jazzportugal.ua.pt
HOME CONTACTOS BUSCA SUBSCRIÇÃO
 
agenda
media
escritos e entrevistas
músicos
jazzlinks
  escritos  ::  entrevistas  ::  trabalhos alunos UA  ::  e mail e fax  ::  riff  ::  Jazz de A a ZZ

escritos e entrevistas > lista de escritos > ver artigo
Gonçalo Marques
06-09-2015
 


José Duarte – também você frequentou Berklee em Boston nos USA hoje em dia já são muitos os músicos que frequentaram Berklee desde que me lembre o baterista e maestro Jorge Costa Pinto tente explicar valor deste colégio de Música não só de jazz


 


Gonçalo Marques – Quando tomei a decisão de ir para a fora, a Berklee era uma das escolhas bastante naturais para quem queria estudar nos Estado Unidos. Tinha bons professores, boas instalações e boas bolsas de estudo para estudantes estrangeiros. Boston é também uma boa cidade para se estudar, tem muitas universidades, e não tendo a vida musical de Nova Iorque, tem uma boa tradição no Jazz. 






JD – também é licenciado em Física o que é que jazz tem a ver com Física?


 


GM – Nada. Isto é, obviamente a Música tem a ver com a Física, porque o som é um fenómeno iminentemente físico.


 


JD – porque escolheu jazz e no jazz a trompete?


 


GM – Escolhi o Jazz porque fiquei fascinado por uma série de músicos de Jazz e pela importância da improvisação neste estilo. Comecei como muitos outros, por tocar guitarra mas fui-me convencendo gradualmente que era mais divertido no Jazz tocar um instrumento de sopro. Vi uns concertos do trompetista Eddie Henderson no Hot, pedi um trompete emprestado e nunca mais olhei para trás...


 


JD – entretanto com 43 de idade já é prof há 7 anos os euros vêm do professorado ou do de tocar jazz em trompete? das duas áreas…


 


GM – Hoje em dia conheço poucos músicos de Jazz que não usem o ensino para complementar o que ganham a tocar. No meu caso, vivo bem com isso porque gosto de ensinar. Claro que se me fosse possível dar menos aulas e tocar um pouco mais não hesitaria 


 


JD – conhece a discografia de Clifford Brown e a de Kirk Knuffke ? em qualidade jazz que lhe parecem?


 


GM – Tenho dois ou três discos do Kirk Knuffke e gosto dele mas ainda não o ouvi ao vivo. Do Clifford Brown sou um grande fã. Era um grande músico e grande trompetista, as suas longas linhas bebop são de uma elegância difícil de igualar, as suas interpretações de baladas são de uma grande sensibilidade e inteligência. Várias vezes volto ao Clifford Brown e estudo sempre alguns dos seus solos com os meus alunos. As “bootlegs" que saíram recentemente de alguns dos seus concertos deixam-nos ainda mais curiosos sobre o que teria sido a sua evolução se não tivesse  morrido tão cedo...


 


JD – não usa fluegel horn? se usa quando usa este?


 


GM – Uso pouco porque o que tenho não é muito bom, e um bom flugel é um instrumento caro. Em geral uso quando me é solicitado, por exemplo  quando toco em orquestra, e felizmente tenho amigos que me emprestam quando preciso. Mas este é um problema que vou ter que resolver mais cedo ou mais tarde...


 


JD – informado por quem sabe soube que em Portugal há cerca de 30 escolas jazz «é da prática que vêm as ideias justas» na minha ignorância jazz local julgavam serem uma dúzia… afinal o jazz ensina-se (?) verdade?


 


GM – Não sei se o Jazz se pode ensinar mas acho que se pode aprender As escolas ensinam as bases, desvendam alguns dos truques", ensinam a ouvir, e funcionam como infra-estructura onde se concentram pessoas que estão interessadas na mesma coisa e que portanto podem trocar experiências, tocar juntos, etc. Passar por uma escola não é uma condição necessária e muito menos suficiente par se ser músico de Jazz. Dito isto, um bom professor de Jazz, tal como noutra áreas, pode ser fundamental para o desenvolvimento do aluno. E uma boa escola pode fazer muito pelos seus alunos, por os seus combos a tocar por aí, promover jam sessions, masterclasses, etc.


 


JD – cum se explica não haver workshops com músicos estrangeiros em Portugal?


não escrevo master classes mas workshops…


 


GM – Pois não há muitos não. Penso que há duas razões, uma naturalmente é económica, custa dinheiro ter um grupo de músicos “parado” durante uma semana… Outra se calhar tem a ver com o facto de alguns dos promotores de concertos não darem grande importância à formação dos músicos “locais”. Mas há excepções e houve alguns bons workshops no Estoril, há workshops durante o festival de Jazz de Guimarães, e de dois em dois anos há a LJSS no CCB, na qual estou envolvido, e onde já passaram músicos tão diferentes como Mulgrew Miller, Danillo Perez, Guillermo Klein, Lawrence “Butch” Morris e Greg Osby.


 


JD – que estilo jazz pratica? free? pós bebop? e o jazz antigo morreu? o jazz hoje ainda moderno


morrerá?


 


GM – Acho que pratico um estilo de Jazz actual, que reflecte aquilo que oiço e é permeável aos músicos com quem toco. Inevitavelmente tem elementos de uma serie de correntes do Jazz do passado e do presente, mas tendo eu nascido e vivido práticamente toda a minha vida em Lisboa, reflecte necessariamente uma visão diferente de alguém que nasceu no Harlem e eu estou em paz com este facto. Acho que o Jazz tem sofrido muitas transformações e não há razão para pensar que isso vai deixar de acontecer. Mas tal como há muita gente do mundo clássico interessada na música antiga, ou nos românticos, não vejo o problema de haver gente interessada em estilos de Jazz mais antigos… É muito difícil tocar bem bebop Todos nós temos um caminho diferente a percorrer, e temos acima de tudo, se queremos ser levados a sério, que ser honestos nas nossa escolhas e sérios na nossa preparação.


 


JD – ao consultor seu cv dei com Matemática cumo é aplicada em Música?


 


GM – Há quem aplique algumas teorias matemáticas complicadas em musicologia, por exemplo na analise e na construção de modelos que permitam compreender a experiência harmonica. Nunca estudei isto muito a sério mas gostava de ler sobre isto no futuro, mais por curiosidade do que para aplicar na minha própria música..Por outro lado, na matemática estudam-se estruturas abstractas, simetrias, transformações  e a música escrita e improvisada está cheia de estrutura… 


 


JD – com quais músicos portugueses ou estrangeiros residentes tem tocado em Portugal?


 


GM – Demian Cabaud, Bruno Pedroso, André Matos, Bruno Santos, André Santos, André Sousa Machado, Zé Pedro Coelho, João Guimarães, Luís Candeias, João Lopes Pereira, Sara Serpa, Nelson Cascais, Filipe Melo, Nuno Costa, Luís Figueiredo, João Lencastre, Rui Pereira, Óscar Graça, Luís Cunha, João Hasselberg, Bernardo Moreira, André Fernandes, António Quintino, Romeu Tristão, César Cardoso, José Meneses, Mário Delgado, Jorge Reis, Carlos Barretto, José Salgueiro, Joel Silva, Nick Falk, Miguel Fernandez, Masa Kamaguchi, Bill McHenry, Guillermo Klein, Anders Vestergaard, Lupa Santiago, Michael Buckley, Ronan Guilfoyle (claro que acabei por escrever também nomes de alguns dos últimos músicos estrangeiros com quem toquei, não necessariamente residentes em Portugal)


 


JD – seu reportório? standards? compõe para si?


 


GM – Gosto de tocar standards, gosto de tocar música original dos meus amigos e gosto de tocar a minha própria música.


 


JD – em que palcos em Portugal já tocou?


 


GM – Em orquestra já toquei um pouco por todo o lado, Gulbenkian, Culturgest, Casa da Música. Em grupos mais pequenos já toquei em Serralves, Guimarães, Coimbra, cafe Tati...


 


JD – quando toca live o público português é conhecedor?


 


GM – Depende dos sítios e dos dias Há de tudo...


 


JD – escreva a sua discografia será publicada no site jazz português o da Universidade de Aveiro? www.jazzportugal.ua.pt


 


GM – Discografia Selecionada


 


como líder


 


"Cabeça de Nuvem só tem coração" de Trio de Gonçalo Marques + Zé Pedro Coelho e André Santos", Ed. de autor, 2015


 


"Da Vida e Da Morte dos Animais" de Trio de Gonçalo Marques + Bill McHenry, TOAP, 2010


 


 


como "sideman"


 


"Lisbon Sessions" de Anders Vestertgaard/Lupa Santiago quintet, Drum Voice Records, 2015


 


"Bruno Santos Ensemble", TOAP 2013


 


Cd "Ouija" de Big Band Reunion, ed. de autor 2012


 


"Blue in Green" do quinteto de Sara Valente, edição de autor, 2007


 


"Amplitude" do grupo Spill de André Fernandes,TOAP, 2005 (músico convidado, participa num tema)


 


"Two", colectânea da Jazz Revelation Records, 2004 (participa em dois dos grupos)


 


 


JD – prefere combo ou big band? porquê?


 


GM – Gosto mais de tocar em grupo pequeno porque há mais espaço para improvisação e para a interacção em tempo real. E em geral a música que toco neste contexto é música com a qual tenho mais afinidade, música que me toca mais. Mas tocar com uma big band com o repertório certo e com bons músicos pode ser uma experiência poderosa. Mesmo com repertórios que às vezes não me parecem tão interessantes, eu divirto-me bastante, porque acima de tudo gosto de tocar e gosto também dos desafios específicos que me vão aparecendo quando toco em big band.


 


JD – gosta de acompanhar instrumento voz? toca com outra aplicação?


 


GM – Gosto principalmente se for uma cantora que gosta de interagir com o resto do grupo, mas mesmo que esse não seja o caso, é sempre um desfio interessante.


 


JD – porque será que os jazzmen portugueses tocam tão pouco em festivais portugueses? em quais já tocou?


 


GM – É um facto , apesar de haver algumas excepções, e é uma pergunta que deverá ser feita aos directores artísticos dos festivais. O que posso dizer é que essa atitude me parece revelar um grande provincianismo… Dito isto já toquei em vários, já toquei no Jazz em Serralves, já toquei no festival do São Luís algumas vezes, o ano passado toquei no Jazz em Agosto na Gulbenkian com os LUME...


 


JD – Ornette Coleman sabia tocar trompete?


 


GM – Não sei, mas também não sei se essa questão é muito interessante Dito isto não o conheço assim tão bem como trompetista, mas sou grande fã dele enquanto improvisador no saxofone e acho as composições dele incríveis.


 


JD – obrigado Gonçalo Marques


 


 
  Escritos e entrevistas  
 
   
Festivais  
 
   
Universidade de Aveiro
© 2006 UA | Desenvolvido por CEMED
 VEJA TAMBÉM... 
 José Duarte - Dados Biográficos