José Duarte – porquê saxofone instrumento belga? Desidério Lázaro – minha mãe tocava saxofone e meu pai gostava de ter tocado, sentia fascínio. Eu gostava também, arrepiava-me com o Brecker nos Dire Straits e com outros solos de sax em ambientes mais pop. Depois veio o Coltrane e estragou isto tudo: fez-me abandonar o clarinete em favor do tenor JD – para quem não sabe – eu – é + fácil ler do que improvisar então porquê jazz Música difícil de agradar? DL – não sei bem. O próprio rótulo da música jazz tem-se expandido e hoje penso que há mais abertura. Quero dizer, sendo que considero jazz e música improvisada um nicho de mercado, penso que esse nicho (escreve-se assim?) expandiu. Hoje há muito jazz em Portugal, está a crescer, e com isso cresce o público. JD – quanto lhe custou seu sax? só tem um? DL – só tenho um de cada. Custou algum dinheiro e vale cada cêntimo JD – tem conhecimentos jazz discográficos? faz falta conhecer cumo outros sopram portugueses e estrangeiros DL – tenho algum. Já não oiço tanta música como ouvia, talvez por passar muitas horas do dia a estudar e a criar. Mas oiço e procuro, sim, tanto cá dentro como lá fora. Serve sempre de inspiração JD - tem gravado discos? para quê? DL – tenho, sim. É uma boa pergunta para a qual ainda procuro resposta..Para quê gravar? O que sei dizer agora é que preciso de mandar essas músicas que vou fazendo cá para fora, registar, arrumar, e gravar de novo. JD – ama-se CD próprio até à morte? porque não? porque sim? DL – Sim, como se fosse um filho, em sentido figurado, claro. São parte das minhas costelas, para o bem e para o mal, para quem gosta ou não. JD – conhece scat de Camille Bertault uma francesa bonita com 32 que ‘canta’ Coltrane nice & easy inacreditavelmente perfeita? ‘Giant Steps’ para exemplo sua opinião DL – Não conheço, mas não sou fã de solos repetidos, quer sejam na voz ou noutro instrumento JD - set tenor favorito atenção Desidério a revolução é internacional DL – Procuro nos outros ferramentas para crescer, e creio que todos temos algo a dar. Por isso, favoritismos tornam-se redundantes. Por exemplo, procuro no Chris Potter a destreza, no Joshua Redman a elegância, no Coltrane a procura espiritual, no Shorter as notas infinitas, etc. JD – conhece encontro em video de Getz com Coltrane? que tal? DL – Dois gigantes JD – conhece a herança jazz de Bechet Sidney Bechet em sax soprano? qual a sua opinião sobre a gravação de ‘Petit Fleur’ em 1952… no meu tempo era polémico gostar ou odiar DL – Não conheço mas vou investigar JD – tem ideia de quantos jazzmen existiam em Portugal quando eu tinha sua idade? DL – Não faço ideia mas calculo que menos do que hoje JD – eu conhecia (quase) todos… nem uma dúzia hoje há muitos? não vale contar com aqueles que se dizem ser jazzmen… DL – Hoje há muito músico, jazz e não jazz. O nível tem subido a um ritmo vertiginoso, e ainda bem JD – acha normal chamar de jazz a uma escola de Música? porque será? DL – acho, sim. Mas só como ponto de partida, não como um fim em sim mesmo. Principalmente se assumirmos como ponto de partida a improvisação tonal JD – sempre ouvi dizer que Don Byas foi padrinho do casamento de Vilas Boas mas desde 1975 que tento chamar a atenção das centenas de críticos jazz que votam anualmente na revista n-a ‘Down Beat’ que Byas foi um notável jazz tenor outro falhanço meu… já se vive com conforto de euros em Portugal? Desidério vive só cumo jazzman? concertos e clubes e direitos CDs… é prof jazz? DL – Penso que isso não é fácil (viver só dos concertos), mas possível. Dou aulas, e com muito gosto, para complementar a minha atividade de performer. JD – fale-nos de suas experiência cumo leader de pequenos agrupamentos jazz? já dirigiu big bands? DL – já dirigi grupos grandes em contextos académicos, mas onde me sinto mais confortável é com grupos pequenos, que considero famílias JD – o rock é sua amante? DL – sem dúvida, meu primeiro amor JD – há 8 anos foi lançado seu 1º CD jazz já não toca assim ou toca? está satisfeito com a sonoridade que atingiu em tenor? DL – Já não toco, talvez por falta de oportunidades, sinto que não se fez justiça (em termos de concretização através de concertos) com o trio. Não estou satisfeito com a sonoridade, procuro sempre melhorar. JD - considera-se um músico europeu no jazz português? DL – Considero-me um músico português nascido numa casa europeia de música global. Considero-me um defensor do rompimento dos rótulos. Tive a felicidade, e ainda tenho, de tocar tocado muitos géneros de música diferente, e aí me quero manter, nessa possibilidade de globalidade, de poder pertencer JD – sente em seus ouvintes em concertos um maior conhecimento jazz não de nomes mas de atos ou o público português de jazz sabe jazz ou é só público? DL – Pergunta difícil. A facilidade de acesso a qualquer música a qualquer instante torna o público uma incógnita saudável JD – quais os jazzmen portugueses e estrangeiros que ouve? com mais atenção… DL – Depende das fases. Mas quando ouvia mais, meti muita orelha no Coltrane, Miles, Shorter, Jazz Messengers JD – tem músicos jazz dos USA ou Europa que o influenciam? DL – Procuro no meu som uma mistura entre Coltrane, Brecker, Potter e Redman, isto falando só do som propriamente dito JD – é muito raro ter surpresas porque jazz desde que jazz seja é Música surpreendente… sempre… mas eu que cheguei ao Hot há semanas para ouver Joshua Redman - e lhe entregar uma boa fotografia minha com seu Pai em 2004 em Guimarães - no fim do 1º set ao conversar comigo cheguei à conclusão que não tinha gostado de Joshua e cumo sempre estava maravilhado com Billy Hart e sua maneira de tocar uma bateria – no camarim não lhe consegui explicar isto em inglês inglês não em n-americano... – Joshua tocou com ‘outra’ sonoridade cumo quem ouviu meu habitual pensamento: ‘quem usa tenor e procura sons altos devia comprar um saxalto’… para mim uma sonoridade é o BI dum jazzman sua opinião DL DL – os registos do instrumento deviam ser usados na sua totalidade. De facto, desde o Michael Brecker que se tornou mais comum ver tenores a explorar mais e mais o registo agudo JD – em improvisação usar um excerto de um standard é um auxiliar de memória ou uma simples citação usando a Beleza de outra melodia? DL – citação usando a Beleza de outra melodia JD – uma entrevista jazz não deve ser cumo um solo de Tarne… looooongo… obrigado Desidério Lázaro agosto 2018 joseduarte@ua.pt |