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Assunto: V Encontros internacionais de Jazz de Coimbra - 1ª parte
12-06-2007
 

Jazz ao Centro em Coimbra

V Encontros internacionais de Jazz de Coimbra - 1ª parte

Produção de JACC - Jazz ao centro clube

Meia casa em todos os concertos, Sala quase cheia no salão Brasil.

 Concerto de Baldo Martinez - Uma História com final não

Teatro Académico de Gil Vicente

31 de Maio 2007

 Baldo Martinez - Contrabaixo

António Bravo - Guitarra

David Herrington - Trompeta

Eduardo Ortega - Violino

Pedro López - Bateria

Baldo Martinez Grupo, a primeira formação a actuar na primeira parte dos Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra 2007, veio apresentar o seu mais recente disco Tusitala (Karonte). Baldo Martinez  já colaborou em projectos de variados músicos como os trompetistas Kenny Wheeler e Paolo Fresu, gravou com Carlo Actis Dato (membro da Italian Instable Orchestra) e destaca-se ainda a sua colaboração com nomes como Butch Morris ou Peter Kowald.

O contrabaixista rotulado como um dos músicos mais importantes do jazz contemporâneo espanhol tinha a responsabilidade de abrir o festival. Com uma formação pouco usual no jazz, o violino de Eduardo Ortega a acompanhar o trompete de David Herrington, tocando como um segundo sopro, parecia indicar que íamos ver algo original, tal não aconteceu - infelizmente.

O concerto começou e era de adivinhar que o jazz produzido por esta formação ia conter elementos da música tradicional da Galiza e Andaluzia, o que não é mau quando bem utilizada, mas houve um Mas. Composições exageradamente minuciosas, monótonas, compridas e com pouca originalidade na improvisação por todos os elementos do grupo do contrabaixista. Todas estas características fizeram com que o concerto no Teatro Académico Gil Vicente fosse um espectáculo insosso e com poucas atracções musicais.

O jovem baterista, Pedro López, fez questão de tocar repetitivamente o mesmo ritmo durante quase todo o concerto, até mesmo quando teve a oportunidade de solar (tal só aconteceu uma vez), o guitarrista António Bravo, fazia a ponte do jazz dito europeu com as tradições musicais galegas mas com pouco engenho, andando a percorrer escalas atrás de escalas com técnica mas com pouca criatividade. No trompete, David Herrington, mostrava-se também ele muito discreto, numa tonalidade que por vezes fazia lembrar Miles em Sketches of Spain mas não foi além duma mera lembrança. 

Não dá para fazer uma análise música a música porque infelizmente o concerto foi quase sempre igual do princípio ao fim, apenas prevalecendo a capacidade de composição do contrabaixista Baldo Martinez.

Acredito que ouvindo em casa, este álbum Tusitala (que quer dizer contador de histórias) seja agradável ao ouvido, mas ao vivo não funciona.

Baldo Martinez contou-nos uma história com um final infelizmente infeliz.

Rui Veiga

RUC (Rádio Universidade de Coimbra)

Carlos Bica Azul - As diferentes perspectivas de um bom concerto

Teatro Académico de Gil Vicente

1 de Junho 2007

Carlos Bica - Contrabaixo

Frank Möbus - Guitarra

Jim Black - Bateria

Jazz-Fusão não será decerto a melhor definição para trio Azul. Será mais Pop/Rock/Experimental. A banda é demasiado dependente da sonoridade da guitarra, e sendo este o seu elemento de maior margem de improvisação, sente-se que falta conteúdo Jazz ao trio. Jim Black está bem e recomenda-se a toda a hora. Frank Möbus está Jazzmente limitado pela sua bela sonoridade e pelas formas da Banda. Carlos Bica limitado a escalas muito simples e sem margem de manobra.

Neste sentido, é música demasiada limitada para ser Jazz, embora colha algumas das suas sonoridades.

Mas como projecto Rock-fusão mostra-se agradável para diversas gerações: Os sobreviventes dos 60's e inícios dos 70's, e a para a geração do fim do milénio que revive esses anos. Jim Black lembra-nos os Credence Clearwater Revival; Bica parece saído dos Black Sabbath; Möbus vem da nova cena Indie.

Tudo converge em Rock com algumas linhas Jazzisticas e que soam bem ao ouvido menos exigente.

Nessas formas, construiu-se um bom concerto, com arranjos muito simples e sem grandes divergências rítmicas.

Numa encenação em trio, a bateria toma um papel de referência, sendo importantíssima para completar os naturais espaços vazios da música, e Black não deixou escapar um. Em ‘Heranças' a energia do baterista foi tal que um prato voou para o chão. O tema começou com uma intro lírica e eloquente de Bica com arco e pedaleira. Foi assim que o contrabaixista português se libertou mais, conseguindo projectar para o público a imagem de loucos pássaros matinais. A medida que a música ganha intensidade a aproximação ao Rock é inevitável.

O produto da banda baseia-se no som característico da guitarra de Frank Möbus, e nesse sentido a banda soa sempre a dissonâncias. O guitarrista é um excelente executante, e passeia-se sobre as desarmonias com uma simplicidade arrepiante. No entanto daqui surge um problema: o seu som é demasiado característico o que torna cada solo um aparente lugar comum, constantemente revisitado. Isto numa perspectiva Jazzistica.

Nesse sentido o concerto terá sido excessivamente semelhante aos álbuns do trio.

Perto do fim, deu-se um dos melhores momentos do concerto: as explorações rítmicas de Jim Black, através de caixinhas de música sobre os tambores, produzindo melodias rítmicas, ou com arcos sobre os aros dos pratos e tambores gerando diferentes tons que funcionaram com introdução para ‘John Wayne'. Uma bela frase de guitarra, que rapidamente vira Far-West, com ritmo pausado da Bateria a lembrara calma vida de Cowboy sobre o cavalo, com apenas alguns percalços demonstrados e momentos de suspense, demonstrados através das variações de intensidade da música. Möbus sola muito bem, dissonante, rápido e com estilo, repetindo harmónicos de forma a criar um bom momento para depois partir para acordes rápidos e complicados. Bica, esse esteve como quase todo o concerto, agarrado a coisas simples de forma a não fazer divergir muito a música.

Seguiu-se ‘P-Beat', um brilhante groove proporcionado pelo pragmático Bica, pela possante e inventiva batida de Black, e pela guitarra psicadélica e complexa de Möbus, que depois infelizmente desviou-se para ritmos mais pausados, com Frank Möbus a solar.

Foi sem dúvida um belíssimo e entusiasmante concerto, para quem tem a fronteiras Jazzisticas a abertas a outras sonoridades. Para quem não tem, foi dor de cabeça. 

Evan Parker trio + 1 (Paul Dunmall) - O peso da experiência

Teatro Académico de Gil Vicente

2 de Junho 2007

Evan Parker - Sax tenor

Paul Dunmall - Sax tenor

John Edwards - Contrabaixo

Chris Corsano - Bateria

 Para definir a expressão musical Free, Evan Parker afirma:

"So by ‘Free' it means many of the decisions about what's possible, about what to do, about what not to do, are deferred to the last possible moment. But, what I do next time should have some coherent relationship to what I did last time. There have to be elements of continuity from one performance to the next. Also, I'm playing with other people then I should try to meet them half way, wherever that is."

À conversa com Parker, ingenuamente e com espasmos nas pernas, perguntei se o trio + 1 que pela primeira vez tocou junto, havia preparado o concerto ou se tinham partido de alguma base: "No men, we came with nothing!!". Espantado e com espasmos nas pernas, fiz a pergunta mais estúpida e redundante possível: "Improvisation????".

Voltei a encontrar Parker depois de me ter escondido numa garrafa de cerveja, e a conversa desta vez fluiu melhor: "Men, I've to pee!".

Antes disso, Evan Parker trio + 1 no Teatro A. Gil Vicente - Qual seria a reacção dos nossos históricos poetas ao Free-Jazz?

Problemas de passaporte com Parker, entretanto resolvidos, obrigaram precaução: Paul Dunmall, Saxofonista Tenor e de outros sopros.

Com dois Tenores o concerto acabou por se tornar num achado imprevisto, a que apenas o público do TAGV teve acesso.

E foi...

E por isso começo a crítica do concerto pela conclusão!

O concerto foi uma viagem de Concorde! Só no fim da primeira e última música é que deixamos de sentir a boa sensação física que sentíamos desde o início do concerto e que ninguém sabia nomear. Era G, a força G. Provinha da Banda, a máquina do avião que empurrou durante uma hora os nossos rabinhos contra os assentos do Teatro. Só no fim, o público se apercebeu da pujança do concerto. Durante o trajecto, estávamos demasiado comprometidos à sua intensidade, violência, exuberância. Quem foi ou tentou ser conclusivo a meio do concerto, perdeu uma boa oportunidade para se sentir descomprometido de qualquer pensamento.

Apenas um bem estar irracional.

Foi um concerto pesado, duro, coeso. Música poderosa, intensa, Free, Avant-Guard, Improvisação estruturada. Ritmos e harmónicos inseguros, perigosos ou terroristas para quem está fora. Quem está dentro sente-se protegido e envolvido na sua malvadez.

Os teóricos que não gostaram do concerto e que ainda não conseguem entender a livre improvisação musical, podem observar o Jazz sobre a perspectiva de Kant:

Sensibilidade -> Entendimento -> Razão

O músico Jazz tem que ser Sensível ao tempo e espaço, e tem que ter noções que são anteriores à experiência - Evan tem. Assim consegue chegar a um Entendimento, que no Jazz se traduz em Swing, ou num recíproco entrosamento com os restantes músicos - Sim aconteceu em Evan. Tudo isto proporciona a Razão musical, que pode ser visto como o sentido metafísico da música - Coltrane via assim a sua razão musical, ou como simplesmente o produto final: Normal, Bom ou Muito Bom. Fraco não poderá pois nesse caso não se trata de Jazz. Tudo isto e mais, Evan Parker trio + 1 teve.

Para pessoas práticas, entender o Free-Jazz é mais simples: Fechem os olhos.

De olhos fechados era possível localizar cada um dos músicos no palco. Na nossa prespectiva, Paul Dunmall à direita, Evan Parker, Chris Corsano e John Edwards à esquerda. Grande trabalho dos engenheiros de som.

Em 2 de Junho, no TAGV, foi exposta uma das grandes belezas do Jazz: A capacidade dos músicos se entenderem sem qualquer tipo truques ou preparações, apenas obedecendo as regras do raciocínio por indução, onde a partir da nota que se tocou se infere a próxima.

Como por exemplo, os momentos em que os dois tenores discursavam agressivamente sob a mediação da secção rítmica. Em pergunta e resposta ou em sintonia, os músicos acabavam sempre por encontrar-se ou por interagir com o Contrabaixo, o que de certa forma criou a G (Groove) que nos prendeu aos bancos.

Paul Dunmall comportou-se de forma cerebral, variando entre o charme e a fúria, dependendo da força da música que o proporcionava. Só com a bateria por trás Paul revelou intimismo e respeitou os silêncios da percussão. Nos momentos de grande intensidade berrou, ganiu, delirou e ululou, sempre cerebralmente e com os ouvidos em Parker ou na secção rítmica.

John Edwards foi elemento fulcral no êxito do espectáculo. Foi da força contrabaixo que se sentiu mais a G. Por vezes, o êxtase musical era tal que tornava inaudível qualquer nota de Edwards. Mas o estômago nunca deixou de as sentir. Apontamento também para a sensibilidade do contrabaixista, que depois de um momento de grande violência e energia sonora da banda, contrabalança os ouvidos com a produção de um solo baseado num arrepiante silencio. Mais uma vez o baixo não se ouviu, mas sentiu-se.

O baterista Chris Corsano, foi importante no complemento dos espaços e nas respostas oportunas as solicitações dos tenores. Deambulou a sua inventividade entre o industrial e o ambiental. Por um lado, contínuos esfregar de pratos e tambores a lembrar máquinas urbanas, por outro, seguindo conceitos experimentais nórdicos que talvez adquiriu nos seus trabalhos com Bjork, repetindo compenetradamente sons fáceis e comuns, cujo objectivo foi equilibrar a música.

Evan Parker mostrou aquilo que sabe. Longos solos em respiração circular, orientaram-no para notas multi-direccionais, e nesse sentido parecem dois a tocar em vez um. Conjuntos de notas repetidas de forma intensa, sem pausas para respirar profundamente, e com outras notas divergentes, que inexplicavelmente vão soando. Mostrou-se como líder, experiente, e confiante nos seus músicos. Mostrou-se sensível, agressivo e telepático nos duelos com Paul Dunmall.

Música pesada

liderada pelo peso da Experiência

Música robusta e pujante.

Música sensível

Telepatia

Música que nos dá poder e satisfação

Apetece beber bagaço,

Fazer de mau da fita

Casaco de cabedal

Revolucionar

Apetece calar os chatos que não se calam

E repetem a mesma coisa a toda a gente que conhecem ou não

Cala-te

Deixa-me em paz (Evan)

Senhores, Senhoras e Sonhadores(as)...... Evan Parker trio + 1

Steve Lehman Quartet

Salão Brasil

31 de Maio, 1 e 2 de Junho

Steve Lehman - Saxofones alto e sopranino

Jonathan Finlayson - Trompete

John Herbert - Contrabaixo

Nasheet Waits - Bateria

No salão Brasil, depois dos concertos do TAGV, houve boa música.

O Free/Avant-Gard de Steve Lehman quartet, com composições originais do líder, e que foram ali gravadas, para posteriormente serem editadas pela Clean Feed.

Lehman não é um pioneiro. Segue as linhas de Ornette Coleman e do seu tutor Anthony Braxton. È no entanto um categórico executante, que gosta de brincar nos tons médios sem nunca se aproveitar da explosividade dos tons mais mais altos, como Ornette bem sabia fazer. Os seus solos mostraram velocidade, destreza, e seguimento lógico. Foi fascinante olhar o seu rosto pensativo enquanto deliberava os próximos passos do processo criativo.

Jonathan Finlayson é um puto de 25 anos que toca como se fosse de 80. Altamente racional, faz lembrar a fase final da carreira de Lester Young, com excitantes e enormes pausas que nos cortam a respiração. Quando sopra, sopra em Low-key, muito simples mas eficaz.

John Herbert é um contrabaixista eficaz que esteve sempre lá, mas sem dar muito nas vistas.

Nasheet Waits... Uiiii!! Fenómeno!! Negro, filho de Frederick Waits, baterista que tocou com Sonny.Rollins, Max Roach, McCoy Tyner, é uma força da natureza. Sempre tribalista, duro e agressivo sobre os tambores nas respostas, e dotado de uma sensibilidade musical fantástica, que o permitiu proporcionar os companheiros mesmo quando as pautas se deixavam levar pela Força G (gravidade). Tocou sempre de olhos fechados e com um ligeiro sorriso nos lábios....

Ficou, portanto, registado um bom trabalho, cheio de pormenores e arranjos engraçados.

José Pedro Rocha

Centro Estudos Jazz

Universidade Aveiro

Rui Veiga - José Pedro Rocha
 
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