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Mortágua disse...
06-10-2018
 


José Duarte – deve ser o único jazzman de Estarreja sua terra… há lá interesse por Outra Música que não seja roque ou pior?

João Mortágua – Estou longe de ser o único jazzman de Estarreja. Para além do baterista Paulo Bandeira, existe toda uma nova geração de jazzmen a emergir da cidade, que, embora tal como eu nela não tenham sua residência permanente, a visitam regularmente por ali se manterem as nossas raízes: falo inevitavelmente dos meus amigos Tomás Marques e Miguel Valente, que se iniciaram na big band Estarrejazz, à qual estou ligado desde o seu arranque, e que herdou o nome de um festival organizado por Paulo Bandeira, indo já na sua décima terceira edição. O workshop onde conheci o saudoso Jorge Reis deu origem à orquestra onde mais tarde conheci os dois sax-altistas que referi acima; e há já outros a seguir as nossas pisadas. Quanto a outros géneros, para além de Estarreja ser já uma das capitais do samba em Portugal (o que também me alegra - ver a minha terra mobilizada por tal celebração de ritmo, dança e cor), pertence também a uma região que é há muito uma incubadora de bandas de roque, género musical que muito prezo, e curiosamente é ainda a terra escolhida por músicos de renome para morar, como é o caso do baterista Pedro Vasconcelos, membro integrante do meu projecto AXES. 

JD - frequentou em Aveiro o Conservatório – há quem lhes chame Conversatórios – estava eu a chegar a Aveiro em 2002 época em que na Universidade depositei meu acervo isto é já me mexia com dificuldade de espaço onde vivia em Lisboa tantas eram as ‘coisas’ jazz… cumo surgiu em si interesse por jazz um tipo de Música que nunca será popular? embora o mesmo não se passe com seus artistas

JM – O interesse pelo jazz surgiu-me por via de audições dos LPs de meu pai, partilha musical com João Figueiredo, meu professor no CMACG (Aveiro), e outros amigos que moravam em Espinho, com os quais dei os meus primeiros concertos nas praias do Norte Litoral. 

JD – na sua biografia lá está que frequentou uma escola de jazz situação que me parece – desculpe – impossível pois jazz não se ensina ensina-se Música e só depois de se ‘saber’ Música se poderá escolher jazz aliás na História jazz existiram músicos que não ‘sabiam’ Música só sabiam tocar jazz… sua opinião

JM – Sou da opinião que as escolas são feitas por quem nelas ensina, e tive a sorte de na ESMAE me cruzar com professores como Carlos Azevedo ou Nuno Ferreira, com quem ainda hoje partilho ideias e experiências musicais. A proximidade com o aluno parece-me essencial para que se dê esta salutar partilha. Música é Música e o Jazz é Música... terei respondido à questão?

JD – mais adiante ainda na sua bio diz-se que se licenciou em Música-Jazz expressão esta aceitável embora o termo licenciatura ajude o jazz a ser jamais uma Música popular que agrada ao povo afinal donde ela veio na Cultura afro-americana antes escravizada… há testemunhos disto a praça Congo em New Orleans onde já estive… é capaz de distinguir a sonoridade de um instrumentista negro n-americano da de um branco?

JM – Cada vez menos. A Música é a voz de todos os povos e é feita de todas as cores. Quanto à primeira parte da questão, não sinto que a licenciatura seja castradora; a minha, por exemplo, revelou-se uma experiência prática vital, onde cresci e aprendi a tocar cada vez mais interativamente e para todo o tipo de público.

JD – o público português de jazz sabe jazz ou é o ‘prestígio’ o ‘parece bem’ de salas cumo a da Casa da Música’ apesar do atentado escadas ou ‘fui ouvir aviões e jazz ao ar livre na Gulbenkian’ que lá os leva…

JM – Cada vez sabe mais de jazz. Todo o público é, a meu ver, bem-vindo, e acredito piamente que quantos mais ciclos/festivais houver, mais e melhor público surgirá. 

JD – porquê o saxalto? pergunto porque meu favorito é tenor… as sonoridades de Hodges ou Parker (génio sem defeitos) ou Ornette impressionam muuuuito pela ‘maneira’ de cada um o usar enquanto a sonoridade Getz só faz lembrar Getz e mais nenhum melhor quando estava clean seu Mestre Lester…  espero que não esteja de acordo…

JM – Não estou. Embora sax tenores sempre tenham havido em maior número, absorvo variadas inspirações das vozes de altistas como Benny Carter, Art Pepper, Jackie McLean, Lou Donaldson, Paul Desmond, Cannonball Adderley, Lee Konitz... Todos tão diferentes e tão eles próprios  

JD – e sua abundante discografia a completa que já é notada

JM – Tenho três projetos de autor: Janela, AXES e Mirrors. Todos terão, em breve, um segundo álbum. Para além de outros três grupos, que estão já em andamento: um quarteto, um Trio e o meu solo, HOLI. 

D – conhece peças de Bechet? na História em soprano depois dele só Trane  e o jazz antigo o que se tocava nos USA em New Orleans aprecia?

JM – Conheço e aprecio. Adoro soprano. 

JD – os seus sopranos favoritos e os porquês

JM – Steve Lacy e Emile Parisien. São ágeis e elásticos, musicalmente falando. 

JD – ‘repete’ solos ou seja ‘trai’ o improviso?

JM – Não penso nisso, mas estou certo que não o faço. Pelo menos conscientemente. 

JD – executa á vontade temas bop os de Parker? foi difícil?

JM – Sim. Comecei aos 16, mas só agora me sinto realmente à-vontade com essa linguagem. 

JD – a minha visão é sabida vivida comecei com jazz em 58… que lhe parece a cena jazz em Portugal e assim acha que os todos jovens músicos jazz aí uns 40 são muitos? e a tv e o jazz e a rádio e a ‘crítica’ e a camaradagem existe e o número de atuações e um clube jazz um na capital de um país que convida não os 40 - não esqueço Porto nem Coimbra - e o que modificaria se acha que há modificações que ‘os rios não são sempre os mesmos’…

JM – Está viva e recomenda-se. Somos bem mais de 40. A camaradagem existe, mas os media podem dar mais destaque ao movimento. Podem e devem igualmente,  como já disse, existir mais ciclos e clubes e festivais, que o país já é bem maior que as suas fronteiras. A mudança somos todos; se cada um fizer a sua parte com esmero, paixão e afinco, estou certo de que todo o movimento crescerá.  

JD – conhece obras de Jane Ira Bloom? tocou em Guimas há muuuuuuuuuitos anos… tem 63 hoje

JM – Não conheço, mas vou ouvir. 

JD – já tocou pior? acha que está próximo da maturidade musical?

JM – Acredito que toco cada vez melhor; é esse o meu objetivo. A maturidade está sempre lá à frente... é esse caminho que me move. 

JD – a Europa tem jazz ou músicos que tocam Música europeiainfluenciadapela linguagem musical negra norte americana com a qual eles se tentam parecer?

JM – Talvez tenha, mas eu não faço esse esforço. Prefiro tocar o que me vai na alma. No entanto, adoro toda a música negra, e jamais nego a sua influência. É sem dúvida para mim uma grande inspiração. 

JD – gostava de tocar com quem? com Jason Moran?

JM – Por exemplo Ou com Danilo Perez.

JD – obrigado lhe estamos caro Mortágua


 
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