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50 anos de 'Cinco Minutos de Jazz'
12-05-2015
 

 AG - O Jazz como entrou na sua vida?

 JD - foi-me apresentado pelo tema ‘Rock Around The Clock’ êxito meados anos 50 século 20 uma traição aos blues que deu uma vitória comercial gravado em 1954 por «Bill Haley (guitarra e voz)  and his Comets» vivia-se o fim do ‘rhythm and blues’ chegava o ‘rock and roll’ – músicas longe do jazz mas apenas abanavam

 AG - E a vontade de divulgar jazz?

 JD – Raul Calado apresentou-me a liberdade jazz e então pareceu-me urgente que mais alguém conhecesse esta Grande Música Negra e com Mestre Raul fundámos ‘Clube Universitário de Jazz’ (1958-1961) encerrado pela autoridade vivia-se em ditadura e o povo não sabia ler quanto mais saber jazz...

 AG - O nome do seu primeiro programa de rádio “ O Jazz esse desconhecido”, denota teve de desbravar terreno. O Jazz era efectivamente desconhecido em Portugal? Noutros pontos da Europa já existia então algum fervilhar Jazz…

 JD – mais de 50 anos depois jazz ainda é desconhecido  em Portugal fui autor e apresentador desse programa na Rádio Universidade em Lisboa em 1958 e 59 tinha eu 20 anos um puto… o que em Portugal se mudou foi a oferta jazz inexistente nos tempos maus de Salazar & Caetano portugueses sabiam nada de nada hoje consomem mas sabem pouco de jazz

 AG - Que outras músicas ( e onde) ouvia paralelamente ao despertar do seu interesse pelo jazz?

 JD – ouvia baião e samba e bolero e portuguesa Amália e Marceneiro deste tempo até Gisela João vão décadas permaneci amante de fado nasci no Bairro Alto junto ao Conservatório de Lisboa e de três tipos de Músico sou bravo defensor: flamenco fado jazz

 AG - Em 1961 teve oportunidade de conhecer Louis Armstrong em Lisboa. Em que contexto aconteceu esse encontro e que recordação guarda de Satchmo?

 JD – Armstrong foi é um génio jazz ao inventar o improviso o scat o solo as master pieces improvisadas nos anos 20 do 20 veio a lisboa com sua companheira Lucille e com eles os passeei e falámos muuuuuuito pouco de jazz assim lhe conquistei amizade na despedida do casal na Portela para os EUA convidaram-me para ir viver com eles na América a do Norte não fui e penso bem ter feito pois no pobre país que é o nosso  estou a contribuir com divulgação jazz como dificilmente o teria feito no país onde o jazz nasceu jazz a cultura musical dos negros norte-americanos

 AG - Os apreciadores de jazz que se iam formando como faziam para ter acesso aos discos,  e a espectáculos?

 JD – só os ouviam na Rádio não sabiam nomes de músicos nem se realizavam concertos jazz  meia dúzia se tantos eram os jazzmen portugueses nem escolas nem festivais – há que recordar o fascismo a opressão a falta completa de liberdade a repressão a censura que a juventude saiba o que era lutar então pela Cultura em Portugal… hoje um Ministério da Cultura irá aparecer muito em breve hoje não há

 AG - Em 1966 iniciou-se a emissão de ‘Cinco Minutos de Jazz’. Como surgiu o conceito desse programa?

 JD – fui convidado por João Martins histórico radialista português para na Rádio Renascença no programa de grande sucesso ‘23ª hora’ ser  autor e apresentador de Música jazz ‘cinco minutos achas bem?...’ disse-me ‘acho pouco’ disse-lhe passou-se isto há meio século em 21 fevereiro 1966 o 'Cinco‘ faz 50 em 2016

 AG - ‘Cinco Minutos de Jazz é o o programa diário mais antiga do rádio em Portugal. Não será também um dos mais (ou o mais) antigos programas de Jazz do Mundo?

JD – diário não mas do Mundo sim – ‘Cinco’ vão para o ar de segunda a sexta hoje na RTP antena 1 desde 1993 antes na Rádio Comercial e antes na Rádio Renascença  / no PREC ainda na Renascença parou o CMJ e toda a programação a própria Renascença fechou… emissores dinamitados / não conheço no estrangeiro programa rádio com 50 anos de emissões todos os dias úteis e na internet  http://www.rtp.pt/play/p269/cinco-minutos-de-jazz lá estão quase mil CMJ que podem ser ouvidos a qualquer hora dia ou mês

AG - Um programa como ‘Cinco Minutos de Jazz’ emitido por uma emissão generalista, pode ser um indício de que o jazz e outras músicas menos divulgadas podem afinal chegar ao público pelos grandes medias?

 JD – claro em qualquer rádio de qualquer país civilizado desenvolvido e não eternamente em vias de desenvolvimento / há anos visitei uma rádio jazz na Califórnia que trabalha 24 horas por dia e o ‘Cinco’ brilhou por ser português (onde é Portugal perguntou apresentador n-a) por ter apenas ‘Cinco Minutos’ e pela novidade do indicativo com voz e jazz misturados e como divulgador da pianista Nina Simone sem cantar artista jazz que levei nesse ‘Cinco’ gravado / em Portugal praticamente não se passa jazz na rádio nem na tv nem na imprensa mas de rock estamos bem mal servidos… lindo serviço

 AG - MPB tem um caminho temporal não desfasado do Jazz, e uma das suas raízes, a África é comum.  De resto muitas vezes ambas se encontraram. O que pensa sobre isso?

 JD – África é a Mãe de todos nós e a prática colonialista levou música para as Américas no Norte onde nasceu jazz na Central criada a afro-cubana no Sul o samba o negro não o de Chico nem Caetano Gal ou Bethania o samba do morro negro e popular

 AG - Como encarou o surgimento da Bossa Nova?

JD – como um estilo cruzamento jazz samba que perde grande parte de sua forma africana salva-se João Gilberto o génio embora seja musicalmente difícil mas que tem balanço swing

 AG - Onde conheceu Baden Powell e qual a sua opinião sobre o guitarrista?

 JD – encontrei-o em Lisboa foi um guitarrista excepcional com conhecimentos de Outras Músicas não há hoje alguém que o conheça como tocador compositor Baden passou por cá como todos nós o estamos a fazer com bom samba só… mas quem sou eu branco europeu a escrever sobre o folclore negro do Brasil esse continente…

 AG - Entrevistou Edu Lobo logo no início do surgimento do cantor e compositor,  escreveu sobre o LP Tropicália logo após o seu lançamento.  Isso mostra um interesse especial pela MPB?

 JD – Edu ‘foi um rio que passou na minha vida’ e a única vez que lhe falei no teatro Villaret em Lisboa mostrou-se rude auto considerando-se uma star… o artista não tem que ser bem criado virei as costas e fui-me

AG - Os ouvintes de jazz pelo mundo fora, ouvem música brasileira. A revista ‘Down Beat’ a ele se refere habitualmente. Alguns nomes lhe têm chamado mais a atenção?

JD – Stan Getz o do bossa jazz em sax tenor jazz Luciana Souza uma voz ‘com influência do jazz’ tema composto por o brasileiro Carlos Lyra e mais poucos outros

AG - Tem uma ligação com a Universidade de Aveiro e desde 1997 que  faz a planificação e textos para Internet  www.jazzportugal.ua.pt Como se deu essa ligação à Universidade de Aveiro?

JD - em 2001 depositei meu acervo jazz na UA com LPs CDs livros revistas cartazes autógrafos meu dia a dia escritos para imprensa portuguesa e n-americana ‘Down Beat’ desde 1972 e para a rádio ao ler meus textos em rádio faço meu teatro ainda se fundou o ‘Centro de Estudos de Jazz’ da UA onde todo o acervo está digitalizado e me permite através de conversas sobre audição jazz comentada fazer um bom serviço ao jazz e a cada vez mais portugueses

AG - Continua a considerar  Charlie Parker uma pedra basilar do Jazz? E como está o Jazz em 2015?

JD – jazz é Música criada em improviso e ele se destacam génios como Parker ou Ellington ou Monk ou Armstrong ou Lester ou Coltrane vozes há só uma a de Billie e mais nenhuma… gostarei de ela Ella sempre mas com Billie o jazz é outro - jazz vive desde 1967 ano morte Coltrane sua fase em que ganha balanço para outra mudança formal vale tudo e mais alguma coisa e mais que tudo…

 AG – ‘It Don't Mean A Thing If It Ain't Got That Swing’.  Essa máxima de Duke continua a valer?

JD – hoje em dia é preferível chamar balanço ao swing hoje vivemos em jazz deste tempo contemporâneo  jazz próximo do ano de seu centenário – jazz fará 100 ‘Cinco’ 50 anos de idade gaste por dia cinco minutos com jazz a Grande Música Negra

 

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* para publicação brasileira

 

 

Alberto Guimarães
 
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