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Miguel Ângelo
25-05-2017
 


José Duarte – porque teria sido que o roque melhor o rock o entusiasmou primeiro que o jazz?

Miguel Ângelo – Acho que por uma questão de matur(idade) e contexto social/musical da altura. O jazz na década de 80 em Portugal não era propriamente pujante e pouco se ouvia falar. A internet era uma criança e canais de televisão eram apenas dois, como tal, a informação era pouca, se juntarmos a isto o facto de ser um adolescente, é normal que o rock me tenha entusiasmado primeiro, aliás, note-se que ainda me continua a entusiasmar bastante, mas foi o Rock que me conquistou e me iniciou nestas andanças de grupos, ensaios, concertos e mais tarde me fez descobrir o Jazz.  

JD – quem foi seu primeiro Mestre? um cbaixista um pianista? em trompetista? e porquê?

MA – O meu primeiro Mestre  foi o Contrabaixista Alberto Jorge, inicialmente em baixo elétrico e posteriormente em contrabaixo. Na altura era o professor de baixo e contrabaixo na Escola de Jazz do Porto e estabeleci com ele uma ótima relação pessoal que facilitava o processo de aprendizagem. Acresce a isto, o facto de ser um excelente pedagogo e pessoa, como tal,  com ele iniciei e me mantive alguns anos.  

JD – porque escolheu o cbaixo (acústico?) para ‘seu’ instrumento?

MA – Na verdade o meu primeiro instrumento foi guitarra clássica, aos 10 anos, mas na altura, na Tuna Musical de Fiães, a falta de contrabaixista levou a que o professor me "apresentasse" o contrabaixo, pelo qual me apaixonei de imediato e abandonei logo a seguir. Entretanto, passei pelo baixo elétrico e, muito mais tarde, novamente o contrabaixo. O porquê é difícil de explicar, poderia invocar várias razões, mas resumindo, acho que me identifico com o som grave e quente do instrumento e a função que, por norma, ocupa em contexto do grupo. Atraí-me também as possibilidades tímbricas que pode ter.      

JD – ser licenciado traz-lhe vantagens para ser um melhor jazzmen?

MA – Acho que as licenciaturas e na verdade a formação, genericamente, permitem adquirir ferramentas que podem trazer vantagens, mas que só por si não acrescentam muito, ou seja, pode ser vantajoso se realmente se aproveitar e trabalhar/desenvolver essas ferramentas. Ainda hoje trabalho coisas que lá aprendi. Acresce a isto o  facto de ter lá conhecido muitos dos músicos (alunos e professores) com quem faço música hoje em dia, como tal, sim, para mim trouxe-me vantagens.

JD – a sua discografia? nome de ‘seus’ CDs com respetivas datas e label /  com que idade gravou a primeira vez?

MA – Em nome próprio lancei os discos BRANCO (2013) e A VIDA DE X (2016), ambos pela Porta-Jazz. Como co-líder gravei o disco de estreia do Ensemble Super Moderne (2014) e os três discos dos MAP, "The Zombie Wolf Playn' The Blues On A Monday Morning" (2014), "Circo Voador" (2015) e "Guerra e Paz" (2017), todos com o Carimbo Porta-Jazz. Como "sideman" gravei dois discos com o Pedro Neves trio, "Ausente" (2013) e "5:21" (2016), Bruno Macedo Quarteto "8mm" (2015), todos no Carimbo Porta-Jazz; Pela, infelizmente  desaparecida, Editora Numérica gravei o disco do Carlos Mendes Quarteto "Estória (oito, por quatro)" e o disco do Jogo de Damas, ambos em 2012. É curioso porque gravar no sentido de trabalhar e registar em formato físico, faço-o desde os meus 16 anos, passava horas a "brincar" com o meu gravador de 4 pistas fostex, gravava todos os instrumentos e partilhava o resultado com os amigos, sobretudo com o Nelson Carvalho que tinha interesses similares aos meus. Oficialmente, o meu primeiro disco foi gravado com 38 anos.

JD – vantagens de gravar para a etiqueta portuense ‘Porta Jazz’?

MA – São várias, a união faz a força O facto de ser uma Associação de músicos não sujeita a pressões de mercado, de direitos, de vender discos,  faz com que o catálogo seja coerente e cuidado/interessante.

JD - indique os jazzmen com quem mais gostou de gravar? e porquê

MA - Todos com quem gravei. Sou bastante eclético e por norma gravo apenas projetos que, mesmo não sendo eu a liderar, estou completamente envolvido, desta forma o resultado é sempre muito positivo para mim. 

JD - pensa que o público jazz português sabe jazz?

MA – Algum sabe, a grande maioria que acha que sabe, mas não sabe

JD – qual a cidade portuguesa onde mais vezes tocou? razão ou zões?

MA _ O Porto, carago Simplesmente porque é onde vivo (ou perto)... Tocar fora da área do Porto, sobretudo em clubes que não pagam ou quase não pagam é basicamente inviável para um grupo... Os que pagam (e não falo de clubes), nem sempre andam atentos ou preferem manter o conforto do sucesso obvio. 

JD – qual a sala/auditório/clube que em Portugal lhe falta tocar?

MA – Clubes poucos, auditórios/salas algumas, sobretudo porque há tantas em Portugal e com ótimas condições que simplesmente não programam de todo ou não programam outras músicas...

JD – a divulgação jazz em Portugal é boa em quantidade e qualidade?

MA -_ Em quantidade definitivamente NÃO... é quase inexistente, jornais quase não se fala, rádio ainda vai tendo alguns programas que se vão aguentando e televisão só em "dias de festa" Quanto à qualidade, depende da definição de qualidade...

JD – o ou os melhores concertos jazz a que assistiu? porquê?

MA – Fácil, Brad Mehldau Trio a tocar o disco "Songs" no Rivoli, no extinto Festival de Jazz do Porto e o concerto a solo do Dave Holland no Salão Nobre da câmara de Matosinhos. Porque ambos foram concertos repletos de música criativa, inspirada, honesta, enfim... tudo o que se pode desejar num concerto 

JD – conhece a discografia de Jimmy Blanton e de  William Parker? qual é seu cbaixista favorito? meus Ray Brown e Christian McBride sua opinião sobre meus e seu(s)

MA – Conheço melhor a de Jimmy Blantom do que a de William Parker e prefiro o primeiro. Favoritos tenho vários e é difícil fazer uma lista curta, mas posso nomear o Charles Mingus, Charlie Haden, Ray Brown, Larry Grenadier, Christian McBride, Thomas Morgan, Carlos Bica, Anders Jormin... enfim não teria fim esta lista. Ray Brown foi um dos primeiros contrabaixista que estudei, saquei linhas de baixo e solos... Cada linha de baixo é um tratado de blues, swing/groove, o mesmo se passa com a versão 2.0, Christian McBride, que eleva a fasquia para o nível de virtuoso... 

JD – gostei muito do recente concerto com seu 4teto em 30 abril 2017 em Santa Maria da Feira - qual é sua opinião musical sobre os restantes jazzmen neste seu grupo

MA – Agradeço o comentário e fico muito feliz por ter gostado. São os melhores, cada um diferente do outro, com conceitos e estéticas diferentes mas que colam muito bem e sobretudo interpretam o que escrevo de forma muito própria sem desvirtuar a ideia original... 

JD – Obrigado Miguel Ângelo

MA - Obrigado eu, José Duarte 


 
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