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jazzman em UK Londres
17-01-2020
 

José Duarte – primeiro a história… como aparece um CD jazz com uma grande orquestra jazz – são 17e você – consigo isolado ? quanto anos tinha melhor quando descobriu o jazz e o começou a praticar? e agora porquê em Inglaterra e vive em Londres e toca guitarra… devia ter sido difícil…


Paulo Dias Duarte –
 O CD a aconteceu porque uma produtora de concertos de musica improvisada chamada Lume Music London  encomendou-me uma peça para Big Band para ser tocada no Vortex Jazz Club em Londres. Nisto o Oliver Weindling que é o programador do clube e simultaneamente director da Babel Label, ofereceu-se logo para investir na banda e publicar o CD.
Mas o Overground Collective já existia antes só que era um projecto em constante reciclagem. Isto é, havia uma grande rotação dos músicos em função da sua disponibilidade para os concertos, mas depois do concerto do Vortex a formação fixou-se.  
De certa maneira foi muito positivo ter tido muitos músicos a passar pela banda. Foi uma triagem muito natural em que só ficou quem realmente se interessou por esta música. É claro que desenvolver este trabalho em Londres foi mais fácil porque a cidade tem mais músicos e eu tinha já uma grande comunidade que vinha desde os tempos da universidade que me ajudou bastante.

A Big Band sempre foi o meu instrumento predilecto e a guitarra foi apenas um meio para lá chegar. Desde a adolescência que toco guitarra, primeiro no clássico depois no Jazz e gosto muito de tocar, mas quando estou cercado de virtuosos como é o caso do Overground Collective, sinto que é melhor por os olhos nas partituras e usar os dedos para contar compassos

JD – jazz não se ensina só se aprende explique melhor embora esta frase certa esteja pois não deveria existirem escolas de jazz mas sim escolas de Música como a Berklee em Boston nos USA…

PDD – Essa frase é funciona para o Jazz, mas aplica-se também a todas as outras formas de conhecimento. Nunca ninguém nos ensinou a pensar, mas todos nós pensamos. Uns melhores que outros, é certo, mas nunca ninguém nos ensinou. Ora, se ninguém nos ensinou a pensar como é que aprendemos a faze-lo?
Se olharmos com atenção verificamos que no inicio de cada ano lectivo entram centenas de artistas, engenheiros, médicos, advogados e outras profissões para as universidades, mas no final de cada ano saem de lá muito poucos. É certo que há alunos que aprendem mais rápido do que outros, mas aí a responsabilidade é do alunos e não do professor nem da escola.

Cada segue o seu modelo de pensamento, mas estou convencido que não existe paradigma para escola perfeita. Na verdade acho que uma pessoa que queira aprofundar uma área do conhecimento qualquer já é o que quer ser antes de entrar para a universidade e vai para lá para poder aprofundar e aperfeiçoar os seus interesses... ou não.


JD -  foi a vez primeira que compôs ou escreveu arranjos? é necessário para o trabalho sair melhor conhecer as capacidades de cada músico? nestes reconhece-se uma técnica jazz instrumental espantosa…

PDD – Tenho muita prática a escrever arranjos. É um trabalho que gosto muito de fazer porque me obriga a ser criativo e a lidar com as limitações. Mas no caso do OverGround Collective é o contrario, não há limitações. 

Como conheço bem as capacidades individuais de cada um, posso dar me ao luxo de escrever os arranjos quase em parceria com os músicos de maneira a poder explorar as sonoridades e os interesses de cada um. Há músicos que são especialistas em Free Improv e outros num Jazz mais tradicional. O meu trabalho é dar espaço a todos. 

Também o facto de haver muitos multi-instrumentistas na banda ajuda muito a criar sonoridades pouco comuns no universo da Big Band. Como por exemplo poder transformar uma secção de saxofones num quinteto de clarinetes baixos, ou fazer aparecer um trio de flautas. Nesse aspecto, sinto-me muito sortudo pois o Overground Collective é uma banda de luxo.

 

JD – em Portugal seria difícil se possível escolher 30 e tal músicos para obter 2 big bands jazz como esta… uma enfim… dacordo?

 PPD –  Enquanto trabalhei em Portugal tive sempre músicos interessados em tocar outras músicas e trabalhei sempre com pessoas muito sérias, de altíssimo nível e excelente profissionalismo. Tenho a idea de que Portugal não há muito a tradição de os músicos fazerem dobragem de instrumentos ou serem até multi-instrumentistas. Talvez seja essa a maior diferença. Em Londres é espectável que um saxofonista de Jazz toque pelo menos flauta e clarinete, as deixei o país em 2003 e consequentemente deixei de seguir a cena Jazz em Portugal. Por isso não sei muito bem como é que as coisas estão agora. 

 

Na verdade, acho que em Portugal sempre houve músicos da Jazz fantásticos e tão bons como nos outros países. Mas quando eu vivia em Lisboa, no fim dos anos 90 achava que havia poucos compositores de Jazz e dispostos a compor música de vanguarda. Sem compositores os músicos estão sempre a tocar o mesmo reportório. No entanto, nos últimos 20 anos criaram-se universidades e centros de estudos que formaram uma nova geração de músicos e compositores que está aí para virar tudo de pernas para o ar.


JD – em Portugal só vejo melhor oiço um big band com este ‘luxo’… a LUME gosta da discografia de LUME? porquê?

PDD – Acho o LUME um projecto interessantíssimo e sou muito amigo deles. Vi-os ao vivo umas duas vezes e adorei. Infelizmente não tenho nenhum disco deles, mas lembro-me de ter ouvido umas peças na rádio e ficar com a ideia de que eles tinham muitos samples e que usavam o estúdio de gravação como um instrumento musical. Pareceu-me uma abordagem muito inovadora. Tenho que ouvir mais.


JD – ouve jazz gravado? conhece CDs da Maria Schneider Big Band? e da de Charlie Mingus do jazz clube nova iorquino ‘Standard’? comente as diferenças por fvr

PDD – Não sou um coleccionador de discos. Nem lhes dou muita importância, mas vou a concertos sempre que posso. O concerto da Mingus Big Band no Seixal Jazz por alturas do principio do século foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Tudo aquilo era mágico. A brutalidade daquele som mudou completamente minha maneira de pensar a música.
Mais tarde a música da Maria Schneider mostrou-me o espectro dinâmico da Big Band e fez me perceber que a Big Band ía ser sempre o meu instrumento de eleição.

JD – qual a sua opinião sobre o valor jazz atual do jaz em Portugal e de seu público que ‘parece’ ser conhecedor… parece porque enche as salas da Músicas em Portugal uma em cada cidade várias em Lisboa

 PDD –  O Jazz em Portugal actualmente vale ouro. E ainda agora está no principio, porque desde a introdução do Jazz no ensino superior vão ainda aparecer mais músicos que vão criar uma cultura muito mais forte á volta do Jazz e da Música improvisada. E o público está a acompanhar esta transformação. Eu lembro-me que no final do século passado os concertos do Jazz em Agosto começavam com plateias esgotadas e terminavam com meia sala, mas isso hoje já não acontece. O jazz mudou e o publico acompanhou essa transformação. É claro as Universidades estão ser importantes para esta mudança, mas também tem havido uma combinação de factores que tem levado a um grande esforço na a divulgação da musica improvisada: Há mais festivais de Jazz, os programadores arriscam cada vez mais, há mais espaços para a musica improvisada, há Clean Feed, há a 
Jazz.pt e deve haver muito mais iniciativas que eu nem sei. Por isso acho que há sem duvida uma dinâmica muito positiva há volta do jazz e da musica improvisada.


Na minha opinião, As artes em geral e a artes performativas em particular são a forma mais eficaz no combate à cultura de massas. E não tenho duvida de que a música é a melhor ferramenta para criar comunidades e estabelecer elos emocionais e políticos entre as pessoas. Portanto, acho normal que quem queira pensar de forma diferente e tenha necessidade de criar comunidades reais, fora da internet, procure nas artes performativas uma forma libertação da auto-repressão que a obsessão com a imagem e a internet nos impõe. O pináculo desta formas de expressão é o Free-Improv, que é o único género de música que é acessível a toda a gente e que consequentemente é tão odiado por uns e tão amado por outros. É Por isso que acho fantástico ver o publico e sobretudo os mais jovens abertos a formas de musicais extremamente complexas e revolucionárias e ao mesmo tempo tão autenticas e verdadeiras como são o Jazz e o Free-improv.


JD – quem é este ‘Super Mário’? o título deste CD da ‘Overground Collective’… é o 1º?   e porquê os títulos das faixas são de 1 a 7 Part?

PDD – O Super-Mário é uma peça em 7 partes. A peça foi uma Encomenda, de tema livre e que tinha um prazo de entrega muito claro. Por isso andei algum tempo perdido sem saber exactamente o que queria compor. Entretanto fui vasculhar os meus arquivos e encontrei um caderno de notas dos tempos que estudei com o Mário Delgado na Escola de Jazz do Barreiro que tinha lá uma série de exercícios que exploravam a alternância de notas em padrões de intervalos. Eu achei aquilo muito interessante e comecei a desenvolver padrões semelhantes aos quais ia dando nomes tipo: Mário I, Mário II e por aí fora até encontrar o padrão que serviu de base para as sete partes da peça e que chamei de Super-Mário. Cada uma das sete partes da peça usa uma técnica generativa diferente para o desenvolvimento motívico do mesmo padrão de intervalos musicais que é tocado pela guitarra no primeiro compasso da parte I.

JD – nesta formação de 18 músicos há 2 mulheres Julie e Rachel que tocam flauta… elas e um tal de Chris… será flauta o instrumento para mulheres? um filha minha toca flauta jazz e em Música escrita… mas qualquer das ‘tuas’ duas flautistas tem sonoridades quando querem ‘masculinas’… jazz é uma maneira de tocar…

PDD – Na verdade é há 4 mulheres na banda. Uma que toca trompete, feliscorne e electrónica chamada Yazz Ahmed e mais três saxofonistas: a Julie Kjær que toca saxofone alto, a Rachel Musson, que toca saxofone tenor e a Cath Roberts que toca saxofone barítono. Todas elas são multi instrumentistas e são band leaders nos seus próprios projectos. Neste momento são talvez as quatro mulheres mais influentes na cena Jazz e Free Improv em Inglaterra.

Há com certeza formas de frasear melodias que diferenciam os vários estilos de música, mas quanto a sonoridades masculinas ou femininas, confesso que não consigo reconhecer o sexo dos músicos pelo som dos seus instrumentos.

 

JD – o piano está a viver sua decadência na Música improvisada o jazz… entre mais de 18 o piano não foi necessário verdade?

PDD – Prescindir do piano para o Super-Mário foi uma decisão consciente, pois na altura achei que não havia necessidade. No entanto e pianista está lá e o piano vai ser utilizado no próximo disco.
Há também um lado pratico, pois para mim é importante que a banda se mantenha transportável e capaz de montar um espectáculo em qualquer espaço sem necessidade de recorrer a amplificação externa. Por isso em vez de usar um piano artificial resolvi assumir os sintetizadores e utilizar também um baixo eléctrico em vez de um contrabaixo.

JD – em 10 músicos ou que o dizem ser 4 tocam guitarra elétrica () a que se deve? instrumento mais barato ou na moda há mei0 século 20 ou mais fácil de o não tocar…

PDD – A ideia de que a guitarra eléctrica é um instrumento barato é uma ilusão, porque o instrumento não termina nas cordas, pois o amplificador e toda a parafernália de electrónica que molda a som fazem parte do instrumento. Quando isso é tudo somado a guitarra fica tão cara como os outros instrumentos todos. Há amplificadores para guitarra eléctrica que custam o preço de um piano de cauda de uma sala de concerto, mas a vantagem da guitarra é que se pode ir comprando os componentes aos poucos. E isso é em si um hobby muito interessante.
A guitarra é muito eficaz e muito intuitiva para acompanhar outros instrumentos, mas não gosta de fazer mais nada. Isto é, a guitarra é mutante e quando a forçamos a fazer coisas que ela não quer, como fazer solos em jazz e em rock e por aí fora, a guitarra torna-se o instrumento mais difícil que há. Fazer solos de guitarra é uma guerra constante com o instrumento.


JD – esta etiqueta/label ‘Babel Label’ desde 1994 edita muitas gravações jazz? qual Música a domina? tem sucesso comercial ou liberal melhor em libras?

PDD – Para mim foi uma honra ter assinado por uma editora que desde 1994 tem promovido o jazz britânico ao mais alto nível. Afinal foi a musica dos Loose Tubes, Django Bates, Ian Bellamy, Chris Batchelor, Billy Jenkins todos eles editados pela Babel, que me fez ir estudar para Londres em primeira instância.

JD – há muitas presenças em solo mas improvisadas? os 17 são pessoal familiarizado em jazz? sonoramente sim…

 

PDD – Sim, Todos eles são músicos de Jazz e improvisadores e todos eles são compositores de jazz muito activos na cena Londrina e internacional.

JD – no jazz improvisado pela ‘Overground Collective’ a influência do jazz de New Orleans é táo duscreto que até parece não existir... comentário

PDD – Toda a musica que eu conheço, boa ou má, faz parte das minhas influencias e é frequentemente reciclada para a minhas obras. O jazz de New Orleans do século passado não é excepção.

JD – havia pautas vossas no estúdio? foram utilizadas?

PDD – Sim havia pautas e sim foram utilizadas. Mas isso é segredo. 

JD – neste ‘Super Mario’ a percussão não reside só na bateria baterista… ela própria visita a maneira de tocar percutida com sons no tempo ‘errado’ ou em atraso ou adiante… enfim jazz… jazz desde o mais antigo a maneira de estar da Cultura sonora negra norte-americana… fvr comentar

PDD – Não gosto nada de fazer uma distinção em entre cultura negra e cultura branca da mesma maneira que não gosto de fazer distinção entre cultura de classes. Na minha opinião há culturas que são características de cada país e que resultam de todos os conflitos raciais e sociais inerentes a esse país e todas as partes envolvidas se influenciam mutuamente. Os Estados Unidos são a prova disso mesmo. A cultura de Sul é muito influenciada pela cultura do Norte e vice versa e é por isso que ambas são uma Cultura só. Fazer distinções entre cultura de raças ou cultura de classes só serve para  alimentar preconceitos e conflitos. O história do Jazz prova que as colaborações entre verdadeiros artistas ultrapassou sempre o preconceito. E para prova-lo estão aí os discos de Benny Goodman, Charlie Haden, Bill Evans, Gerry Mulligan, Chet Baker, Steve Swallow, Gil Evans e por aí fora. Para mim é só música americana.

Agora…  Se os sons são percutidos no tempo errado ou no tempo certo? Não sei... Acho que é uma questão de opinião e gosto pessoal. Para mim, não há tempos errados nem certos. Assim como não há musicas erradas e musicas certas.

JD  - os jazzmen - e women claro é - de Inglaterra que gravaram este CD que idade média e frequência de estudos têm? há muitos mais novos e muitos mais velhos? todos leem música bem com facilidade?

PDD – No Overground Collective os mais novos devem estar na casa dos vintes e os mais velhos da casa do cinquentas. Todos foram à escola e por isso todos sabem ler (música) muito bem. Aliás, ler música bem é uma condição essencial para qualquer músico que queria trabalhar numa Big Band moderna.

JD – tem gravado em Portugal com portugueses? porquê?

PDD – Gravei em 2005 com o Ensemble Raum uma peça composta á volta da ideia dos Sete Pecados Mortais.  Tocavam lá o João Lencastre (bt), o Mário Franco (cb), o José Meneses(alto), o Eduardo Lála (trb), o Manuel Luís Cochofel (fl), O Fausto Ferreira (pn), o Gonçalo Conceição (cl) e o Nuno Gonçalves (cl bx). Fizemos muitos concertos e lançamos o disco no Festival Jazz em Agosto em 2005, mas na altura já estava em Inglaterra e tornou-se impossível continuar a trabalhar em Portugal.
Em 2009 ainda fiz alguns concertos na antiga loja de discos da trem azul com uma Big Band feita de músicos portugueses, mas logo a seguir decidi focar-me no trabalho em Inglaterra 

JD – em quais clubes jazz de Portugal tocou? espetadores perceberam seu jazz moderno? e em Londres trabalha?

PDD – Em Portugal toquei muito no Hot Clube de Portugal primeiro com um quarteto que tive nos anos 90 e depois com o ensemble Raum. Todas as nossas actuações tiveram uma recepção muito positiva pela parte do publico e também pela comunidade de músicos de Jazz. Houve também sempre muitos concertos em espaços alternativos. Em Londres toco muito o no Vortex, no café OTO, na Hundred Years Galery e no Iklectic e em muitos outros espaços que não são exclusivos de performances musicais.
Como side man também tenho tocado com muitas formações diferentes e toco também com muita regularidade na London Improvisers Orchestra. É um projecto muito inspirador.

JD – escolha e diga 5 músicos de jazz um em cada instrumento o clássico 5teto seus preferidos

PDD – Monk, Mingus e Ellinghton. Sendo que cada um destes vale por dois, já tenho aqui um sexteto. Qual deles é que eu devo tirar? 

JD – agradeço esta conversa à partida sabida incompleta…

 

José Duarte
 
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