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Omar Costa Hamido
03-08-2015
 

Omar Costa Hamido

 

José Duarte – tem nacionalidade portuguesa?

Omar Costa Hamido – Sim, nasci em Portugal, e também sou produto de uma mestiçagem de cultura e raça que, de resto, o meu nome transporta.

JD – quando chegou ao jazz?...

OCH – A minha entrada no jazz devo-a, antes de mais, ao meu contacto com João Guimarães. Depois, alguns workshops de iniciação com Paulo Gaspar, assim como com Elmano Coelho, foram igualmente importantes. Por outro lado, tal como o saxofonista Zé Maria lhe respondeu numa entrevista (2004), para alguém que toca saxofone, o encontro com o jazz é inevitável.

JD – sabendo Música e sendo instrumentista porque preferiu a linguagem musical jazz?

OCH - Sempre tive muito interesse em composição. Estando a linguagem musical jazz intrinsecamente ligada à improvisação, que é uma forma de composição em tempo real, é uma linguagem que está intimamente ligada ao processo de compor.

JD – qual a sua opinião sobre inclusão e ensino jazz no Departamento de Música da Universidade de Évora que frequentou?

OCH – Eu diria que a inclusão do ensino jazz no Departamento de Música da Universidade de Évora terá correspondido a uma necessidade dessa oferta formativa naquela zona geográfica, onde à época, em 2008, ela não existia. Lembro que uma parte significativa do primeiro grupo de que fiz parte eram alunos de várias regiões adjacentes em Espanha. Por isso mesmo, vejo também essa inclusão como decorrência natural de evolução e expansão dessa instituição de ensino superior.

JD – jazz é Música popular em Portugal?

OCH – A meu ver, Jazz foi, em tempos, objecto de consumo de uma certa elite cultural, mas com a democratização da oferta cultural, tende a tornar-se (mais?) popular, de dia para dia, em Portugal. Há hoje, um pouco por todo o País, iniciativas que o evidenciam.

JD – opinião sobre Myra Melford instrumentista conhecida jazz com quem trabalhou?

OCH – Estar/trabalhar com Myra Melford constituiu uma importante oportunidade para tomar contacto com alguns sistemas de composição em tempo real, tais como o Cobra de John Zorn, entre outros, assim como também começar a desenvolver alguns sistemas próprios.

JD – porquê o saxofone? e o violino?

OCH – Saxofone é uma paixão antiga. E o violino tem-me acompanhado, de diferentes formas, em fases distintas do meu percurso.

JD – para além do chamado jazz suas actividades desenvolvem-se em outras áreas da Cultura - quais são e respectivas experiências

OCH – Sempre tive uma ligação forte com as artes visuais. Na realidade só por volta dos meus 15 anos é que defini que seria Música que iria prosseguir. Mas fui mantendo um leque relativamente amplo de interesses e até de produções, em outras áreas. Música e Pintura têm estado a par. Também por isso a minha dissertação de mestrado se chama “<|> - estudo sobre as relações entre Música e Pintura e processos composicionais”. Possuo hoje algumas telas e desenhos, sendo a grafite e o óleo os meus materiais preferidos. Mais recentemente, a minha atenção também se foca em electrónica, programação, e escrita, que acabam por completar e potenciar as relações e as sinergias entre as diversas áreas da cultura. E isto reflecte-se tudo, naturalmente, na minha actividade enquanto músico e compositor, a qual tem passado por escrever música para diversas formações e contextos, música para cinema, música electroacústica, e outras obras multimédia.

JD – papel do instrumentista professor Zé Eduardo na sua formação e desempenho

OCH – A representação que me ficou da experiência com o instrumentista professor Zé Eduardo remete-me para uma dinâmica inspirada em “Art Blakey and The Jazz Messengers”. Foi importante.

JD – tem concertos jazz amiúde?

OCH – Não tantos quanto gostaria de ter.

JD – com que formação toca habitualmente? porquê?

OCH – Tal como o meu processo composicional, a minha actividade enquanto instrumentista tende a ser diversificada. Quinteto, quarteto, duo, solo com electrónica…

JD – utiliza para o saxalto e soprano – porquê? e o tenor?

OCH – O saxofone soprano foi o meu primeiro instrumento – tinha 10 anos de idade e estava na banda filarmónica de Coruche. O saxofone alto foi um instrumento que acabou por tomar um papel principal no meu percurso académico, e foi-se impondo também no meu percurso profissional, devido à sua enorme versatilidade.

JD – conhece a obra de Toscano? e de Jason Moran?

OCH – Infelizmente não conheço a obra original do Ricardo Toscano, mas conheço a originalidade com que ele interpreta algumas obras. Jason Moran ainda não tinha ouvido.

JD – quais os instrumentistas jazz que destaca em Portugal?

OCH – João Guimarães, um dos músicos mais completos em Portugal.

JD – onde costuma actuar?  em Coimbra? no Hot?

OCH – Actualmente não sou músico residente em nenhum espaço, por outro lado não coloco o espaço como obstáculo à apresentação do meu trabalho. Penso que todo o espaço pode e deve ser sempre trabalhado nesse sentido.

JD – o que é o free jazz? nele há necessidade de swing? porquê?

OCH – Free jazz é uma das correntes do jazz, cujo início é consensualmente situado no final dos anos 50. Intimamente ligado ao trabalho de Ornette Coleman, free jazz pretendia ser um jazz liberto de alguns dos constrangimentos harmónicos e estruturais em que o jazz, até então, se baseava. Poder-se-ia, talvez, dizer que free jazz está para o jazz, da mesma forma que a música atonal (protagonizada por Schoenberg no início do século) está para a música tonal. Ambos os termos causam, por diversas vezes, uma certa confusão, isto porque são demasiado abrangentes. Nem toda a música que não é tonal é dodecafónica, assim como nem todo o jazz que pretenda subtrair uma estrutura formal e harmónica irá soar necessariamente a Ornette Coleman. Quanto ao swing, se swing quiser dizer “balanço, onda ou atitude”, terá de haver necessariamente.

JD – acho que o jazz parou com a morte de Coltrane?

OCH – Coltrane está dentro do jazz, mas nem todo o jazz é Coltrane.

JD – sua opinião sobre não haver espaço / tempo para jazz nos meios de informação em Portugal como na Rádio TV Imprensa escrita ou falada e até bibliografia jazz?

OCH – Haver espaço há E o trabalho de José Duarte é prova disso. Obviamente que não é tanto quanto nós os dois gostaríamos

JD – é religioso? porquê?

OCH – Fico muito sensibilizado por considerar importante fazer-me esta pergunta. Sobretudo tendo constatado que nunca a tinha feito antes, a nenhum dos seus entrevistados No entanto, o que se me oferece dizer, é que o meu processo composicional não está configurado por nenhum princípio de carácter religioso. Contudo, não está destituído de espiritualidade.

JD – considera os músicos europeus importantes na cena histórica e actual jazz?

OCH – Sendo o Jazz património imaterial da humanidade, na minha perspectiva, os músicos em geral, sendo europeus ou não europeus, são de grande importância para a cena histórica e actual do jazz.

JD – jazz ensina-se? e o swing?

OCH – Jazz pode ser ensinado, e swing pode ser apropriado.

JD – para uma familiarização com jazz que instrumentistas aconselharia? porquê?

OCH – Em primeiro lugar os “clássicos”: Miles Davis, John Coltrane, Cannonball Adderley… Mas creio que também iria recomendar, de igual forma, ouvir alguns instrumentistas contemporâneos, que são de resto os que mais oiço: Steve Lehman, Will Vinson, Soweto Kinch…

JD – opinião sobre Bechet em soprano

OCH – Se não fosse pelo vinil do meu pai e, é claro, pelas aulas de história do jazz, creio que nunca teria ouvido

JD – a inevitável… jazz foi pela primeira vez gravado em 1917 perfaz pois 100 anos em 2017 – diferenças se as houver entre jazz New Orleans e free?

OCH – Em primeiro lugar, o aspecto incontornável, se hoje em dia temos acesso aos primórdios do jazz, e nos podemos dar ao luxo de fazer comparações destas(), é porque já havia na altura algum tipo de tecnologia que nos permitiu gravar o que era o jazz da altura Mas desde então a tecnologia evoluiu exponencialmente, assim como a nossa relação com ela. Desde a época das gravações mecânicas, e cheias de ruído, para a época das gravações electrónicas, com uma fidelidade consistente, e acesso a inúmeros outros dados adicionais – fotografias, vídeos, análises de todo tipo e feitio (). Este aspecto, por si só, diz-nos que hoje em dia temos condições para fazer mais e melhor jazz. No final de contas, todos nós sabemos, no jazz, o quão importante e primordial é ouvir. Assim também, o jazz New Orleans de hoje não pode ser igual ao jazz New Orleans de 1917, da mesma forma que o jazz free de hoje não pode ser igual ao jazz free do final dos anos 50.

JD – obrigado Omar Hamido

OCH – Obrigado José Duarte

01 de Julho de 2015

 
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