jazzportugal.ua.pt
HOME CONTACTOS BUSCA SUBSCRIÇÃO
 
agenda
media
escritos e entrevistas
músicos
jazzlinks
  escritos  ::  entrevistas  ::  trabalhos alunos UA  ::  e mail e fax  ::  riff  ::  Jazz de A a ZZ

escritos e entrevistas > lista de escritos > ver artigo
Luís Melo Torres
08-11-2015
 

José Duarte – sua paixão é pela Música ou por suas gravações?

Luís Melo Torres – É  inquestionável que tenho espírito de coleccionador, mas se optei pela música em vez de coleccionar selos ou capicuas foi porque desde cedo a música e a sua materialização, sobretudo em vinil, exerceram sobre mim enorme fascínio. Já colecciono há 60 anos, ultrapassei 0 meio milhão de títulos, mas o bichinho continua cá.

JD – como seu interesse começou e como se desenvolveu?

LMT- Durante a minha infância e adolescência a família vivia perto da Almirante Reis. A proximidade do Lys, do Rex, do Imperial e do Royal Cine facilitou o hábito dos meus pais me levaram às sessões duplas dos fins de semana. Os filmes musicais passavam com muita frequência. As Ziegfeld Follies, a Ginger e o Fred, o Bob Hope e o Bing Crosby,a Esther Williams  e mais tarde os musicais dos anos 50 deixaram-me muitas marcas.

JD – que Músicas não lhe interessa ter gravadas?

LMT – A chamada música clássica está fora da minha colecção. Também não colecciono música portuguesa (fado incluído) nem música étnica.

JD – sua fabulosa colecção visa vozes e instrumentais?

LMT – A princípio foram principalmente as vozes, mas os instrumentais, sobretudo os jazz standards têm vindo a ganhar terreno.

JD – suas vozes preferidas? quantas versões tem com

cada voz?

LMT – Billie, Ella, Sarah, Carmen, Julie, Peggy, Bennett e, claro, Sinatra. De larga maioria das vozes consagradas e até mesmo dos segundos planos tenho a discografia completa.

JD – entre o cd e o mp3 qual prefere? porquê?

LMT – Do ponto de vista sonoro não existem diferenças que o ouvido humano corrente possa distinguir. Já do ponto de vista da utilização das faixas, o som digitalizado tem vantagens incomparáveis.

JD – consta que as gravações em mercado estão em seu fim pois vende-se muito pouco mas copia-se e prefere-se um ou dois temas – comentário

LMT – Como aqui colocada, a situação já se punha desde o tempo da gravação em bobinas de fita e depois em cassete.  Quando se compra um álbum têm que se pagar todas as faixas. Quando se faz uma gravação podem deixar-se de fora as faixas menores. No negócio da música digital, as compras podem ser feitas faixa a faixa.

JD – possuir discografia de um artista dá direito a assumir-se que se conhece sua obra?

LMT – Se a colecção for feita para se usufruir e não só para ter, é claro que sim. Mas faço também colecção de livros de música onde se consegue muita informação complementar. Aliás, hoje em dia, na internet há tudo.

JD – no jazz o improviso estraga a peça ou enriquece-a?

LMT – Depende. Parte substancial da minha colecção está dedicada aos standards do American Songbook que estão incluídos nos repertórios de qualquer músico jazz que se preze. O standard começa por ser uma história perfeita que cada músico de jazz conta pelas suas próprias palavras. Há improvisações sublimes, há outras em que a ideia que fica é que o músico nem sequer leu a história original. E já como Rodgers & Hart diziam no ano em que eu nasci – I like to recognize the tune.

JD – sua colecção reúne os mais conhecidos músicos ou ‘todos’..

LMT – Todos os que eu acho que vale a pena ouvir, por mais obscuros que sejam. Mas há músicos que são considerados ilustres por quem diz que sabe e a quem não dou espaço na minha colecção – os do free jazz, por exemplo. Já conheço a história do rei vai nu há tempo demais.

JD – quantas versões tem do standard ‘Blue Moon’ de 1931 autores Richard Rodgers e Lorenz Hart?

LMT – Fui fazer as contas e neste momento tenho 605. Aliás não admira face ao tema escolhido. Blue Moon começou, quando foi publicada em 1934, por ser “Prayer “ para ser cantada por Jean Harlow no filme “Hollywood Party”, mas não foi. Hart escreveu nova letra e foi estreada como “The bad in every man” no filme “Manhattan melodrama”, cantada por Shirley Ross. Tenho esta versão, e tenho tantas porque no mesmo ano e já como “Blue moon”, foi cantada e tocada por todas as Jazz Bands e Dance Bands da época, bem como por grande parte dos cantores e instrumentistas dos anos 30, 40 e 50. Em 1961 o agrupamento doo wop The Marcels gravou uma versão que foi top one nos USA e no UK, levando de novo à multiplicação dos covers do tema. Mais recentemente, descobri que há um enorme número de cantoras que já neste milénio se dedicam, fora dos circuitos comerciais dominantes e por todo o mundo, a recriar as canções do American Songbook. O Blue Mo0n não ficou de fora.

JD – tem gravações de Sinatra? quantas? e de Bill Henderson?

LMT – Tenho tudo dos dois.

JD – qual é o melhor período cantado de Francis Albert Sinatra? porquê?

LMT – Para o meu gosto, e embora Sinatra tenha sido sempre especial, a sua melhor fase foi a dos seus anos 40, que coincidiu com o  período Capitol e a primeira parte dos anos Reprise. Embora muitos dos temas publicados nesta fase já tivessem sido gravados na sua passagem pela Columbia, os novos arranjos de Riddle, May e Jenkins fizeram toda a diferença na voz de Sinatra.

JD – quais os autores que prefere no American Song Book’? razões

LMT- A grande maioria dos autores de Tin Pan Alley produziram obras excepcionais. Se cito alguns foi porque mantiveram esse padrão mais elevado num substancialmente elevado número de obras. Destaco Cole Porter, Irving Berlin, Jerome Kern, Richard Rodgers, Duke Elington e obviamente George Gershwin. Para além da excepcional qualidade musical das suas melodias, as letras que ajudaram à sua consagração, da responsabilidade dos próprios ou dos colaboradores por si escolhidos, são sempre de grande sensibilidade e inteligência.

JD – entre os instrumentais quantos mp3 tem da orquestra de Fletcher Henderson?

LMT – Tenho cerca de uma centena. As orquestras dos anos 20/30 estão bem representadas na minha colecção e esta por maioria de razão, não só pelo seu papel inovador, mas também pelos músicos que passaram por ela. Atente-se só: Armstrong, Don Redman, Chu Berry, Benny Carter, Roy Eldridge, Coleman Hawkins, Rex Stewart, Buster Bailey.

JD – que uso dá a sua fabulosa colecção mp3?

LMT – Trabalho muito nela, com grandes reclamações por parte da minha mulher. Mas na minha idade é a forma que encontrei para me afirmar e para construir. Faço planos para ela em vez de ficar a falar no que já fiz. E se é verdade que se envelhece quando se fala só em termos do que fez e nunca do que se vai fazer, talvez seja este o meu processo de me não sentir velho. Ainda tenho muita música para acrescentar à colecção e como a tenho toda inserida numa base de dados, ainda tenho muita informação para investigar e registar.

JD –quer nos dar pistas para ouvirmos sua colecção na net?

LMT – A colecção não está disponível na net, mas há colaborações minhas em vários blogs e interacção enriquecedora com outros amantes da música espalhados pelo mundo.

JD – obrigado por sua colaboração

 

 
  Escritos e entrevistas  
 
   
Festivais  
 
   
Universidade de Aveiro
© 2006 UA | Desenvolvido por CEMED
 VEJA TAMBÉM... 
 José Duarte - Dados Biográficos