazz post-bop e se expande por paisagens e espaços mais abstractos e líricos nas margens de todas as linguagens musicais contemporâneas, que revelam a procura pessoal por uma música sincrética e aurática que enfrenta um elemento de risco mas que não abdica de trilhar o caminho da sua própria e irredutível singularidade.

Ivo Martins