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Luís Candeias
24-08-2016
 


José Duarte – a maioria do povo ouvinte não sabe que bateristas podem usar pautas para as ler enquanto tocam – para quê e que elementos lá constam?


 


Luis Candeias –  Tal e qual como os outros músicos, os bateristas necessitam de saber o que estão ou vão tocar, dessa forma o uso de pautas permite que todos os músicos identifiquem de forma imediata e eficaz elementos essenciais  na música como; estrutura de um tema; melodia; harmonia; ritmos, acentuações.  Na maior parte dos casos as partituras que os bateristas usam são exactamente iguais às que os outros músicos utilizam, porque lá contém toda a informação que foi em cima mencionada. Por vezes partituras mais especificas para bateria são usadas também, e nesse caso a informação que é dada é mais a nível rítmico, por exemplo o compasso em que o tema vai ser tocado, o andamento, estrutura, ritmos a serem utilizados e em que peças da bateria, acentuações, fills etc.


 


JD – cumo baterista toca cumo o ensaiado o combinado ou interfere no andamento da execução?


 


LC – Depende dos lideres ou dos projectos. Normalmente toco o que foi ensaiado e combinado, existem estruturas e arranjos que têm de ser cumpridos, como tal "interferir" na música pode não ser positivo e até mesmo torna-la fora de contexto. Contudo acho que existe sempre espaço para a interpretação, e a meu ver esse é o contributo que o músicos podem dar à música. Mas como disse anteriormente depende dos lideres, alguns são mais permissivos que outros, e claro, nem tudo está combinado, nas improvisações é onde existe mais espaço para a interpretação e interacção. 


 


JD – entre actuações treina seu tocar? aprendeu a tocar? com quem?


 


LC –Treino sempre que posso. Pode ser entre actuações ou quando não as tenho, mas normalmente pratico com mais frequência quando tenho menos concertos.


         A aprendizagem de um músico é constante e acontece nas mais variadas situações, como tal ainda hoje aprendo sempre que faço sessões, ensaios, gravações ou concertos. Aprendi com professores mas muito também a ver outros músicos tocar e a tocar com os meus colegas músicos.


 

JD – sente-se à vontade em todos os andamentos das baladas aos tempos rápidos? quais prefere?


 


LC – Tento sentir-me o mais à vontade possível em todos os andamentos. Acho que é importante ser abrangente e dominar de alguma forma vários andamentos. É claro que existem certos andamentos em que me sinto menos à vontade, onde se torna mais difícil articular as notas, manter um tempo estável etc. E esses são aqueles que tento melhorar.


         Não tenho preferencia por nenhum  em particular, poder haver dias em que prefiro tocar tempos rápidos, noutros baladas, e noutros até tocar sem um tempo definido, mais livre.


 


JD -  quais são os seus bateristas portugueses favoritos? porquê?


 


 LC –  Cada vez existem mais bateristas a tocar muito bem o que torna difícil nomear um ou dois. Normalmente o que me acontece é ter períodos que gosto muito de ouvir alguém, mas isso vai mudando.  Não quer dizer que deixe de gostar de os ouvir, mas como mencionei em cima estão sempre a aparecer novos músicos com algo para dizer e isso faz-me ir procurando outras coisas. 


Há uns anos atrás ouvia muito o Bruno Pedroso e o Marco Franco, sempre que podia tentava ir vê-los tocar.  Hoje em dia gosto muito de ouvir e ver tocar o Joel Silva, o Marcos Cavaleiro e desta ultima geração o João Pereira.  São bateristas com abordagens bastante diferentes e todos eles com coisas que eu acho muito interessantes e isso leva-me a ouvir e até a estudar o que fazem.


 


JD – toca só jazz? se não porquê os outros?


 


LC – Toco maioritariamente jazz, mas gosto também de tocar outros géneros.  Não os toco com tanta frequência porque a partir de uma determinada altura resolvi dedicar-me ao jazz para que ficasse a conhecer de uma forma mais profunda a linguagem, contudo, acho que o facto de tocar outros géneros traz a hipótese de usar outro tipo de recursos que poderão ser menos utilizados no jazz, e acho que isso me dá alguma flexibilidade.


 


JD – opinião sobre o mundo português do jazz – clubes e rádio de cobertura internacional e nacional claro em particular


 


LC – O jazz em Portugal tem-se desenvolvido muito nos últimos anos, especialmente no que diz respeito aos músicos. Muitos jovens estão a enveredar por esta música, e a começarem cada vez mais novos.  Isso faz com que exista um maior dinamismo tanto na parte mais virada para o ensino como também na parte mais criativa e de performance, e todos estes factores contribuem para o aumento da qualidade que se tem vindo a verificar.  


Por outro lado os clubes e rádio têm tido um desenvolvimento muito menor e de alguma forma não acompanham a evolução da outra parte. Não só não há novos sítios nem meios para que os músicos possam apresentar o trabalho que fazem, como tem havido um empobrecimento dos que já existem tanto a nível de remuneração como também de divulgação e promoção.


 


JD – que idade tem ? há quanto tempo vive do seu trabalho em jazz?


 


LC – Tenho 35 e vivo de tocar jazz hà cerca de 13 anos


 


JD – gosta de solar? ensaia seus solos?


 


LC – Prefiro acompanhar. De vez em quando também gosto de solar, mas não ensaio os meus solos.


 


JD – e o seu percurso como aprendiz de bateria cumo foi? onde? com quem?


 


LC – Eu comecei por tocar bateria como autodidacta, durante os primeiros anos ouvia discos, maioritariamente de Rock e Heavy Metal e tocava por cima.  Mais tarde tive umas aulas particulares que me deram algumas noções a nível de técnica notação musical e introdução ao jazz.  Poucos anos depois começou o meu percurso mais académico, digamos.  Frequentei o Hot Clube de Portugal, lá estudei com o Bruno Pedroso, Nuno Ferreira, Pedro Madaleno, Vasco Agostinho etc.  Logo a seguir candidatei-me ao conservatório de Amesterdão onde fiz a licenciatura em bateria no departamento de jazz.  Fiz também várias workshops e masterclasses com músicos internacionais como Rufus Reid, Billy Hart, Aaron Goldberg, John Taylor etc etc.


 


JD – conhece a maneira de tocar bateria de Gene Krupa e Elvin Jones?


 


LC – Sim. Embora conheça melhor o Elvin Jones



JD – usa escovas? quando?


 


LC – Sim, bastante. Em qualquer situação onde eu as ouça ou que me seja pedido. Pode ser em baladas, tempos rápidos, música improvisada livre, em contextos mais rock, etc.


 


JD – gostaria de tocar numa big band? com qual em Portugal e no estrangeiro?


 


LC – Para ser sincero prefiro tocar em formações mais pequenas, trios, quartetos, quintetos. Mas não excluo a hipótese de tocar numa big band.


 


JD – quais os CDs em que gravou? com quem? tem CD em seu nome?


 


LC – Já gravei uns quantos CDs. Mencionando alguns:  "Valsa para a Terri" e "Nirvanix" da Paula Sousa; "Rotina Impermanente" e "Cérebro: Estado Zero" do Desidério Lázaro; Fundbureau - "Lost Property"; Velkro - "The Future of the Past";  "A Casa da Árvore" do João Firmino;  "Big Weird Box" do Ricardo Barriga; "Depois de Alguma Coisa" do Gonçalo Prazeres,  Trisonte - "Monster´s Lullaby"; Bruno Santos Ensemble,  "10 Sides To My Story" da Mariana Norton,  e mais alguns.


Não tenho nenhum CD em meu nome.


 


JD – é completamente ambidextro?


 


LC – Não sou ambidestro.


 


JD – tem acompanhado vozes? gosta?


 


LC – Sim, acompanho vozes com regularidade.  Acho que há músicos com os quais gostamos mais de tocar e temos mais afinidade, as cantoras e cantores não são excepção.  Toco em alguns grupos de cantoras dos quais faço parte já há alguns anos e gosto bastante.


 


JD - compõe? tem Conservatório?


 


LC – Por enquanto componho muito raramente. Sim, tenho conservatório.


 


JD – tem tido contacto ou tocado com estrangeiros? cumo situa o jazz made in Portugal comparado com os outros?


 


LC – Sim.  Não situo o jazz português como sendo melhor ou pior que os outros. Acho simplesmente que o jazz feito em Portugal tem vindo melhorar e tem a sua própria sonoridade 


 


JD – quais os instrumentos de sopro com que prefere tocar? ou prefere guitarristas?


 


LC – Como disse ainda há pouco existem músicos com os quais nos identificamos mais e por sua vez desenvolvemos uma maior afinidade tanto a nível musical como pessoal, e esses são os músicos com quem prefiro tocar.


 


JD – dizem que Lester Young mudou para tenor pois a bateria que tocava demorava muito tempo a rearrumar e quando acabava elas já se tinham ido embora…  a sua bateria tem muitos tambores e pratos ou é das mais baratas com reduzido material para percutir?


 


LC – Bom, nem sempre a quantidade está relacionada com a qualidade, como da mesma forma nem sempre a qualidade do som que se tira de um instrumento está 100% relacionada com a qualidade do mesmo.  Normalmente uso uma bateria com poucas peças, não sinto necessidade de usar um Kit muito grande, às vezes é uma bateria barata e outras vezes uma um pouco mais cara.


 


JD – cumo e quando usa o prato de choque?


 


LC – Uso os pratos de choque de diversas maneiras.  Tocados com baquetas e com o pé dependendo do efeito que quero, posso usa-los também de forma mais constante para marcar tempo, usa-lo de forma mais livre  ou conjugando-o com o resto da bateria tendo o mesmo desempenho que uma tarola ou um bombo.


 


JD – aprecia os bateristas jazz europeus? quais deles destaca?


 


LC – Conheço melhor bateristas norte americanos, mas também aprecio baterias europeus. Dos que conheço destaco o Paal Nilsen Love, Christian Lillinger, Marc Miralta.


 


JD – conhece Justin Faulkner jovem baterista negro n-americano? é o que Tony Duarte Williams foi para o jazz dos anos 60 do século XX


 


LC – Sim, Conheço especialmente o trabalho que faz com o Branford Marsalis e com o Kurt Rosenwinklel. É sem duvida um baterista incrível.


 


JD – obrigado Luís Candeias e parabéns pela qualidade de seu trabalho para o jazz em Portugal e lá fora onde como é hábito malvado se desconhece as obras dos  grandes artistas portugueses


 


 


 


 
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