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João Paulo
09-07-2009
 

JD - tem experimentado outros pianos que não somente os acústicos?

João Paulo -  Piano é piano. Mas, claro, existem outros instrumentos de tecla, alguns dos quais gosto bastante de tocar  como  acordeão,  órgão, cravo,  fender rhodes... em contrapartida, dou-me bastante mal com os teclados digitais do tipo «clavinova» e seus sucedâneos.

JD - piana só jazz ou outras Músicas também? quais?

JP -Deixe-me oferecer um pouco de resistência a esse verbo «pianar». Digo porquê. Pianar( para além de me fazer pensar num jogador de futebol, Pienaar) põe a tónica, a ênfase,  no instrumento de trabalho e não no trabalho propriamente dito. Equivaleria a dizer «pincelar» no caso do pintor ou «canetar» no caso do escritor. Por isso prefiro o verbo habitual, tocar, e é isso que reconheço fazer. Toco jazz, música clássica, música tradicional, rock, pop,  admitindo que estas classificações façam sentido.

JD -  pianistas jazz que recomende

JP - Não consigo fazer recomendações, em geral, sem conhecer a quem, porque nem tudo é recomendável para todos. Mas posso fornecer uma lista, muito incompleta, de pianistas que aprecio: Keith Jarrett, Thelonious Monk, Bud Powell, Herbie Hancock, Earl Hines, Bill Evans, Fats Waller e muitos outros....  Duke Ellington, Duke Jordan, Abdullah Ibrahim  etc.

JD - estive num notável concerto seu com Ana Brandão - escreva-nos sobre a decisão de escolher aquele repertório e de como o trataram

JP -O concerto a que assistiu teve lugar por alturas de 25 de Abril, o repertório comemorava um pouco essa data, com canções do Zeca, do Eisler, José Mário Branco, por exemplo. Noutras alturas, o repertório seria diferente. A escolha das canções tem vindo a surgir de forma improvisada: Um de nós propõe, experimentamos e a canção fica, ou não fica, conforme o êxito da experiência. 

JD - a sua discografia jazz

JP -(Subentendo discografia em nome próprio). Cá vai:

Serra Sem Fim, 1994(Quarteto com Jorge Reis, Mário Franco e José Salgueiro)

O Exílio, 1998, Almas, 1999, (Trio com Peter Epstein e Carlos Bica)

Esquina, 1999(Duo com Peter Epstein)

Nascer, 200o (Trio com Peter Epstein e Ricardo Dias)

Roda, 2001(Piano solo)

As Sete Ilhas de Lisboa, 2003(Trio com Paulo Curado e Bruno Pedroso)

Quase Então, 2004( Duo com Paula Oliveira)

Memórias de Quem, 2007(Piano solo)

Scape Grace, 2009(Duo com Dennis Gonzalez)

White Works, 2009( Piano solo, música de Carlos Bica)

JD - gravar piano acústico a solo foi um desafio?

JP - Não, pelo contrário, o desafio tem sido não gravar mais vezes a solo.

JD - para um pianista que pratica várias Músicas em que é que jazz se distingue das outras?

JP -O Jazz tem uma história. Fazer ou não fazer parte dessa história pode servir como critério de distinção. E a história ainda não acabou; por isso ainda não é possível identificar os elementos que constituiriam a essência da coisa jazz; é que  o vivo safa-se sempre  das definições. Quando a história acabar, então será possível, talvez, nomear a essência do jazz morto, e o mesmo nome servirá, depois da autópsia, para identificar a causa da morte.

JD - quais são os pianistas jazz que prefere porquê?

JP - Na pequena lista supra estão alguns dos pianistas que mais aprecio. Aproveito agora para acrescentar dois amigos: Mário Laginha, Bernardo Sassetti. Quanto ao porquê não há porquê, como na rosa do Silesius.

JD - o ataque ao teclado com clusters e outras técnicas são da sua preferência? porquê?

JP - Acontece-me atacar o teclado com clusters, sim, acontece-me também atacá-lo com outras técnicas, penso que tenha a ver com o sistema hormonal endócrino.

JD - toca blues amiúde? porquê?

JP -Sim, muitas vezes. Porquê  amiúde, ou porquê blues? Nem a uma nem a outra saberia responder.

JD - conhece bem o pianar de Art Tatum? impressões

JP -Sim. Acho admirável mas não me apaixona. No Art Tatum impressiona-me mais o pianar( para usar o seu verbo) do que a música.

JD - Bill Evans e Keith Jarrett foram os instrumentistas que marcaram já mais do que uma geração de pianistas jazz portugueses e de outras nacionalidades - e para si quem são seus Mestres?

JP -Entre os meus mestres de jazz estão esses, claro, mas também outros  músicos, não pianistas, Miles Davies, Ornette Coleman, Charlie Parker, Wes Montgomery etc.

JD - compõe? quais compositores são para si os mais notáveis? porquê?

JP -Sim. Bach, Mozart, Beethoven, Chopin, são os compositores que, na minha opinião, chegaram mais perto da música, e atingiram, na escrita, o nível da improvisação. No nosso tempo, só Györg Ligeti se lhes pode comparar.

JD - temas musicais que prefere retocar em improvisações?

JP -Não tenho preferência; tudo, ou nada, o vazio, serve para improvisar.

JD - peça de improvisação em piano jazz que conheça gravada e que o impressione muito?

JP -Por exemplo: In Front, de Keith Jarrett, no disco Facing You.

JD - importância de Jason Moran como compositor - inventor de novas formas - improvisador

JP - Peço desculpa, conheço mal o Jason Moran,  não estou em condições de opinar.

JD - sua opinião sobre a nova geração de pianistas jazz portugueses

JP - São cada vez mais e melhores. Quando comecei a tocar jazz éramos três ou quatro. Hoje vejo-me rodeado por dezenas de jovens pianistas talentosos. Custou mais foi.

JD - há uma tradição clássica europeia para pianistas jazz europeus?

JP -Sim. Mas também há uma tradição europeia para pianistas de jazz americanos. Talvez seja mais difícil na Europa encontrar um caso como o do Thelonious Monk no que respeita à técnica pianística, ou como o do Horace Silver( mais um mestre que me tinha esquecido de mencionar), mas a tradição europeia faz-se sentir tanto lá como cá. É isto que permite o paradoxo de os inventores do chamado «jazz europeu» serem americanos: Ornette, Charles Loyd, Jarrett, Braxton etc.  

JD - quais as características que uma peça para ser de jazz deve possuir?

JP - Como dizia o Humpty Dumpty, tudo depende de quem manda na palavra. É o detentor do poder que decide quem entra e quem sai do jazz. Umas vezes o critério é largo, doutras vezes tudo se decide num pequeno sinal, um estigma, um ritmo sagrado, um fetiche, umas cuecas de renda que se tornam mais importantes do que o corpo da amada.

JD - jazz pode/deve ser ensinado?

JP -Sim, claro, pode e deve, como qualquer  arte. Para aquilo que, no jazz, toma  a forma de um sistema de conhecimentos, o ensino deverá ser sistemático; naquilo que constitui mais propriamente a vida da arte, o ensino terá de assumir a forma de um convívio. Uma boa escola poderá proporcionar as duas abordagens em simultâneo.

JD - obrigado João Paulo

JP- De nada.

 

julho 09

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José Duarte

 

 
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