José Duarte – considera-se baterista ou percussionista? José Salgueiro – Considero me sobretudo músico, não me consigo distanciar dos papéis distintos entre bateria e percussão, preferindo por isso usar a linguagem que fui apreendendo e onde inevitavelmente acabo por me sentir um baterista percussionista ou um percussionista baterista. JD – em que ano e para qual tarefa foi sua colaboração com saudoso autor José Afonso? JS – lamento se não me recordo da data precisa, mas foi uma participação que eu fiz num só tema e que nem tenho a certeza se foi aproveitada, no entanto do pouco que privei com o Zeca Afonso, fiquei com a certeza que que estava perante uma alma culta, serena e muito lúcida. Observar os outros e absorver todo o lado positivo de cada ser ... quem dera que fosse sempre esse o nosso Transporte Colectivo. JD – estudou percussão na Academia Amadores de Música e no Conservatório de Lisboa... percussão estuda-se ? de que tratavam suas ‘lições’? JS – na academia estudei teoria, já no Conservatório tive poucas aulas de percussão, o professor era da orquestra da Gulbenkian e pouco aparecia nas aulas. Percussão estuda-se sim, e é uma excelente porta de entrada para quem quer aprender qualquer instrumento. JD – e na Escola (?) do Hot que estudou? JS – No hot clube tive o privilégio de estudar com o José Eduardo, José Martins (prof de bateria) e meu mentor, e ainda com João Janeiro (aulas de ritmo) JD – em Barcelona no ‘Tallers de Música’ só lhe falta o Berklee em Boston aprendeu algo que já não soubesse? progrediu? JS – Sim progredi e muito, só o facto de contactar com outros músicos, de lidar com uma cultura diferente e de encarar todo o processo como uma experiencia que dificilmente poderia ter em Lisboa fez me crescer e encarar mais de frente a possibilidade de a música ser a minha profissão. JD – sua iniciativa ‘Tim Tim por Tim Tum’ é a minha favorita… cumo nasceu? - onde se tem realizado? porque parou? espero não definitivamente... JS –'Tim Tim por Tim Tum' não parou ... apenas teve uns anos de interregno, mas estamos activos e com concertos marcados. O projecto/ ideia nasceu após um workshop de Max Roach com 10 bateristas e que culminou num espectáculo no anfiteatro ao ar livre na Gulbenkian . Eu o Alexandre Frazão e o Acácio Salero não ficámos indiferentes á possibilidade de criar reportório para 4 bateristas, e lançámos mãos á obra. Resultou num espectáculo / performance capaz de integrar a improvisação espontânea e reactiva com ideias rítmicas pré-concebidas e executadas em uníssono. É um espectáculo transversal de comunicação que agrada dos 3 aos 83 ou mais. JD – quem é Maria Berasarte para além de ter voz cantar muito bem e ser estrangeira? de Espanha melhor do País Basco? JS – Maria Berasarte é um talento e uma força da natureza, cantora de nacionalidade Basca, e que se esforçou com excelentes resultados a cantar em Português, gravando comigo e com o José Peixoto um CD e um DVD de nome ADUF. ADUF, foi uma encomenda a mim dirigida por João Brites, actor e encenador, para integrar um programa de exploração dos instrumentos tradicionais portugueses para a Expo 98. JD – a estreia de ‘Transporte Coletivo’ em 8 abril 17 em Lisboa no teatro São Luís teve grande êxito – quem toca nesse grupo (pelo nome meus parabéns) e aí JS se revela um compositor novo isto é um novo compositor novo com sonoridades entre instrumentos bem combinadas JS –Transporte Colectivo é composto por João Paulo Esteves da Silva, Cicero Lee, Guto Lucena, Mário Delgado e Eu. Ser compositor é uma tarefa séria que necessita de conhecimentos teóricos e técnicos, mas eu nunca estudei composição. Sou um compositor atrevido, limito-me apenas a deixar-me inspirar e reter ideias musicais sem ter em conta as regras , (que foram feitas para serem quebradas) e a melhor surpresa é quando os músicos tocam as ideias do compositor e é aí na partilha e na capacidade interpretativa que o compositor se sente recompensado. JD – a procura jazz portuguesa sabe jazz? embora de há 10 anos para cá haja + concertos + instrumentistas + festivais + CDs jazz… não somos ‘um país pequeno que não sabe jazz’ Armstrong dixit em 1961 em Lisboa e Rádio jazz ‘só’ na RTP e tv zero e imprensa escrita 0,1 %... JS – O jazz e a música improvisada é uma linguagem em expansão, acredito que ajuda a pacificar e a unir. O jazz em português pode ou não ter sotaque, para tanto é melhor inventar do que copiar. JD - em 2001 foi instrumentista no grupo do enorme Wayne Shorter comentário JS –Foi uma experiencia única para a formação em quarteto que o acompanhou e da qual fiz parte, Mário Laginha, Bernardo Moreira Mário Barreiros e eu nas percussões. A oportunidade de tocar com um nome tão importante para o jazz internacional, a responsabilidade do momento e provavelmente único de fazer parte da história do jazz internacional. JD – jazz tem 100 anos e o free 50 cálculos por aproximação – cumo irá ser o jazz em 2080? quando os tugueses forem apenas 7,5 milhões segundo relatório do INE acrescento: que fazer com as estradas a independência o jazz?... JS – Espero que o jazz seja cada vez mais o reflexo do ser humano criativo, sensitivo, responsável e solidário. JD – que estudou com Max Roach e Paul Motion e Billy Hart bateristas n-n-a? JS – Sim, estudei-os. Tendo esses músicos como motivação, não os imitando nas frases mas nas intenções e atitudes. Entendi que cada músico tem uma personalidade própria e que ela se reflecte na música que produzem. JD – euros jazz chegam para um Artista jazz viver sem faltas? JS – Alguns músicos conseguem fazer do jazz a única forma de sustendo, mas serão poucos. Por mim sempre encontrei alternativas noutras formas musicais como a música tradicional, as composições para teatro ou musica infantil. Encontrei na produção musical uma alternativa aos parcos vencimentos que um músico de jazz pode obter. JD – se mandasse o que mandaria fazer? JS -mandava que quem mandasse se abstivesse de o fazer. JD – cumo pressente o futuro da juventude de cá e de lá assistindo a caríssimos shows rock às centenas ou milhares com braços levantadas em pé de mãos ao ar e a gritarem em coro frases acompanhando personagens bizarras no palco? JS – sei que os gostos não se discutem, a juventude que hoje que frequenta concertos e festivais saberá escolher o que mais gosta de ouvir quando deixarem de ser assim tão novos. ou não JD - obrigado José Salgueiro |