jazzportugal.ua.pt
HOME CONTACTOS BUSCA SUBSCRIÇÃO
 
agenda
media
escritos e entrevistas
músicos
jazzlinks
  escritos  ::  entrevistas  ::  trabalhos alunos UA  ::  e mail e fax  ::  riff  ::  Jazz de A a ZZ

escritos e entrevistas > lista de entrevistas > ver entrevista
o que João Lobo
23-05-2008 00:00
 

 

JD - é um músico profissional? desde quando?

JL-  Sim. Comecei uma certa actividade enquanto ainda estudava  mas  oficialmente sou músico profissional desde que acabei os estudos académicos , ou seja desde junho de 2006.

JD - considera-se um jovem músico de jazz?

JL- Considero-me um músico (ponto). Mas é verdade que fiz uma formação académica  na área do jazz e toco sobretudo em projectos com músicos que estão ou estiveram ligados com essa linguagem.
  Jovem...depende do ponto de vista. É verdade que sou jovem no sentido em que ainda não tenho imensa experiência profissional mas acabei de passar a fasquia dos 26 que é a do cartão jovem e de muitos descontos para jovens, por isso acho que deixei de ser oficialmente jovem.

JD - precisa de um instrumento com grande número de componentes: tambores, pratos e outros instrumentos para percutir?
 

JL-  Não. Normalmente toco com um set pequeno com bombo, tarola, timbalão e timbalão de chão e 3 pratos além do prato de choque.

JD - onde e com quem aprendeu a tocar bateria?

 JL-
Comecei como autodidacta durante vários anos. Aos 16 tive o meu primeiro professor (Maurice Senden) que me ensinava técnica e leitura de caixa. 2 anos depois inscrevi-me na escola do HCP onde tive o Carlos Vieira, o Diogo Moreira o Henry Sousa, e o Bruno Pedroso como professores de instrumento. Depois fui para a Holanda (para o Conservatório Real d'A Haia) onde estudei com Erik Ineke e Stefan Kruger. Também participei em seminários e workshops com Billy Hart e Ettore Fioravanti e assisti a masterclasses de Willie Jones III,Bill Stewart e Marc Miralta.
  Mas aprendi ainda mais (e continuo a aprender) a ouvir discos e assistir a concertos tanto com bateristas famosos como com outros menos famosos mas não menos valiosos como são os casos de Marek Patrman (baterista checo que vive em Bruxelas e é uma grande inspiração para mim) ou Oriol Roca (baterista catalão que foi meu colega na Holanda e que também me influenciou bastante).

JD - conhece o tocar que tinha Cozy Cole?


JL- Não. os bateristas mais próximos do início da história do instrumento cujo "tocar conheço" são o Gene Krupa e Sam Woodyard. O meu avô gravou-me uma cassete com longos solos tanto de um como outro e essa foi a minha primeira influência na bateria.

JD - e o de Jeff 'Tain' Watts?


JL- Conheço definitivamente melhor do que o do Cozy Cole mas confesso que não tenho muitos discos onde figura. Mas é um excelente baterista.

JD - usa muito escovas? quando?

JL- Sim. Gosto muito de escovas e uso-as quando a música as pede.

JD - que acha do panorama presente do jazz em Portugal?


JL- Não conheço muito bem e não estou muitíssimo informado porque não vivo em Portugal há 6 anos mas do que conheço acho que melhorou bastante nos últimos anos. Há mais músicos e mais concertos e existem duas etiquetas (que eu saiba a Clean Feed e a TOAP) dedicadas a essa música sendo que uma delas, a Clean Feed, tem uma boa fama internacional. Também acho que há bastante público e muito dele jovem o que é bom. Há mais músicos do que antes mas a cena ainda é muito local e, talvez devido à situação geográfica um pouco isolada, existe pouco movimento de músicos de outros países. Uma coisa que tenho notado (desde sempre) é que existe uma tendência grande entre os músicos de jazz portugueses para se virarem muito para a cena de jazz dos Estados Unidos e pouco para a Europa, que, na minha opinião, está mais próxima tanto geograficamente como culturalmente. Mas é claro que há excepções e também noto que cada vez há mais músicos portugueses a estudarem na Europa.

JD - e o dos bateristas?


JL- Acho que Portugal está bem servido de bateristas. Não conheço todos os bateristas e sobretudo aqueles que apareceram mais recentemente mas tenho um gosto especial por um deles, o Marco Franco, por ser um músico explorador e dedicado, por escrever música que me emociona, por me ter causado impacto da primeira vez que o vi (com os Tim Tim por Tim Tum) quando eu estava a começar a tocar bateria um bocadinho mais a sério, e por entretanto se ter tornado num amigo e colega de aventuras musicais (ainda esporádicas).

JD - todo o baterista jazz tem obrigatoriamente que ter swing - frase certa ou errada?

JL-  O swing é uma coisa misteriosa. O que para mim tem swing não o terá para outras pessoas por isso, dizer que um baterista "tem que ter obrigatoriamente swing" parte já duma premissa subjectiva.

JD -  o solo é outra prática obrigatória?

JL- Não acho que seja obrigatório fazer solos (para nenhum instrumento) mas acho que é normal que qualquer instrumentista goste de explorar essa vertente do instrumento.

JD - informe-nos um bom solo gravado de bateria que se recorde

JL- O primeiro que me vem à cabeça é um solo do Lewis Nash num disco do Christian McBride ("Gettin' to it"). O tema é o "Too Close For Comfort" e o Lewis Nash faz um solo muito simples e musical com escovas. Mas há muitos outros...

JD - já se poderá chamar ao jazz tocado em Itália jazz italiano? e em Portugal?


JL-  Acho que já há muito tempo que se fala dum "jazz italiano" ainda que o jazz em Itália tenha muitas vertentes diferentes e uma quantidade enorme de músicos distintos. O "jazz português" será o jazz tocado por músicos portugueses mas são eles tão poucos, e eu não conheço alguns deles muito bem, que é difícil encontrar uma "formula" que de certa maneira os una (para além de não me interessar classificar o jazz segundo a nacionalidade). Acho que o Mário Laginha é uma coisa, o João Paulo outra, O Carlos Bica outra e o Marco Franco ainda outra...

JD - num quarteto com secção rítmica e um sopro - como o de Rava - quem é que pede exige mais? o leader ou qual sideman?

 JL- 
Não existe um grupo "como" o de tal ou tal...cada grupo tem a sua forma de se organizar/trabalhar. No caso específico deste quinteto (com o qual é preciso frisar que toquei apenas uma vez) acho que todos os componentes (habituais) se conhecem e tocam há tanto tempo e têm tanta confiança uns nos outros que sabem o que esperar de cada um e sabem também que cada um exige muito de si próprio. Dá-me a impressão que é um grupo muito "democrático" nesse sentido. Mas esta impressão vem duma experiência em palco como substituto do baterista e de alguns concertos a que assisti.
  

JD - o público português tem comprado muitos cds  'dA Alma' bom cd jazz recentemente editado por 'Cleen Feed' e onde toca com Custódio, Grimal, Coelho, Rijo e Júlio Resende?

 JL- 
Acho que essa pergunta deve ser feita ao próprio Júlio ou ao Pedro Costa da Clean Feed porque eu não estou muito informado sobre as vendas do disco.

JD - como chegou à fala com Enrico Rava?

JL- Eu conheci o Enrico Rava num seminário que fiz por dois anos consecutivos (2002 e 2003) em Siena (Itália) onde o tive como professor de combo. As aulas consistiam em tocar temas dele e depois ele comentava e dava algumas sugestões, mas falava pouco e tocávamos bastante. A primeira vez que ele tocou e que o acompanhei foi uma experiência marcante (registada em fotografia mental) e o seu som teve um impacto imediato e fortíssimo em mim.  Aparentemente ele gostou de como eu tocava  e pediu-me o contacto. Mas nunca me ligou (também não o esperava). Até que comecei a tocar com um jovem pianista (Giovanni Guidi que foi votado pelos jornalistas de jazz italianos como o jovem músico do ano de 2007) que também conheci em Siena e que integrava o grupo New Generation do Enrico Rava. Entretanto o baterista desse grupo, Emanuele Maniscalco, que também conheci em Siena e que é um excelente músico, saiu do grupo e então eu tomei o seu lugar e tive o primeiro concerto em Novembro de 2007. Antes, em Setembro tinha já substituído o Roberto Gatto (baterista do quinteto) num festival no Canadá.

JD - para nós portugueses - quem gosta em verdade de jazz verdadeiro - é sempre um prazer / ânsia ouver um instrumentista português em cena - a sua reacção é semelhante?
   
 JL-
Nem por isso...Percebo essa reacção porque Portugal é um país pequeno e os habitantes de países pequenos tendem a realçar feitos dos seus compatriotas que muitas vezes são pouco significantes. Neste caso em particular o facto de eu tocar no CCB com um grupo "importante" é uma mera (e feliz) coincidência. Por acaso o Roberto Gatto (baterista habitual daquele grupo) não pode fazer o concerto e, por fazer parte dum outro grupo do Enrico Rava, fui chamado para substituí-lo. Eu acho que se estivesse do lado do público não teria especial prazer (ou ânsia) de ver um músico português no palco. Lembro-me de ter visto um concerto em Lisboa do Perico Sambeat com ilustres músicos espanhóis e com o Bernardo Sasseti ao piano e não tive um especial prazer por saber que ele era português. Dá-me muito mais prazer (ou ânsia) ouvir o que o músico tem a dizer do que saber a sua nacionalidade.
 Para mim, tocar no CCB, que é um auditório onde vi tantos excelentes concertos e espectáculos, é um sonho tornado realidade. E tocar para muitos familiares e amigos que estarão na plateia e fazê-lo no grupo de um músico que admiro tanto também é especial.

JD - o jazz português é conhecido em Itália?
 
JL- 
Não. O pouco que se conhece de jazz português em Itália ou em qualquer outro país europeu é o duo Maria João/Mário Laginha

JD - escreva-nos sobre sua discografia

JL: DISCOGRAFIA:
  -"Movimentos Perpétuos-Música para Carlos Paredes" (compilação) com Verdes Sons (em duo com o pianista Giovanni Di Domenico), Universal 2003 (Portugal)
  -"Enter" com As Guests Quartet, Baileo 2005 (Holanda)
  -"Fala Mongue" com Munchen, autor 2005 (Portugal)
  -"Indian Summer" com Giovanni Guidi, CamJazz 2007 (Itália)
  -"Da Alma" com Júlio Resende, Clean Feed 2007 (Portugal)

 no final de Fevereiro sairá o disco do Scott Fields Freetet (S.F. na guitarra, Sebastian Gramss no contrabaixo e eu na bateria) "Bitter Love Songs" (pela Clean Feed). Também pela Clean Feed mas ainda sem data marcada sairá o primeiro disco de um quarteto que co-lidero com os restantes membros (Daniele Martini no saxo tenor, Giovanni Di Domenico no piano e Gonçalo Almeida no contrabaixo) e que se chama Tetterapadequ. Pela Neos também sem data marcada mas também este já gravado sairá um disco do Scott Fields Ensemble (S.F. na guitarra, Scott Roller no violoncelo, Sebastian Gramss no contrabaixo e eu na bateria). Logo a seguir ao concerto com o Enrico Rava no CCB vou para estúdio gravar aquele que será o segundo album do Giovanni Guidi e que sairá no verão deste ano pela CamJazz com G.G no piano, Dan Kinzelman no saxo tenor e Stefano Senni no contrabaixo. Mais perto do Verão será a vez de gravar com um quarteto também este liderado por todos os seus componentes e do qual fazem parte a Alexandra Grimal nos saxos tenor e soprano, Giovannni Di Domenico no piano e Manolo Cabras no contrabaixo.

JD - o repertório habitual do grupo de Rava baseia-se em standards?

JL- O repertório habitual do quinteto de Rava baseia-se normalmente no último disco. Neste caso (como quase sempre nos discos a seu nome) consiste grande parte em temas originais seus e um ou outro standard.

JD - quais são seus standards favoritos?

JL- Depende muito de como são tocados e por quem. Mas tenho alguma preferência por temas de compositores como Cole Porter, Thelonious Monk, Tadd Dameron.

JD - prefere tocar em tempo lento?

JL- Não tenho preferência em tocar em tempo lento, médio, rápido ou sem tempo.

JD - sente-se um baterista jazz jazzísticamente culto?


JL- Não me considero um especialista no que toca a conhecer discos, nomes de músicos, factos históricos do jazz. Gosto de muitos tipos de música, oiço muitas coisas diferentes e não me considero especialista em nenhum tipo de música em particular.

JD - se com o free se abandonou a batida regular com síncopes que dizer dos bateristas free jazz? sem futuro?


 JL- Não concordo que "com o free se abandonou" o que quer que seja por isso não posso responder à pergunta. Estou convencido de que na música não há abandonos mas transformações.

José Duarte

João Lobo

7 fev 08

  


 
  Escritos e entrevistas  
 
   
Festivais  
 
   
Universidade de Aveiro
© 2006 UA | Desenvolvido por CEMED
 VEJA TAMBÉM... 
 José Duarte - Dados Biográficos